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sábado, 27 de novembro de 2021

.: Crítica: "Sem Palavras" é o idioma como instrumento de contestação


Por 
Helder Moraes Miranda, editor do Resenhando. Fotos: Nana Moraes.

Espetáculo que abriu a edição 2021 da Ocupação Mirada, "Sem Palavras", da Companhia Brasileira de Teatro, é, de fato, uma celebração. Apresentado no palco do Sesc Santos dentro da programação de espetáculos presenciais, "Sem Palavras" é anárquico e combativo ao mesmo tempo. Ao longo de várias esquetes que, de alguma maneira, são conectadas à realidade das pessoas que assistem, a peça teatral escancara o Brasil de hoje.

Todos os atores de "Sem Palavras", espetáculo de autoria de Marcio Abreu, tem o seu momento de brilhar. Na estreia do espetáculo em território brasileiro, depois de passar por festivais internacionais na França e Alemanha, duas figuras atraíram todos os olhares: as travestis de cabelos cor-de-rosa e loiro que, dizem, são irmãs. Gêmeas. Livres, leves, soltas, muitas vezes nuas e combativas ao longo de scarpins rosa-metálicos e botas de cano alto. São puro poder em um país que mata a comunidade LGBTQIAP+ só por serem quem são.

No espetáculo figuram todos os tipos, que vão de Jem e as Hologramas a homens frustrados com a próprias vidas e descontando a tristeza em tudo e em todos. Não é, de fato, o que acontece? O teatro do Sesc Santos, lotado, marcou a reabertura do Festival, que ano passado foi impedido de ser realizado por conta das complicações da covid-19 ao redor do mundo. Isso foi de alguma maneira uma celebração à vida, um abraço à arte, as pessoas voltando à vida normal. 

Não se pode deixar que pensar que o espetáculo "Sem Palavras" homenageia a língua portuguesa. À palavra, à pronúncia, à beleza do idioma e, com isso, não se furta a lançar mão de nudez, gritos, danças e exemplos de vida na prática. A palavra e o idioma como ofício e instrumento de contestação. A anarquia como estratégia de recomeço. Ou há algo mais disruptivo e contra o sistema e o status quo como uma travesti, de escarpin rosa metálico, recebendo, nua, os aplausos do público no final do espetáculo? 


sábado, 13 de novembro de 2021

.: "Forever Young" em 10 motivos para não perder esse super musical


Por: Mary Ellen Farias dos Santos* 

Em novembro de 2021


Como você estará em 2050?! Nós não sabemos a resposta exata dessa pergunta. Contudo, seis velhinhos no espetáculo musical "Forever Young" mostram que envelhecer ao som do rock´n´roll é uma forma de ser eternamente jovem. Ainda, de quebra, deixa o público arrepiado com os vozeirões em perfeita harmonia. Para tanto, nós do Resenhando.com elencamos 10 motivos para você não perder a produção que faz rir e refletir sobre viver a "melhor idade".

Foto: Estevão Buzato

1. Em cartaz desde agosto de 2016, "Forever Young" tem um elenco cheio de sintonia no casamento das vozes. Atualmente, os nomes dos integrantes do asilo dos artistas são Carmo Dalla Vecchia, Keila Bueno, Fred Silveira, Paula Capovilla, Ton Prado, além da enfermeira Nany People (intérprete no interior de São Paulo e on-line) ou Janaina Bianchi (intérprete em São Paulo). 

2. O musical com uma trilha sonora nacional e internacional que é puro rock´n´roll, é a possibilidade do futuro de seis atores quase centenários interpretando a si mesmos -e todos brilham no palco. Portanto, no asilo dos artistas temos Carmo, Keila, Fred, Paula, Ton e Miguel sendo supervisionados pela enfermeira Janaína que sonha ser vedete -e tem tudo para isso, Janaina é dona do vozeirão que marcou a infância de muitos com o tema original de "Pokemón". 

Foto: Paula Paprika Fotografia

3. A poesia por meio de recordações do passado e tentativas de reviver o que foi bom numa época em que o desejo de mudar o mundo era enorme, movimentam a apresentação de uma trilha sonora que faz o público cantar e bater palmas junto. Como não se arrepiar com a potência vocal de Paula Capovilla interpretando o clássico na voz de Joan Jett,"I Love Rock and Roll"?

4. A produção transborda alegria de viver e rapidamente contagia o público ao som de clássicos como "Smells Like a Teen Spirit", “I Wil Survive”, "I Got You Babe", “Roxanne”, “Satisfaction”, “Sweet Dreams”, “California Dreamin”, “Let It Be”, “Imagine”, e a emblemática, que dá título ao espetáculo, "Forever Young". 

5. No repertório, que é uma ode à vida, há sucessos nacionais como “Eu nasci há 10 mil anos atrás” de Raul Seixas, “Do Leme ao Pontal” de Tim Maia e “Valsinha” de Chico Buarque.

6. Com direção musical e piano de Miguel Briamonte, no palco, é também integrante do grupo de velhinhos e quem dá o ritmo ao demais -e até tenta colocar a enfermeira no seu devido lugar por meio de resmungos indecifráveis. Hilário! No entanto, a maior surpresa é quando fica claro que naquele piano está o que resta do amado mestre dos musicais: Miguel Falabella. 

7. Embora apresente toda a alegria dos que tiveram o prazer e a honra de envelhecer, "Forever Young", usa o bom-humor e não deixa de destacar as dificuldades que o tempo traz. Seja a mente falha que logo se perde em distrações ou o corpo que não mais colabora. Mérito também para a caracterização de Hugo Daniel e Paulette Pink.

8. "Forever Young" tem direção geral de Jarbas Homem de Mello que ainda narra a história e logo começa trazendo bom-humor, além de deixar bem claro a que o espetáculo veio.

Foto: divulgação

9. O texto divertido do suíço Erik Gedeon, com direção de Jarbas Homem de Mello e produção de Henrique Benjamim, também tradutor, da HBenjamin Produções é um presente para o povo brasileiro que busca pelo menos 100 minutos de descontração e entretenimento.

10. Com o elenco rotativo, cada nova formação apresenta um novo espetáculo, ou seja, "Forever Young" sempre trará frescor aos palcos, além da graça em fazer rir ou conversar com o público por meio de canções com diversos significados aos presentes na plateia. É um musical para se ver e rever!

