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sexta-feira, 14 de novembro de 2025

.: Critica: "Predador: Terras Selvagens" é sequência impecável de bravo caçador

"Predador: Terras Selvagens", em cartaz na Cineflix Cinemas de Santos


Por: Mary Ellen Farias dos Santos, editora do Resenhando.com

Em novembro de 2025


"Predador: Terras Selvagens", com Elle Fanning (a Bela Adormecida de "Malévola" e "Um Completo Desconhecido") robótica e em dose dupla, revigora a franquia pautada no personagem de sucesso lançado em 1989, estrelado por Arnold Schwarzenegger na pele do Major Alan Schaeffer. Desta vez, uma cria do grande Predador, chamado de Dek (Dimitrius Schuster-Koloamatangi) visto como fraco e destinado à morte, é expulso do seu clã.

Enviado numa missão nível impossível, ou seja, mandado para a morte, o alienígena defeituoso segue rumo a uma jornada cheia de nuances assombrosas em que a luta pela sobrevivência é o primeiro ponto. Assim, o caçador alienígena e a aliada improvável, Thia (Elle Fanning) que está pela metade, enquanto tentam se entender, colocando seus objetivos à frente, lutam pela própria valorização.

Bela analogia entre os dois personagens vistos por todos como incompletos e descartáveis até virarem o jogo. Num ambiente arenoso estilo Mad Max, mesclado ao do clássico filme, a tecnologia moderna entram como um terceiro elemento, acrescentando muito para toda a ambientação. Os embates cinematográficos na perfeita ambientação do planeta remoto junto ao design das criaturas, que misturam efeitos práticos e maquiagem de forma realista, são impecáveis.

Logo, a busca pelo adversário supremo gera uma montanha-russa no enredo a ponto de surpreender com boas reviravoltas tornando a continuação melhor das já lançadas. Embora aconteça, de fato, uma humanização do protagonista, "Predador: Terras Selvagens" consegue reiniciar uma franquia desacreditada, a ponto de ser a maior estreia nas bilheterias de todas as sequências do caçador espacial. Vale muito a ida ao cinema!

"Predador: Terras Selvagens". (Predator: Badlands). Direção: Dan Trachtenberg. Roteiro: Patrick Aison. Elenco: Elle Fanning, Dimitrius Schuster-Koloamatangi. Gênero: Ficção Científica. Duração: 1h55min. Sinopse: Um jovem predador, rejeitado por seu clã, se une à sobrevivente humana Thia em uma perigosa jornada em busca de um adversário digno. Os dois precisam trabalhar juntos para sobreviver e aprimorar suas habilidades, com a missão de o predador recuperar o respeito de seu povo. 


O Resenhando.com é parceiro da rede Cineflix Cinemas desde 2021. Para acompanhar as novidades da Cineflix mais perto de você, acesse a programação completa da sua cidade no app ou site a partir deste link. No litoral de São Paulo, as estreias dos filmes acontecem no Cineflix Santos, que fica no Miramar Shopping, à rua Euclides da Cunha, 21, no GonzagaConsulta de programação e compra de ingressos neste link: https://vendaonline.cineflix.com.br/cinema/SAN.


Trailer de "Predador: Terras Selvagens"


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quarta-feira, 5 de novembro de 2025

.: Entrevista: Tony Ramos comemora retorno da novela "Rainha da Sucata"


Em entrevista, o ator relembra gravações e parceria com elenco e equipe. Foto: Globo/ Divulgação

Clássico dos anos 1990, "Rainha da Sucata" voltou às telas da TV Globo. No "Vale a Pena Ver de Novo'", logo após a "Sessão da Tarde", a novela é ambientada em São Paulo e retrata o universo dos novos-ricos e da decadente elite paulista, explorando o contraste entre a emergente Maria do Carmo (Regina Duarte) e a socialite falida Laurinha Figueroa (Glória Menezes). A relação entre as personagens também é marcada pela tensão provocada por uma paixão em comum: Edu Figueroa, papel de Tony Ramos. Saudoso e grande admirador da obra, o ator celebra o retorno com entusiasmo. “É sempre bom rever um trabalho e poder mostrar uma produção de tremendo sucesso como essa foi. Desde o princípio, eu sabia que essa obra seria eletrizante”, declara.

Membro dos Albuquerque Figueroa, tradicional família da alta sociedade paulistana, Edu é um típico playboy: fino, elegante e muito cobiçado. Apesar da falência da família, o jovem não perde seu charme característico. Colega de ginásio de Maria do Carmo, Edu costumava desprezá-la nos tempos de escola. No entanto, após a moça enriquecer e se tornar uma empresária bem-sucedida, ele aceita se casar com ela por conveniência. Entretanto, o relacionamento e a chegada de Maria do Carmo à mansão da família são marcados pelas perseguições de Laurinha. Madrasta de Edu, a socialite nutre uma paixão secreta e proibida pelo enteado e faz de tudo para destruir o casamento e arruinar a nova vida da “sucateira”, gerando cenas intensas e, por vezes, cômicas entre os personagens.

“As relações de Edu com Maria do Carmo e com Laurinha eram pontos altos da trama, pois havia uma ambiguidade na ligação com a madrasta e muitas confusões surgiam dessas emoções. Mas não existia, digamos, uma confusão de sentimentos. O que havia, na verdade, era uma disputa intensa, porque Laurinha era uma mulher ambiciosa, que percebia a queda da sua condição social. Ao mesmo tempo, ela via uma mulher jovem, com muito dinheiro, ascendendo naquela sociedade. Esses conflitos e incômodos geravam belíssimas cenas. E construir essa dinâmica com as duas atrizes foi fácil. Ambas são artistas excelentes, de altíssimo rendimento e muito bom humor”, reflete Tony Ramos. "Rainha da Sucata" é uma obra de Silvio de Abreu, escrita pelo autor com colaboração de Alcides Nogueira e José Antonio de Souza. A novela teve direção geral de Jorge Fernando e direção de Jorge Fernando e Jodele Larcher.Na entrevista abaixo, Tony Ramos relembra o trabalho na novela. 


Qual foi a sensação ao saber que "Rainha da Sucata" iria voltar no "Vale a Pena Ver de Novo"? De que forma essa reprise mexe com você?
Tony Ramos -
Para mim, foi uma alegria imensa. Recordo como se fosse hoje, de começar a gravar as cenas na Avenida Paulista. Lembro do meu encontro com Silvio de Abreu e com colegas queridos como Regina (Duarte), Glória (Menezes), o grande Paulo Gracindo, o saudoso diretor Jorginho Fernando e tantos outros. Foi marcante. Ali no início dos anos 90, eu vinha de uma longa temporada teatral em São Paulo, com o espetáculo "Meu Refrão: olê, Olá", do Abelardo Figueiredo. Quando a peça terminou e comecei a me dedicar exclusivamente à "Rainha da Sucata", vivi um momento lindo. Receber essa novidade mexe com meu emocional e com meu imaginário, que guarda momentos tão felizes da novela. É sempre bom rever um trabalho e poder mostrar uma produção de tremendo sucesso como essa foi. Desde o princípio, eu sabia que essa obra do Silvio seria eletrizante - e foi exatamente isso.


As relações de Edu com Maria do Carmo e com Laurinha eram um dos pontos altos da novela. Como foi construir as dinâmicas dos personagens com Regina Duarte e Glória Menezes? Alguma cena específica com as atrizes marcou você?
Tony Ramos - As relações de Edu com Maria do Carmo e com Laurinha eram pontos altos da trama, pois havia uma ambiguidade na ligação com a madrasta e muitas confusões surgiam dessas emoções. Mas não existia, digamos, uma confusão de sentimentos. O que havia, na verdade, era uma disputa intensa, porque Laurinha era uma mulher ambiciosa, que percebia a queda da sua condição social. Ao mesmo tempo, ela via uma mulher jovem, com muito dinheiro, ascendendo naquela sociedade. Esses conflitos e incômodos geravam belíssimas cenas. E construir essa dinâmica com as duas atrizes foi fácil. Ambas são artistas excelentes, de altíssimo rendimento e muito bom humor. Somando isso às conversas com Jorginho, que era um grande diretor, e às trocas com o autor antes das gravações, tínhamos clareza sobre o que eles imaginavam para a construção dos personagens. E várias cenas me marcaram profundamente. Há uma com Regina Duarte, por exemplo, que, se a memória não me falha, Silvio escreveu de forma que ocupou todo um bloco e ainda continuou no início do seguinte. Era uma cena linda entre Maria do Carmo e Edu, com cinco ou seis páginas.


