sexta-feira, 8 de abril de 2005

.: Resenha de "A Princesa Sob os Refletores", Meg Cabot

A vida de uma princesa descrita em flashes 
Por: Mary Ellen Farias dos Santos

Em abril de 2005


Uma garota que agradou tanto que foi parar na telona. Esta é Mia Thermopolis, uma adolescente nova-iorquina super comum. Será? De fato, esta não é mais a mesma após tornar-se princesa de um pequeno país chamado Genovia. Em "O Diário da Princesa", Mia começa a aprender a lidar com esta novidade que muda a sua vida da água para o vinho, literalmente.

A avó, Grandmère que vivia tentanto fazer de Mia uma princesa, Lilly Moscovitz, a amiga; o gatinho Fat Louie;  o lindo Josh Ritcher; a maldosa Lana Weinberger (inimiga de Mia); o professor de Álgebra Frank Gianini, Michael Moscovitz, irmão de Lilly Moscovitz, além do pai e mãe de Mia, Helen Thermopolis, estão em "A Princesa Sob os Refletores".

Tudo começa quando Mia descobre algo fatídico. Sua mãe está grávida do professor Gianini. Fim do mundo? Para ela sim. A esperança de ter os pais juntos novamente vai por água abaixo. Algo mais trágico acontece quando ela será oficialmente apresentada para o povo de Genóvia, ainda no fim do ano. 

Terrível situação, mas ela não pode escapar desta obrigação. Detalhe: a entrevista televisiva será para uma TV a cabo. O pior de tudo é que agora a imprensa irá flagrar um beijo da princesa. Desastre? Enorme. Logo agora que estava se acostumando com a idéia de um irmãozinho.

Nada é tão terrível quando a avó ataca e organiza uma cerimônia de casamento para oficializar a união. Acha que já aconteceu tudo de estranho? Errou. Grandmère convida os avós maternais de Mia. Eles que chegam do interior trazem um primo de Mia. Ele faz um enorme sucesso na escola da princesa.

Com muita coisa para acontecer à princesa... Mia passa a receber mensagens de um admirador secreto. Romântico, não? Mas este admirador parece estar muito difícil de ser descoberto. E como se preocupar com isto enquanto que a vida dela está de cabeça para baixo?

A nova história de Meg Cabot continua com um texto voltado ao público adolescente. Este romance é tão juvenil e leve que acaba sendo obrigatório para todas as idades. A leitura é ainda mais indicada para as mães de adolescentes que vivem na evolução do século XXI, certamente, este livro irá ajudar a entender melhor estas filhas.

Livro: A Princesa Sob os Refletores
Título Original: Princess in the Spotlight
Autora: Meg Cabot
252 páginas
Ano: 2003
Tradução: Celina Cavalcante Falck
Editora: Record

.: Resenha de "Como Mimar Seu Cão", Rodrigo Capella

Homem e cão: lado a lado 
Por: Mary Ellen Farias dos Santos

Em abril de 2005



O cão é um animal carnívoro e doméstico. Por sua fidelidade, popularmente é chamado de o melhor "amigo do homem". Aproveitando este amor entre homem e cão, Rodrigo Capella, lança "Como Mimar Seu Cão", livro com dicas para deixar o cão e dono ainda mais feliz.

Dividido em seis estágios, o livro que traz 50 dicas de "relacionamento", ensina o dono a transformar o cachorro em um grande companheiro. O interessante deste livro está na forma engraçada em que o autor explica cada uma das 50 palavras que ajudam na convivência com este animal.

De acordo com o autor, a amizade e o relacionamento entre cães e seus donos merecem uma atenção especial. Sem eles, nós, seremos humanos, não seríamos os mesmos".

No texto da orelha, assinado pelo cineasta Carlos Reichenbach, também escrito em um tom engraçado, diz: "É engraçado, só agora me dou conta de que posso falar cobras e lagartos de certas ex-namoradas e amigos ressentidos, mas não consigo ter sequer uma lembrança ruim de qualquer amigo canino". 

Em primeiro lugar, no Estágio 1, Capella diz que é necessário Conversar. "Seja o psicólogo do seu cão. Converse com ele. A conversa deve durar no mínimo duas horas e deve ser diária. Ela é muito importante. Conversando com o cão podemos ajudá-lo a encontrar soluções para os mais variados problemas. Stress, cansaço e depressão são os mais comuns. [...] Caso esses conselhos não acrescentem melhoras no comportamento do animal, procure um analista. Acredite, esses profissionais podem mudar a vida de seu cão".

No entanto, o estilo leve de escrita do autor fica bem marcado nas trocas de estágios. Um exemplo é o Estágio 2. "Que bom, vejo que você é corajoso. Ainda não colocou o livro embaixo da escrivaninha e nem usou ele para segurar a porta. Atenção, vamos prosseguir. Já está cansado? Calma! Tome um copo de suco de maracujá com catuaba. [...] Atenção! Continue fazendo um bom trabalho, logo logo você estará entrando numa etapa importante: o aguardado Estágio 3".

Ao passar por cada etapa, o leitor, diverte-se. Mas é ao final que conquista o Grande Prêmio, o carinho do cão e um Certificado de Fidelidade Canina. Ao ler Como Mimar Seu Cão o leitor deve realmente colocar-se no lugar de dono, e por mais estranho que pareça, no lugar do seu cão. Enfim, é preciso fazer duas leituras deste livro, e mesmo assim, a diversão estará garantida.

