terça-feira, 21 de março de 2023

.: "A Baleia": mensagem além das telas do filme premiado no Oscar

Quanto pesa uma palavra não dita? Um sentimento não expressado? No filme “A Baleia”, a obesidade e a “gordofobia” são apenas as primeiras camadas da arqueologia de uma alma em sofrimento. Que usa o corpo para carregar suas dores.

Quando atravessamos essa primeira barreira do peso, verificamos que sob o peso do corpo escondem-se outros sentimentos, que segundo a neuropsicóloga Roselene Espírito Santo Wagner são a perda, luto, repressão, castração, culpa, arrependimento, remorso e redenção. "Tal qual o famoso quadro de Edvard Munch: O grito", relembrou.

Segundo ela, no filme premiado no Oscar e no quadro citado só observamos o pânico, o desespero. Mas no fundo da tela, talvez com olhos atentos, possamos enxergar um pôr do sol. Uma nova possibilidade, no novo amanhecer. A busca do perdão, da redenção e da reconciliação com amores importantes, laços indissolúveis.

"Segundo Freud , 'É preciso amar para não adoecer'. Mas é igualmente necessário se sentir aceito, antes de ser amado. Pelo que se é, dedicando-se nessa aceitação, no projeto de vir a ser um ser humano. Somente o amor, ofertado e recebido pode nos humanizar de fato", mencionou.

Ainda conforme Leninha, como é mais conhecida, a Psicanálise aponta que a compulsão por comer constitui apenas uma forma de evitar a angústia que paradoxalmente produz um sofrimento ou um ato que se funde ao eu e cobra seu preço na moeda da angústia. "O personagem central da trama utiliza a obesidade numa tentativa de manifestação por meio do comer excessivo, uma compulsão, que mascara a falta de amor e amar. A intensidade da relação com a comida não parte de uma necessidade nutricional, nem de uma tentativa de obter prazer. Mas sim de uma necessidade de sobrevivência psíquica", explicou.

"O transtorno alimentar, seja anorexia, bulimia ou obesidade, é apenas o lugar de expressão da dificuldade de lidar com o sofrimento. E o alimento é tido como uma forma de preencher um vazio interno. Tais manifestações ocorrem quando o indivíduo não consegue expressar verbalmente seus conflitos. O psiquismo pode utilizar-se de outras formas para expor o que o aflige. O vazio existencial é sempre marcado pela falta do objeto perdido. Não conseguindo identificar que estamos sempre na esfera do olhar do outro. É pelos olhos que adentramos a alma", adendou.

Também conforme a neuro, o corpo físico é usado para as representações do ego subjetivo. Não somos só a pele que habitamos, somos principalmente os desejos que guardamos. O desejo de pertença e importância. O desejo de amar e ser amado.

"O personagem come sua fome de todos os amores perdidos, de todos os lutos vividos. É preciso ser humano para entender outro ser humano e igualmente imperfeito e finito, como nós", finalizou.


Sobre Dra Roselene Espírito Santo Wagner: Também conhecida como Dra. Leninha, é Ph.D em Neurociências, Dra em Psicologia, Mestre em Psicanálise e Neuropsicóloga especialista no tratamento de diversos transtornos, além de ser habilitada para aplicação de testes psicométricos reconhecidos mundialmente. Dra. Leninha tem participação em diversos programas de rádio e televisão, assim como periódicos e revistas nacionais e internacionais.  


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.: "Travessia": delegada Helô recebe denuncia de pedofilia

Atores e autora falam da repercussão da trama sobre o crime na internet


Uma mulher chega desolada na delegacia de Helô (Giovanna Antonelli) para denunciar que uma menina menor de idade foi enganada por um criminoso que se passou por uma atriz famosa, usando a tecnologia deep fake, em "Travessia". Em cenas previstas para irem ao ar a partir desta terça-feira (21), Vera (Renata Castro Barbosa) explica que a criança começou a receber chantagens de um homem mais velho, dizendo que divulgaria imagens íntimas da vítima, caso sua família não fizesse o pagamento exigido. 

Em conversa com Yone (Yohama Eshima), a delegada suspeita de que se trata de um criminoso já conhecido da polícia e que chegou a passar pelo presídio. Ela avisa que dará início à investigação e confisca celular e equipamentos da vítima. Enquanto isso, Karina (Danielle Olímpia) está longe de imaginar que sua nova amiga virtual não seja quem ela acredita, e continua cedendo aos pedidos invasivos do outro lado da tela. Tudo leva a crer que o suspeito de Helô se trata do mesmo criminoso que vem assediando Karina, sem ela saber. 

A atriz Danielle Olímpia, que dá vida à personagem, comenta a repercussão da trama nas redes sociais, e o impacto no público. “Eu estou recebendo tantos relatos de mães, de médicas, falando que é incrível o que estamos fazendo. De todas as partes, de todas as idades, de todas as gerações. A novela fez um alerta muito grande, e eu consigo enxergar isso em todos os comentários. Tem muita gente que não achava que aquilo poderia ser real e, hoje, por ter essa pauta na novela, as pessoas estão tendo mais informação. Como atriz, eu fico muito grata de poder ajudar nesse alerta”, afirma. 

Já o ator Claudio Tovar, que interpreta o criminoso, destaca o perigo que a internet pode causar às crianças que acessam diferentes plataformas sem a supervisão dos responsáveis. “Acho que a proposta do personagem é justamente alertar os pais sobre o que pode estar acontecendo dentro de casa, para que eles prestem ainda mais atenção no que os filhos estão fazendo na internet”, ressalta. 

Gloria Perez, conhecida por tratar de temas sociais em suas novelas, reforça a importância de trazer assuntos como este na dramaturgia. “A intenção é fazer um alerta aos pais e responsáveis de que o crime se adapta a qualquer possibilidade de comunicação. Tentar mudar a percepção de que em casa, usando a internet, os filhos estão sempre protegidos. É importante mostrar que atrás de uma tela de computador ou de celular existe um universo, onde é possível um criminoso se passar por terceiros e manipular as vítimas, principalmente crianças e adolescentes, que estão mais ativas e vulneráveis na internet”, diz. 

"Travessia" é criada e escrita por Gloria Perez, com direção artística de Mauro Mendonça Filho, direção de Walter Carvalho, Andre Barros, Mariana Richard e Caio Campos. A produção é de Claudio Dager e Tatiana Poggi, e a direção de gênero é de José Luiz Villamarim.

segunda-feira, 20 de março de 2023

.: “Era uma grande rebelde”, diz Mariana Ximenes sobre personagem polêmica


Mariana Ximenes na pele da personagem Bionda, que dividiu opiniões entre os espectadores da época. Foto: Cristiana Isidoro

Ouvir os nomes de personagens como Bionda, Tatuapu, Baldochi, Maria João, Van Damme, Beterraba, Nikos, Pierina e Brigitte é pura nostalgia. Dá vontade de voltar aos anos 2000 para acompanhar as aventuras dessa turma que movimentou a faixa das sete da TV Globo com "Uga Uga", novela de Carlos Lombardi

As saudosas Nair Belo e Betty Lago, ao lado de Lima Duarte, Mariana Ximenes, Claudio Heinrich, Humberto Martins, Vivianne Pasmanter, Danielle Winits, Marcos Pasquim, Marcello Novaes e grande elenco proporcionam ao público uma maratona lotada de ação, humor e irreverência com a chegada da obra de Carlos Lombardi ao catálogo, pelo projeto de resgate de clássicos da dramaturgia.     

Entre os destaques da época, a Bionda de Mariana Ximenes, que bombou com sua personalidade forte e invadiu as ruas com acessórios de seu figurino. “Vai ser muito divertido ter a chance de ver novamente essa história. ‘Uga Uga’ é uma novela divertida, hilária. E ter a chance de rever a Bionda, um papel que fiz com 18 anos, muitas lembranças passarão pela minha cabeça. Até hoje as pessoas comentam sobre a fuga dela vestida de noiva”, conta a atriz, se referindo à fama da personagem em abandonar seus noivos no altar. “Ela era uma grande rebelde, que só fazia o que queria. Isso é muito subversivo hoje, imagina há 23 anos”, comenta Mariana. “As pessoas se dividiam. Tinha quem adorasse o lado bem-humorado, rebelde e inconsequente dela e quem também me passasse um sermão, dizendo que era para ela tomar juízo. É divertido quando conseguimos chegar a tantas pessoas e de maneiras diferentes”, completa.   

A história de Bionda se desenvolve em paralelo às duas tramas centrais que conduzem a novela, como a de Adriano/Tatuapu (Claudio Heinrich). A obra mostra as dificuldades do jovem, criado entre indígenas, que tenta se readaptar à vida em uma metrópole, depois de 20 anos. Após o falecimento dos pais em uma expedição à Floresta Amazônica, o órfão é criado por um Pajé (Roberto Bomfim). Enquanto isso, mesmo sem ter certeza de que o neto está vivo, Nikos Karabastos (Lima Duarte) não mede esforços para reencontrá-lo. 

