quinta-feira, 29 de maio de 2025

.: O drama da liberdade moderna na democracia da Era do Espetáculo


Por Helder Moraes Miranda, editor do portal Resenhando.com

No célebre discurso de 1819, Benjamin Constant diferenciou a liberdade dos antigos - baseada na participação direta na vida política - da liberdade dos modernos, centrada na proteção dos direitos individuais. Hoje, no entanto, vive-se uma metamorfose desse conceito: a liberdade moderna convive com a passividade eleitoral, o culto à opinião alheia nas redes sociais e atitudes que distorcem o próprio sentido de democracia. Esta reflexão pretende discutir como a noção de liberdade evoluiu, como ela se manifesta nas democracias atuais e como é, por vezes, distorcida por práticas e discursos autoritários travestidos de reivindicações legítimas.

Benjamin Constant argumentava que, nas democracias antigas, como em Atenas, a liberdade significava a participação ativa do cidadão na política, enquanto os modernos, em sociedades complexas e populosas, valorizam a autonomia privada e os direitos civis. Essa distinção se reflete nos regimes democráticos atuais, nos quais poucos cidadãos participam efetivamente além do voto. A democracia moderna pressupõe uma estrutura institucional estável - com divisão de poderes, eleições periódicas e garantias constitucionais -, mas que não impede o crescimento da apatia política e da alienação digital. Ao mesmo tempo, surgem novos desafios: a liberdade de expressão colide com o controle algorítmico e a cultura do like, e a intimidade é negociada em troca de aceitação e visibilidade.

Esse novo tipo de “prisão livre” revela um paradoxo: o indivíduo moderno, embora dotado de direitos civis, parece cada vez mais condicionado pela necessidade de aprovação externa e pela lógica das plataformas digitais. O romance "1984", de George Orwell, retrata uma sociedade dominada pela vigilância total do Estado. Hoje, vivemos uma forma invertida desse cenário: a vigilância é voluntária, e os cidadãos se expõem deliberadamente nas redes. A chamada “sociedade do espetáculo”, como denunciou Guy Debord, transformou a realidade em imagem, e a experiência em performance pública. Os reality shows como o "Big Brother Brasil" são o ápice desse modelo: desconhecidos e até famosos abrem mão da privacidade em troca de fama e entretenimento, e milhões consomem essas intimidades como forma de lazer. Nesse contexto, a liberdade se torna uma moeda de troca no mercado da atenção, e o escândalo, uma estratégia de marketing e visibilidade.

Essa alienação enfraquece a virtude democrática da responsabilidade, permitindo que cidadãos confundam liberdade com impunidade. Exemplo disso são as ações de vandalismo durante os atentados de 8 de janeiro de 2023, em Brasília: os participantes alegaram estar exercendo sua liberdade de expressão, enquanto destruíam instituições que garantem justamente a liberdade de se manifestar a partir do diálogo. A sensação de impunidade e a ausência de culpa - acompanhadas por pedidos absurdos de anistia - revelam como a democracia pode ser corroída por discursos que retalham seus fundamentos. A “sociedade do escândalo” se alimenta da indignação instantânea e da comoção superficial, esvaziando o debate público e normalizando atos extremistas como se fossem manifestações legítimas de liberdade.

Dessa forma, a liberdade dos modernos, se por um lado ampliou direitos individuais e privacidade, por outro exige uma vigilância ética constante. A democracia não se resume ao direito de votar, nem a uma aparência de liberdade digital. Exige consciência crítica, participação ativa e compromisso com o bem coletivo. Em tempos de superficialidade virtual e extremismos travestidos de liberdade, é urgente retomar o sentido profundo da democracia: garantir que sejamos, de fato, livres para viver com dignidade, sem abrir mão da responsabilidade que essa liberdade exige. Porque não há liberdade sem consciência ou consistência - e muito menos não existe democracia sem pessoas dispostas a defendê-la.

.: Cineflix Cinemas Santos estreia "O Esquema Fenício" e "Entre Dois Mundos"


A unidade Cineflix Cinemas Santos, localizada no Miramar Shopping, bairro Gonzaga, estreia no dia 29 dois longas: o suspense, thriller de Wes Anderson "O Esquema Fenício" e o drama com Juliette Binoche "Entre Dois Mundos".