Livro: Como Mimar Seu Cão
Autor: Rodrigo Capella
72 páginas
Editora: Zouk

quinta-feira, 7 de abril de 2005

.: Resenha de "Pai Nosso: Meditações", Rubem Alves

O amor do Pai de toda a humanidade 
Por: Mary Ellen Farias dos Santos

Em abril de 2005


"Ó Solidão! solidão! meu lar!... / Tua voz, ela me fala com ternura e felicidade! /  Não discutimos, não queixamos, /  e muitas vezes caminhamos / juntos através de portas abertas. / Pois onde quer que estejas, / ali as coisas são abertas e luminosas; e até mesmo as horas caminham / com pés saltitantes... / Ali as palavras e os /  templos/poemas de todo o ser se / abrem diante de mim: aqui todo o ser deseja / transforma-se em palavra, e / toda a mudança pede para / aprender de mim a falar". É com este poema de Nietzche, que Rubem Alves abre o seu livro "Pai Nosso: Meditações", editado pela Paulus.

Livro escrito em forma de poesia em prosa, chama o leitor para um mergulho profundo na oração que Jesus deixou a nós: o Pai-Nosso. A obra, organizada em onze capítulos, conta com nove capítulos que fazem uma meditação sobre esta oração.

Usando o lirismo, Rubem Alves, escreve sobre as palavras, as denominações divinas e o silêncio. Outro destaque do livro são as citações de nomes conhecidos da literatura como Fernando Pessoa, Guimarães Rosa e Nietzche, assim como citações bíblicas.

Para os religiosos, de fato, este livro é muito interessante e totalmente indicado. Mesmo porque é válido levar em que o importante é uma citação de T.S. Eliot, lembrada por Rubem Alves. "... Conhecimento da fala mas não do silêncio, conhecimento das palavras e ignorância da Palavra".

Livro: Pai Nosso: Meditações
Autor: Rubem Alves
158 páginas
Editora: Paulus

quarta-feira, 6 de abril de 2005

.: Resenha de "Cinderela de Saia Justa", Chris Linnares

A Cinderela do século XXI 
Por: Mary Ellen Farias dos Santos

Em abril de 2005



Quando pequenos, pais e professores nos contam belas histórias, de finais felizes, estes são os contos de fadas. Passado um tempo crescemos, já adultos, apenas repassamos tais contos para os pequenos, mesmo porque este contos bonitinhos não tem absolutamente algo para aprendermos. Certo? Errado. "Cinderela de Saia Justa", de Chris Linnares mostra o quanto podemos aprender com os contos infantis.

"- Em primeiro lugar, vamos deixar claro que os contos, hoje chamados de fadas, na realidade não foram concebidos para crianças. Antigamente, sua audiência era de adultos, tanto em elegantes salões quanto nas rodas suburbanas. Digo antigamente porque suas origens remontam aos milenares contos populares da tradição oral que vêm sendo revitalizados ao longo de várias gerações em todo o mundo. Quem lê hoje 'Cinderela' não imagina que há registros de essa história já era contada na China no século IX".

Chris Linnares apresenta ao leitor a jornalista cética, Ana José. Apesar de não gostar do nome e até trocá-lo para Ana Jo... Ana Jovem. Ela, dona de uma imensa lista de frustrações pessoas e adora comer, isto é, um "pouco gordinha", leva uma vida na mesmice. 

No seu emprego ela nunca é percebida, até que um dia, descobre que sua coluna de receitas, em uma revista feminina, muito conhecida, está com a metade do tamanho, pois ela perdeu espaço para outra jornalista. Contudo, nada está perdido, pois recebe um convite para fazer uma reportagem investigativa.

Sua missão? Desvendar os mistérios de uma associação secreta que está revolucionando definitivamente a vida de seus integrantes. Detalhe: os ensinamentos da associação são passados por meio de ensinamentos baseados em contos de fadas.

Ana José, acha tudo muito engraçado nesta associação. Inscrita no "curso" que será baseado no conto da Cinderela, ela participa do primeiro encontro. Para ela tudo estava mais para piada, ainda mais que haviam homens participando desta associação.

Ao contrário do que esperava, ela se surpreende ao conhecer, uma nova Cinderela com sapato de cristal, mas com alma de heroína. Seguindo os ensinamentos, ela tem o um reencontro consigo, e tenta, apesar de ser tarde demais, mas nem tanto, ela faz de tudo para recuperar todo o tempo que perdeu.

A história é inteligente, engraçada e totalmente diferente das muitas que temos hoje em dia no mercado editorial. Vale a pena ler e saber que podemos não viver um conto de fadas, mas merecemos finais felizes, sim!

Livro: Cinderela de Saia Justa: Para quem não vive um Conto de Fadas, mas merece finais felizes
Autora: Chris Linnares
192 páginas
Editora: Gente

terça-feira, 5 de abril de 2005

.: Resenha de "Memórias Póstumas de Brás Cubas", Machado de Assis

Mostrando o outro lado do ser humano 
Por: Mary Ellen Farias dos Santos

Em abril de 2005


A famosa obra de Machado de Assis, "Memórias Póstumas de Brás Cubas" que expõe a precariedade do ser humano, em 1999 ganhou uma nova roupagem feita pela editora Autêntica. O quarto volume da Coleção Leitura Literária facilita a compreensão do texto machadiano, pois traz mais de mil verbetes, comentários, análises e entre outras estudos que explicam as memórias de um defunto-autor.