Os traumas do passado também marcam o sargento Bernardo Baldochi (Humberto Martins) e sua ex-noiva, a mecânica Maria João (Vivianne Pasmanter). Para protegê-la de um perigoso criminoso que já prendeu, o oficial foge no dia do casamento e simula a própria morte. Desde então, sob a identidade de Bento, Baldochi mora em Costa Rica, cidade fictícia do Mato Grosso do Sul, a alguns quilômetros da selva onde vive Adriano/Tatuapu. Já Maria João, que continua em Santa Teresa, no Rio de Janeiro, deixou o romantismo de lado para se transformar em uma mulher avessa a relacionamentos, principalmente às investidas do feirante Beterraba (Marcello Novaes).    

Escrita por Carlos Lombardi, com colaboração de Margareth Boury e Tiago Santiago, "Uga Uga" reúne ainda em seu elenco nomes como: Vera Holtz, Tato Gabus Mendes, Silvia Pfeifer, Stepan Nercessian, Wolf Maya, Juliana Baroni, Tatyane Goulart, Angelo Paes Leme, Heitor Martinez, Luciano Szafir, Maria Ceiça, Nelson Freitas, Alexandre Lemos e artistas que deixaram saudades. Entre eles, Françoise Forton, Geórgia Gomide e John Herbert. Confira a entrevista completa com Mariana Ximenes, que descreve o saudosismo de rever a personagem Bionda e comemora a chegada da novela ao streaming da Globo.


Como está a expectativa para rever "Uga Uga" depois de 23 anos?
Mariana Ximenes -
Vai ser muito divertido ter a chance de ver novamente essa história. "Uga Uga" é uma novela divertida, hilária. E ter a chance de rever a Bionda, um papel que fiz com 18 anos, muitas lembranças passarão pela minha cabeça. Ela era uma personagem bem irreverente. Até hoje as pessoas comentam sobre a fuga dela vestida de noiva.


A Bionda bombou na época com sua personalidade forte e o figurino, que invadiu as ruas. Como a personagem te marcou?
Mariana Ximenes - Ela era uma grande rebelde, que só fazia o que queria. Isso é muito subversivo hoje, imagina há 23 anos. A recepção do público foi bem calorosa. Graças a figurinista Marilia Carneiro, que me ajudou a criar a Bionda do jeitinho que ela foi. Eu adorava me vestir de noiva e ela criou um modelito diferente do outro. Para mim, profissionalmente, foi a oportunidade de mostrar outros lados meus como atriz, afinal, Bionda era completamente diferente da Celi, de "Andando nas Nuvens", que foi minha personagem anterior na Globo.


Sentiu essa repercussão?
Mariana Ximenes - 
Muito. As pessoas se dividiam. Tinha quem adorasse o lado bem-humorado, rebelde e inconsequente dela e quem também me passasse um sermão, dizendo que era para ela tomar juízo. É divertido quando conseguimos chegar a tantas pessoas e de maneiras diferentes. Curioso também esse tipo de história nos dias de hoje. A dramaturgia mudou muito, porque nós também nos transformamos.   
     

Como era o clima das gravações? Lembra de alguma curiosidade dos bastidores que te marcou?   
Mariana Ximenes - 
Foi muito gostoso, a turma era ótima. O Wolf (Maya) conseguiu reunir um timaço.


Lembra de alguma curiosidade dos bastidores que te marcou?   
Mariana Ximenes - 
No início, passamos um tempo em Ilha Grande para gravar e foi maravilhoso ter aquele tempo naquelas paisagens paradisíacas do Rio de Janeiro - um encantamento para uma paulista recém-chegada na Cidade Maravilhosa. Lembro também que eu fazia uma peça ao mesmo tempo da novela: “A Rosa Tatuada”, do Tennessee Williams. Era uma correria danada para conciliar, mas eu amava poder viver uma personagem moderna como a Bionda e outra “de época” no clássico do teatro.

.: Entrevista: Jade Picon fala sobre o amadurecimento de Chiara na novela


Na imagem, o bastidor de Jade Picon se preparando para as cenas do casamento de Chiara, antes da virada da personagem. Foto: Globo/Manoella Mello


Chiara (Jade Picon) está determinada a recuperar as ações do pai e a cuidar do que é seu, em "Travessia", novela das nove de Gloria Perez. Nos próximos capítulos do folhetim da TV Globo, Guerra (Humberto Martins) e Cidália (Cassia Kis) continuam tentando entender de que forma o rapaz se tornou sócio da empresa, e é a herdeira da construtora que vai ajudar a desvendar esse mistério. 

Além de correr atrás de informações que provem que Ari (Chay Suede) se aproveitou do estado de Guerra para conseguir sua assinatura, Chiara decide trabalhar na construtora para aprender a lidar com os negócios, e deixa todos surpresos com sua postura e comportamento diante do golpe de Ari. “Ela vai passar a ser uma pessoa menos impulsiva, começa a pensar e planejar mais seus passos. E foi o golpe de Ari que desencadeou nela essa vontade de aprender, de querer assumir os negócios do pai no futuro. Ela não quer deixar ninguém sentar na cadeira que, por direito, é dela. Se não tivesse acontecido nada disso, provavelmente não teria esse pensamento”, diz Jade. Confira entrevista completa com a atriz.


Qual é a sua opinião sobre os desdobramentos da trama e a forma como a Chiara vai reagir a isso?
Jade Picon - Eu estou amando tudo o que está acontecendo e confesso que a reação da Chiara me surpreendeu. Mas eu amei e fiquei fascinada, porque são nesses momentos difíceis e de extrema mudança que você tem que resgatar - de uma hora para a outra - forças de um lugar que você nem sabe que tinha, ou você é derrubado e se entrega a esse sentimento de perda e de desamparo. Eu achei lindo como tudo aconteceu com a personagem, inicialmente ela fica desamparada, sem entender, mas, a partir do momento que compreende o que está acontecendo, ela não se entrega, não desiste, e fica ainda mais forte. Ela traz essa força, essa determinação, então isso me impressionou e eu fiquei muito feliz.
 

Ela vai começar a trabalhar na empresa e deixará de ser aquela menina que sempre conseguiu o que queria. Como você descreve essa transformação e a nova Chiara?
Jade Picon Ela vê o que foi feito com o pai e com ela, e quer ajudar. Está acostumada a vida inteira a todo mundo fazer tudo por ela, ia para a empresa só para passear, falar alguma coisa, pedir dinheiro ou para ver o Ari (Chay Suede). Agora ela quer colocar a mão na massa, e isso é muito legal. A Chiara vai começar a fazer as coisas acontecerem. Ela vai passar a ser uma pessoa menos impulsiva, começa a pensar e planejar mais seus passos. E foi o golpe de Ari que desencadeou nela essa vontade de aprender, de querer assumir os negócios do pai no futuro. Ela não quer deixar ninguém sentar na cadeira que, por direito, é dela. Se não tivesse acontecido nada disso, provavelmente não teria esse pensamento. O mais legal disso, e que eu tenho trabalhado tanto nas cenas quanto na caracterização e no figurino, é ela não perder a essência, porque ninguém muda da noite para o dia, e vira completamente outra pessoa. O público pode esperar uma nova Chiara, determinada, forte e mais madura. Vão ver muitas mudanças, mas ainda é a Chiara. Ainda é uma menina, uma jovem. Estou muito animada e feliz com essa nova fase da personagem. 
 

Chiara vai se aproximar de Brisa nos próximos capítulos. Como será essa aproximação e a relação entre as duas? 
Jade Picon O que une a Brisa (Lucy Alves) e a Chiara, agora, é o desespero da Brisa em relação ao Tonho e o desamparo da Chiara em relação ao Ari. As duas sofreram na mão do mesmo homem. Esse sofrimento, querendo ou não, conecta. Independentemente dos problemas que elas têm, vão deixar isso um pouco de lado. Teve a cena em que a Chiara não está passando bem, a Brisa segura e a leva para casa, dá água... então aí, nesse caos que acontece na vida da Chiara, acaba acontecendo uma conexão entre as duas, o que eu acho muito bacana. Levanta, inclusive, a pauta de sororidade, de duas mulheres completamente diferentes, que tinham seus embates, seus problemas, mas estão se ajudando.
 