Confira a crítica do nosso editor Helder Miranda: Crítica: musical "Forever Young" leva alegria em país devastado pelo luto

Foto: Marcos Moraes


Serviço:
"Forever Young"
Sábado, dia 13, às 20h30, e domingo, dia 14 de novembro, às 18h.
Classificação etária: 14 anos. Duração: 100 Minutos

Teatro Liberdade
Endereço: Rua São Joaquim 129 – Liberdade – São Paulo/SP

Apresentações online
Dias 23 a 28 de novembro, e de 30 de novembro a 5 de dezembro.


* Mary Ellen é editora do site cultural www.resenhando.com, jornalista, professora e roteirista, além de criadora do photonovelas.blogspot.com. Twitter:@maryellenfsm


Encerramento de "Forever Young" no Teatro Liberdade




.: Crítica: musical "Forever Young" leva alegria em país devastado pelo luto


Por 
Helder Moraes Miranda, editor do Resenhando.

É impossível, em um primeiro momento, dissociar o espetáculo musical "Forever Young" de artistas que morreram jovens - Fernanda Young, Marília Mendonça, Paulo Gustavo, entre outros. Mas essa impressão vai se dissolvendo nos primeiros minutos da peça teatral, já que "Forever Young", mais do que a música clássica da banda Alphaville, é sobre a vida. 

Chega a ser um desafio apresentar um espetáculo tão "para cima" quando o país segue devastado por uma sequência de milhares de mortes de famosos e anônimos - a maioria pela covid-19 - e também pelo descaso da política em relação a tudo e a todo o resto. Para além do desafio de trazer alegria a um povo enlutado, "Forever Young" se faz necessário no superlativo.

Em últimas apresentações no Teatro da Liberdade, até este domingo, em sessões neste sábado, dia 13, às 20h30, e domingo, dia 14, às 18h, o espetáculo celebra a juventude na maturidade. A idade pode estar nas dores lombares dos personagens, mas não afeta a essência de quem quer beber o máximo da essência da vida, como os personagens representados. No palco, os atores Carmo Dalla Vecchia, Janaina Bianchi, Keila Bueno, Paula Capovilla, Ton Prado, Fred Silveira e Miguel Briamonte - em personagens que levam o nome dos intérpretes) - vivenciam o cotidiano de idosos que querem ser ouvidos e são ignorados em um retiro de artistas. Todos têm apenas um ao outro para compartilharem a vida e o que resulta dela - desde momentos afetuosos a desentendimentos. Tudo regado à música boa.

No espetáculo, há uma espécie de pacto entre artistas e espectadores. O público está ali como alguém que observa os acontecimentos pelo buraco da fechadura. A cumplicidade entre os espectadores é o de silêncio: todos devem guardar segredo a respeito do que fazem os artistas veteranos quando a enfermeira com pretensões artísticas não está lá.

Chama atenção a entrega dos intérpretes e a maneira como eles se despem da vaidade para interpretar os personagens que, de alguma maneira, têm algo da personalidade deles que vai além do nome emprestado. Todos têm o seu momento enquanto relembram grandes momentos da carreira e da música. Há uma ironia fina no espetáculo montado por Erik Gedeon, dirigido com muita sensibilidade por Jarbas Homem de Mello, e produção e tradução de Henrique Benjamim, também tradutor, da HBenjamin Produções. O que fazer quando tudo o que restou de sua trajetória são as memórias?

Existe, também, a poesia, presente em todos os momentos da história. É como se ela, ao lado do público, estivesse observando os personagens e funcionasse como um sexto personagem. Abstrata, ela não pode ser tocada, mas está presente em todas as falas e encenações. "Forever Young" é o teatro e ao mesmo tempo é o espectador que se identifica com o que vê e transforma tudo o que vivenciou em algo que pode transformar este mundo temporariamente enlutado em um lugar propício para celebrações.


Serviço:
"Forever Young"
Sábado, dia 13, às 20h30, e domingo, dia 14 de novembro, às 18h.
Classificação etária: 14 anos. Duração: 100 Minutos

Teatro Liberdade
Endereço: Rua São Joaquim 129 – Liberdade – São Paulo/SP

Apresentações online
Dias 23 a 28 de novembro, e de 30 de novembro a 5 de dezembro.

domingo, 24 de outubro de 2021

.: Crítica: "O Ovo de Ouro" traça paralelo entre Brasil de hoje e Alemanha nazista


Último espetáculo de Sérgio Mamberti nos palcos trata sobre o conflito vivido por judeus que eram obrigados a auxiliar na aniquilação de seu próprio povo e, ao mesmo tempo, ter que conviver com o medo da morte. Duda Mamberti substitui o pai em cena ao lado de Leonardo Miggiorin, Rita Batata, Ando Camargo, além do autor Luccas Papp. A direção é de Ricardo Grasson. Foto: Kim Leekyung

Por Helder Moraes Miranda, editor do Resenhando.

Uma apresentação histórica marcou a reabertura do Sesc Santos em apresentações teatrais. O espetáculo "O Ovo de Ouro", em primeira apresentação fora da grande São Paulo, foi memorável por diversos motivos. O primeiro deles é Duda Mamberti, cujas lembranças da infância em Santos ainda vivem no grande artista que se tornou. Ele reviveu o personagem que até pouco tempo era defendido pelo pai, Sérgio Mamberti, falecido recentemente, em uma peça que fala sobre o holocausto.

No espetáculo, sob a direção competente de Ricardo Grasson, é possível estabelecer vários paralelos com a realidade em que se vive nos tempos contemporâneos e, sim, traça um paralelo entre o Brasil de hoje e a Alemanha nazista. "O Ovo de Ouro" fala sobre uma série de questões que hoje, ainda mais, depois de 605 mil mortos só no Brasil, são urgentes e coloca o dedo na ferida a respeito do genocídio - intencional ou não, ele não deixa de ser a mesma coisa, já que os resultados de uma tragédia acabam recaindo sobre as famílias que perderam seus entes ou nos traumas de quem ficou para repassar uma história que não pode, não deve e muito menos precisa ser repetida.