"Rainha da Sucata" foi um de seus primeiros trabalhos com Jorge Fernando, com quem trabalhou em outras telenovelas ao longo dos anos, como "Sol de Verão" (1982), "A Próxima Vítima" (1995), "As Filhas da Mãe" (2002) e "Guerra dos Sexos" (2012). Como era a parceria com o diretor? Tem alguma lembrança marcante do trabalho com o Jorge?
Tony Ramos - Jorginho era um diretor que sabia exatamente o que queria e, além disso, tinha o chamado “momento de inspiração”. Independentemente do que estava escrito ou do que ele havia planejado e estudado, havia situações em que algo em cena despertava nele a vontade de mudar a marca ou a proposta da cena. Essa era uma característica muito positiva dele. Até porque ele também era ator e seguia trabalhando no teatro, fazendo monólogos no palco. Como diretor, era constante e inquieto, sempre em busca de novas soluções. Foi uma parceria maravilhosa. Tenho grande saudade desse incrível profissional - e não digo isso apenas pelo trabalho. Tudo no Jorge era marcante.

segunda-feira, 27 de outubro de 2025

.: Rodrigo Santoro é Crisóstomo em "O Filho de Mil Homens", que estreia


Dirigido por Daniel Rezende, filme inspirado no livro homônimo de Valter Hugo Mãe conta ainda com Johnny Massaro, Miguel Martines e Rebeca Jamir no elenco. Foto: Marcos Serra Lima/Netflix)

A Netflix divulgou o trailer de "O Filho de Mil Homens", estrelando Rodrigo Santoro como o protagonista Crisóstomo, na primeira adaptação de uma obra de Valter Hugo Mãe para as telas. O vídeo apresenta os personagens Antonino (Johnny Massaro), Camilo (Miguel Martines) e Isaura (Rebeca Jamir), que cruzam o caminho de Crisóstomo para provar que uma “família pode ser feita de muitas coisas”. Com narração de Zezé Motta, o filme chega globalmente à Netflix em 19 de novembro e promete emocionar o público com uma adaptação poética e sensível do best-seller homônimo.

Na trama, acompanhamos o pescador solitário Crisóstomo, que sonha em ter um filho. Sua vida muda quando ele encontra Camilo, um menino órfão que passa a fazer parte da vida dele. Em uma tentativa de fugir de sua própria dor, Isaura cruza o caminho dos dois, e, em seguida, um jovem incompreendido chamado Antonino. Juntos, aprendem o significado verdadeiro de família e o propósito de compartilhar a vida. 

Com direção e roteiro de Daniel Rezende, "O Filho de Mil Homens" tem produção de Biônica Filmes e Barry Company. Também fazem parte do elenco Antonio Haddad, Carlos Francisco, Grace Passô, Inez Viana, Juliana Caldas, Lívia Silva, Marcello Escorel, Tuna Dwek, entre outros. Gravado entre Búzios, no litoral do Rio de Janeiro, e Chapada Diamantina, na Bahia, o filme estreia em cinemas selecionados no dia 30 de outubro e globalmente na Netflix em 19 de novembro. "Compre o livro "O Filho de Mil Homens", de Valter Hugo Mãe. neste link.


Sobre o filme
"O Filho de Mil Homens
Direção: Daniel Rezende
Produzido por Biônica Filmes e Barry Company
Roteiro: Daniel Rezende (adaptação do livro O Filho de Mil Homens, de Valter Hugo Mãe)
Produção: Karen Castanho, Juliana Funaro, Bianca Villar, Fernando Fraiha, Krysse Melo, René Sampaio.
Produção Executiva: Bianca Villar, Daniel Rezende, Juliana Funaro, Karen Castanho, Rodrigo Santoro
Elenco: Luciano Baldan
Direção de Fotografia:  Azul Serra
Direção de Arte: Taísa Malouf
Figurino:  Manuela Mello
Caracterização:  Martín Macías Trujillo
Montagem: Marcelo Junqueira
Música:  Fábio Góes
Som Direto: Lia Camargo, ABC
Supervisão de Edição de Som: Toco Cerqueira e Alan Zilli, MPSE
Mixagem: Toco Cerqueira
Supervisão de Efeitos: Juliano Storchi
Supervisão de Pós-Produção: Bruno Horowicz Rezende
Produtor associado: João Macedo

segunda-feira, 20 de outubro de 2025

.: Crítica: "Casa, Beija ou Mata", de Kate Posey, equilibra o riso e o risco


Por 
Helder Moraes Miranda, jornalista e crítico de cultura, especial para o portal Resenhando.com

Romance de estreia da canadense Kate Posey, "Casa, Beija ou Mata", lançado pela Verus Editora, diverte com o próprio absurdo. Com uma escrita que mistura o suspense dos podcasts de true crime com o charme ligeiramente debochado das comédias românticas contemporâneas, a autora constrói uma narrativa que é, ao mesmo tempo, afiada e espirituosa, como se "Killing Eve" e "Um Lugar Chamado Notting Hill" tivessem se encontrado em um happy hour literário.

A protagonista, Dolores dela Cruz, é uma mulher obcecada por crimes reais, o tipo de pessoa que sabe diferenciar um estrangulador de um esfaqueador apenas pelo padrão de comportamento da vítima. Quando o novo colega de trabalho, Jake Ripper, aparece usando luvas suspeitas e um charme que poderia matar (literalmente), Dolores decide investigar e, quem sabe, flertar com o perigo. O resultado é uma relação de gato e rato temperada com humor sombrio, tensão sexual e um timing narrativo preciso.

O que torna "Casa, Beija ou Mata" especial é o equilíbrio improvável entre o riso e o risco. Kate Posey não escreve uma sátira, tampouco um thriller convencional: ela cria um “Thromance” (mistura de thriller e romance), um gênero híbrido que brinca com o imaginário pop e desafia as fronteiras do bom comportamento literário. É uma autora que sabe rir das próprias obsessões culturais - as séries de investigação, os relacionamentos desastrosos, a ironia dos tempos digitais - sem cair na paródia fácil.

A escrita de Posey é surpreendentemente leve. O diálogo entre Dolores e Jake é o tipo de troca que faz o leitor rir, corar e desconfiar, às vezes na mesma frase. A tradução de Carolina Candido acerta o tom exato do humor, entregando uma versão em português que preserva o ritmo e o veneno da narrativa original, sem “domesticar” a voz da autora - o que é raro em um texto que depende tanto da ironia e da cadência verbal. Além do enredo engenhoso, há uma sensação de frescor, uma quebra das expectativas que se espera de um romance de estreia. Posey escreve para uma geração que consome true crime no café da manhã e acredita que o amor é uma armadilha estatística. Seu texto é pop, inteligente e perigosamente divertido.

"Casa, Beija ou Mata" é uma leitura que conquista por sua originalidade: um romance que beija o perigo, casa com o humor e mata o tédio. Kate Posey inaugura sua carreira com um livro que parece um jogo, mas é uma experiência narrativa completa - um lembrete de que, mesmo nas histórias mais sombrias, ainda há espaço para rir do que assusta. Compre o livro "Casa, Beija ou Mata", de Kate Posey, neste link.

sábado, 18 de outubro de 2025

.: Entrevista com Aguinaldo Silva, de volta à TV Globo com "Três Graças"


Criador de clássicos como "Tieta" e "Senhora do Destino", Aguinaldo Silva está de volta com "Três Graças", nova aposta da TV Globo para o horário nobre. Foto: Globo/Edu Lopes


Dramaturgo e escritor, Aguinaldo Silva retorna à teledramaturgia da TV Globo seis anos após "O Sétimo Guardião" (2019) com a nova novela das nove, "Três Graças". Jornalista de formação e apaixonado por literatura, o autor consolidou uma das carreiras mais marcantes da televisão brasileira, com títulos que definiram épocas. Ao lado de nomes como Dias Gomes, Gilberto Braga, Leonor Bassères e Ricardo Linhares, assinou sucessos como "Roque Santeiro" (1985), "Vale Tudo" (1988), "Tieta" (1989), "Pedra Sobre Pedra" (1992), "Fera Ferida" (1993), "A Indomada" (1997), "Senhora do Destino" (2004), "Fina Estampa" (2011) e "Império" (2014) - essa última vencedora do Emmy Internacional de melhor novela.