Como a Chiara é seu primeiro papel, quais são os principais desafios ao encarar essas mudanças na sua personagem?
Jade Picon Sempre que me perguntam sobre desafios ou dificuldades, o que é mais, o que é menos, eu digo que tudo é uma dificuldade e um desafio. É tudo muito novo para mim, então eu não saberia dizer os principais desafios. É muito legal porque quando eu leio as cenas, ou quando vou fazer as cenas, eu vejo as diferentes reações da Chiara. Falas da Chiara que eu penso “se fosse antes, seria completamente diferente”. Acho que a dificuldade é achar um caminho do que era antes para o que vai ser, sem ficar desconexo. Achar uma linha, que você veja que é a mesma pessoa, mas uma pessoa mudada.

.: "O Castelo de Gelo", de Tarjei Vesaas: amizade moldada pelo frio e pelo gelo

Em "O Castelo de Gelo", obra-prima do lendário escritor noruguês Tarjei Vesaas, duas meninas descobrem os laços da amizade em uma paisagem moldada pelo frio e pelo gelo. Durante as férias escolares, a tímida Unn fica órfã e é acolhida pela tia em um vilarejo remoto da Noruega. Logo no retorno às aulas, Siss, uma menina extrovertida e querida por todos, se encanta com a personalidade intrigante de Unn. Depois de algumas tentativas malsucedidas, consegue se aproximar da nova colega, que a convida para visitá-la em uma noite gélida no fim do outono.

O encontro, cercado de curiosidade e tensão, acontece no quarto de Unn, e desde o primeiro momento as duas meninas de 11 anos, embora muito diferentes entre si, sentem uma conexão especial. Mas o que elas veem quando se olham juntas no espelho? Qual o segredo que Unn gostaria de confidenciar quando revela: “Não sei se vou para o céu”? Por que Siss reage de forma tão brusca à declaração da nova amiga? Siss precisa buscar essas respostas. 

No dia seguinte, ela vai empolgada para a escola, mas Unn decide que precisa ficar sozinha com seus pensamentos, e sai rumo ao castelo de gelo, uma construção quase fantástica que se forma em torno de uma cascata congelada. Unn se perde pelos corredores labirínticos do castelo de gelo, e o mundo de Siss desaba. Ela se fecha em si mesma e se torna quase um duplo daquela menina estranha e desaparecida, e durante o longo inverno terá que lutar com a escuridão dos dias e dos seus próprios sentimentos, em uma batalha contra a solidão e o esquecimento. 

Interpretar o romance como um simples drama psicológico do início da puberdade, contudo, seria reduzir a força literária desta obra única de Tarjei Vesaas. Clássico atemporal da literatura escandinava, "O Castelo de Gelo" foi escrito no auge da potência criativa do autor. Com uma prosa a um só tempo sóbria e evocativa, Vesaas envolve o leitor com paisagens invernais que guardam tantos segredos quanto a mente humana. Compre o livro "O Castelo de Gelo" neste link.


O que disseram sobre o livro
“Como é simples este romance. Como é sutil. Como é potente. Como é diferente de qualquer outro. É único. É inesquecível. É extraordinário.” Doris Lessing, escritora

“Me surpreende o fato de este não ser o livro mais famoso do mundo.”
Max Porter, escritor


Trecho do livro
Siss pensava muito sobre isso. E finalmente chegou a hora. Agora, hoje. Foi por isso que ela veio até aqui. De manhã cedo lá estava o bilhete sobre a carteira de Siss:
Preciso te ver, Siss.
Assinado: Unn.
Um raio de luz vindo de algum lugar.
Ela se virou e deu com aquele par de olhos. Olhos que invadiam e se deixavam invadir. Era tão estranho. Mais que isso ela não sabia, mais que isso ela não conseguia nem imaginar.
Outros bilhetes foram trocados naquele dia tão especial. Mãos prestativas os repassavam de carteira em carteira.
Também quero muito te encontrar.
Assinado: Siss.
Quando posso te ver?
Quando quiser, Unn! Pode ser hoje.
Então vai ser hoje!
Quer ir na minha casa hoje, Unn?
Não. É você quem tem que ir na minha casa, senão não quero.
Siss virou-se abruptamente. O que foi isso? Viu aqueles olhos, reparou que Unn assentia para o que estava escrito no bilhete. Siss não hesitou nem por um
segundo e escreveu a resposta:
Eu vou.
E assim terminou a troca de bilhetes. A conversa só foi retomada depois que a aula chegou ao fim. Uma troca de palavras tão breve quanto discreta. Siss perguntou se Unn não gostaria de voltar junto com ela para casa.
Não, por quê? — disse Unn.
Siss estancou. Teve a impressão de que o motivo era a tia de Unn, uma pessoa humilde e sem posses — e também porque era ela quem estava mais acostumada a receber amigas em casa. Sentiu vergonha e não podia dizer isso a Unn.
Não, por nada — disse.
Você disse que viria comigo já, não foi?
Sim, mas não posso ir com você agora, primeiro preciso passar em casa e avisar.
É mesmo.
Então vou hoje à noite — disse Siss, fascinada. O porquê daquele fascínio era um mistério. Era como se o corpo inteiro de Unn estivesse iluminado por uma espécie de aura.
Era isso e nada mais o que Siss sabia sobre Unn — e agora estava a caminho de encontrá-la, depois de ter passado em casa e avisado os pais. O frio penetrava suas roupas. O chão rangia sob os pés, e o gelo estalava ao longe.
Então despontou no horizonte a casinha onde Unn e a tia moravam. A luz bruxuleava por entre as folhas das bétulas. O coração acelerou de alegria e ansiedade.

Sobre o autor
Tarjei Vesaas (1897-1970) nasceu em Telemark, no sul da Noruega. Autor prolífico, é conhecido principalmente por seus romances e contos. Apreciador de longas caminhadas, fez das paisagens nórdicas uma característica predominante em sua obra, também permeada por temas como a infância, a culpa e a perda. Garanta o seu exemplar de "O Castelo de Gelo" neste link.

.: Entrevista: Elísio Lopes Jr. fala sobre as emoções da nova novela das seis


Autor de "Amor Perfeito" conta sobre o que o público pode esperar da próxima novela das seis. Na imagem, 
Elisio Lopes Jr., Duca Rachid e Júlio Fisher. Foto: Globo/Paulo Belote

Nesta segunda-feira, dia 20 de março, começa "Amor Perfeito", a próxima novela das seis. E o autor Elísio Lopes Jr. fala sobre as emoções e  tramas que prometem fazer da cidade fictícia de Águas de São Jacinto um lugar onde o mais sublime dos sentimentos transborda em suas variadas formas. Confira abaixo a entrevista. Ele divide a autoria com Duca Rachid e Júlio Fischer.

A nova novela apresenta uma história sobre o mais sublime dos sentimentos - o amor e suas diferentes manifestações. A trama se passa nas décadas de 1930 e 1940 em Águas de São Jacinto, uma fictícia cidade do interior de Minas Gerais, e é livremente inspirada na obra “Marcelino Pão e Vinho”, de José María Sánchez Silva, publicada pela primeira vez no começo dos anos 50.

Elísio Lopes Jr. é roteirista, dramaturgo e diretor artístico, nascido em Salvador (BA), com atuação em teatro, televisão e cinema. Tem em seu currículo mais de 30 textos teatrais montados no Brasil, entre eles, o musical “Dona Ivone Lara - Um Sorriso Negro” (2019) e o drama “Liberté” (2022). No cinema é um dos roteiristas de “Medida Provisória” (2020) e “Ó Paí Ó 2”, com estreia prevista para 2023.

Na TV Globo, assinou a redação final do programa "Lazinho com Você" (2017) e roteiros de programas como "Esquenta" (2011). No Canal Brasil, assinou também roteiros do programa "Espelho" (2005). Fez consultoria para os roteiros das séries "Filhos da Pátria" (2017), de Bruno Mazzeo, e "Fim", de Fernanda Torres. Assinou ainda o roteiro da série ficcional "Papo de Moleque" (2013), na TV Brasil. Na literatura tem três livros publicados: “Carne Fraca” (1998), “Trilogia da Noite” (2017) e “Monocontos - Histórias Para Ler e Encenar” (2021). Confira abaixo a entrevista.


Como vocês chegaram nessa configuração da Irmandade dos Clérigos de São Jacinto?   
Elísio Lopes Jr. - Amor e diversidade: é um exercício, o tempo todo, de amor.   

Em "Amor Perfeito" teremos um núcleo cômico ou isso vai passear por diversos personagens?   
Elísio Lopes Jr. - A Ione (Carol Badra), que acaba indo para o lirismo também. Isso responde um pouco da questão da brasilidade. A gente é um povo que tropeça e ri de si mesmo, levanta e vai. Esse humor está espalhado na novela, uma hora você está rindo, outra hora chorando, aí você se emociona e você se aborrece. Não vejo o humor num lugar só. Até os vilões têm cenas engraçadas.