A ousadia de Machado é de deixar qualquer leitor em estado de parafuso, pois a escrita não linear confunde o leitor deixando-o de cabelos em pé. Mas, este volume editado pela Autêntica traz algumas diferenças, as quais facilitam o entendimento do leitor. O mais visível de todos é o roda pé o qual contém explicações de frases, seus significados, além de guiar o leitor que se vê intrigado por esta riquíssima e complexa obra de um defunto-autor, que escreve suas memórias.

Um texto teórico escrito por Letícia Malard, o qual esclarece mais dúvidas que certamente irão aparecer na mente do leitor enquanto for saboreando as memórias de Brás Cubas. Esta edição conta ainda com exercícios de múltipla escolha com resposta sobre a obra, a biografia de Machado de Assis e da vida da personagem defunto-autor, além de uma excelente bibliografia, que poderá ser objeto de estudo para aqueles que pretendem saber tudo sobre a vida da personagem Brás Cubas.

É por meio de fracassos amorosos que o narrador, o próprio Brás Cubas, que se intitula defunto-autor, expõe a condição em que a sociedade encontra-se: podre como um verme. O morto Brás Cubas já saúda o leitor na abertura da obra com a seguinte fala: “Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas memórias póstumas”. 

Em 264 páginas o livro é totalmente indicado para adolescentes que gostam de penetrar no mundo da imaginação, pois toda a complexidade da obra fica esclarecida ao leitor nesta vasta pesquisa desenvolvida por Letícia Malard. Sem dúvida nenhuma, esta é uma obra que vale a pena ter sempre na cabeceira da sua cama, pois ler um livro com esta qualidade vale mais do que muitas aulas e discussões sobre o texto!

Livro: Memórias Póstumas de Brás Cubas
Autor: Machado de Assis
264 páginas
Editora: Autêntica

sábado, 2 de abril de 2005

.: Entrevista com Marcelino Rodriguez, escritor

"A leitura é vital para o indivíduo e para os povos. Um povo sem leitura é um povo subjugado." - Marcelino Rodriguez

Por: Mary Ellen Farias dos Santos

Em abril de 2005




Marcelino Rodriguez, é um escritor hispano-brasileiro, de 38 anos. Poeta e escritor desde a adolescência, publicou o primeiro poema em 1986, na Shogun Arte editora, do casal Paulo Coelho e Cristina Oiticica. 

Em 1996, lançou o livro de crônicas o “Observador de Pardais” e estréia como cronista. Na seqüência foram os títulos: "O Espião de Jesus Cristo" 1999, "Juvenília" 2000, "Café Brasil" 2001, "A Ilha" 2001, "Boneco de Deus" 2002, "Mar, Romântico Mar" 2002, prêmio Pérgula Literária Internacional e Ação Cultural.

Em 2000 tornou-se editor da Luz do Milênio Editora. Em janeiro de 2004 viajou e residiu na Argentina por dois meses. Portador de dupla nacionalidade, esse é Marcelino, um hispano-brasileiro. 



RESENHANDO - Qual o sentimento de ter um livro publicado?
MARCELINO - Bem, eu sempre editei de forma independente, por editoras cooperativadas, em que o  autor paga a edição. Meu primeiro livro solo foi em 1996, O Observador de Pardais. Em 2000, fundei a Luz do Milênio Editora e passei a usar sua chancela. Mas as grandes editoras ainda não tive muita paciência de ficar esperando. Preciso produzir para sobreviver física e psicologicamente. Não é preciso dizer, acho, que escritor sofre um bocado até poder andar sobre as palmeiras... 


RESENHANDO - Há quanto tempo está produzindo esta obra? 
MARCELINO – Boa pergunta. Em Janeiro de 2004, não tendo condições nem financeiras nem morais de permanecer no Brasil naquele momento, oficializei minha cidadania espanhola e fui para a Argentina, Córdoba. Alguns textos, escrevi ainda no Brasil e se pode perceber o exílio e a solidão do período no ano de 2003. Com os textos escritos na Argentina e mais os que escrevi ao retornar, em março de 2004 até fevereiro desse ano, posso dizer que foram dois anos de tempo convencional. Bom Dia, Espanha! é meu livro mais importante, mais lúcido, onde assumo de forma obstinada minha hispanidade, mais ainda do que a condição européia, porque a língua e os costumes de Espanha estão em toda a outra parte da América-Latina. Inicialmente , em 2001, programei uma viagem a Cuba que acabou não saindo. Em 2004, enfim, cumpri o destino que estava no sangue e tive que me acertar com o espanhol que há em mim. A Argentina foi uma revelação. Hoje, compreendo que a verdadeira cidadania é sanguínea, pois não importa a terra em que vamos nascer. Importa antes essa que temos geneticamente e vai nos dar o corpo, elementos psicológicos, insights ancestrais, etc. Demorei muito tempo para perceber o óbvio. Ou seja, que eu sou um híbrido. Em qualquer país de língua espanhola sinto-me em casa. Uma colega ítalo-boliviana, descreveu sua condição de híbrida da seguinte maneira: "Não me sinto nem completamente italiana nem completamente boliviana. Me sinto um ser híbrido, cidadã do mundo, estrangeira em toda parte". Na verdade, nós híbridos somos muito sensíveis. Essa obra então, finalizando, posso dizer que foi uma obra de revelação de vida. Assim que nasci com ela e por ela.


RESENHANDO - Fale sobre o livro que escreveu. 
MARCELINO – É um livro autoral que acaba sendo universal pelos acontecimentos em Madri e pelo arquétipo de um artista perdido em busca de um porto e de um filho de imigrante buscando uma pátria.