Agora, em parceria com Virgílio Silva e Zé Dassilva, Aguinaldo apresenta uma trama contemporânea ambientada em São Paulo, que reflete o Brasil real por meio de três mulheres unidas por um mesmo destino: tornaram-se mães na adolescência e precisaram enfrentar sozinhas as desigualdades de uma sociedade que insiste em puni-las por existir. "Três Graças" mistura crítica social e folhetim clássico - marcas registradas do autor -, e promete revisitar a força feminina, a ironia e os dilemas morais que sempre fizeram parte das grandes histórias elaboradas por ele. Compre os livros de Aguinaldo Silva neste link.


Do que trata "Três Graças", a nova novela das nove? 
Aguinaldo Silva - "Três Graças" fala de três mulheres que foram mães muito cedo, aos 15 anos, que não tiveram o apoio dos pais das crianças e foram à luta, passaram por situações extremas. Elas levam uma vida muito parecida com a vida dos nossos espectadores. Ou seja, elas batalham, são otimistas, têm fé no futuro e se envolvem com histórias típicas de um folhetim. É uma ficção que tem o privilégio de poder se inspirar na realidade. Nossa protagonista, a Gerluce (Sophie Charlotte), é uma mulher inconformada com a injustiça, com as maldades que assolam sua comunidade e sua família, numa São Paulo que abriga milhões de brasileiras como ela. Ela repetiu o destino da mãe Lígia (Dira Paes): engravidou de Joélly (Alana Cabral) na adolescência. Mas, quando a gestação precoce da filha se confirma, ela vai fazer de tudo para impedir que Joélly renuncie a seus projetos e ambições, assim como ela e a mãe foram obrigadas a fazer. Ao mesmo tempo, ao se ver diante de corruptos que prejudicam uma multidão de doentes em benefício próprio e com a mãe entre a vida e a morte, Gerluce encara um dilema. Até onde ir quando se precisa batalhar pela sobrevivência?    


A novela vai trazer uma história contemporânea, que se passa na maior metrópole da América Latina, São Paulo. Que assuntos da atualidade são abordados na trama? 
Aguinaldo Silva - A novela se passa em dois ambientes: a comunidade fictícia Chacrinha, onde vivem os personagens mais carentes, e os bairros nobres de São Paulo, onde estão os responsáveis pelo crime dos remédios falsos. Esses mundos se cruzam porque Gerluce (Sophie Charlotte) trabalha na casa de Arminda (Grazi Massafera), uma das vilãs da história. Estamos criando uma novela com uma linguagem bastante popular e abrangente, que fala do dia a dia das pessoas, dos desafios que se encontram em uma grande metrópole, de quem sai às 5h da manhã e pega três ônibus para ir trabalhar. Ao mesmo tempo, a novela também fala sobre os dramas pessoais de cada um e de como é possível ser otimista e positivo diante das desigualdades e injustiças. É uma obra da atualidade, do ônibus, do metrô, do trem, mas não será uma novela naturalista: a ficção é a base para a nossa criação. Ainda assim, a trama propõe reflexões importantes a partir de temas hoje discutidos. Teremos, no núcleo das protagonistas, a questão da gravidez na adolescência; falaremos de corrupção e falsificação de remédios. Também vamos abordar aspectos da nossa sociedade. Tudo isso num contexto ficcional.  

 
A gravidez na adolescência é um tema de destaque na novela. Como surgiu a ideia de retratá-lo na obra? 
Aguinaldo Silva - Quando eu estava escrevendo "Duas Caras", por uma razão que tinha a ver com a trama da novela, fui fazer uma pesquisa na maternidade Leila Diniz, no Rio de Janeiro. Quando cheguei lá, logo cedo, tinha uma fila enorme de mulheres esperando para serem atendidas, e eu percebi que a maioria dessas mulheres eram meninas. Isso me chocou profundamente, porque eram adolescentes grávidas, de 15, 16 anos. Algumas ainda com jeito meio infantil. Um amigo que foi comigo na ocasião falou uma frase que me marcou: “Você está vendo algum homem aqui?”. Ou seja, eram mães solo, o que me tocou demais. Isso foi lá em 2007, mas eu fiquei com aquela ideia da fila de meninas grávidas à espera de atendimento da maternidade. Achei que um dia eu teria de escrever sobre elas, e foi, na verdade, desse meu compromisso que surgiram essas três Graças: três mulheres que foram mães muito precocemente, sem que houvesse nenhum homem na família que as apoiasse nesse processo.


A novela também trata de um esquema criminoso de falsificação de remédios. Você se baseou em algum episódio verídico para trazer esse assunto para a história? 
Aguinaldo Silva - Esse é mais um tema que parte da realidade para a ficção, muito embora a novela não seja um retrato fiel, porque a linguagem da dramaturgia é outra. Mas o noticiário fala de casos assim, de remédios falsificados, de apreensão, de ação policial contra fábricas clandestinas. É um assunto grave. Já houve casos no Brasil em que pessoas foram enganadas ao tomar medicamentos placebo, que não fazem efeito. Lembro do caso de mulheres que engravidaram por causa de pílulas anticoncepcionais feitas de farinha, isso em 1998, e ficaram anos buscando reparação. Nessa novela, a fábrica chama-se “casa de farinha”, porque os "medicamentos” são feitos dessa matéria-prima. A mensagem que queremos passar com essa trama é a confrontação que existe na sociedade brasileira entre as pessoas que trabalham e dão tudo de si, e pessoas muito egoístas que só visam o dinheiro e pouco se importam com quem está sendo prejudicado pelo mal que praticam.


De que forma a escultura das "Três Graças" aparece na história?
Aguinaldo Silva - A novela se chama "Três Graças" porque é o sobrenome das três protagonistas, mas também porque existe na casa da Arminda (Grazi Massafera) uma escultura neoclássica que se chama "Três Graças". Nós criamos um escultor chamado Giovanni Aranha, que é italiano, e que fez aquela obra especificamente. Arminda e Ferette (Murilo Benício) usam essa estátua de uma maneira bastante ilegal. Ela é mantida no quarto, na casa dela, e nunca é exposta. Ninguém sabe mais que essa estátua está com eles, é um mistério, porque ela guarda um segredo que vai ser revelado. Gerluce (Sophie Charlotte) será a primeira a desconfiar de seu verdadeiro valor.  


Suas novelas anteriores foram marcadas por grandes personagens, como as vilãs Perpétua, de "Tieta", Nazaré Tedesco, de "Senhora do Destino", e mulheres fortes, como Tieta, da novela homônima, e Maria do Carmo, também de "Senhora do Destino", além dos carismáticos Crô de "Fina Estampa" e o comendador Zé Alfredo, de "Império". Em que personagens está apostando em "Três Graças"? 
Aguinaldo Silva - Estamos apostando muito na protagonista, a Gerluce, que tem um caráter multifacetado e é sempre altamente positiva. Mas tem personagens muito interessantes, como a Josefa (Arlete Salles), a mãe da Arminda (Grazi Massafera). Ela sabe que a filha é uma bandida e faz o possível para infernizar a vida dela. Eu uso inclusive a suposta falta de memória, que ela realmente tem, para atrapalhar a vida da filha e castigá-la. Ela não é uma velhinha doce, ela é terrível. Tem a Arminda, que é uma daquelas minhas vilãs completamente ensandecidas, que são capazes de fazer as coisas mais absurdas e, ao mesmo tempo, parecer que são engraçadas, mas não são; são cruéis. Eu tenho toda uma linhagem de mulheres vilãs, além das heroínas, que causaram muito rumor. Foi o caso da Nazaré (Renata Sorrah em "Senhora do Destino"), que até hoje continua viva andando aí pelas ruas do Rio de Janeiro (risos).  

Como tem sido criar e escrever essa história ao lado do Virgílio Silva e do Zé Dassilva? 
Aguinaldo Silva - Tem sido muito legal, com a gente não tem tempo ruim. Começamos a trabalhar eu e o Virgílio, e então chamamos o Zé. Formamos o trio dos Silvas. É um trabalho que funciona como uma fábrica de montagem, somos três autores. Eu me acostumei a trabalhar em equipe no jornalismo. Na minha época, você tinha a obrigação de diariamente botar um jornal nas bancas, então todos trabalhavam para isso.

quinta-feira, 9 de outubro de 2025

.: Jared Leto mergulha no código: “Tron - Ares” reacende a era digital da Disney


Por Helder Moraes Miranda, jornalista e crítico de cultura, especial para o portal Resenhando.com.