Todo o elenco se destaca no texto forte e repleto de maturidade de Lucas Papp, que desponta como um dos grandes autores do teatro hoje. Ele também brilha em um papel da peça, ao lado de Leonardo Miggiorin e Rita Batata, grandes atores que vêm encontrando papéis à altura no teatro. A força das imagens e pistas falsas permeiam o espetáculo. 

Nada é o que parece ser e neste oráculo de cenas fortes há, como pano de fundo, um tempo psicológico que é o narrador obssessivo que engana, distorce e, no fim das contas, entrega ao espectador uma verdade dura, mastigada e digerida. Parece repetir: "não faça isso novamente, n]ão compactue com isto". Destaca-se, também, o ator Ando Camargo pela naturalidade com que fala os absurdos do personagem que interpreta. No final, uma homenagem a Sergio Mamberti. 

Ao que tudo indica, bons tempos estão soprando. É o teatro como agente mobilizador e conscientizador de mentes. Não há doutrinação, mas uma espécie de esclarecimento para que ações - as mais absurdas - não voltem a acontecer. Nunca mais. Em cartaz até este domingo no Sesc Santos.


Serviço:
"O Ovo de Ouro" no Sesc Santos
Domingo, dia 24 de outubro, às 19h.
Classificação: 12 anos.
Duração: 90 minutos.
https://www.sescsp.org.br/unidades/20_SANTOS

Sesc Santos - Rua Conselheiro Ribas, 136, Aparecida - Santos. Telefone - (13) 3278-9800
Ingressos - R$ 40 inteira. R$ 20 meia (estudante, servidos de escola pública, +60 anos, aposentados e pessoas com deficiência


Ficha técnica
Texto: Luccas Papp. Direção: Ricardo Grasson. Elenco: Duda Mamberti, Leonardo Miggiorin, Rita Batata, Ando Camargo e Luccas Papp. Voz em off: Eric Lenate. Cenografia e visagismo: Kleber Montanheiro e Edgar Cardoso Desenho de Som e Trilha sonora original: L.P. Daniel. Desenho de luz: Wagner Freire. Videomapping: André Grynwask e Pri Argoud (Um Cafofo).  Figurinos e adereços: Rosângela Ribeiro. Assistente de Direção: Heitor Garcia. Operação de Luz: João Delle Piagge. Operação de Som: Karine Spuri. Camareira: Elizabeth Chagas. Posticeria Facial: Feliciano San Roman. Assistência de Palco: Pedro Didiano e Hel Prudencio. Cenotécnico: Alicio Silva. Aderecista: Ronaldo Dimer. Costureiras: Vera Luz e Noeme Costa. Alfaiataria: JC. Assistente de iluminação: Alessandra Marques. Assistente de Figurino: Eduardo Dourado. Supervisão de Conteúdo: Vinicius Britto. Conteúdo Histórico: Lucia Chermont, Marcio Pitliuk Franthiesco Ballerini e Priscila Perazzo. Assessoria Linguística e Fonética de Liturgia Judaica: Beto Barzilay. Idealização: Luccas Papp e Ricardo Grasson. Produção: NOSSO cultural. Direção de produção: Ricardo Grasson. Produção Executiva: Heitor Garcia e Fernando Maia. Gestão de Projeto: Lumus Entretenimento. Assessoria de Imprensa: Adriana Balsanelli e Renato Fernandes. Fotos: Leekyung Kim.


"O Ovo de Ouro"
Com direção de Ricardo Grasson, peça traz no elenco Duda Mamberti, Leonardo Miggiorin, Rita Batata, Ando Camargo, além do próprio autor. O público também poderá adquirir o livro "Sérgio Mamberti: Senhor do Meu Tempo" (Edições Sesc), escrita pelo ator, junto ao jornalista Dirceu Alves Jr.

O espetáculo que estreou em 2018 celebrando os 80 anos de Sérgio Mamberti, morto em setembro de 2021, trouxe à tona a função do Sonderkommando ou comandos especiais, unidades de trabalho formadas por prisioneiros selecionados para trabalhar nas câmaras de gás e nos crematórios dos campos de concentração nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.

Obrigados a tomar as atitudes mais atrozes para acelerar a máquina da morte nazista, esses prisioneiros conduziam outros judeus à câmara de gás, queimavam os corpos e ocultavam as provas do Holocausto. Quem se recusava a desempenhar esse papel era morto, quem não conseguia mais desempenhar a função, era exterminado com os demais.

Contada em diferentes momentos, a trama revela a vida de Dasco Nagy, interpretado agora por Duda Mamberti, que foi Sonderkommando e sobreviveu ao campo de concentração de Auschwitz-Birkenau. Em cena, dois planos são apresentados – a realidade e a alucinação – para retratar a relação do protagonista Dasco Nagy quando jovem (Luccas Papp) com seu melhor amigo Sándor (Leonardo Miggiorin), com a prisioneira Judit (Rita Batata) e com o comandante alemão Weber (Ando Camargo). No presente, Dasco é entrevistado, já em idade avançada, por uma jornalista, narrando os acontecimentos mais horrorosos que viveu no campo de concentração e descrevendo a partir do seu ponto de vista os horrores e tristezas da Segunda Guerra Mundial.



terça-feira, 9 de março de 2021

.: "A Árvore", com Alessandra Negrini, é um espetáculo gritante e urgente


Por 
Helder Moraes Miranda, editor do Resenhando.

Religar o homem e a natureza, fincar os pés na terra, enxergar a essência para entender de onde viemos e para onde podemos ir é o que propõe "A Árvore", espetáculo híbrido entre teatro e cinema, que traça um jogo reflexivo com o espectador.  "A Árvore" é um ato de resistência. Para o teatro. Para o cinema. Para a arte. Para a vida humana e vegetal. 

Baseado na obra de ficção de Silvia Gomez, com criação e roteirização de Ester Laccava e direção conjunta de Ester Laccava e de João Wainer, o espetáculo "A Árvore", até o momento, é a maior estreia do ano. Alessandra Negrini, atriz ultramoderna e conectada a tudo o que está ao redor, aparece majestosa neste monólogo inovador, não apenas porque mistura cinema e teatro, mas pelas conversas que impõe ao público e pelas conexões entre homem e natureza que pode levar o telespectador a pensar. 