O que vocês destacariam como diferencial dessa novela?
Elísio Lopes Jr. - A gente tem um desejo, sempre que está escrevendo, de que a novela seja brasileira. É uma história universal que trata de fé, trata de amor de mãe e filho, mas ela está sempre contada no Brasil e num dos “ brasis" que não foi muito visto, principalmente nessa época e nesse tempo. Trazer essa história para esse universo de um Brasil de época, que ainda não é tão conhecido pelo espectador, gera, inclusive, uma inversão de expectativa de alguma forma. Você espera ver as pessoas num enquadramento, numa forma, e elas vão vir com outras cores, com outras formas, com sotaque, contando essa história de um jeito que ainda não é tão comum.


O que significa para vocês estarem nesse projeto? Quais as expectativas?
Elísio Lopes Jr. - A Duca (Rachid) foi a minha supervisora numa série que eu estava escrevendo ano passado e, quando a gente começou a trabalhar juntos, não parecia trabalho. A gente trocava muito no processo, foi algo tão fluido e tão amoroso, eu me senti muito livre para criar e colocar as minhas ideias. E aí ela me chamou para a novela, eu não conhecia o Júlio ainda. No finalzinho de março de 2022 a gente começou a se encontrar, e de sábado para domingo, quando temos a lacuna dos encontros, eu sinto uma falta. Eu me emociono muito com isso porque eu tenho uma reverência muito grande por quem veio antes, isso não tem preço. O Júlio (Fisher) é um poço de conteúdos, cada lugar que você puxa ele traz uma referência, sempre tem uma coisa para te agregar. E a Duca tem uma mão de te puxar de onde está e te colocar mais para cima, que é sobrenatural. Eu me sinto num lugar de aprendizado, com muito respeito, que não é tão simples de encontrar.

.: "Os Banshees de Inisherin" com 9 indicações ao Oscar®, estreia no Star+

Destaque nas principais premiações da indústria cinematográfica, o filme é dirigido e escrito por Martin McDonagh e conta com Colin Farrell, Brendan Gleeson, Kerry Condon e Barry Keoghan no elenco


Aclamado pela crítica, o novo filme da Searchlight Pictures, “Os Banshees of Inisherin” estreia com exclusividade no Star+ em 22 de março. O longa-metragem de Martin McDonagh liderou a lista com mais indicações do Globo de Ouro® (oito no total), conquistando três prêmios e sendo o maior vencedor da noite. Além disso, a produção recebeu nove indicações ao Oscar® 2023, incluindo Melhor Filme, e ao BAFTA®, considerado o Oscar Britânico.

Situado em uma ilha remota na costa oeste da Irlanda, “Os Banshees of Inisherin” acompanha os amigos de longa data Pádraic (Colin Farrell) e Colm (Brendan Gleeson), que se encontram em um impasse quando Colm inesperadamente põe fim à amizade deles. Um atordoado Pádraic, auxiliado por sua irmã Siobhán (Kerry Condon) e o problemático jovem ilhéu Dominic (Barry Keoghan), se esforça para consertar o relacionamento, recusando-se a aceitar um não como resposta. Os esforços repetidos de Pádraic de pôr um fim no relacionamento apenas fortalecem a determinação de seu ex-amigo de reatá-lo. Quando Colm entrega um ultimato desesperado, consequências para ambos começam a acontecer.


Trailer oficial



domingo, 19 de março de 2023

.: "Memórias do Caos": teatro, cinema, literatura e foto no Sesc Bom Retiro


Marat Descartes dirige a atriz Magali Biff, em peça que enfoca as  mudanças climáticas e põe em cena ensaio fotográfico inédito de Bob Sousa. A trama é uma adaptação livre do romance "The Memoirs of a Survivor", da inglesa Doris Lessing, Prêmio Nobel de Literatura. Foto: Bob Sousa



Unindo literatura, teatro, fotografia e cinema, "Memórias do Caos" apresenta ao espectador uma narrativa híbrida na estreia que acontece no dia 17 de março, às 20h, no Sesc Bom Retiro. A montagem é uma adaptação livre do romance "The Memoirs of a Survivor", da inglesa Doris Lessing, vencedora do Prêmio Nobel de Literatura.

A direção é de Marat Descartes e o elenco conta com Magali Biff, Tatiana Thomé, Humberto Morais e Der Gouvêa. Trazendo para a cena um ensaio fotográfico inédito de Bob Sousa, o projeto tem curadoria da jornalista e roteirista Beatriz Carolina Gonçalves, que também assina a dramaturgia do espetáculo. A temporada vai até 23 de abril com sessões sempre sextas e sábados, às 20h, domingos e feriados, às 18h.   

A peça se passa num futuro próximo, após uma grande catástrofe. Em meio a uma sociedade degradada, convulsionada por cataclismos, vírus, refugiados e gangues de crianças dessocializadas, uma mulher e uma menina – acompanhada por seu cão – tentam sobreviver, ressignificando o passado em busca de uma nova utopia.  

A ação da peça se divide em dois níveis: o tempo presente, local do colapso social, onde a ação transcorre, e o mundo em ruínas atrás da parede, tempo do inconsciente, apresentado por meio do ensaio fotográfico de Bob Sousa, que vai acompanhar a mulher no resgate de suas memórias. Narrativa dentro da narrativa principal, o ensaio fotográfico se inspira no famoso média-metragem "La Jeteé", do cineasta e fotógrafo francês Chris Marker.  

O espetáculo tem como centro gravitacional a crise climática, provocada pela ação humana, que está levando o planeta a um ponto de não retorno. “Não se trata mais de crendices apocalípticas”, diz Marat Descartes. “Trata-se de compreender definitivamente que nossa sobrevivência depende antes de tudo de uma mudança de atitude coletiva e urgente, em que cada indivíduo deixe de agir como um parasita estúpido e inconsequente e passe a viver de forma simbiótica, cooperativa, em colaboração e com respeito por toda forma de vida com quem coexistimos”.  

Numa linha semelhante de raciocínio, a autora reforça a necessidade de se criar conteúdos que estimulem a discussão sobre o momento crítico que estamos vivendo. “É preciso contar histórias que estimulem a compreensão sobre o nosso lugar na Terra e a nossa capacidade de engendrar um futuro possível, diverso e plural, construído sobre as ruínas da sociedade industrial”, afirma. “'Memórias do Caos' pretende ser uma dessas histórias, contada com o intuito de refletir sobre o tempo de crise em que vivemos, tanto no âmbito dos afetos quanto na realidade extrema do planeta”

Com figurinos de Fabio Namatame, cenário e desenho de luz de Marisa Bentivegna, trilha sonora de Natalia Mallo, direção de movimento de Gisele Calazans, o projeto foi contemplado com o ProAC Edital Expresso Direto 37/2021, da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo. 

Ficha técnica:
Concepção e dramaturgia: Beatriz Carolina Gonçalves. Direção: Marat Descartes. Ensaio fotográfico: Bob Sousa. Elenco: Magali Biff (Narradora), Tatiana Thomé (Emily), Humberto Morais (Gero), Der Gouvêa (Hugo); além de Marat Descartes e Gisele Calazans (no ensaio fotográfico). Figurinos: Fabio Namatame. Cenário e desenho de luz: Marisa Bentivegna. Trilha sonora: Natalia Mallo. Edição de fotografia: Leonardo Palma. Edição de vídeo: Marat Descartes e Priscila Bernardes. Assistência de direção/direção de movimento: Gisele Calazans. Assistente de figurinos: André Von Schimonsky. Assistente ensaio fotográfico: Daniela Hamazaki. Cenotecnia: Edilson Quina (Urso). Iluminador ensaio fotográfico: Marco Aurélio Olímpio. Operador de luz: Ricardo Oliveira. Operador de som: Thiago Venturi. Assessoria contábil: Hitoshi Nizhimoto. Produção executiva: Eliane Sombrio. Direção de produção e assessoria de imprensa: Texto Intermídia Assessoria de Comunicação e Produção Cultural. 


Serviço

"Memória do Caos" - Sesc Bom Retiro – SP. Alameda Nothmann, 185 - Campos Elíseos. 
Local:
Teatro. Temporada: até dia 23 de abril (exceto dia 7). Sextas e sábados, às 20h. Domingos e feriados, às 18h. Dia 14 de abril, às 14h e às 20h. Sessões com acessibilidade: Dia 1°, sábado (Libras), e dia 2, domingo (audiodescrição). Valores: R$ 12 (credencial plena), R$20 (meia entrada) e R$40 ( inteira). Duração: 70 minutos. Classificação: 16 anos. Capacidade: 291 lugares. 


Sesc Bom Retiro 
Alameda Nothmann, 185, Bom Retiro - São Paulo 
Horário de funcionamento:  terças a sextas, das 9h às 20h . Sábados 10h às 20h .Domingos e feriados, das 10h às 18h. Telefone: (11) 3332-3600. O uso de máscara é recomendado principalmente em locais fechados.  