O universo digital volta a ser palco de uma batalha entre o real e o virtual com a estreia de "Tron - Ares" (em Portugal, "Tron: Ares - O Legado"), o terceiro filme da franquia iniciada em 1982 pela Disney. Dirigido por Joachim Rønning, o mesmo de "Piratas do Caribe: a Vingança de Salazar" (2017) e "Malévola: dona do Mal" (2019), o longa-metragem tem estreia mundial nesta quinta-feira, dia 9 de outubro, e promete expandir o universo criado por Steven Lisberger com uma abordagem mais sombria, filosófica e visualmente arrojada.

O elenco reúne Jared Leto, que interpreta o enigmático programa Ares, acompanhado de Greta Lee, Evan Peters, Cameron Monaghan, Sarah Desjardins, Jodie Turner-Smith e do veterano Jeff Bridges, que retorna ao papel de Kevin Flynn, mentor e arquiteto do mundo digital. O roteiro é assinado por Jesse Wigutow e Jack Thorne, de "Enola Holmes", e a trilha sonora - um dos pontos altos da franquia - deverá novamente mesclar eletrônica e orquestra, com participação confirmada do músico Joseph Trapanese, colaborador do duo Daft Punk em "Tron: o Legado" (2010).

As gravações de "Tron - Ares" ocorreram em Vancouver, no Canadá, após uma longa pausa provocada pela pandemia e por disputas internas na Disney sobre o rumo da franquia. Segundo o portal The Hollywood Reporter, a produção marca a tentativa do estúdio de reerguer uma de suas propriedades mais cultuadas pelos fãs de ficção científica. A revista Variety destacou que o filme explora temas contemporâneos como inteligência artificial, consciência digital e os limites éticos entre criador e criatura - assuntos que conversam diretamente com o avanço da tecnologia nos últimos anos.

Jared Leto, que também atua como produtor, afirmou em entrevista à Collider que "Tron - Ares" é “uma fábula tecnológica sobre identidade e transcendência”, e que o personagem Ares representa “a primeira conexão real entre o mundo dos humanos e o dos programas”. Ainda segundo o ator, o longa “será visualmente revolucionário, assim como o original foi nos anos 80”

Com duração de 119 minutos, segundo informações do Screen Rant, o filme terá duas cenas pós-créditos, uma delas conectando diretamente o desfecho de "Tron - O Legado" com o novo capítulo. A nova produção promete reintroduzir o público a uma estética neon reimaginada, em um embate entre carne e código que atualiza a discussão sobre o que é, afinal, ser humano em tempos de fronteiras digitais cada vez mais tênues.


Sinopse resumida de “Tron - Ares”
Após anos de silêncio do mundo digital, um programa chamado Ares é enviado ao mundo real para estabelecer contato entre humanos e inteligências artificiais, colocando em risco as fronteiras entre criador e criação.

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Ficha técnica
“Tron - Ares” | “Tron: Ares - O Legado” (Portugal)
Classificação indicativa:
12 anos
Ano de produção: 2025
Idioma: inglês
Direção: Joachim Rønning
Roteiro: Jesse Wigutow e Jack Thorne
Elenco: Jared Leto, Greta Lee, Evan Peters, Cameron Monaghan, Sarah Desjardins, Jodie Turner-Smith, Jeff Bridges
Distribuição no Brasil: Walt Disney Studios Motion Pictures
Duração: 119 minutos
Cenas pós-créditos: sim, duas

Sessões legendadas no Cineflix Santos | Sala 2
9/10/2025 - Quinta-feira: 16h00, 18h30 e 21h00.
10/10/2025 - Sexta-feira: 16h00, 18h30 e 21h00.
11/10/2025 - Sábado: 16h00, 18h30 e 21h00.
12/10/2025 - Domingo: 16h00, 18h30 e 21h00.
13/10/2025 - Segunda-feira: 16h00, 18h30 e 21h00.
14/10/2025 - Terça-feira: 16h00, 18h30 e 21h00.
15/10/2025 - Quarta-feira: 16h00, 18h30 e 21h00. Ingressos neste link.

terça-feira, 7 de outubro de 2025

.: Teatro: "As Aves da Noite", de Hilda Hilst, circula em São Paulo


Espetáculo, cuja história se passa em um campo de concentração nazista, tem apresentações gratuitas em São Bernardo do Campo, Campinas, São Caetano do Sul, São Paulo e Ribeirão Preto. Foto: Heloísa Bortz


O espetáculo "As Aves da Noite", drama teatral escrito por Hilda Hilst, há 57 anos, vencedor do Prêmio APCA 2022 de Melhor Espetáculo Virtual, tem apresentações gratuitas em cinco cidades paulistas, incluindo a capital. A circulação tem início no dia 10 de outubro e segue até 02 de novembro. A encenação, que se passa em um campo de concentração nazista de Auschwitz, tem direção de Hugo Coelho e elenco formado por Marco Antônio Pâmio, Marat Descartes, Regina Maria Remencius, Rafael Losso, Walter Breda, Fernando Vítor, Marcos Suchara, Wesley Guindani e Heloisa Rocha.

A circulação começa por São Bernardo do Campo, com apresentações nos dias 10 e 11/10, sexta e sábado, no Teatro Lauro Gomes, às 20h30. Em Campinas, a sessão é no Teatro Municipal José de Castro Mendes, no dia 16/10, quinta, às 20h. Em São Caetano do Sul, ocorrem duas sessões no Teatro Municipal Santos Dumont, no dia 17/10, sexta, às 18h e às 20h. O Teatro Alfredo Mesquita, na zona norte de São Paulo, recebe três apresentações, dias 24, 25 e 26/10, sexta e sábado, às 20h, e domingo, às 19h. Fechando a circulação, a montagem ocupa o palco do Teatro Municipal de Ribeirão Preto, nos dias 01 e 02/11, sábado, às 20h, e domingo, às 18h. Este projeto tem o apoio da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Governo do Estado de São Paulo e do Ministério da Cultura por meio do Edital ProAC/PNAB nº 27/2024 de Difusão e Circulação de Projetos Artísticos Culturais.

O enredo de "As Aves da Noite" parte da história real do padre franciscano Maximilian Kolbe, que apresentou-se voluntariamente para ocupar o lugar de um judeu sorteado para morrer no chamado “porão da fome” em represália à fuga de um prisioneiro. Segundo o diretor Hugo Coelho, “esta é uma versão contemporânea do texto de Hilda. Não é uma reconstituição de Auschwitz, partimos de Auschwitz. O espetáculo é um grito contra a barbárie, contra o fascismo que usa a violência como instrumento de ação política”.

No porão da fome, a autora coloca em conflito os prisioneiros condenados a morrer na cela: o Padre, o Carcereiro, o Poeta, o Estudante e o Joalheiro, que são visitados pelo Oficial da SS, pela Mulher que limpa os fornos e por Hans, o ajudante da SS. Na montagem, eles aparecem isolados, confinados em gaiolas como um signo, uma alusão à prisão onde a história se passa. “A primeira coisa que os governos totalitários e ditatoriais fazem ao prender alguém é destituí-lo de sua dignidade e submetê-lo ao sofrimento extremado, e isso os nazistas fizeram com requintes inimagináveis de crueldade”, comenta o diretor.  Segundo ele, a proposta de concepção de Hilda Hilst é muito clara, colocando as personagens em estado de reflexão sobre suas próprias condições no confinamento. A leitura que a autora faz dos aspectos éticos e humanos passa por questionamentos sobre Deus, sobre o mal e sobre a crueldade.

Nos diálogos estão o embate entre a vida e o que lhes resta, os devaneios entre o desespero e o delírio. O Poeta declama como se morto estivesse, o Estudante sonha com outro tempo, o Joalheiro ainda lembra-se da magnitude das pedras, enquanto a Mulher é humilhada em sua condição inferior. O Carcereiro, mesmo sendo um condenado, ironiza a condição dos demais e os trata com escárnio; o SS os chama de porcos e os agride e menospreza, enquanto o estado de debilidade emerge da vida e da já não existência desses humanos subjugados.

A montagem de "As Aves da Noite" busca elucidar a humanidade e densidade contida no texto, mergulhando nas possibilidades inesgotáveis do drama para emergir na poética da tragédia. “O discurso racional não dá conta da realidade. A arte tem o papel de traduzir esse discurso como uma segunda realidade que passa pela razão, mas também pelo sensorial e pela emoção”, reflete Hugo Coelho. “E temos a sorte de reunir um elenco de extrema grandeza. O talento desses atores é um pilar fortíssimo no resultado final do trabalho”.