"A Árvore" é exibida em um momento em que a arte precisou se reinventar. Há uma pandemia matando pessoas e o teatro, que já não era tão frequentado quanto deveria em todo o mundo, está entre as representações artísticas que mais sofreram ao longo do isolamento social imposto para as pessoas. Em uma plateia vazia, várias imagens externas e cenários que enchem os olhos, Alessandra Negrini interpreta, com muita energia, uma mulher que fica presa pelo cabelo a uma planta. A partir desse encontro, ela começa a se reconectar com aquilo que tem de melhor em si.

Produzido por Gabriel Fontes Paiva, que assina a produção, e a própria atriz,o  espetáculo foi pensado  originalmente para estrear teatro e foi adaptado para o formato online pela questão da pandemia. Há muita sensibilidade no texto e uma interpretação orgânica de Alessandra Negrini. Na peça teatral, ela é natureza em estado bruto. Antes de se misturar com o que é verde e depois que o espetáculo acaba. 

Mas "A Árvore" também é crítica. Se o corpo é casa, é correto o que se faz com o planeta Terra? Que sinais o mundo vem nos enviando? Isso, misturado com a realidade em que se vive hoje, torna o espetáculo gritante e urgente. É o momento de voltar os olhos para si e "A Árvore" planta essa semente em cada telespectador que passar por ela.


Serviço
Espetáculo: 
"A Árvore". Idealização e interpretação: Alessandra Negrini. Texto: Sílvia Gomez. Criação e roteirização: Ester Laccava. Direção: Ester Laccava e João Wainer. Direção de Produção: Gabriel Fontes Paiva. Realização: Fontes Realizações Artísticas. Produtores Associados: Alessandra Negrini e Gabriel Fontes Paiva. Assessoria de imprensa: Maria Fernanda Teixeira (Arteplural). Na programação online do Teatro FAAP pela plataforma Tudus. Ingressos: R$ 30. Duração: 70 minutos. Classificação etária: 14 anos. Em plataforma digital no Teatro FAAP www.teatrofaap.com.br na plataforma da Tudus. www.tudus.com.br. De 26 de fevereiro a 18 de abril. Sextas e sábados, às 20h, e domingos, às 19h.



terça-feira, 8 de dezembro de 2020

.: Crítica: "Heróis", com Paulo Azevedo, em 11 motivos para você assistir


Espetáculo "Heróis", pela primeira vez em versão online, é livremente inspirada nas vidas e músicas de astros da cultura rock dos anos 60 e 70. Foto: Vitor Vieira.

Em cartaz até o próximo domingo, dia 13 de dezembro, o espetáculo "Heróis" traz o ator Paulo Azevedo em sua melhor forma. Apresentado pela primeira vez de maneira virtual, ele interpreta um astro do rock no auge da fama que se sente esgotado pelas demandas de ser um mito. No caminho para mais um compromisso com a banda, Ele se depara com uma formiga. Esse encontro inesperado provoca uma jornada interna. A montagem parte dos mitos em torno do artista para abordar a relação com o tempo e os valores do mundo contemporâneo, além de revelar como todos são um pouco heróis. O Resenhando listou 11 motivos para assistir ao espetáculo.


1. Espetáculo teve David Bowie como inspiração.
 Ídolo de várias gerações, o astro David Bowie foi a principal inspiração do espetáculo. Mais que escrever uma peça teatral, o autor buscou criar algo como uma entrevista com um artista. Por isso, a audiência assume um papel: a de jornalistas em uma coletiva de imprensa com o astro do rock, criando um jogo entre a ator e o espectador.


2. Astros do rock britânico e americano dos anos 60 e 70 serviram de inspiração.
Além de Bowie, Lou Reed, Jim Morrison, Bob Dylan, The Rolling Stones e o lendário fotógrafo Mick Rock estão entre as influências da montagem.


3. O talentoso Paulo Azevedo é um motivo e tanto.
O espetáculo "Heróis" representa o episódio “Música” da “Trilogia Solo”, idealizado, escrito, dirigido e interpretado pelo ator Paulo Azevedo  e realizado pela Suacompanhia Criações Artísticas. A encenação se apropria do conceito de que o protagonista é o agente da cena. É possível acompanhar o fluxo de pensamento do artista no trânsito intenso entre os espaços de "fora" (realidade, o cotidiano) e o de "dentro" (o imaginário, o desejo, em que ideias e pensamentos se realizam com extrema liberdade). 


4. O 
rock dos anos 60 e 70 em evidência. 
A peça, que estreou em versão online, é livremente inspirada nas vidas e músicas de astros da cultura rock dos anos 60 e 70. O desvelar dos bastidores de uma criação aponta para um relato formado por muitas vozes. Os limites entre o que é real e o que é imaginário enriquecem o essencial: compor uma obra cênica compartilhada “com” e construída “para” o espectador.


5. Você pode se identificar MUITO.
"Heróis" aborda valores submersos no cotidiano contemporâneo, como a tentativa de controlar o tempo, a busca da identidade, a anestesia dos afetos e o respeito pelas diferenças. 
“Esse espetáculo fala sobre um indivíduo só, tomado de questões acumuladas ao longo de uma vida. Esse momento da vida, em que se abre uma fresta e podemos acompanhar os minutos de extrema potência em que tudo pode ser visto de um novo lugar. Seguir, fazer, reinventar a própria vocação por meio de novas e antigas companhias”, comenta o ator Paulo Azevedo, idealizador, dramaturgo, diretor e intérprete do espetáculo


6. Monólogo também se baseia em biografias, músicas e filmes. 
A pesquisa dramatúrgica que transita pela autoficção é baseada em biografias, músicas e filmes em torno do universo cultural a partir de biografias, músicas e filmes. Como na performance, o jogo cênico é revelado a todo instante, e o intérprete do personagem canta, dubla ou apenas acompanha a tradução projetada em vídeo das canções e das rubricas (como uma ordem suprema para o performer, em uma metáfora da presença do autor/diretor). 