Seguem em cartaz o aguardado live action de comédia e ficção científica da Disney "Lilo & Stitch", o documentário sobre a cantora, poetisa, compositora, instrumentista, escritora e musa Rita Lee, intitulado "Ritas", assim como o longa de ação protagonizada por Tom Cruise, "Missão Impossível - O Acerto Final" 

Estão abertas a pré-venda dos filmes "Bailarina", com pré-estreia para o dia 4 de junho, "Como Treinar o Seu Dragão", com sessões a partir de sábado, dia 7 de junho e "F1", com Brad Pitt e exibições a partir de 26 de junho.

No sábado, dia 31 de maio, serão exibidos o musical "j-hope - Hope On The Stage: Live Viewing" e a "UEFA Champions League 2025", ao vivo. Garanta seus ingressos aqui: https://vendaonline.cineflix.com.br/cinema/SAN

Programe-se, confira detalhes e compre os ingressos aqui: https://vendaonline.cineflix.com.br/cinema/SAN. Você pode assistir as estreias com pipoca quentinha, doce ou salgada, tendo em mãos o balde colecionável de "Lilo & Stitch""Thunderbolts*" e "Um Filme Minecraft".

O Resenhando.com é parceiro da rede Cineflix Cinemas desde 2021. Para acompanhar as novidades da Cineflix mais perto de você, acesse a programação completa da sua cidade no app ou site a partir deste link. No litoral de São Paulo, as estreias dos filmes acontecem no Cineflix Santos, que fica no Miramar Shopping, à rua Euclides da Cunha, 21, no Gonzaga. Consulta de programação e compra de ingressos neste link: https://vendaonline.cineflix.com.br/cinema/SAN.


Leia+ 

.: Crítica: documentário "Ritas" é um retrato amoroso e rebelde de uma lenda

.: Crítica: “Lilo & Stitch” tenta reinventar uma roda que já estava inventada

.: Crítica: “Missão: Impossível” é ação feita com engenhosidade e coragem

.: Crítica: "Homem Com H" derrama o coração bandido de Ney Matogrosso

.: Crítica: "Premonição 6: Laços de Sangue" resgata essência de franquia

.: Crítica: "Karatê Kid: Lendas" é puro entretenimento nostálgico

.: Crítica: "Thunderbolts*" é muito bom e dá fôlego para Novos Vingadores

.: Resenha: "Pecadores" é experiência cinematográfica vampiresca de jazz

quarta-feira, 28 de maio de 2025

.: Entrevista: Juliete Vasconcelos e a construção da mente de um assassino


Juliete Vasconcelos subverte convenções do thriller ao revelar desde o início a mente do assassino e mergulhar em suas origens, motivações e perversidades. Foto: divulgação


Em "O Ceifador de Anjos: a Coleção de Fetos", a escritora Juliete Vasconcelos conduz o leitor por um thriller psicológico intenso e perturbador, onde o foco não está na descoberta de um assassino, mas em compreender sua mente. Inspirada por séries como "Dexter" e "You", a autora opta por revelar logo nas primeiras páginas que Vincent Hughes é um assassino em série - o que importa, aqui, é o “porquê” e não o “quem”. A narrativa desafia julgamentos fáceis e propõe uma imersão desconfortável e fascinante na complexidade da psicopatia, da manipulação e das múltiplas faces da maldade. 

Em vez de seguir a fórmula do suspense policial, a trilogia se dedica a acompanhar o Ceifador em três fases distintas: a glória invisível, os gatilhos da infância e o declínio inevitável. Em entrevista, a autora comenta o processo criativo da obra, fala sobre a construção do vilão e o compromisso de sua escrita com a complexidade humana. Apoie o Resenhando.com e compre o livro "O Ceifador de Anjos: a Coleção de Fetos" neste link.


“O Ceifador de Anjos: a Coleção de Fetos” conta a história de Vincent Hughes, um homem aparentemente comum, mas que esconde ser um serial killer meticuloso e cruel. Como foi a construção psicológica do protagonista?  
Juliete Vasconcelos Acredito que por eu consumir conteúdos do gênero há tantos anos, a construção se deu de forma bastante natural. Conseguia ver no Ceifador traços muito similares aos vilões/anti-heróis dos livros e da TV. Inclusive, tive ótimos feedbacks no que se refere à construção psicológica do Ceifador vindos de psicólogos e psiquiatras. Soube por uma leitora, que também é psicóloga, que ela o indicou para o Conselho de Psicologia do qual fazia parte, sob a justificativa de que eu soube, enquanto autora, apresentar um psicopata “tal qual é de verdade”, o que me deixou muito feliz. 