Sobre o texto, Hilda Hilst falou: “Com 'As aves da noite', pretendi ouvir o que foi dito na cela da fome, em Auschwitz. Foi muito difícil. Se os meus personagens parecerem demasiadamente poéticos é porque acredito que só em situações extremas é que a poesia pode eclodir viva, em verdade. Só em situações extremas é que interrogamos esse grande obscuro que é Deus, com voracidade, desespero e poesia”.

O cenário, que traduz o cárcere com gaiolas humanas, foi concebido pelo diretor. O figurino (de Rosângela Ribeiro) faz alusão aos uniformes de presidiários, reforçando a imagem do encarceramento. A iluminação (de Fran Barros) dá foco a cada personagem, reforça o clima denso e claustrofóbico do ambiente, privilegiando o espaço teatral, e a trilha sonora, assinada por Ricardo Severo, traz uma canção original do texto que remete à tradição judaica, cantada pelas personagens, e segue a mesma orientação da iluminação.

Hugo Coelho afirma que o propósito do espetáculo é trazer à cena o discurso poderoso e contundente de Hilda Hilst. “'As Aves da Noite' nos faz encarar toda a barbárie do poder, do domínio, do autoritarismo, das torturas nos porões das ditaduras. Auschwitz é uma ferida aberta na humanidade para a qual é difícil encontrar palavras que a qualifique. As Aves da Noite mostra o reverso, o outro rosto da humanidade, perverso, doente e profundamente violento. Não podemos permitir que a violência e a barbárie continuem sendo normatizadas ao longo da história. Por isso essa obra, de extrema qualidade literária, é tão importante para o momento em que vivemos”, finaliza o encenador.

"As Aves da Noite", idealizado pelo produtor Fábio Hilst, teve sua primeira temporada apresentada virtualmente, devido à pandemia da covid-19. Foi gravado em vídeo, 80 anos após a morte de Maximilian Kolbe, exatamente no momento em que o mundo vivia uma experiência de confinamento. Kolbe morreu em Auschwitz, em 1941, e foi canonizado em 1982, pelo Papa João Paulo II. São Maximiliano é considerado padroeiro dos jornalistas e radialistas e protetor da liberdade de expressão.


FICHA TÉCNICA - Texto: Hilda Hilst (1968). Direção: Hugo Coelho. Elenco: Marco Antônio Pâmio (Pe. Maximilian), Marat Descartes (Carcereiro), Regina Maria Remencius (Mulher), Walter Breda (Joalheiro), Rafael Losso (Estudante), Fernando Vítor (Poeta), Marcos Suchara (SS), Wesley Guindani (Hans) e Heloisa Rocha. Direção de produção: Fábio Hilst. Assistência de direção e produção: Fernanda Lorenzoni. Cenografia: Hugo Coelho. Figurino e objetos de cena: Rosângela Ribeiro. Desenho de luz: Fran Barros. Música original e desenho de som: Ricardo Severo. Cenotecnia: Wagner José de Almeida. Serralheria: José da Hora. Pintura de arte: Alessandra Siqueira. Assistência de cenotecnia: Matheus Tomé. Confecção de figurino: Vilma Hirata e Natalia Hirata. Fotos: Priscila Prade e Heloísa Bortz. Design gráfico: Letícia Andrade. Gerenciamento de mídias sociais: Felipe Pirillo. Assessoria de imprensa: Eliane Verbena. Produção: Três no Tapa Produções Artísticas. Realização: Fomento CultSP, Governo do Estado de São Paulo através da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas, Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura, Ministério da Cultura, Governo Federal - União e Reconstrução.


Serviço | Programação

Espetáculo: As Aves da Noite

Duração: 75 min. Gênero: Drama. Classificação: 16 anos.

Ingressos: Gratuitos - Bilheterias dos teatros: 1h antes das sessões.

Ingressos antecipados: Sympla - www.sympla.com.br (reserva no início de cada semana); exceto em Ribeirão Preto, pela https://megabilheteria.com.


Teatro Lauro Gomes - São Bernardo do Campo/SP

Dias 10 e 11 de outubro - Sexta e sábado, às 20h30

Rua Helena Jacquey, 171 - Rudge Ramos. São Bernardo do Campo/SP.

Tel.: (11) 4368-3483. Capacidade: 526 lugares.

Sessão com Intérprete de Libras e bate-papo com o público: 11/10 (sábado).


Teatro Municipal José de Castro Mendes - Campinas/SP

Dia 16 de outubro - Quinta, às 20h

Rua Conselheiro Gomide, 62 - Vila Industrial. Campinas/SP.

Tel.: (19) 3272-9359. Capacidade: 760 lugares.

Sessão com Intérprete de Libras e bate-papo com o público.


Teatro Municipal Santos Dumont - São Caetano do Sul/SP

Dia 17 de outubro - Sexta, às 18h e às 20h

Avenida Goiás, 1111 - Centro. São Caetano do Sul/SP.

Tel.: (11) 4221-8347. Capacidade: 370 lugares.

Intérprete de Libras: sessão das 20h.


Teatro Alfredo Mesquita - São Paulo/SP

Dias 24, 25 e 26 de outubro - Sexta e sábado, às 20h, e domingo, às 19h

Avenida Santos Dumont, 1770 - Santana. São Paulo/SP.

Tel.: (11) 2221-3657. Capacidade: 198 lugares.

Intérprete de Libras, audiodescrição e bate-papo com o público: 26/10 (domingo).

 

Teatro Municipal de Ribeirão Preto - Ribeirão Preto/SP

Dias 01 e 02 de novembro - Sábado, às 20h, e domingo, às 18h

Praça Alto do São Bento, s/nº - Campos Elísios. Ribeirão Preto/SP.

Tel.: (16) 3625-6841. Capacidade: 515 lugares.

Intérprete de Libras e bate-papo com o público: 02/11 (domingo).


terça-feira, 30 de setembro de 2025

.: "PomPoko": o que acontece quando os guaxinins declaram guerra ao descaso


Por 
Helder Moraes Miranda, jornalista e crítico de cultura, especial para o portal Resenhando.com.

Entre os filmes mais ousados e politicamente afiados do Estúdio Ghibli, "Pom Poko: a Grande Batalha dos Guaxinins" ("Heisei Tanuki Gassen Ponpoko"), dirigido por Isao Takahata, ocupa um lugar singular. Ao mesmo tempo em que traz humor, fantasia e delicadeza, a animação de 1994 é uma denúncia contundente da destruição ambiental promovida pelos seres humanos. Poucas animações conseguem equilibrar tanto lirismo e crítica social sem soar panfletárias, e essa é a maior força deste filme que, mesmo quase três décadas depois do lançamento, segue atual e incômodo.

A história acompanha uma comunidade de guaxinins que vê seu território ser engolido pela expansão imobiliária e pela urbanização desenfreada. Confrontados com a perda de suas florestas, eles decidem se rebelar contra os humanos. Para isso, recorrem a poderes mágicos de transformação - ora assumindo formas humanas, ora criando ilusões capazes de assustar os invasores. O conflito, que poderia soar apenas como uma parábola infantil, é tratado com densidade e ambição narrativa, resultando em uma fábula com contornos épicos, mas também documentais.

A construção da narrativa é um dos pontos altos. Entre momentos de ação e fantasia, o filme intercala narrações explicativas, quase jornalísticas, que descrevem o avanço da urbanização e os impactos ambientais da exploração desmedida. Essa mistura de encantamento e realidade dá ao longa uma força singular: não é apenas uma história para entreter, mas um registro artístico e crítico sobre uma era em que a natureza foi (e ainda é) colocada em segundo plano. Nesse aspecto, "Pom Poko" lembra o minidocumentário brasileiro "Ilha das Flores" (1989), de Jorge Furtado, que também costura humor, ironia e denúncia para escancarar verdades desconfortáveis.

Apesar do tom político, há espaço para ternura e sensibilidade. Os guaxinins não são apenas guerreiros improváveis, mas também figuras cheias de amor, medos e contradições. O respeito ao feminino, presente em personagens que equilibram força e delicadeza, confere profundidade emocional ao enredo. E a própria cultura japonesa, que sempre enxergou os animais como espíritos e guardiões, serve de base para a mitologia que sustenta a trama.