Estacionamento do Sesc Bom Retiro (vagas limitadas)   
O estacionamento do Sesc oferece espaço para pessoas com necessidades especiais, carros de baixa emissão, carros elétricos e bicicletas. A capacidade do estacionamento é limitada. Os valores são cobrados igualmente para carros e motos. Entrada: Alameda Cleveland, 529. Valores: R$ 5,50 a primeira hora e R$ 2 por hora adicional (Credencial Plena). R$ 12 a primeira hora e R$ 3 por hora adicional (Outros). Valores para o público de espetáculos à noite R$ 7,50 (Credencial Plena). R$ 15 (Outros). Horários: terça a sexta: 9h às 20h. Sábado: 10h às 20h. Domingo: 10h às 18h. Importante: em dias de espetáculos o estacionamento funciona até o término da apresentação.     


Transporte gratuito    
O Sesc Bom Retiro oferece transporte gratuito partindo da estação da Luz. O embarque e desembarque ocorre na saída CPTM/José Paulino/Praça da Luz. Horários: Ida >Sextas e sábados, das 17h30 às 19h50. Domingos, das 15h30 às 17h50. Volta > Ao término do espetáculo de volta à Estação Luz.

.: Escritor Tiago Feijó relança no Brasil edição do livro “Doze Dias”, premiado em Portugal


Obra ganhadora do Prêmio Manuel Teixeira Gomes de Literatura 2021 e finalista do Prêmio Leya do mesmo ano, é lançada no Brasil pela editora Penalux. Enredo aborda a relação de um pai e um filho, afastados por 15 anos, que se reencontram durante os últimos dias de vida do pai em um hospital.


Uma catarse familiar. Assim pode ser definido o romance “Doze Dias”, de Tiago Feijó, lançado em 2023 pela editora Penalux, após colecionar prêmios em Portugal: a obra faturou o Prêmio Manuel Teixeira Gomes de Literatura 2021, pela qual ganhou edição portuguesa, e foi finalista do Prêmio Leya do mesmo ano. Por meio da escrita poética, valendo-se de imagens e símbolos, o autor narra o reencontro entre Raul e Antônio, pai e filho que têm uma relação distante e estremecida, a qual precisa se reconfigurar justamente quando a saúde do pai se encontra debilitada. Os doze dias do título simbolizam o período em que ocorre essa catarse.

Este é o terceiro livro de Feijó, que tem uma carreira premiada. Em 2014 conquistou o prêmio Ideal Clube de Literatura, com o livro de contos “Insolitudes”, com o qual também venceu o Prêmio Bunkyo de Literatura 2016, como “melhor do ano”. Com seu segundo livro, “Diário da Casa Arruinada”, foi finalista do Prêmio São Paulo de Literatura 2018. Em 2021, venceu, pela segunda vez, o Prêmio Cidade de Manaus 2021, na categoria contos, com título a ser publicado em 2023.

Em “Doze Dias”, o autor constrói uma história que gera reflexões sobre redenção, perdão e a capacidade de aceitar os defeitos dos outros. “Também trata sobre a nossa finitude e limitação. Em dezembro de 2015, passei doze dias com meu pai num hospital até o seu falecimento. Essa experiência certamente foi a gênese da história, mas não é um livro autoficcional, visto que me utilizei apenas da ideia temática, o resto é ficção”, afirma. O autor conta que a escrita nasceu durante o processo da doença paterna, que durou cerca de dois anos. “Enquanto ainda estava com meu pai no hospital, comecei a tomar nota de certas coisas que via e ouvia, principalmente sobre terapias e jargões médicos”, lembra. Compre o livro "Doze Dias" neste link.


Uma história sobre frustrações, incapacidades e fraquezas
Narrado em terceira pessoa, o romance é guiado por capítulos que descrevem cada um dos doze dias vividos no hospital, em estrutura não linear. Esse “vai-e-vem” no tempo foi uma das experiências pessoais que Feijó viveu com o pai e que foi ressignificada na obra. “Quando retomei as anotações que havia feito no hospital, dois anos depois daqueles dias que passei com ele, não me lembrava exatamente em que dia ocorreu cada fato”, rememora. Assim, a narrativa se desenrola como “um dia encavalado numa dúzia de dias, doze noites transcorridas como que dentro de um único e enormíssimo dia”, como diz um dos trechos da obra.

Durante a leitura, é possível perceber um cuidadoso trabalho com a linguagem. “Penso me inclinar sobre o experimentalismo, principalmente no que diz respeito à estrutura desse livro”, explica o autor. É por meio desse jogo e de um narrador onisciente, que antecipa acontecimentos, que conhecemos os meandros da relação entre este pai e este filho. Após 15 anos de distância, quebrada apenas por uma ligação anual de Raul no dia do aniversário do filho, uma manhã o pai quebra o silêncio ao acordar com uma estranha dor que o impede de se levantar da cama. Morador da cidade de São Paulo, Antônio empreende a viagem de retorno a Lorena, cenário de sua infância, com o intuito de levar o pai ao hospital e poder retornar o quanto antes à sua rotina na capital.

Porém, a situação do pai se revela grave e durante doze dias os dois permanecem juntos. Na epígrafe da obra, Feijó recupera Jorge Luis Borges: “eu não falo de vingança nem de perdão, o esquecimento é a única vingança e o único perdão”. De acordo com o escritor, esses são os principais temas em que se debruça sua literatura. “Falo sobre o Homem e seus medos, seus limites, suas incapacidades e suas fraquezas. É sobre o que vai por dentro do Homem e das suas relações que me propus tratar nos meus dois outros livros, assim como nesse”, ressalta.

Além de Antônio e Raul, pai e filho, o enredo apresenta outras personagens com iguais dores, frustrações e rupturas. Mulheres que, como anuncia o médico e escritor Santana Filho na orelha da obra, são uma solução de continuidade entre pai e filho. Entre elas, temos Noemi, mãe de Antônio e ex-mulher de Raul; Dona Amélia, respectivamente avó e mãe dos personagens; e Alice, a filha que havia rompido com o pai e com quem também estabelece uma reaproximação antes de sua morte. Obra traz influências de Raduan Nassar, Cristóvão Tezza, William Faulkner e Julio Cortázar.

Entre as principais influências literárias de Feijó, estão Manuel Bandeira, Raduan Nassar, Adélia Prado, Jorge Luís Borges, António Lobo Antunes, Ruth Guimarães, João Guimarães Rosa, Marcelo Labes e Cristina Judar. No caso de “Doze Dias”, o autor destaca que o romance tem influência dos livros brasileiros “O Filho Eterno”, de Cristóvão Tezza, e “Lavoura Arcaica”, de Raduan Nassar, além de “Enquanto Agonizo”, do norte-americano William Faulkner, e “Jogo da amarelinha”, do argentino Julio Cortázar.

Feijó, que é adepto de escrever pela manhã e em bibliotecas, conta que começou a criar histórias por volta dos 15 anos. “Como lia muito, logo surgiu a vontade de inventar também aqueles mundos nos quais eu vivia. Comecei em um caderno de escola e não parei mais”, aponta. Hoje seu desafio é escrever um pouco por dia. “Uma página por dia já seria ótimo, um livro de 365 páginas por ano. Mas, claro, isso não acontece comigo”, diz.

Este é o segundo livro do autor publicado pela Penalux. “Meu segundo livro e primeiro romance, ‘Diário da Casa Arruinada’, foi publicado por eles em 2017. Conheço a editora porque moro perto deles, somos da mesma cidade. O processo de edição foi o melhor possível, participei de todo o caminho, sugeri e escolhi cada detalhe. Isso porque a proximidade nos permite isso”, frisa.

Em breve será possível acompanhar um novo trabalho literário do escritor. “Estou produzindo um novo romance, uma experiência diferente daquilo que já fiz, um livro mais político, que dialoga mais com o nosso tempo. Mas tenho também um livro de contos pronto, vencedor do Prêmio Cidade de Manaus 2021, que pode vir antes desse novo romance”, enumera.


Sobre o autor
Tiago Feijó é professor e escritor. Formou-se em Letras Clássicas pela Unesp. Venceu o Prêmio Ideal Clube de Literatura 2014. É autor dos livros “Insolitudes” (7letras, 2015), “Diário da Casa Arruinada” (Penalux, 2017), finalista do Prêmio São Paulo de Literatura, e “Doze Dias” (Penalux, 2022). Tem textos publicados em diversas antologias, revistas e blogs de literatura. Garanta o seu exemplar de "Doze Dias" neste link.