7. Espetáculo traz referência a escritores.
"Heróis" traz referências no mundo da música, mas também se refere
 a autores, como Clarice Lispector, Guimarães Rosa e Samuel Beckett. A “Trilogia Solo” é idealizada, escrita e dirigida por Paulo Azevedo sobre a relação entre o teatro e outras áreas afins - a música (“Heróis”), as artes plásticas (“Passe-Partout”) e o rádio (“Fora do (M)ar”). 


8. "Heróis" também bebe da sétima arte.
F
ilmes como “Shot! O Mantra Psico-Espiritual do Rock”, de Barney Clay; e “Encontros e Desencontros”, de Sofia Coppola, também estão presentes em "Heróis". Em comum, personagens que tornam o espectador cúmplice da própria condição universal do ser humano de estar em constante adaptação e vulnerabilidade diante das transformações da sociedade. Além disso, trazem um olhar aguçado e poético sobre o cotidiano, as contradições do ser urbano e seus conflitos, sem perder de vista um humor refinado e a poesia.


9. 
A trilha sonora traz composições originais e releituras de clássicos do rock. A partir da seleção musical de Paulo Azevedo, as composições do espetáculo foram criadas por Barulhista. As cenas foram pensadas como faixas de um álbum, com títulos e minutagem, na qual as letras das músicas pontuam determinados momentos da narrativa. Alguns dos títulos vieram de nomes de canções de estrelas do rock que inspiraram a obra. “Atravesse para o Outro Lado”; “Onde Estamos Agora?”; e “Voltando à Vida” são alguns deles. As letras das canções são também dramaturgia e foram escolhidas a dedo. Por isso, a tradução em português é projetada pra que a audiência possa solfejar em inglês.


10. Você tem pouquíssimo tempo para assistir.
 
"Heróis", espetáculo estreou em versão online no último dia 20, fica em cartaz até o próximo domingo, dia 13 de dezembro. As apresentações ocorrem a partir da próxima sexta-feira, dia 11, sábado, dia 12, e domingo, dia 13. Além disso, para aprimorar a experiência, o blog Suacompanhia traz vídeos, entrevistas e clipes que inspiraram a montagem, além de impressões sobre o processo de criação no endereço virtual blogsuacompanhia.blogspot.com.


11. As sessões de domingo têm convidados especiais. 
Todas as sessões de domingo têm um convidado. Dia 13 não será diferente e a Suacompanhia, em parceria com o podcast Almasculina, receberá um convidado especial. Na conversa, será abordado temas relacionados ao espetáculo, como a relação com artista convidado com a criação, o tempo, as influências e confluências de linguagens em sua obra, além de como cada um tem se reinventado em tempos pandêmicos. O encontro é aberto e gratuito para o público que assistir a sessão do dia. Em seguida, o material gravado será divulgado nas redes sociais da Suacompanhia. 

Ficha técnica - "Heróis"
Direção, texto e atuação: Paulo Azevedo
Codireção: Ana Paula Cançado
Consultoria dramatúrgica: Adélia Nicolete
Direção de arte e figurinos: Martielo Toledo
Trilha sonora original: Barulhista
Seleção musical: Paulo Azevedo
Consultoria de desenho de luz: Marina Arthuzzi
Direção vocal: Lucia Gayotto
Preparação de canto: Mariana Brant
Cabelo: Ricardo Rodrigues
Modelista/pilotista: Noemi Bernardes
Projeto gráfico: Glaura Santos
Fotos e diretor de streaming: Vitor Vieira
Consultoria de streaming: Janaína Patrocínio
Teasers e vídeos: Paulo Azevedo (roteiro, edição e direção), Vitor Vieira (direção de fotografia), Barulhista (trilha sonora) e Camila Picolo (operação de drone)
Operação de câmera e luz: Camila Picolo
Revisão de textos: Soraia Azevedo
Tradução espanhol e inglês: Gladys Souza
Produção executiva: Dora Leão - PLATÔproduções
Corealização: Comcultura Comunicação e Cultura
Realização: Suacompanhia Criações Artísticas
Apoio cultural: RIRO Salon, JPZ Comunicação, Vitor Vieira Fotografia e Podcast Almasculina
Agradecimentos: Secretaria Municipal de Cultura, São Paulo Film Commission/Spcine

Serviço "Heróis":
Duração aproximada: 50 minutos
Classificação etária recomendada: 12 anos
Gênero e modalidade: Drama cômico
Link para acessar ingresso: https://beta.sympla.com.br/eventos/teatro-espetaculo
Valor: de R$ 10 a R$150
De 20 de novembro a 13 de dezembro, sextas e sábados, às 21h e domingos, às 17h




sábado, 5 de dezembro de 2020

.: Crítica: "Ex-Reality" aproxima expectador da arte sem que ele perceba


Por 
Helder Moraes Miranda, editor do Resenhando.

Não se sabe exatamente onde começa e onde termina a ficção em "ExReality". Mas em nenhum momento a arte deixa de aparecer neste projeto inovador do Teatro Porto Seguro em que os atores do espetáculo se dispuseram a participar. Ou se é o período de pandemia, e se a maioria das pessoas ficou mais atenta à poética do cotidiano, que torna "Ex-Reality" um experimento tão especial. Ao usar a banalidade da vida, o espetáculo aproxima o espectador da arte sem que ao menos ele perceba - afinal, tudo ou nada pode ser encenação e ninguém irá ficar sabendo disso.

O espetáculo encerra neste sábado, dia 5 de dezembro, a programação online de 2020 do Teatro Porto Seguro, ano conturbado para qualquer lugar que se propõe a abrigar espetáculos de cultura, e a ExCompanhia de Teatro propôs uma experiência inusitada ao convidar o público para vivenciar novas formas de imersão e interação onde realidade e ficção se confundem - algo extremamente simbólico para tempos de pandemia. 

Em "ExReality" tudo conspira para que todos os que estão participando - como observadores voyeurs ou público ativo, a ponto de poder interagir com os atores - sejam inseridos em um jogo de cena. O que é verdade e o que é mentira dentro de tudo o que é apresentado? E o que torna uma informação tão obsoleta ou alguém tão condizente com o sistema para aceitar o rótulo de algo que significa uma "ex-verdade"? São questões que não podem ser respondidas, e é bom que não sejam, pois a falta de resoluções as tornam eternas.