É impressionante como Takahata consegue conduzir a narrativa em diferentes registros: da comédia escrachada ao lirismo contemplativo, passando pelo tom quase didático sem jamais perder a essência. O resultado é uma obra que, em vez de envelhecer, ganhou camadas de urgência. Quando vemos os guaxinins lutando contra o desaparecimento de uma floresta, é impossível não pensar nas questões ambientais que ameaçam o planeta hoje - desmatamento, mudanças climáticas, perda de biodiversidade.

"Pom Poko" é daqueles filmes que ultrapassam a categoria de “animação” para se tornarem documentos culturais. Ele mostra que a fantasia pode ser a ferramenta mais eficaz para revelar a realidade, que os bichos podem ser espelhos da humanidade, e que a luta pela preservação do meio ambiente não é apenas um tema da década de 1990, mas um chamado contínuo. Em última instância, o filme lembra que todos estão conectados à natureza e que ignorar isso é cavar nossa própria ruína. "Pom Poko" é para rir, emocionar-se e, sobretudo, refletir. Uma obra a ser estudada, revisitada e, quem sabe, levada como alerta para as gerações que ainda virão.



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quinta-feira, 11 de setembro de 2025

.: Entrevista: ZéVitor desmonta a própria torre para erguer "Imago Mundi”


Por Helder Moraes Miranda, jornalista e crítico de cultura, especial para o portal Resenhando.com. Fotos: Lucca Mezzacappa


Um álbum que surge de uma carta de Tarô desmoronando, de violões que carregam fantasmas de outras décadas, de aboios que ecoam como fósseis sonoros e de espaços silenciosos e familiares que só encontram voz na poesia. "Imago Mundi", o trabalho mais recente de ZéVitor, é mais que um conjunto de faixas. O álbum costura tradição viva e memória íntima em busca de um Brasil pessoal, seja ele medieval ou sertanejo, galego ou nordestino, melancólico ou solar, ou tudo isso misturado.

Na live session filmada em plano sequência, o disco se revela sem cortes, como quem encara o risco de ser visto sem máscara. Nesse cenário, ZéVitor reconstrói, arqueólogo e inventor,  as peças de um quebra-cabeça cultural que atravessa séculos e territórios. Entre colaborações que vão da voz do pai, o ator e músico Jackson Antunes, à artista galega Antía Muíño, o músico afirma um lugar raro: o de quem não se contenta com a repetição do que já foi ouvido. Nesta entrevista exclusiva ao portal Resenhando.com, ele fala sobre ritos de passagem, tradições que respiram, rebeldias estéticas e tormentas criativas que ainda pedem para virar música.

Resenhando.com - "Imago Mundi" parece ser mais do que um disco – soa como um rito de passagem. O que você precisou enterrar ou perder dentro de si para que esse álbum pudesse nascer?
ZéVitor - Muito legal você puxar esse termo “rito de passagem”, quando pensamos nas culturas através do mundo nos deparamos frequentemente com rituais que representam mortes simbólicas… talvez o art1ista morra em si mesmo várias vezes ao longo da sua trajetória… Eu sinto como se fosse uma nova vida, já que esse disco nasce com todo um novo processo pessoal de feitura artística completamente diferente de tudo que eu já havia experimentado… encontrei essas canções no fundo do fundo, quando por completo me desconheci e o fazer havia perdido o sentido… Nesse ponto houve um rompimento quase que completo com o que me fazia de alicerce, é como aquela carta do Tarô, A Torre… tudo vem ao chão e recomeça-se… "Imago Mundi" é o primeiro passo desse recomeço artístico, a porta que dá passagem a esse tempo novo… que está completamente ligado a "re-memória" daquilo de mais íntimo que sou, a volta para as minhas origens para a partir daí pensar na originalidade do meu fazer.


Resenhando.com - A live session foi gravada em plano sequência, um recurso estético que não permite cortes nem esconderijos. Que parte sua ficou exposta nesse processo - e você deixaria que alguém revisse esse plano sequência emocional da sua vida?
ZéVitor - Sem dúvidas o processo do ao vivo coloca a prova todos os envolvidos para que a capacidade de estarmos em sintonia possa transformar o momento em música… Momento que tem menos artifícios para esconder imperfeições… Mas sendo a música que busco fundamentada na busca pela verdade, a "não-perfeição" é acolhida pela expressão… Captura-se o momento, seja o melhor dia ou não, como as coisas tem de ser ali e agora. Sobre deixar alguém reviver o meu plano sequência emocional, acho que as canções acabam sendo mais interessantes do que isso, devo à invenção a razão desse parecer, já que criar, tem muito mais possibilidades… Todos temos nosso baú de dores incompartilháveis… Compartilho minha música, onde acho que posso servir um pouco mais de poesia do que a realidade crua e nua.  


Resenhando.com - Ao escolher instrumentos históricos e resgatar sons esquecidos, você parece dizer que o Brasil ainda guarda músicas que não ouvimos. Qual é a canção que o país insiste em calar?
ZéVitor - Acho que a ordem industrial de para onde a música precisa seguir para vender mais acaba por sufocar muitas experimentações… A música que vem de fora viraliza as nossas formas de fazer… Somos um povo extremamente complexo musicalmente, cheios de requintes rítmicos… então tenho me voltado culturalmente para o nosso país para criar a partir dele e de suas histórias… Sobre os instrumentos, essa espécie de arqueologia do som é uma parte de um processo em leque… É visual, sonoro, histórico. O timbre desses instrumentos antigos parecem nos contar sobre um futuro que não continuou… um tempo que se imaginou mas nunca houve pois tudo se deu diferente… nNsso vejo a  possibilidade de dar continuidade às buscas por música brasileira.


Resenhando.com - Você colocou seu pai, Jackson Antunes, para declamar versos em “Lira”, uma faixa sobre perdas. Quais silêncios ou segredos familiares ecoam nessa parceria artística?
ZéVitor - Meu pai sempre foi um guardião de histórias. Muitas dores que atravessaram nossa família nunca foram ditas em voz alta, mas a arte acaba funcionando como um espaço possível para que elas existam. Quando meu pai declama em “Lira”, sinto como se aquilo que não expomos ao mundo no cotidiano encontrasse lugar na música. É uma forma de quebrar o silêncio deixando que a poesia carregue o peso do indizível.


Resenhando.com - Em “πNeo” você incorpora aboios e sons ancestrais, como se atualizasse uma memória coletiva em loop. Como diferenciar tradição viva de folclore embalsamado?
ZéVitor - Acho que tradição viva é tudo aquilo que respira do passado ao presente… a tradição que serve a comunidade e segue em contextos reais… A tradição viva no meu entendimento pode ser ainda de duas formas: ela mantida como é, para dar longa vida a sua origem e preservação a sua originalidade… e ela transformada na ótica de seu tempo, para que tenha possibilidades de pesquisa em sua expressão. Em diferença, o folclore embalsamado que no meu entendimento desse termo refere-se a uma forma de se tentar preservar algo morto para propósito de exibição… me parece essa coisa fria, numa mera representação de algo um tanto sem vida do que deveria ser aquilo… Troca-se o sangue por formol para evitar o que é desagradável e caber dentro de um ambiente de exposição sem muito interesse real em estabelecer uma ligação profunda…
 

Resenhando.com - “Kintsugi” encerra o disco com uma colaboração com Antía Muíño e uma metáfora japonesa sobre reconstrução. O que em você está colado com ouro?
ZéVitor - Tudo aquilo que um dia se partiu. Porque tudo que quebra a gente recolhe pra levar ou jogar fora. Algumas coisas acabam saindo de forma diferente do que gostaríamos, perdemos tantas coisas pelo caminho… nessa metáfora de aprendermos a lidar com as cicatrizes, todos nós vamos tendo que fazer algo com elas. Sobre a música, talvez ela possa explicar melhor a sua existência do que eu… Acho que ela tem o poder de reconfortar com uma beleza melancólica que no fim tem uma mensagem positiva sobre reconstrução e esperança. Eu escrevi essa música quando estávamos já no processo de feitura do álbum, e todo dia mostrava para o Aureo Gandur, produtor do disco, e tentava mostrar o quão me parecia especial… ela acabou por entrar como a última faixa do disco… lembro que ficamos por duas noites retrabalhado o arranjo dos violões e nessa altura era impossível pensar o trabalho sem a sua presença. É motivo de alegria compartilhar essa canção com Antía Muíño, que trouxe através de sua voz toda a ancestralidade e futuro da cultura galega… essa música nos fez cruzar o oceano e sua estreia foi no Festiletras, um festival na Aldea do Couto à convite de Antía. Conhecer a Galícia, foi ter contato com o próprio conceito do disco, em uma travessia transformadora e profunda. Kintsugi foi escolhida para estar na playlist "O Melhor da Aquarela Brasileira 2024" (Spotify) e fiquei feliz pois é uma oportunidade de mostrar que nossas raízes também podem estar além de nossas fronteiras.