Trechos do livro:
“Antônio não vislumbra resposta que o satisfaça. E o espanto cresce imenso dentro dele ao se dar conta das pessoas que cruzam a praça, indo e vindo no alvoroço de seus afazeres, todos ocupadíssimos, todos indiferentes àquela mulher que desaparece lentamente, todos esquecidos desta nossa morte, essa morte que carregamos dentro de nós e que mais dia menos dia nos levará a todos igualmente. Quanto vale a vida? – Antônio se pergunta.” (p. 65)

“Assim como está, com o rosto branco de espuma e a lâmina em riste, Antônio sai à procura do telefone e o encontra em cima da cama, aceso. A voz de Silvio Rodriguez já ecoa enchendo todo o quarto. Si no creyera en la locura. Ao deitar a vista na tela do telefone, ele se espanta, seus olhos esgazeados assim o comprovam. Lê, relê e treslê a palavra Lorena que anuncia o autor da chamada. Saibamos todos que Lorena é a cidade onde mora o pai e, por algum motivo ignoto, foi com esta palavra que Antônio nomeou o telefone daquele homem mitológico, a quem não vê há mais de quinze anos?” (p. 33)


O que disseram sobre o livro
“Por meio de uma narrativa densa e lírica, ainda que distante de qualquer assepsia, acompanhamos o reencontro deste pai e o filho, inicialmente restrito aos limites de um hospital, libertado por janelas escancaradas para fora de paredes e para dentro da pele, onde a vida viceja incólume, orgânica e brutal. (...) É de tais alegorias súbitas que se vale a escrita madura de Tiago Feijó para discriminar as facetas do tempo externo e interno, dispondo de doze dias, aurora da eternidade que nos aprisiona e liberta”. Santana Filho, médico e escritor, na orelha da obra. Você pode comprar o livro "Doze Dias" neste link.

.: "A Máquina do Caos", de Max Fisher, e a eleição de Jair Bolsonaro


"A Máquina do Caos", de Max Fisher, é uma obra definitiva sobre os impactos das redes sociais em nossa sociedade. Temos uma vaga sensação de que o uso intenso das redes sociais nos é prejudicial. Documentários e reportagens produzidos ao longo dos últimos anos já mostraram como uma ou outra plataforma opera, mas a realidade é que seus impactos são muito mais profundos do que imaginamos. 

No livro lançado pela editora Todavia, Max Fisher, repórter do jornal The New York Times, foi a fundo nesta reportagem investigativa, mostrando a influência das redes na sociedade, na política, na cultura e na saúde de bilhões de usuários. Ele entrevistou não só pesquisadores e responsáveis por desenvolver os algoritmos das maiores plataformas de nosso tempo, como também usuários das redes e de fóruns obscuros - as verdadeiras terras sem lei da internet -, além de várias vítimas da desinformação e do ódio, e criou um retrato de corpo inteiro das gigantes da tecnologia, de seu funcionamento interno e de seus efeitos no mundo.

Em viagens para Sri Lanka, Mianmar, México, Alemanha e Brasil, Fisher identificou como a onipresença do discurso de ódio está intrinsecamente relacionada com as redes sociais, enquanto Facebook, Google, Twitter e outras empresas se recusam a intervir ou a se responsabilizar por eventos que são estimulados por seus algoritmos, como campanhas antivacinas, crimes de xenofobia e racismo, resultados de eleições, chegando ao tenebroso genocídio em Mianmar. 

Como o autor demonstra, o princípio fundador das redes é se aproveitar de nossas vulnerabilidades psicológicas, forjando um contexto em que os estímulos e a polarização incentivam pessoas comuns a se transformarem em extremistas. Valendo-se de tecnologias tão avançadas que já são desconhecidas até para seus criadores, as empresas desenvolveram algoritmos que propagam fake news, preconceitos e teorias da conspiração, culminando na eleição de figuras como os ex-presidentes do Brasil e dos Estados Unidos. 

O resultado dessa pesquisa monumental é "A Máquina do Caos", um panorama estarrecedor e um alerta para que repensemos com urgência nossa relação com as redes, porque “podemos ser a última geração que vai lembrar como era a vida antes que elas existissem”. Compre o livro "A Máquina do Caos" neste link.


Trecho do livro:
"Em fins de 2018, o deputado marginal e youtuber que havia lançado a campanha de desinformação contra Lionço seis anos antes, um homem chamado Jair Bolsonaro, concorreu à presidência do país. Todos esperavam que ele fosse perder. Em vez disso, ele ganhou com dez pontos percentuais a mais do que o concorrente. Foi o acontecimento mais significativo na política global desde a eleição de Donald Trump. O sexto maior país do mundo ficou sob o comando de um conspiracionista de extrema direita. Ele administrou a destruição de milhões de hectares da Floresta Amazônica, sinalizou seu apoio à violência da extrema direita, atacou implacavelmente as instituições democráticas do Brasil e esvaziou a máquina estatal burocrática. 

A ascensão de Bolsonaro parecia uma narrativa de raiva do público contra a corrupção no governo, a desordem econômica e os retrocessos democráticos. Mas os brasileiros e analistas com quem conversei só falavam das plataformas sociais dos Estados Unidos. “A direita brasileira mal existia até coisa de dois anos atrás”, disse Brian Winter, diretor da revista acadêmica sobre política Americas Quarterly. “Ela saiu praticamente do nada”.

A classe dominante havia rejeitado Bolsonaro por conta de suas conspirações extremistas, seus discursos de ódio e sua hostilidade contra mulheres (“Não te estupro porque você não merece”, ele dissera a outra deputada). Mas esse comportamento para chamar a atenção dava resultado nas redes. As mídias sociais e, em particular, o YouTube, disse Winter, apresentavam Bolsonaro como “uma personalidade reinventada”. Antes da eleição, Winter visitara o gabinete dele, querendo entender sua ascensão tanto estranha quanto repentina. Seus oito assessores “passaram todo o tempo que eu estava lá nas redes”, disse ele. “Ninguém fazia trabalho legislativo”. 

Não era só Bolsonaro. Por motivos que ninguém conseguia explicar, o Brasil estava inundado de conspirações e novas pautas radicais que, em todos os casos, pareciam vindas do YouTube. “Comecei a conferir o YouTube quando, no primeiro debate de candidatos a presidente, um deles falou da Ursal”, contou uma pesquisadora que trabalha no Brasil, Luiza Bandeira. A Ursal, um plano fictício para unir a América Latina como um Superestado pancomunista, supurou nas margens da extrema direita brasileira até que, em 2016, estourou no YouTube. 

Vídeos que impulsionavam o plano renderam centenas de milhares de visualizações — guiados, em grande parte, como concluiu Bandeira, pelos algoritmos da plataforma, que consistentemente encaminhavam até ela mesma de vídeos sobre política para vídeos sobre conspiração. Outras dezenas de conspirações borbulhavam no diálogo nacional, desatando ondas sísmicas de perplexidade e medo país afora. 

Um juiz que investigava políticos de esquerda e que morrera em um acidente, dizia uma delas, na verdade havia sido assassinado. As Forças Armadas estavam preparando um golpe de Estado. Agentes estrangeiros iam fraudar a eleição, estavam inseminando doenças letais no país e subornando o governo para perder a Copa do Mundo. Garanta o seu exemplar de "A Máquina do Caos" neste link. 


Sobre o autor
Max Fisher é repórter do jornal The New York Times e foi finalista do Prêmio Pulitzer em 2019 com uma reportagem coletiva sobre as redes sociais.

.: Entrevista: Júlio Fischer fala sobre as emoções da próxima novela das seis


Autor de "Amor Perfeito" conta sobre o que o público pode esperar da próxima novela das seis. Na imagem, 
Elisio Lopes Jr., Duca Rachid e Júlio Fisher. Foto: Globo/Paulo Belote

Nesta segunda-feira, dia 20 de março, começa "Amor Perfeito", a próxima novela das seis. E o autor Júlio Fischer fala sobre as emoções e  tramas que prometem fazer da cidade fictícia de Águas de São Jacinto um lugar onde o mais sublime dos sentimentos transborda em suas variadas formas. Ele divide a autoria com Duca Rachid e Elísio Lopes Jr. 

A nova novela apresenta uma história sobre o mais sublime dos sentimentos - o amor e suas diferentes manifestações. A trama se passa nas décadas de 1930 e 1940 em Águas de São Jacinto, uma fictícia cidade do interior de Minas Gerais, e é livremente inspirada na obra “Marcelino Pão e Vinho”, de José María Sánchez Silva, publicada pela primeira vez no começo dos anos 50.