No formato criado pelos artistas Gustavo Vaz, Bernardo Galegale e Gabriel Spinosa, os atores, ao quebrarem a quarta parede e inserirem o público na realidade do que eles dizem ser as próprias vidas, também se mostram como mecanismo de algo presente na vida de grande parte de espectadores: um reality show. A diferença é que neste tudo pode acontecer, inclusive nada. 

Na última temporada, os atores Bárbara Salomé, Johnnas Oliva e Thiago Andreuccetti tiveram a coragem e a ousadia de transmitir ao vivo as telas de seus telefones celulares durante nove dias consecutivos. Em uma mistura de realidade e ficção, expõem um recorte da vida online. Se o objetivo era encontrar o sentido da vida, eles conseguiram mais.

Sobrevivendo a clichês como participar de desafios decididos pelo público, os atores se inserem no universo de uma gincana em que o prato principal é a exposição - não como artistas, mas como concorrentes de um programa em que somente um será premiado. Diante das câmeras e fora delas, todos estão sujeitos a erros e acertos. Com os atores, não seria diferente. 

Como quem não quer nada, diante das telas de seus aparatos tecnológicos, Bárbara, Johnnas e Thiago mostraram o clichê, o absurdo, o ridículo e até a poética não só de um reality show, mas da alma humana. Todo o material gravado ao longo do dia dá origem ao programa "ExReality" , comandado com muita graça e leveza pelo apresentador Daniel Warren, do programa "Art Attack" e da telenovela "Bom Sucesso". 

Tanto no reality show quanto na vida há quem se diz "verdadeiro" quanto quem demonstra traços de vilania e de altruísmo. Isso fica claro na televisão, mas é evidenciado em "Ex-Reality" de uma maneira que jamais foi feita. O espetáculo questiona se a máscara da realidade pode sobreviver a uma edição e, ainda, se existe vida fora da internet. As respostas podem ser várias e, com certeza, não serão únicas porque todas podem estar correto. 

Porque esse espetáculo deixa claro que o que é visto, percebido e mastigado não é um espelho que seja tão confortável de se ver - e é a partir disso que surge o mérito de "Ex-Reality", algo tão inovador e ao mesmo tempo tão camuflado de comum. Todos os que participam - os atores e os espectadores - fazem parte de um experimento. Sem dúvida, uma experiência linda e propícia para ser vivenciada várias vezes, porque, a cada nova abordagem, o espectador pode correr o risco de não se reconhecer.

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

.: "Cara Palavra": provocante sarau poético performático. Dê um grito!

Por Mary Ellen Farias dos Santos

Em cartaz
, virtualmente, no Teatro Porto Seguro, até 15 de novembro, o espetáculo "Cara Palavra" reúne quatro talentos femininos da dramaturgia: Débora Falabella, Bianca Comparato, Andreia Horta e Mariana Ximenes. Enquanto que as duas últimas interpretam nas próprias casas, em solo brasileiro, Bianca Comparato atua ao vivo dos Estados Unidos e Débora Falabella encena diretamente de dentro do Teatro Porto Seguro, em São Paulo. 

Tal qual um esquenta, minutos antes da apresentação, Bianca Comparato faz poesia visual em um quintal amplo com quatro cadeiras. Na sequência, pouco antes do início do espetáculo, um bate-papo com o público por chat e até a escolha do nome de um personagem é feita. Em meio a vídeos bem elaborados, em plena pandemia, o público que assiste a interpretação de poemas e prosas, logo é provocado a refletir: "Qual a importância da sua fala na complexidade do mundo?"


A apresentação com Débora Falabella começa focada no rosto da atriz, que está com a cabeça no chão, que ao se levantar e andar pelo corredor, reconhecemos que aquelas paredes são do Teatro Porto Seguro. Eis que a saudade chega carregada de emoções trazidas pelo momento pandêmico que vivemos, por conta da Covid-19 e a necessidade de manter distância social. 

Como não se arrepiar ao rever ao vivo, aquelas paredes, chão, poltronas e palco, mesmo que por meio de uma tela? Na explosão de sentimentos, a interpretação de Débora Falabella é um afago, amparado pela inserção ao vivo do trio Andreia Horta, Bianca Comparato e Mariana Ximenes declamando poesias e vídeos que transbordam lirismo, estampando, por exemplo, palavras de Hilda Hilst: "Tu não te moves sem ti".

Ao denunciar a crueza da realidade em que vivemos, vídeos intercalam a leitura de poesia e prosa que englobam escritores, de Franz Kafka a Angélica Freitas. Assim, surgem questionamentos que movem a humanidade como a inquietante dúvida sobre "Quem sou eu?" e até a provocação que condiz com a atualidade do momento, pelo fato de vivermos ilhados em nossas casas: "Somos anfíbios?". Pode-se concluir, de certa forma, que sim. Mesmo sabendo que o momento em que vivemos "não é ficção científica, é a realidade. Não é um livro de Kafka. Fahrenheit.".

Em meio a textos reflexivos-provocativos, mesmo distantes, há muita interação entre as quatro atrizes, inclusive acontece a entrega de um presente. Sabendo que "não dá mais para ser como a gente era", em ironia espetacular, as quatro comentam sobre o "Movimento machinista", que enquanto denuncia o tratamento dos homens para com as mulheres, há uma inversão de papéis que faz rir e refletir muito. Até quando o simples "querer escapar da rede de pesca hoje, de fato, é virar petisco no palito?"

Entre tantos atrativos há um videoclipe protagonizado pelo quarteto exaltando o feminino, depoimentos de outras mulheres e um bate-papo com alguma convidada -após a apresentação-, sendo que a poeta cuiabana Ryane Leão, instagram @ondejazmeucoração, esteve presente na noite de estreia.

Não há dúvida de que o espetáculo fala ao coração, provoca reflexões, é cheio de representatividade e, sem dúvida, desconcertante, por lançar diversas provocações. E é tão maravilhoso ser provocado! Enfim, "você consegue dar um grito? Você vai dar um grito!", soltar o que está preso na garganta com "Cara Palavra"!