Resenhando.com - Se o álbum fosse uma carta para o futuro, que faixa você gostaria que sobrevivesse a esse tempo líquido que esquece tudo rápido?
ZéVitor - Eu gostaria que “Deixe-me Ir” sobrevivesse, mas se ela se for, acho que é a música que pode ser redescoberta numa cápsula, e daqui a tantos e tantos anos poderá ainda narrar os dramas da humanidade de maneira contemporânea ou ser um retrato do nosso tempo… As bombas, as balas, a guerra e a corrida do dinheiro… Tenho dificuldade de acreditar numa melhora substancial do comportamento humano ainda mais com a forma como os donos do mundo decidem tocar o barco.


Resenhando.com - Ao dirigir a arte da live e os próprios arranjos, você se colocou em várias frentes criativas. Onde termina o ZéVitor artista e começa o ZéVitor obsessivo?
ZéVitor - Acho que a tentativa de controle a qualquer custo é sofrimento na certa, eu me cerco de pessoas que confio… O cenário foi fruto de uma direção simbólica, as coisas foram aparecendo e cada um presente colaborou com a sua sensibilidade. Quanto aos arranjos seria um exagero dizer que participei da direção, que é obra do meu grande amigo e produtor musical Aureo Gandur! Certamente me é impossível não palpitar e participar ativamente das decisões… fico muito empolgado com as escolhas de instrumentação para cada música, ainda mais nesses formatos de ao vivo, onde podemos reorganizar a forma de fazer… E sobre ser obsessivo, se fizesse uma tradução de obsessivo para excessivamente preocupado com algo… Poderia dizer que estou bastante envolvido com a minha música como objeto de pesquisa, ando restaurando instrumentos históricos com o objetivo de dar continuidade ao seu som, pensando sobre esse processo criativo e os caminhos inventivos para nossa música de hoje e de amanhã que não esteja dominada por modismos.


Resenhando.com - Você reúne em um mesmo projeto a cultura galega, sertaneja, nordestina, medieval e pop. Isso é curadoria pessoal ou rebeldia estética?
ZéVitor - É uma curadoria pessoal do que tocam as raízes desse trabalho e todo o processo que estamos envolvidos, acho que pode ser considerado uma rebeldia em relação as pedidas do mundo… Afinal são músicas para serem ouvidas em estado de envolvimento e atenção para todas essas coisas que as formam. Na Galícia, se deu surgimento da nossa língua portuguesa, os primeiros textos estavam lá escritos em galego-português na terra dos trovadores… A saudosa professora Jerusa Pires disse uma vez em uma aula, que nunca sentiu tanto Elomar do que quando desembarcou na estação de trem de Santiago de Compostela… O nosso sertão é medieval, a Espanha conta "Don Quixote" e nós lemos "Grande Sertão: Veredas"… as nossas violas caipira, nordestina… e todas as suas afinações descendem das violas Braguesas, Amarantinas, Da Madeira… todas violas portuguesas que acabaram afinadas pelas terras que as acolheram aqui no Brasil… não se trata então de saltos em todas as direções para encontrar uma estética extravagante, mas sim de acreditar estar numa linha de reconexão com um grande rio que se estende do mais remoto até o presente para formar a nossa cultura… Eu me sinto ligando alguns pontos desse grande mapa para encontrar um tesouro que é a própria música. Os instrumentos surgem como elos para trabalhar com essa tradição viva, acreditando que isso seja uma das bases mais fortes para se pensar o futuro… tradição em estado de movimento. O retrato do que estamos tentando fazer me parece uma raiz que tenta se projetar ao futuro…


Resenhando.com - Depois de “Imago Mundi”, o que ainda não foi dito por ZéVitor, mas já o atormenta querendo virar música?
ZéVitor - Acho que muitas coisas ainda não foram ditas, eu componho mais músicas do que sou capaz de dar conta… Existem vários projetos prontos esperando sua vez e seu lugar… Mas todas as músicas se encontram unidas no mesmo propósito de exploração e experimentação com base nesse processo que pude compartilhar um pouco nessa entrevista… O segundo passo desse caminho já começa a se insinuar em Gandaia, que é um disco mais solar, tropical e selvagem que estou trabalhando… Onde a variação de música para música já começa a desenhar sonora e poeticamente novas linhas desse mapa… Fiz uma expedição com o Aureo Gandur (produtor musical) e o Iuri Nascimento (engenheiro de som e músico) que estão comigo nessa pesquisa sonora, dirigimos por 21 horas para encontrar um lote de instrumentos que estavam sendo tratados como sucata… no meio de coisas mais que especiais descobrimos um instrumento chamado Oficleide, um sopro que parou de ser fabricado em 1900, de timbre doce e profundo… um som em extinção… esse instrumento só está presente no disco novo da forma que está por causa dessa inquietação, dessa coisa que atormenta, dessa voz que pede coragem… de confiar nas partes que não controlamos e de nos agarrarmos a um propósito maior que as coisas passageiras… de reverenciarmos e seguirmos nossos próprios caminhos dando continuidade para a imaginação.

sexta-feira, 5 de setembro de 2025

.: Entrevista: Delphis Fonseca transforma Sinatra em experiência viva no palco


Por Helder Moraes Miranda, jornalista e crítico de cultura, especial para o portal Resenhando.com. Fotos: divulgação

Há quem diga que certas canções sobrevivem ao tempo porque carregam em si um sopro de eternidade. Mas o que acontece quando um artista decide não apenas cantar esses clássicos, e sim dialogar com eles, emprestando corpo, voz e alma a melodias que atravessaram gerações? É esse o risco - e também a ousadia - de Delphis Fonseca, que leva ao palco do Teatro Jardim Sul, em São Paulo, o espetáculo “Sinatra & Cia – Os Maiores Sucessos da Era de Ouro”.

Mais do que um tributo, trata-se de um mergulho afetivo em memórias que pertencem a todos nós, embaladas por Sinatra, Elvis, Nat King Cole, Charles Aznavour e tantos outros. Delphis, que também é jornalista, locutor e apresentador, sabe como poucos transformar um show em experiência: não basta interpretar, é preciso contar histórias, criar cumplicidade, surpreender. Nesta entrevista exclusiva ao Resenhando.com, o artista fala de bastidores, improvisos, riscos e segredos de quem vive entre a reverência ao passado e a urgência do presente. Afinal, como ele mesmo afirma, “as grandes canções não têm prazo de validade”.


Resenhando.com - Se Frank Sinatra pudesse assistir ao seu show “Sinatra & Cia” escondido na plateia, qual você acredita que seria a primeira reação dele: aplaudir, corrigir ou dar uma piscadela cúmplice?
Delphis Fonseca - (Risos) Puxa, pergunta interessante! Já fico imaginando a cena! (Risos) Eu não sou um cover de Frank Sinatra, nem me atreveria. Sou um apaixonado pela boa música, e grande parte dela vem desse artista incrível. Gosto de músicas do mundo inteiro: canto em português, inglês, francês, Italiano, espanhol e japonês. E também tenho meu repertório próprio nesses idiomas com canções com alguns parceiros musicais. Gosto de toda música que me toca o coração. Mas, voltando a sua pergunta, acredito que se o Sinatra estivesse na plateia do meu show, seria melhor eu não saber… (Risos) Essa situação me lembrou uma passagem que aconteceu com o Sinatra no início de carreira, quando ele ainda não era o dono da fama. Ele estava cantando em um jazz bar quando entrou o Cole Porter. Quando ele viu o famoso compositor entrando, falou logo pra banda: “Vou cantar 'Night and Day'". Esse era um dos grandes sucessos escritos por Porter na época. Sinatra não sabia a letra direito e acabou se enrolando na apresentação e improvisando como pode. Cole Porter achou aquilo muito engraçado, pois percebeu que Sinatra estava tentando impressioná-lo. E aí começou uma grande parceria, que anos depois, iria conquistar o mundo. Agora, na verdade, Sinatra tinha um temperamento forte, e muitas vezes, imprevisível. Gosto de imaginar que ele sentiria meu respeito pelo seu legado, e que me apoiaria, mas não sem me chamar de canto e dar uma boas duras! (Risos).