RESENHANDO - Qual o estilo da sua obra? Por quê? 
MARCELINO – Minha obra é autoral, na maioria das vezes. Muitas vezes foi autobiográfica. Até ingenuamente de minha parte. Um livro de poesia em que há grandes momentos... É uma obra que tem lampejos, muita sensibilidade, humor, muita vida... Para o que a vida me deu como infra-estrutura e a maneira precária da troca cultural no Brasil, posso dizer que fui muitas vezes heróico. Espero daqui por diante com mais recursos e reconhecimento, com mais apoio, ter mais zelo com minha literatura. 


RESENHANDO - Como e quando começou a escrever? O que escrevia? Por que? 
MARCELINO - Comecei na adolescência, por volta dos 17, 18 anos escrevia poesia basicamente. Aliás, virei escritor além de poeta porque percebi que não sobreviveria com lirismo apenas. Quem me abriu as portas da revelação foi meu colega Jose Enokibara, um poeta independente muito bom. Pouco divulgado, infelizmente. A partir de lê-lo, descobri que era poeta. Foi meu primeiro ídolo.


RESENHANDO - Quais as dificuldades encontradas para publicar a primeira obra?
MARCELINO - Se o autor tiver algum dinheiro, ele pode pagar a edição como fazem quase todos os escritores. Sem essa condição, ele terá que tentar o mercado convencional que é pedreira. Mas a regra quase geral é o início alternativo e independente. 


RESENHANDO - Para ler, qual o seu estilo preferido? 
MARCELINO - Eu escrevi uma crônica sobre o Nilton Bonder em que falo que meu conceito de literatura seria a arte de interpretar O absoluto via palavras. Sendo assim, gosto dos leitores metafísicos, místicos, autores, que além do lado estético me tragam mais conhecimento. Na verdade, a condição espiritual da vida é que sempre busquei entender. Acho que todo livro deve acrescentar algo na alma do leitor. Meu estilo preferido são relatos das descobertas que os autores fazem com a alma. "Gosto de livros escritos com sangue", dizia Niesztche. É por ai.


RESENHANDO - Há alguma obra em especial que tenha marcado um momento importante da sua vida? Qual? Por que? 
MARCELINO - Sim. Claro. Shopenhauer, com As Dores do Mundo, Niesztche com Assim Falou Zaratustra, na adolescência, mais tarde um pouco, Fernando Pessoa, Paulo Coelho com o Diário de um Mago e Nilton Bonder com Portais Secretos, livro que li seis vezes. Foram obras que me mudaram.


RESENHANDO - Na sua opinião, há interferência entre o que o escritor vive com o que escreve? Porque? 
MARCELINO -  Entendo que sim. Todo livro é, em algum nível, autobiográfico. 


RESENHANDO - Na sua opinião é real o incentivo à leitura que tanto se comenta? O que acha da ação concreta do governo federal sobre a lei que desonerou o livro do PIS/Confins?
MARCELINO - Não. É demagógico “os incentivos”. Tanto assim que não há programas televisivos que abordem a questão da informação e cidadania. A leitura é vital para o indivíduo e para os povos. Um povo sem leitura é um povo subjugado. Deve-se trabalhar no ensino fundamental e no médio. Principalmente. A leitura forma cidadãos e valores. O jovem chega no Brasil as universidades sem nenhum senso de cidadania e patriotismo, então vemos juizes, médicos, advogados e outros seres de ”nivel superior”, sem um mínimo caráter. Quanto a lei , é boa. A questão é ver se vai funcionar. 


RESENHANDO - Que nomes da literatura lhe influenciaram na escrita? 
MARCELINO - Muita gente. Jorge Amado. Jorge Luis Borges. Fernando Pessoa. Drummond. Cecília Meirelles. Mário Quintana. Paulo Coelho. Nilton Bonder. Os cronistas. Etc. 


RESENHANDO - Você acha que o avanço tecnológico, como por exemplo, o  computador e a internet, estão afastando as pessoas dos livros? 
MARCELINO - Não. Pelo contrário. Está fazendo as pessoas escreverem, se comunicarem através de blogs. A internet pra mim, é a maior invenção humana. 


RESENHANDO - Qual a importância do incentivo à leitura para o público infantil? 
MARCELINO - Vital. Não dar livros as crianças é um crime ideológico contra a natureza humana. 


RESENHANDO - O que a literatura representa em sua vida? 
MARCELINO - Parte substancial da minha vida, já que vivo de acordo com minhas idéias. 


RESENHANDO - Quais as suas perspectivas no universo editorial? 
MARCELINO - Ter garantida a minha sobrevivência como autor e contribuir com livros que tornem a vida mais leve. “Bom Dia, Espanha” já foi uma escolha estética. 




PING-PONG: 

Cidade que nasceu: Rio de Janeiro. Espanhol por ascendência paterna. Meu pai era da Galicia. 
Ano de nascimento: 1966. Dia 27 de agosto – sob o signo de virgem. 
Gosto de: Gente responsável. 
Detesto: O oposto. 
Vivo por: Modo espiritual. Penso sempre na questão da possível eternidade de tudo. 
Meus escritores favoritos são: Nilton Bonder, Paulo Coelho, Gabriel Garcia Marques. Graciliano Ramos. 
Escrevo por: Necessidade. Vocação. 
Mensagem para o público que irá conferir a sua obra: Foi escrita com uma paixão nobre em que procurei sempre dar o melhor. Bom Dia, Espanha é a metáfora da minha condição humana. 

sexta-feira, 1 de abril de 2005

.: Resenha de "Teoria do Conto", Nádia Battela Gotlib

As várias formas do conto 
Por: Mary Ellen Farias dos Santos

Em abril de 2005


Livro aborda as variedades do conto e a história deste gênero que hoje em dia é bem aceito e muito publicado.