Sinopse: Um sarau poético performático com Andreia Horta, Bianca Comparato, Débora Falabella e Mariana Ximenes. Entre poemas de autoras brasileiras contemporâneas, trechos de músicas, vídeos, cenas de ficção e textos biográficos, as atrizes falam para o público de dentro dos seus apartamentos e do Teatro Porto Seguro. Falam sobre o cotidiano, o amor, o drama, a arte, a solidão e a reinvenção em tempos de pandemia, num fluxo caleidoscópico de poesia. 

Ficha Técnica
"Cara Palavra" 
Com: 
Andreia Horta, Bianca Comparato, Débora Falabella e Mariana Ximenes
Dramaturgia e direção: Pedro Brício
Interlocução artística: Christiane Jatahy
Produção de imagem: Gianluca Misiti e Gustavo Giglio
Direção de fotografia: Azul Serra
Direção de palco: Jimmy Wong
Produção de live, vídeo e sonoplastia: Rodrigo Gava
Técnico de som e sonoplastia: Danilo Cruvinel
Trilha sonora original: Chuck Hipolitho e Thiago Guerra
Pesquisa e co-criação de vídeos: Luli (Fru) Carvalho
Direção de arte: André Cortez e Stéphanie Fretin
Colaboração em direção de arte: Luli (Fru) Carvalho
Comunicação e designGustavo Giglio
Produção: Corpo Rastreado
Criação do espetáculo: Andreia Horta, Bianca Comparato, Débora Falabella, Mariana Ximenes e Pedro Brício   
Idealização do projeto original: Andreia Horta, Bianca Comparato, Débora Falabella, Mariana Ximenes, Chuck Hipolitho, Gianluca Misiti, Gustavo Giglio e Thiago Guerra
De 24 outubro a 15 novembro – Sábados às 20h. Domingo às 20h.
Ingressos: a partir de R$20.
Classificação: 16 anos.
Duração: 60 minutos.

Teatro Porto Seguro
Vendas exclusivamente online no site:
 http://www.tudus.com.br
Dúvidas: contato@teatroportoseguro.com.br
Atendimento pelo telefone (11) 3226-7300 de sexta a domingo das 14h às 20h.
Cliente Porto Seguro: Na compra de um ingresso antecipado (até um dia antes) receberá um link extra de acesso para convidar alguém.
Formas de pagamento: Cartão de crédito e débito (Visa, Mastercard, Elo e Diners).

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

.: "Ilustre Criança - Desenhando a Canção com Jane Duboc" é para família

Por Mary Ellen Farias dos Santos


Saber contar histórias é um dom, ainda mais quando o público é infantil. Eis que para o elenco de 
"Ilustre Criança 
- Desenhando a Canção com Jane Duboc", com histórias infantis idealizadas e interpretadas pela consagrada cantora Jane Duboc, ao lado do ilustrador Tio Alê (Alexandre de Nadal), e o músico sonoplasta Tio Jr Lobbo (Junior Lobbo), tal façanha mostra-se natural. Resultado: grande envolvimento dos pequenos.

Tudo acontece por meio da tecnologia e embora seja no formato live, há interação também. Para tanto, antes do início da grande apresentação, um aviso para o público separar lápis e papel. Na sequência, uma linda menininha dá um recado especial, para que, então, todos encontrem a vovó Jane e sua equipe, com a história de "O Macaco Baterista".

O que acontece com o macaquinho? Enquanto ele ficava feliz tocando bateria com toda força, uma vizinha ouvia, até demais, o som do teto. Certo dia, ela cansada daquilo, procurou Fininha. Como o problema é solucionado? Na busca de dar fim ao desentendimento, os pequenos aprendem com música que "cantando a gente se entende", pois "é equilibrando que tudo fica no lugar".

Essa conversa contada e cantada sobre as diferenças, também garantirá diversão ao público adulto pela nostalgia da época dos Contadores de Histórias do clássico educativo "Rá-Tim-Bum", da TV Cultura. Não há como deixar de ressaltar que o trabaho dirigido por Fernando Cardoso é de extrema importância, pois além de formar público, desperta a criatividade dos pequenos. É para assistir e guardar na memória afetiva.

A apresentação da Mesa 2 Produções pode ser  “O Macaco Baterista” ou “Ele Infante”, mas sempre às 16h. A duração é de aproximadamente 45 minutos, tendo foco no público de dois a sete anos de idade e suas famílias, as vendas de ingressos (a partir de R$ 20 – tudus.com.br), com doação de 20% da bilheteria para instituições de apoio à classe artística. 

Redes Sociais: Na conta do Instagram @ilustrecrianca_comjaneduboc, as ilustrações feitas pelas crianças participantes do espetáculo podem ser enviadas para publicação no espaço. 

Ilustre Criança – Desenhando a Canção com Jane Duboc: Na primeira etapa do projeto, serão contadas duas histórias inéditas “O Macaco Baterista” e “Ele Infante” ambas ricas nos aspectos da preservação ambiental e da inclusão social, imprescindíveis para a formação da criança na primeira infância. O projeto Ilustre Criança conta ainda com outras histórias inéditas desenvolvidas por Jane Duboc, são elas "Jeguelhinho", "Bia e Buze"; "Urso Marrom, Bravo!"; "A Banda do Panda"; "A Ono, o Mato e Peia"; "Gigi, a Girafa Linda"; "Berenice Hip Hop"; "Baleia e Tuiuiu"; "Librava e Lucalma", "O Bando dos Gafanhotos" e "Lolita Mouraria".

Ilustração criada durante o espetáculo por Mary Ellen Farias dos Santos. Cores do personagem sugeridas por Helder Miranda

Serviço:
"“Ilustre Criança – Desenhando a Canção com Jane Duboc”
Histórias apresentadas: “O Macaco Baterista” e “Ele Infante”
Direção: Fernando Cardoso
Dias 19 e 27 setembro, 4 e 12 de outubro – Sábado, domingos e segunda-feira, às 16h.
Ingressos: A partir de R$20.
Classificação: recomendado para crianças acima de 2 anos.
Duração: 45 minutos, aproximadamente.

Teatro Porto Seguro
Al. Barão de Piracicaba, 740 – Campos Elíseos – São Paulo.
Telefone: (11) 3226.7300.
Vendas: http://www.tudus.com.br.
Formas de pagamento: cartão de crédito e débito (Visa, Mastercard, Elo e Diners).