Resenhando.com - Você se define mais como um “tradutor de emoções” ou como um “ator que canta”? Afinal, interpretar clássicos imortais exige muito mais do que afinação.
Delphis Fonseca - Você tem toda a razão! É muito mais que só afinação, perfeito. Eu me defino como intérprete. Amo interpretar, como ator, cantor, palestrante, apresentador, comunicador, essa é a minha veia. Música é vida, e a vida de cada um de nós, por si só, é sempre um grande e exclusivo clássico. Se você entende isso, tudo se encaixa na sua interpretação. Sobretudo, interpretar histórias que agreguem emoções profundas, sejam elas de amor, alegria e, também de tristeza; uma vez que a Vida é uma somatória de todas essas emoções se revezando de forma randômica. As canções tristes fazem parte dessa mesma estrada, onde logo alí adiante, virá uma outra trazendo a alegria, a esperança e o amor de volta à cena.


Resenhando.com - Na era do streaming e do consumo descartável, o que significa insistir na ideia de que “as grandes canções são eternas”? É um ato de resistência cultural?
Delphis Fonseca - De forma nenhuma. Eu não resisto às mudanças. Eu procuro entendê-las e transformá-las em algo adequado às minhas capacidades e objetivos. Resistir às mudanças é desistir de viver nesse mundo que muda a cada instante. Eu canto músicas contemporâneas também: gosto de Ed Sheeran, Adele, Bruno Mars, Sam Smith, Robbie Williams e outros. Mas, mudar não necessariamente significa jogar fora tudo o que foi vivido, e sim aprender outras coisas e fundí-las em um nova criação, potencializar tudo aquilo em novo cenário cultural ainda mais rico. O chamado “descartável" sempre existiu, não é novidade. Entendo que ele traga um registro de momentos superficiais da cultura naquele momento, e nada além. Por isso, é imediatamente reconhecido pelo público. Mas, quando esse momento passa, não deixa sua marca mais profundo no emocional das pessoas, se torna obsoleto. A verdade é que não há receita de sucesso, seja ele instantâneo e passageiro, e, muito menos, duradouro a ponto de se tornar um clássico.


Resenhando.com - Há espaço para improviso num show de tributo, ou seguir a partitura com precisão é uma forma de respeito? Você já quebrou protocolos no palco e surpreendeu o público?
Delphis Fonseca - Sem dúvida, isso no que eu acredito e é a forma que interpreto. Talvez, não haja esse espaço em um show cover, de personificação, onde o público espera ouvir o artista original. No meu caso, sou intérprete, e como tal, me dou a liberdade de deixar a minha emoção trabalhar comigo de forma autêntica. Quando eu canto, eu me emociono de fato, não simulo isso. Emoção só é, de fato, emoção se for real, e a platéia sente isso de imediato. Acho que isso seja respeitar a obra do autor, é permitir à ela cumprir o seu papel junto ao público: emocionar. Não penso, necessariamente, em quebrar protocolos só pra ser diferente. Mas, é da minha natureza não me prender a regras que me vão contra a minha identidade. Eu converso muito com o público durante o show, conto histórias da minha vida, das músicas, divido pensamentos, peço opiniões do público. E brinco: “Não se preocupem, eu também vou cantar hoje!" (risos). Eu respeito e sou muito grato ao público que me acompanha, que vai aos meus shows, adoro interagir com ele. Não digo que essa seja a forma certa de se fazer, mas é assim que eu faço, essa é a minha verdade.


Resenhando.com - Elvis, Nat King Cole, Charles Aznavour… cada um deles tinha também suas sombras pessoais. Quando você canta esses ícones, pensa mais no mito ou no ser humano?
Delphis Fonseca - Todos temos nossas sombras. Todos, sem exceção. Cabe a cada um de nós conseguir iluminá-las, mas cada qual a sua própria. Nossas sombras dizem respeito somente à nós mesmos, desde que, obviamente, não afete as vidas de outras pessoas. O que chamamos de "mito" é uma pessoa, como todas as outras, mas que diferente da maioria, traz consigo a necessidade de expressar sua arte em forma de música, e sofre inúmeras pressões que o próprio meio impõe, tudo isso somado aos seus próprios desafios particulares de vida. Cada um tem uma forma de se comportar diante disso tudo. Toda essa vivência, dá a ele a bagagem emocional para ser quem ele é artisticamente. Portanto, isso é muito particular. Não posso mistura isso com a minha vida, ou então estaria procurando interpretar as canções como ele, e isso só teria validade se eu fosse um “impersonator”. Não tenho nada contra a esse tipo de trabalho, aliás, gosto muito quando ele é bem feito. Por exemplo, o trabalho feito pelo Dean Zee, vivendo Elvis Presley, é maravilhoso. Faz com respeito e com primor. Cada um na sua.

Resenhando.com - O espetáculo acontece em São Paulo, mas a lista de artistas que você interpreta atravessa fronteiras. Qual foi a canção internacional que mais mexeu com plateias brasileiras? E com você?
Delphis Fonseca - Não tenho uma única música, mas muitas! rs Tous Les Visages De L’Amour (She), de Charles Aznavour é uma canção de amor sensacional e que eu amo e o público também. Tem mais impacto em francês. Ela tem tudo a ver comigo, sou romântico por natureza. "Bridge Over Troubled Water", de Paul Simon e Art Garfunkel, é outra canção que faz muito sucesso com o público. Ela é realmente muito impactante e com uma letra linda, que muitos conhecem. "That's Life" é uma música de vida. É divertida, mas muito profunda. Foi resgatada dos anos 70 para ser tema do primeiro filme do Coringa. É uma música incrível! Vou cantar todas elas nesse show.


Resenhando.com - Você também é jornalista, locutor e apresentador. O que o Delphis comunicador emprestou ao Delphis cantor - e vice-versa?
Delphis Fonseca - Eu acredito que somos o que somos devido a tudo aquilo que vivenciamos em nossa existência, desde antes mesmo de nos reconhecermos por gente. Tudo aquilo que fazemos na vida, seja em âmbito pessoal ou profissional, real ou virtual, tudo aquilo que aprendemos, forma quem nós somos. Tudo se mistura. Essas atividades que você citou: jornalista, apresentador, cantor. Todas elas são funções de comunicação, cada qual da sua forma, dentro de seu próprio cenário, mas são atividades onde uma pessoa se comunica com várias outras. Então, eu diria que eu unifiquei tudo isso em uma única atividade onde eu apresento minhas interpretações musicais, contando histórias e entretendo o público com boa música.


Resenhando.com - O palco exige presença. Mas fora dele, no silêncio, qual é a música que você canta só para si, quase como uma prece íntima?
Delphis Fonseca - Uma música que eu sempre gostei foi "Canção da América" de Milton Nascimento, esse gênio da música. A letra fala de relacionamento humano, de amor e de amizade de verdade, exatamente como eu acredito que deva ser e como procuro vivenciar.


Resenhando.com - Se tivesse de incluir no repertório um hit da música pop atual - digamos, de Lady Gaga, Adele, Bruno Mars ou qualquer outro artista, nacional ou internacional - qual você ousaria transformar em “canção eterna”?
Delphis Fonseca - "Photograph", do Ed Sheeran. Acho que ele é um artista incrível!


Resenhando.com - Você já cantou com orquestra, quinteto, piano solo… mas qual seria a formação mais “maluca” com a qual toparia revisitar os clássicos? Talvez um DJ, um trio de jazz ou até uma escola de samba?
Delphis Fonseca - Recentemente regravei "Tous Les Visages de L’Amour" em um ritmo mais para cima, uma versão pop. Está no meu Spotify. Também, demos novas roupagens para "Blue Velvet", "Garota de Ipanema", em português e em inglês; e outras que ainda serão lançadas. Músicas próprias e inéditas também estão em estúdio e logo serão lançadas. Agora eu fiquei impressionado com a sua pergunta! Tá me espionando?? (Risos). É que, entre outras coisas, estou fazendo um trabalho com um DJ muito conhecido em São Paulo, que ainda não posso revelar. Tem fusão musical vindo por aí! E acho que você vai gostar!

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