Júlio Fischer é dramaturgo e roteirista, nascido em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Na TV Globo, é desde 1997 autor-roteirista, onde foi colaborador de autores como Walther Negrão, Elizabeth Jhin, Duca Rachid e Thelma Guedes, em mais de uma dezena de novelas, entre elas, "Era Uma Vez..." (1998), "Desejo Proibido" (2007) e "Cordel Encantado" (2011). Como autor, esteve à frente do "Sítio do Picapau Amarelo" (2001), com Duca Rachid e Alessandro Marson, e "Sol Nascente" (2016), com Walther Negrão e Suzana Pires

Pós-graduado em Teatro pela Universidade de São Paulo, orientado por Barbara Heliodora, foi assessor de Bibi Ferreira no espetáculo “Brasileiro Profissão Esperança”, estrelado e dirigido pela atriz, e autor de peças como o musical “A Canção de Assis”, “Personalíssima - A vida e as canções de Isaura Garcia”, “Emilinha e Marlene, as Rainhas do Rádio”, em parceria com Thereza Falcão, e “As Brasas”, em parceria com Duca Rachid, baseado no romance homônimo de Sándor Marai. Confira abaixo a entrevista.


Podemos falar que “Marcelino Pão e Vinho” é uma das principais, se não a principal referência pra novela? Qual a relação de vocês com essa história?   
Júlio Fischer - A gente aproveita esse fio de trama para criar outros núcleos, outros personagens, tratando desse mesmo tema - a relação entre pais e filhos, nas suas diferentes formas. Em 2003, a Duca (Rachid) veio com essa ideia e começamos a criar a sinopse, que ficou guardada. Recentemente, há uns dois anos, ela me perguntou o que eu achava da gente revisitar aquela sinopse. Aí começamos a retrabalhar, dar uma outra forma para aquela sinopse, agora com um olhar mais amadurecido.


Vocês já destacaram que a Marê (Camila Queiroz) não será uma mocinha e sim uma heroína romântica. Podem falar mais sobre as nuances da personagem?
Júlio Fischer - 
A mocinha geralmente sofre e fica à mercê de um vilão, de uma vilã. A nossa Marê, por ser uma heroína, se posiciona, se coloca. Desde o primeiríssimo capítulo, ela já se coloca contra o pai, não se submete. Ela tem a iniciativa de estudar na capital, no primeiro curso de Administração e Finanças, que foi aberto em 1934 por Getúlio Vargas, e ela é a única mulher da turma. Ela se coloca depois contra o pai, que não admite o relacionamento dela com o Orlando, por ser um homem negro. E depois ela não vai apenas reagindo ao mal que lhe é feito, mas ela vai plantando o destino dela. É nesse sentido que é uma heroína. Ela é capaz de se colocar frontalmente contra as forças que querem derrubá-la. Vai atrás de justiça. Não se submete passivamente ao mal que lhe fazem.      


O que o público pode esperar dos antagonistas da novela? Que tipo de vilões serão Gilda (Mariana Ximenes) e Gaspar (Thiago Lacerda)? Qual o limite da maldade deles?   
Júlio Fischer - A Gilda (Mariana Ximenes) é uma vilã com nuances, sim, tem uma profundidade. É uma vilã muito perversa, mas no decorrer da novela a gente vai percebendo que essa maldade nasce de uma dor profunda, então a gente vai entendendo a raiz desse mal. Não é um estereótipo da maldade pura e simples. Embora a nossa história tenha uma referência de contos de fadas, ela não é uma bruxa, ela é mais que apenas a personificação do mal. A gente vai mergulhando aos poucos na dor dela, e descobrindo o que está na origem desse mal. No decorrer da novela a gente vai mostrando as fragilidades dela, a carência de amor, a infância miserável que ela teve. O Gaspar (Thiago Lacerda) também tem um arco dramático. No começo, ele é manipulado durante um bom tempo, porque ele tem uma moral “elástica”, que herdou do pai, e uma fixação pela Gilda. Depois, ele vai dar uma virada e vai ganhar um objetivo próprio maior, e vamos vê-lo como que sendo disputado pelo bem e o mal que habitam nele (como em todos nós, aliás).  A nossa intenção é explorar essas nuances, tanto do Gaspar como da Gilda, às últimas consequências. Humanizar, humanizar, humanizar.


Como vocês chegaram nessa configuração da Irmandade dos Clérigos de São Jacinto?   
Júlio Fischer - Não vamos fazer só franciscanos, só dominicanos, vamos colocar diferentes ordens, pra ampliar esse olhar para a diversidade, na maneira de se relacionar com Deus. Embora sejam todos cristãos, há diferenças entre as ordens. Entusiasmados com essa diversidade de ordens, fomos nos informar, com membros da Igreja, se uma irmandade nesses moldes seria possível e a resposta foi afirmativa. Apostamos muito nessa Irmandade como um celeiro de amor e de convivência harmoniosa baseada no respeito mútuo às diferenças.

Em "Amor Perfeito" teremos um núcleo cômico ou isso vai passear por diversos personagens?   
Júlio Fischer - A irmandade não cumpre, estritamente, a função do núcleo cômico. Temos vários outros personagens que fazem esse papel. Um exemplo é o pessoal do armazém, a Ione (Carol Badra), a fofoqueira oficial e seu atormentado marido, o Ademar (Gustavo Arthidoro). São cômicos, mas também têm seus dramas.


O que vocês destacariam como diferencial dessa novela?
Júlio Fischer - A gente começa pelo fato de que o nosso Marcelino (Levi Asaf), na nossa versão, é um menino negro. Isso já norteia todo o desenvolvimento da história. Esteticamente, também, a gente está obedecendo a referências históricas. É uma cidade ficcional, sim, mas não é uma cidade fantasiosa. É uma cidade que bebe muito da realidade que a gente absorveu em pesquisa. Tão referências quase absolutamente desconhecidas da nossa chamada elite intelectual. Então é muito importante enfatizar essa questão de que não é um universo fantasioso que nós estamos colocando na novela, mas é um universo que existiu historicamente, mas que ficou à margem dos livros de história. Assim como, até há bem pouco tempo, o currículo escolar omitia quase completamente a importância da herança africana na formação da cultura brasileira.


O que significa pra vocês estarem nesse projeto? Quais as expectativas?
Júlio Fischer - Para mim, a importância primeira foi de voltar a trabalhar com a Duca (Rachid). A gente foi parceiro como autores titulares durante um bom tempo no "Sítio do Picapau Amarelo", depois eu fui colaborador da Duca em várias novelas. A gente voltar a trabalhar juntos é tudo de bom. Depois, a chegada do Elísio (Lopes Jr.) foi uma abertura na minha cabeça e na cabeça da Duca. O que o Elísio traz de informação, frescor, e esse olhar inteligente e sensível que ele tem para as coisas, isso é maravilhoso. Em terceiro lugar, essa novela representa voltar para um lugar que, para mim, é muito caro. Alguns anos atrás eu escrevi e produzi uma peça infantil que fez muito sucesso, ganhou todos os prêmios daquele ano, "A Canção de Assis". Era a história de um menino de rua do século XIII, que procura um burrinho desaparecido e acaba chegando em Assis, porque ouve dizer que em Assis vivia um louco que conversa com pássaros. O "louco" era o jovem Francisco de Assis, no início de sua iluminação. Nessa época eu mergulhei muito nesse universo franciscano e publiquei a história da peça num livro da Editora Vozes. Para mim, essa equipe, esse trabalho é realmente um amor perfeito.

.: Entrevista: Larissa Santos, eliminada do "Big Brother Brasil 23"


Larissa Santos aposta em uma revisão de trajetória para o grupo que integrou e ainda permanece no programa. Foto: Globo/João Cotta

“Talvez devesse ter me posicionado mais no dia a dia e escutado mais as pessoas. De resto, eu fui líder, fui anjo, me joguei nas festas, fui leal às pessoas que estavam comigo desde o começo. Acho que isso é o mais importante”
. É assim que Larissa, última eliminada, avalia sua passagem pelo "Big Brother Brasil 23". A professora de Educação Física entrou no jogo para mostrar a que veio: teve uma forte amizade com Bruna Griphao, a quem defendeu e chamou a atenção quando achou que devia; se permitiu viver um relacionamento com Fred, do canal "Desempedidos", que acredita ter sido um importante aliado emocional no game.

Ganhou provas; se desentendeu com adversários, como Key Alves e Cristian Vanelli, e com aliados, como Paula Freitas e Ricardo Camargo; e também se divertiu muito. Entre a predileção do público e as críticas por posicionamentos na casa, caiu no paredão quando não estava em seu melhor momento na competição, e foi eleita com 66,5% para deixar a disputa em que enfrentou Cezar, Domitila e Ricardo. Hoje, Larissa Santos aposta em uma revisão de trajetória para o grupo que integrou e ainda permanece no programa. Na entrevista a seguir, ela também elege seus maiores rivais, monta o pódio que deseja ver na final do reality show.


Que balanço faz de sua trajetória no "BBB 23"?
Larissa Santos -
Acho que foi uma trajetória entre razão e emoção. Agi muito pela razão e, muitas vezes também, pela emoção. E é isso que eu sou, independentemente de qualquer coisa. Eu fiz tudo de coração mesmo e não me arrependo das coisas que vivi. Acho que foi uma trajetória bonita e da qual me orgulho, agora, assistindo. É claro que tem vários fatores que a gente vai corrigindo mas, no geral, foi muito bom.
 