No século XIX a literatura estava sofrendo uma queda na produção de romances longos e tradicionais. A produção de estórias curtas começou a crescer e então, surgiu um termo específico para se referir às histórias curtas, surgia então a short-story.

Já diz um velho ditado: "Quem conta um conto aumenta um ponto". Com o passar do tempo o conto evoluiu e conquistou mais espaço entre os povos. Os contos egípcios em "Os contos dos mágicos" são os mais antigos e excelente exemplo para ilustrar. Outro exemplo é a Bíblia Sagrada que em seus capítulos conta inúmeras histórias que foram passadas de geração e geração, ou ainda as estórias de Homero como as mais conhecidas como: Ilíada e Odisséia. 

Contos para citar é que não faltam. No entanto, nós leigos sempre nos pegamos numa grande dúvida: O que é conto? A editora Ática, na Série Princípios acaba com este problema no livro de bolso, "Teoria do Conto", de Nádia Battela Gotlib (2003).

"Enumerar as fases da evolução de conto seria percorrer a nossa própria história, a história de nossa cultura". Contar os fatos é próprio do homem, até mesmo os surdos-mudos têm a própria força de se expressa para contar algo que presenciaram ou que acham relevante. 

O volume da Série Princípios é completo e tem como proposta caracterizar todas as estórias, alertando o percurso do conto, desde de sua origem remota e muitas vezes anônima à sua afirmação com autoria literária. 

No livro, este gênero da escrita é definido por vários autores, contistas e teóricos. O conto é uma narrativa que apresenta: uma sucessão de acontecimentos que seja de interesse humano, além de ocorrer tudo na unidade de uma mesma ação.

Livro: Teoria do Conto
Autora: Nádia Battela Gotlib
96 páginas
Editora: Ática

quinta-feira, 31 de março de 2005

.: Papa João Paulo II: Despedida unirá inimigos

Por: Mary Ellen Farias dos Santos
Em março de 2005


O enterro do papa que acontece nesta sexta-feira, 8 de abril, de 2005, irá unir amigos e rivais de todo o mundo. Entre eles estarão presentes pessoas de diferentes credos e raças, tudo para homenagear o Santa Papa, Karol Wjtyla.

Em horário de brasílai, o enterro do papa João Paulo II, será às 5h. Seja sinceridade ou uma simples formalidade para representar os diversos países, esta será a maior reunião de líderes poderosos e humildes dos tempos modernos, isto é, quatro reis, cinco rainhas, mais ou menos 70 presidentes e primeiro-ministros, além de mais ou menos 14 líderes de outras religiões>

Outro diferencial do acontecimento é que irão participar da cerimônia, toda a multidão de fiéis, a qual está estimada, pelo Vaticano, em 2 milhões de pessoas (maior número de peregrinos que a praça São Pedro abrigou na sua história).


Para que não haja conflitos, as autoridades romanas prepararam um forte esquema de segurança, o qual conta com mísseis antiaéreos. Nesta sexta-feira, estarão mais de 100 países representados na Basílica de São Pedro.

João Paulo II, morto no sábado aos 84 anos, chefe de Estado do Vaticano, foi líder de 1,1 milhão de católicos. 

segunda-feira, 28 de março de 2005

.: Resenha de "O Invasor", Marçal Aquino

Uma invasão intrigante
Por: Mary Ellen Farias dos Santos

Em março de 2005



"Para chegar onde deseja na vida, um homem sempre acaba fazendo mais inimigos do que amigos"
                                                                          Provérbio montanhês



Uma bem elaborada rede de intrigas e desentendimentos. Assim é a narrativa de Marçal Aquino na obra "O Invasor". É neste emaranhado de confusões que está Alaor, Estevão e Ivan, cometendo barbaridades. A publicação da Geração Editorial, que tem um filme homônimo de Beto Brant, traz um suspense policial de arrepiar. Intrigas, morte, desprezo e sangue estão presentes no livro que conta também com o roteiro do longa-metragem.

Nas 232 páginas o leitor viverá momentos de extrema emoção. Ivan é casado com Cecília e não tem filhos, pois não se entendem e ficam dias sem se falar. Alaor parece ingênuo, porém esconde segredos escabrosos que irão assustar até mesmo o seu amigo Ivan. Estevão, a vítima dos amigos Ivan e Alaor é corretor é correto e direito, mas tem segredos que a própria esposa Silvana desconhece.

Alaor, Estevão e Ivan conheceram-se na faculdade e juntos fundaram uma empreiteira em São Paulo. Mas o tempo passou e as idéias começaram a ser divergentes. É aí que toda a trama começa a fervilhar, e o ditado popular "Amigos, amigos. Negócios à parte" entre em ação. Ivan e Alaor unem-se para aniquilar Estevão que pretende passar a perna nos dois.

Alaor e Ivan contratam Aníasio para matar Estevão. Desta forma Anísio penetra na vida dos dois sócios, mas é no fim da história que há revelações bombásticas que mudam todo o percurso da narrativa.

O livro faz parte da Coleção Carpe Diem e além do roteiro detalhado do filme, conta com 18 fotos do filme e seus personagens. Leitores e fanáticos por Edgar Alan Poe, Ágatha Christie, Sidney Sheldon entre outros mestres do suspense irão adorar serem invadidos e surpreendidos pelo Invasor de Marçal Aquino.