*Mary Ellen Farias dos Santos é criadora e editora do portal cultural Resenhando.com. É formada em Comunicação Social - Jornalismo, pós-graduada em Literatura e licenciada em Letras pela UniSantos - Universidade Católica de Santos e pedagoga pela Universidade Cruzeiro do Sul. Twitter: @maryellenfsm


sábado, 26 de setembro de 2020

.: "Uma Mulher Só" e a necessidade de falar sobre assuntos espinhosos


Por 
Helder Moraes Miranda, editor do Resenhando. Fotos: Ronaldo Gutierrez

O charme especial do espetáculo "Uma Mulher Só", texto denso de 1977 escrito pelo casal Dario Fo e Franca Rame, é a alegria esfuziante de Martha Meola. O espetáculo pode ser assistido até este domingo, dia 27, às 17h, na plataforma Sympla. É um respiro para o Brasil e o mundo, que sofrem com a pandemia. No espetáculo e na vida, o contexto é o isolamento social obrigatório. Para muitos, o lar é um refúgio, mas para parte de algumas mulheres, ficar em casa pode representar também dores físicas, morais e risco de morte. 

No monólogo "Uma Mulher Só", o lar de uma mulher isolada contra a vontade se torna palco para falar de um assunto tão contundente quanto a violência doméstica. A condição das mulheres, que parece não ter evoluído até hoje, também está em pauta. O que poderia ser um espetáculo extremamente pesado torna-se, inacreditavelmente, muito leve. A direção competente é de Marco Antônio Pâmio, que joga luz sobre um tema espinhoso e, aliado à graça de Martha Meola, trata tudo com certo otimismo. A protagonista está sem saída, mas leva o espectador a acreditar que, de uma hora para outra, tudo terminará bem, como uma metáfora para os que sobreviverem à pandemia. 

A atualidade do texto não se dá apenas pelos assuntos serem o machismo e violência doméstica, o que por si só tornaria o espetáculo relevante, mas porque em 2020 a sociedade parece retroceder e o teatro é uma das respostas que podem fazer a diferença e trazer acalanto para quem discorda dos absurdos do mundo contemporâneo. Tratar de temas pesados com otimismo em uma peça que remete justamente o contrário não é apenas questão de talento e energia. Uma personagem que encara os desafios com pragmatismo e, até certo ponto, com bom humor, é um dos desafios de agora. Martha Meola se apresenta durante quase uma hora e o público não vê o tempo passar. 

Na peça, a personagem está trancada em casa pelo próprio marido. Ela se alegra com a chegada de uma nova vizinha, de quem se torna amiga e confidente. Quer falar porque precisa de alguém que a ouça. Atarefada e relacionada à "Amélia", da música de Mário Lago que já simbolizou a mulher ideal na MPB, ela sente fome de viver. Esta personagem, com a necessidade urgente de falar, representa o que todos os que estão com o nó na garganta pensam. Pela plataforma Zoom (com acesso e ingressos à venda no Sympla), o espetáculo amplifica pensamentos e coisas que passariam despercebidos no dia a dia. Se pensarmos bem, ninguém está só. Basta um olhar atento e, se for preciso, gritar tão alto até que alguém ouça e estenda a mão.

Uma Mulher Só 40 minutos (+15 minutos de debate após o espetáculo) | Drama Apresentação em formato digital (como o som do espetáculo foi feito num esquema binaural, recomenda-se o uso de fones ao assistir para um melhor aproveitamento da experiência) | Até dia 27 | Domingo, às 17h | Sinopse: trancada em sua casa pelo marido, uma mulher se alegra com a chegada de uma nova vizinha, de quem se torna amiga e confidente | Texto: Dario Fo e Franca Rame| Elenco: Martha Meola | Direção: Marco Antônio Pâmio | Ingressos: de R﹩ 10 a R﹩ 250 (vendas pelo Sympla) | Classificação: 16 anos Vendas online no site: https://www.sympla.com.br/uma-mulher-so--comedia-de-dario-fo__970505.




quinta-feira, 17 de setembro de 2020

.: "Autobiografia Autorizada" faz viagem ao passado com direito a carona

Foto: Mauro Kury/Divulgação

Somos indivíduos com quereres distintos que em determinados momentos estabelecemos perfeita conexão. O texto do monólogo "Autobiografia Autorizada" encenado por Paulo Betti, em live teatral, dia 13 de setembro, no canal do Sesc São Paulo, é a ferramenta exata para levar o público, de carona, ao passado do pequeno Paulo.

O texto e a atuação da montagem são fatores importantes na criação de um elo instântaneo com o público que, por vezes, se identifica com os recortes dos acontecimentos narrados. A delicadeza do texto assinado por Paulo Betti aliada à interpretação envolvente do ator são o encontro perfeito para encantar o espectador que enquanto se vê representado em certas situações, alimenta a curiosidade com o que ainda será representado no palco.

A poesia do espetáculo não se restringe ao texto, que exala a delicadeza da observação de detalhes mínimos ou a narração de passagens marcantes. Há mérito na encenação de alguém altamente gabaritado como Paulo Betti, pois por meio da sutileza, acontece a mágica. O público se vê ali. E é tão prazeroso e comovente!

O espetáculo dirigido pelo próprio ator em parceria com Rafael Ponzi, é a celebração dos 40 anos de carreira de Betti, que também assina o texto. Tal qual destacava o slogan da extinta marca de cigarros Free, "cada um na sua, mas com alguma coisa em comum". Identificação: essa é a magia do teatro! 

Espetáculo para ver e rever!


Ficha técnica
Texto e interpretação: Paulo Betti
Direção: Paulo Betti e Rafael Ponzi
Elenco: Paulo Betti
Cenário: Mana Bernardes
Figurino: Leticia Ponzi
Iluminação: Dani Sanchez e Luiz Paulo Neném
Direção de movimento: Miriam Weitzman
Programação visual: Mana Bernardes
Trilha sonora: Pedro Bernardes
Fotografia: Mauro Khouri
Assistente de direção: Juliana Betti
Assessoria de imprensa: Verbena Comunicação
Direção de produção: Lya Baptista
Produção São Paulo: DR Produções - Darson Ribeiro

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