Quais são os momentos mais marcantes da sua passagem pelo reality?
Larissa Santos - 
Primeiro, a entrada; foi muito emocionante. Entrar com a Bruna (Griphao), nossa parceria, nossa amizade e a nossa primeira liderança foi muito especial. A primeira prova de resistência, em que ficamos até o final, mesmo não tendo ganhado, também foi emocionante. Ter conhecido o Fred e a gente ter tido nosso relacionamento me fortaleceu muito jogo. Precisei dele em vários momentos, então ele foi muito importante para mim. Todas as festas também foram muito divertidas. E ainda tiveram as amizades que eu fiz e quero levar para a minha vida. Foram pessoas com quem me conectei muito lá dentro e, dependendo de tudo que aconteceu – não vi ainda – eu quero continuar essas amizades, se forem sinceras como a minha foi com elas.
 

Que amigos pretende trazer do "BBB" para a vida aqui fora?
Larissa Santos - 
Do que eu senti lá dentro, são as pessoas que estavam comigo: Bruninha, Fred, Amandinha, Mamy (Aline Wirley), MC Guimê e Sapato (Antonio “Cara de Sapato” Jr) São as pessoas que estavam comigo no quarto mais recentemente, que se despediram de mim.
 

Já conseguiu entender o que pode ter provocado a sua eliminação do programa?
Larissa Santos - 
Eu entendi que talvez tenha sido eu não me posicionar em outros momentos além dos jogos da discórdia. Precisava ter exposto mais as coisas que eu pensava, minha visão de jogo, algo que em certo momento talvez eu tenha deixado um pouco de lado. Mas é como eu falei no programa: eu não tenho o hábito, na minha vida, de ficar criticando as pessoas. No jogo da discórdia é o único momento em que a gente é obrigado a criticar as pessoas, então eu criticava, levantava pontos, ali. No jogo, em geral, eu fazia em alguns momentos, quando estava falando em grupo, mas não tinha essa coisa de chegar nas pessoas e falar.


A formação de dois grandes grupos foi uma característica desta temporada. Na sua opinião, você esteve do lado certo do jogo?
Larissa Santos - 
Eu acho que, na verdade, não tinha lado certo. Tinham dois lados e o público estava julgando individualmente cada pessoa, porque saía gente do Deserto e do Fundo do Mar. Mas eu fiquei muito feliz com as pessoas com quem estava. Não sei se o grupo foi bom ou ruim para todo mundo. Muitas vezes a gente pensava “meu Deus, tenho afetos no outro quarto, queria jogar com outras pessoas também ou pelo menos votar em quem quiser”, e acabava que não tinha isso. Mas eu sou feliz com as pessoas que encontrei e acho que não teve certo ou errado, foram julgamentos individuais, na minha visão.


Você e o Fred se tornaram grandes amigos e, depois, tiveram um relacionamento amoroso na casa. De que forma essa relação influenciou o seu desempenho na disputa pelo prêmio?
Larissa Santos - 
Para mim foi positivo, é o que eu consigo enxergar até agora e foi como eu me senti lá dentro. Muitas vezes eu fiquei ansiosa e era ele que me ajudava, me dava conselhos, estava do meu lado. Talvez, se eu não tivesse me relacionado com ele, emocionalmente não teria ficado tão bem como eu fiquei. Ele me fortaleceu. Do que eu sinto e vi até agora, foi muito bom para mim. Quanto ao que as pessoas acham, eu vou vendo aos poucos e refletindo, mas sinto que foi algo positivo para mim.
 

Desde a entrada na casa, sua amizade com a Bruna Griphao se manteve forte, apesar de alguns conflitos. Como avalia a relação de vocês duas?
Larissa Santos - 
A Bruna é doideira! Tanto que eu falei que se a gente não entrasse junto, não ia ser amiga. No começo a gente brigava para caramba porque eu tinha um sentimento de proteção. Via ela fazendo coisas erradas e queria ajudar, e pensava: “O povo deve estar me achando a amiga chata” (risos). Mas era mesmo pela proteção. E ao mesmo tempo que a gente batia de frente por coisas de convivência mesmo, eu sempre senti que era coisa de uma amizade muito sincera. Sabe aquela amiga que fala e briga mesmo? Mas, no fundo, a gente estava ali para se defender. Eu não deixava ninguém falar dela. Às vezes, via que a Key Alves vinha para o lado dela e falava: “Vou lá defender a minha amiga”. Enfim, entre altos e baixos, era uma amizade verdadeira. Tenho certeza de que ela também gosta muito de mim e de que vamos levar essa amizade para a vida.
 

Apesar de fazer parte do grupo do quarto Deserto, inicialmente, o Ricardo teve forte embate com os membros de lá nas últimas semanas. Por que acha que esses conflitos aconteceram entre vocês e ele?
Larissa Santos - 
Até um certo momento a gente defendia muito ele, mas o Alface (Ricardo Camargo) vai de zero a 100 muito rápido, é o jeito dele. Ele guarda muito as coisas e, do nada, explode. Só que a gente não está esperando! Às vezes ele está guardando há muito tempo, mas a gente não tem uma bola de cristal para saber. E ficamos: “Meu Deus, o que está acontecendo?”. Mas, desde o começo sempre falei, é porque ele é muito sentimento, muito coração. E aí acho que não é nem nossa culpa, porque a gente tomava um susto. E não foi nem só eu, o quarto todo e pessoas do outro quarto sentiam o mesmo. Acho que essa ida dele de zero a 100 muito rápido foi o que gerou muitos conflitos com a casa.

 
Parte do público aqui fora observou que o grupo do seu quarto tinha como alvo sempre as mesmas pessoas para indicar ao paredão. Acredita ter havido uma perseguição a determinados participantes do grupo adversário?
Larissa Santos - 
Não, zero. Os votos eram por afinidade e, pelo pouco que eu vi aqui fora, eu não estava errada sobre algumas coisas que eu sentia. Nunca foi perseguição, nem da minha parte nem da de ninguém.
 

Você teve algum grande rival na temporada? Quem e por quê?
Larissa Santos - No começo foi a Key. Até tentei vê-la com outros olhos até antes de ela ir embora, mas não deu. Vi alguns vídeos de ela falando muita coisa feia de mim que eu jamais imaginava. Então, acho que ela me considerava mais rival dela do que eu a ela. Para mim, ela era só uma pessoa com quem o santo não tinha batido. E agora, vendo de fora, ela me considerava uma rival. Então, foi ela no começo e, depois o Cristian e a Paula, com quem a conexão não batia mesmo sendo do meu grupo. Do Cristian, de certa forma, eu era uma adversária no jogo. E agora, por último, o Ricardo estava meio que indo nessa onda, mas não sei como seria se eu continuasse lá porque foi muito recente.
 

Como a sua saída vai impactar no jogo do seu grupo, na sua opinião? 
Larissa Santos - Acho que eles vão rever algumas coisas sobre os últimos acontecimentos, principalmente com relação ao Black (Cezar) e ao Alface. Ver que, talvez, as coisas não sejam bem assim. Acho que vai ser bom para eles rever as coisas. Mas, acredito que minha saída vai mexer bastante com eles porque eles não esperavam. Eu esperava mais do que eles, que estavam muito confiantes de que eu ia voltar. Eu estava com o sentimento de que ia sair, estava tranquila e sentindo que era a minha vez de ir embora.
 

Se tivesse a chance, mudaria algo no seu jogo?
Larissa Santos - 
Talvez devesse ter me posicionado mais no dia a dia e escutado mais as pessoas. Eu vejo que às vezes eu falo, mas não gosto de escutar tanto. Mas era uma coisa que eu já estava revendo no programa e corrigindo em mim mesma. De resto, eu fui líder, fui anjo, me joguei nas festas, fui leal às pessoas que estavam comigo desde o começo. Acho que isso é o mais importante.
 

Quem deseja ver na final desta edição?
Larissa Santos - 
Eu não dá mais, né? (risos). Mas, com tudo que eu estou sabendo, hoje eu montaria o pódio com Fred, Bruna e Amanda. 

 
E quem você vai torcer para que ganhe?
Ai, isso é muito difícil (risos)! Bruna e Fred, #Brued, pode ser? (risos)

Quais são seus planos para o período pós-"BBB"? Pretende seguir atuando na área de educação física?
Larissa Santos - 
Eu já trabalhava também com a internet, gosto bastante. Pretendo também abrir alguma coisa para mim na minha área, mas usando as redes sociais, que sempre gostei. Como eu já fui taxada de tiktoker, de gostar de bater foto, é isso mesmo (risos). Eu gosto, sempre fiz e pretendo continuar e fazer jus a isso. Tenho o maior orgulho de ser taxada assim.

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