Livro: O Invasor
Autor: Marçal Aquino
232 páginas
Editora: Geração Editorial

quinta-feira, 10 de março de 2005

.: Papa João Paulo II: O fim de uma era importante para a Igreja Católica

Por: Mary Ellen Farias dos Santos
Em março de 2005


Uma morte que apesar de aguardada entristeceu grande parte do mundo. Assim foi recebida a confirmação da morte do Papa João Paulo II, isto é, Karol Wojtyla. O Santo Papa que faleceu dia 2 de abril de 2002, era amado por uns e detestado por outros. 

O líder religioso mais importante de todos os tempos, tornou-se muito conhecido em todo o mundo, não só pela forma de estar a frente da igreja católica, mas por ter força para enfrentar a todas as barreiras que entravam em sua vida religiosa durante seu mais de um quarto de século como Papa.

A verdade é que nos últimos anos, o mundo viu a perda de saúde do pontífice de 84 anos. Ele que sofria do mal de Parkinson, além de artrite, era incapaz de terminar de ler os discursos e tinha dificuldades em pronunciar as palavras, principalmente nos últimos dias, antes de sua morte.

A dificuldade na fala, nos dias que antecederam a Páscoa, foram frustrantes para o público. Frustrante? Mas acabou fazendo com que muitos já começassem aceitar a partida do Papa, mais cedo ou mais tarde.

Ainda neste ano, João Paulo II, foi internado duas vezes no hospital Gemelli, em Roma, no mês de fevereiro, por estar com problemas respiratórios. Resultado: foi submetido a uma traqueostomia, deixando-o temporariamente sem voz.

PAPADO - Polonês, Karol Wojtyla, foi escolhido ao Papado no dia 16 de outubro de 1978, tornando-se o primeiro papa não-italiano em 450 anos. Seu pontificado, o terceiro mais longo da história, teve participação na queda do comunismo no Leste Europeu, em 1989.

Após ser testemunha da queda do comunismo, João Paulo II visitou a Terra Santa, em março de 2000. Ao realizar este sonho, ele rezou no Muro Ocidental de Jerusalém e pediu perdão em nome dos católicos pelos séculos de perseguição aos judeus. 

Wojtyla ficava à vontade passando sermões em ditadores de esquerda e de direita, além de opinar a democratas sobre o capitalismo desenfreado e a globalização.

TRAJETÓRIA - João Paulo II, uma figura muito conhecida a todos, percorreu cerca de 1,25 milhão de quilômetros, no total de 104 viagens, visitando cerca de 130 países. Resultado: Chegou a atrair multidões de até 4 milhões de pessoas.

Visando a paz entre os povos, sempre pedia pelos necessitados e oprimidos do mundo, além de defender a unidade dos cristãos e o diálogo inter-religioso. João Paulo II foi o primeiro papa a pregar em uma igreja protestante e em uma sinagoga, e o primeiro a pôr os pés em uma mesquita.

Apesar de seu enorme carisma, ele manteve mão firme e conservadora sobre a Igreja Católica. Lutando pela paz e pelo desarmamento nuclear, disse que a humanidade estava caminhando para um Armagedon. Em 2003 se opôs à guerra do Iraque.

Ele que foi ator, tinha domínio do tempo, da coloquialidade e de outros idiomas, o que facilitou na comunicação com outros povos. Outras lutas de João Paulo II foram: o aborto, a contracepção, o divórcio, o sexo antes do casamento, o homossexualismo e a ruptura de valores familiares tradicionais.

WOJTYLA - Karol Wojtyla nasceu em 18 de maio de 1920. Tendo como pai um oficial de baixa patente do Exército polonês, sua mãe morreu quando ele tinha apenas oito anos, no ano de 1929. No ano seguinte da morte de sua mãe, mudou-se para Cracóvia. 

Após, a Polônia foi invadida pelos nazistas. A universidade em que estudava foi fechada. Para os estudantes, a forma de escapar da morte ou da deportação era a de se misturar à população, isto é, tornar-se trabalhador não-qualificados.

Eis que inteligentemente, ele estudou secretamente para ser padre durante a ocupação. Em 1946 foi ordenado Padre, sendo que em 1963, tornou-se arcebispo de Cracóvia. Já em 1967 foi cardeal. Durante o período pós-guerra, João Paulo II foi uma dos principais lideranças religiosas anticomunistas na Polônia.

Com a morte prematura de João Paulo I, no ano de 1978, ele tornou-se o 264o sucessor de São Pedro, primeiro Papa da Igreja Católica. Resultado: Aos 58 anos, foi o papa mais jovem em mais de um século.

ATENTADO - No dia 13 de maio de 1981, às 17h19, Mehmet Ali Agca, assassino turco, de 23 anos, tentou matá-lo com uma pistola semi-automática Browning de 9 milímetros. Dois tiros acertaram o papa no interior do veículo papal (um jipe especialmente ornado) na Praça de São Pedro, na Cidade do Vaticano, em Roma, Itália. 

Os dois tiros acertaram o papa  no abdome e outro no braço direito e a mão esquerda. Para muito, milagrosamente, ele se salvou e perdoou o atirador. Após uma conversa de 20 minutos, Agca beijou a mão do papa e disse a um repórter: "O papa sabe tudo".

ENTERRO - Karol Wojtyla será enterrado na Basílica de São Pedro, dia 8 de abril, sexta-feira. O velório que está acontecendo, na Basílica, foi aberto ao público na segunda-feira (4 de abril), o que também deve ocorrer na quarta-feira e sexta-feira. São esperados 2 milhões de peregrinos. O presidente Lula confirmou a Embaixada do Brasil, na Santa Sé, que irá a Roma com a primeira-dama, Marisa Letícia, participar da cerimônia de sepultamento de João Paulo II. Em respeito ao enterro do Papa, que acontece na sexta-feira (8), o Príncipe Charles e Camila Parker Bowles adiaram o casamento para o sábado (9), o qual estava marcado para dia 8 de abril.

LIVRO - De acordo com Frei Betto, "conhecer a história dos papas é aprofundar-se melhor em nossa própria história de ocidentais marcados pela tradição cristã. É nesse sentido que esta obra traz uma inestimável contribuição". Levando este fato em conta, “O Livro de Ouro dos Papas”, de Paul Johnson,da coleção “O Livro de Ouro”, da Ediouro fala sobre todos os Papas da Igreja Católica.

A obra ilustrada apresenta prefácio de Frei Betto e uma série de estudos, organizados em ordem cronológica, concernentes à mais sólida e antiga instituição do Ocidente: o papado, que desempenha papel fundamental em vários episódios da História. 

A partir de ensaios de historiadores como W.H.C. Frend, R.A Markus, Uta-Renate Blumenthal, Robert Swanson e Michael Walsh, o livro enfoca as origens do papado, a relação entre os papas e imperadores, a monarquia papal, os papas na Renascença, a Reforma, a emergência no papado moderno e chega até nossos dias, com João Paulo II. 



O LIVRO DE OURO DOS PAPAS – A Vida e a Obra dos Principais Líderes da Igreja
Autor: Paul Johnson 
Preço: R$ 49,00
Número de Páginas: 352 Altura : 24 cm 
Largura: 17 cm

.: Análise textual: O realismo de Eça

Por: Mary Ellen Farias dos Santos
Em março de 2005



Ler é navegar no mundo da fantasia. No entanto, as obras de José Maria de Eça de Queirós são bem próximas a realidade de seu país, Portugal. Ele que nasceu no ano de 1845, somente conheceu os pais aos 10 anos, pois passou por seus primeiros anos com a madrinha e em internatos.

Situação que lhe levou a ter uma sensibilidade para enxergar a hipocrisia moral e religiosa da sociedade portuguesa da época. Incentivo o qual rendeu romances um tanto que irônicos. Em 1886 formou-se em Direito pela Universidade de Coimbra. Logo em seguida começou a escrever na Gazeta de Portugal. Produzia artigos que foram reunidos no livro Prosas Bárbaras.

Entretanto, a sua primeira obra foi O Mistério da Estrada de Sintra, escrita em parceira com Ramalho Ortigão. Com o célebre romance realista O Crime do Padre Amaro, ele fez uma crítica à falsa religiosidade e inaugurou em Portugal: o Realismo.

Em O Primo Basílio criticou casais apaixonados e suas grandes amarguras. Na seqüência várias obras nasceram: A CapitalOs MaiasA Ilustre Casa de RamiresA Cidade e as Serras, uma tradução de As Minas de Salomão, o qual obteve maior valor literário do que o original.

Na primeira fase sofreu influências de Victor Hugo. Resultado: Escreveu obras impregnadas de romantismo social. Depois escreveu romances que explicavam os problemas sociais, visto de uma perspectiva anti-religiosa e anti-burguesa. Na terceira fase, fez críticas ao Realismo Naturalismo, ficando aberto para a meditação. O grande escritor português faleceu em 1900, em Paris.

A Relíquia: Uma obra de Eça, muito interessante e divertida, é A Relíquia. Neste livro é narrada a história de Teodorico Raposo, órfão de pai e mãe, desde os seis anos. O garoto fica com a tia Sra. Patrocínio, uma beata que jamais provara os prazeres da vida.

Teodorico entra na onda da "titi", mas com o passar do tempo ele perde a fé e passa a ser hipócrita. Mas toda essa hipocrisia só é revelada quando o rapaz volta de Coimba, como Bacharel, porém sem conteúdo. Ele, ao invés de estudar, vadiou, inclusive com mulheres.

.: Resenha de "Casa de Pensão", Aluísio Azevedo

Propostas de amor que visam dinheiro e vida boa
Por: Mary Ellen Farias dos Santos

Em março de 2005


A literatura brasileira é rica na inclusão dos costumes de épocas e regiões. Na obra "Casa de Pensão", de Aluísio Azevedo, há grandes marcas de degradação da família formadas por um jogo de interesses que tem em vista o dinheiro.

Na publicação de Aluísio Azevedo, o jogo de interesses movido pelo dinheiro é o centro das relações entre as personagens: Coqueiro e Mme. Brizard, Coqueiro e Amâncio, Amâncio e Amelinha, Lúcia e Pereira, Amâncio e Lúcia.

O interesse de João Coqueiro em relação a madame Brizard acontece pelo fato dela ser uma viúva rica a qual deseja que Coqueiro seja alguém conhecido na sociedade. Em contraponto, Brizard está interessada em fazê-lo feliz materialmente. O espertalhão aceita a proposta, mesmo por que deseja deixar um dote para a irmã, Amelinha, para ela fazer um bom casamento. 

A proposta da Mme. Brizard à Coqueiro é feita da seguinte forma: “Queria casar-se, porque entendia que isso se tornava necessário à felicidade de Coqueiro. Toda a sua vida, todos os seus recursos, dela, seriam empregados para o mesmo fim: - facultar o marido os meios de estudar, os meios de crescer, desenvolver-se, luzir. Alcançasse ele um nome, uma posição brilhante, uma atitude gloriosa, e tudo o mais lhe seria indiferente”.

É por esse motivo que há planos de ressuscitar uma antiga casa de pensão, e assim, fazer com que Coqueiro seja muito feliz: “Até já tinha projetos, já tinha as suas idéias sobre a instalação da casa!... [...] E concluiu, jurando inda uma vez, que – para si não queria nada! Que só desejava a felicidade do Coqueiro e de sua irmã, dele. / Era assim que entendia o amor!”

No entanto, Amélia chega aos 23 anos e não se casa. Eis que Coqueiro conhece Amâncio por meio de Paiva Rocha, amigo do jovem maranhense recém-chegado. João Coqueiro como um bom irmão, arquiteta um plano: Casar Amâncio e Amelinha. 

“- É um achado precioso! Ainda não há dois meses que chegou do Norte, anda às apalpadelas! Estivemos a conversar por muito tempo: - filho único e tem a herdar uma fortuna! Ah! Não imaginas: só pela morte da avó, que é muito velha, creio que a coisa vai para além de quatrocentos contos!... / Mme. Brizard escutava, sem despregar os olhos de um ponto, os pés cruzados e com uma das mãos apoiando-se no espaldar da cama. / - Ora, - continuou o outro gravemente. – Nós temos de pensar no futuro de Amelinha... ela entrou já nos 23!... se não abrirmos os olhos... adeus casamento! / - Mas daí... – perguntou a mulher, fugindo a participar da confiança que o marido revelava naquele plano. / - Daí – é que tenho cá um palpite! – exclamou ele. – Não conheces o Amâncio!... A gente leva-o para onde quiser!... Um simplório, mas o que se pode chamar um simplório / Mme. Brizard fez um gesto de dúvida. / - Afianço-te, - volveu Coqueiro – que, se o metermos em casa e se conduzirmos o negócio com um certo jeito, não lhe dou três meses de solteiro!”.

Com muita astúcia e um certo 'veneno' Coqueiro consegue tirar Amâncio da casa de Campos e leva-o para a Casa de Pensão. Depois do plano de Coqueiro entrar em ação, Amélia não se faz de rogada e faz a sua parte no jogo de sedução à Amâncio. “...Nesse dia estava encantadora.[...] Amâncio bebendo aos goles distraídos a sua cerveja nacional, via e sentia tudo isso, e sem perceber, deixava-se tomar de graças de Amélia”. 

Mas Amâncio não vê Amélia como uma mulher, mas como uma menina e deixa-se seduzir por Lúcia. Esta é uma mulher interesseira que vive com o senhor Pereira. Após engravidar do primo em segundo grau, este vai e não volta mais do Rio Grande do Sul. Pereira estava sempre na casa dos pais de Lúcia, e daí surge a idéia de utilizar-se do pachorrento Pereira. 

Ele aceitava as imposições de Lúcia e após quatro dias de lua-de-mel, e muita insistência de Lúcia com idéias matrimoniais, Pereira revela que desde os dezoito anos, o haviam casado com uma velha. Foi então que o tio de Pereira ajudou Lúcia, enquanto que uma irmã dele muito bondosa cuidou do filho do bacharel.

Com o passar do tempo Coqueiro, como todo ser acomodado, começa a fazer de Amâncio o pagador de suas contas. “Agora o irmão de Amélia não punha o menor escrúpulo em lhe aceitar os obséquios e a casa ia ficando a pouco e pouco às costas do provinciano”.

Após muito se oferecer Amélia consegue ficar com Amâncio. Entretanto após ela se entregar à Amâncio por amor e esperanças em se casar com ele. Detalhe: este não corresponde. Ela se vinga dele e exige coisas.

“A cachorra da pequena tinha gosto. Exigiu tapetes, espelhos, cortinas de chita indiana para a sala de jantar, cortinas de renda para a sala de visitas; quis moldura douradas nos quadros, estatuetas pelas paredes; não dispensou nos aparadores e nos consolos jarras de porcelana das mais à moda. [...] E só com essas coisas e só com a satisfação de tanta exigência é que Amâncio conseguia paliar as revoltas da amante. O desgraçado já não tinha ânimo de contrariá-la, porque bem conhecia o preço das resingas e, sem achar meio de reagir, via claramente que as reconciliações se tornavam mais caras de dia para dia”. Cap.XVII p. 262

Após a leitura de Casa de Pensão, pode-se concluir que o jogo de interesses pelo dinheiro levou as famílias à degradação. A vontade de fazer um bom pé de meia sem nenhum esforço é o que faz as personagens enveredarem por caminhos mais fáceis, mais auto-destrutivos.

Todas as personagens ambicionam ter uma vida de luxo, mas ficaram a ver navios. Coqueiro ficou com Brizard e continuou com a sua vidinha, mas sem a Casa de Pensão. Amélia perdeu o seu grande amor e ficou desonrada abandonada. Lúcia permaneceu com Pereira, numa vida sem eira e nem beira, e mudando de casa de pensão para casa de pensão, pois não pagavam os alugueis.

A personagem principal, Amâncio que veio do Maranhão para tentar a vida e estudar no Rio, se deixou envolver com os gozos da vida na cidade grande, até que foi surpreendido pelos terrores da vida boêmia e não completou o seu curso de Medicina. Coqueiro o matou por uma questão de honra própria, já que todos faziam chacota com o nome dele e além, de deixar Amélia desonrada. Enfim como o próprio Aluísio Azevedo fala nesta obra: “Quem tudo quer, tudo perde”.

Livro: Casa de Pensão
Autor: Aluísio Azevedo
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