O livro lida com temas como psicopatia, manipulação e assassinatos brutais. Como foi o processo de pesquisa e preparação emocional para escrever cenas tão intensas?  
Juliete Vasconcelos Como consumidora aficionada por conteúdos do gênero (livros, filmes, séries, documentários etc.), no que se refere à preparação emocional, não tive dificuldade para escrever a maior parte das cenas. Para mim, diferentemente do que ocorre quando leio outros gêneros, quando se trata de um thriller/criminal, consigo visualizar as cenas perfeitamente em minha mente, como se estivesse assistindo um filme. 


A escolha de revelar a identidade do assassino logo no início é incomum em thrillers. O que te motivou a subverter essa expectativa clássica do gênero? 
Juliete Vasconcelos Partindo da premissa de que produzimos aquilo que gostamos de consumir, sempre me senti mais instigada quando consigo (como leitora e telespectadora) mergulhar na mente do vilão/anti-herói, porque me permite despir-me de preconceitos e de fazer julgamentos, forçando-me a buscar as razões, obviamente não justificáveis, dos atos cometidos. Escancarar que a mente humana é complexa e que há variadas leituras e interpretações da realidade por “N” motivos, assim como diversas reações a elas - das mais brandas às mais perversas -, é o compromisso que assumi com minha escrita. 


Quais foram as referências para a construção da narrativa?  
Juliete Vasconcelos Documentários que partem da vida do criminoso, seja ele um assassino psicopata ou um serial killer; livros e séries como “Dexter” (Jeff Lindsay), “Perfume: a História de Um Assassino” (Patrick Süskind), “Bates Motel” (Robert Bloch) e “You” (Caroline Kepnes), que assim como na trilogia “O Ceifador de Anjos” acompanhamos o dia a dia do vilão/anti-herói, ficando as investigações sempre em segundo plano. 


O que os leitores podem esperar da trilogia “O Ceifador de Anjos” nos próximos volumes? 
Juliete Vasconcelos Muito sangue, muitas descobertas e reviravoltas. A trilogia está dividida nas três fases da vida do Ceifador. Neste primeiro volume (A coleção de fetos), temos a melhor fase da sua vida: onde ele faz e acontece sem precisar lidar com as consequências, é feliz e invisível no que se refere ao radar dos detetives; no volume 2 (Antes da coleção), retornamos à sua infância e adolescência, além de parte da sua vida adulta, quando dá início à coleção, de forma que o leitor possa “compreender” o que o levou a cometer tamanhas atrocidades; e por fim, no volume 3 (A última ceifa), deparamo-nos com a pior fase da vida do Ceifador, onde ele começa a arcar com as consequências de seus atos. Costumo brincar que no primeiro livro é fácil “amar” e até “torcer” pelo Ceifador, e que no segundo, o leitor é capaz de o entender e até ter alguma empatia pelo protagonista, enquanto, no livro três, quaisquer sentimentos são transformados em ódio.



.: Oscar 2025: "Trilha Sonora para Um Golpe de Estado" estreia no Sesc Digital


“Trilha Sonora para um Golpe de Estado”, de Johan Grimonprez, estreia no Sesc Digital

A partir desta quinta-feira, dia 29 de maio, a plataforma Sesc Digital recebe em sua programação cinco novos títulos imperdíveis. O serviço de streaming gratuito do Sesc São Paulo pode ser acessado em todo o país, pelo site ou por meio do aplicativo Sesc Digital, disponível para download nas lojas Google Play e App Store. Estreia na plataforma Sesc Digital o documentário "Trilha Sonora para Um Golpe de Estado", dirigido por Johan Grimonprez, vencedor do Prêmio Especial do Júri de Inovação Cinematográfica no Festival de Sundance 2024 e indicado ao Oscar® de Melhor Documentário em 2025. Jazz e descolonização se entrelaçam nessa montanha-russa que reescreve o episódio da Guerra Fria que levou os músicos Abbey Lincoln e Max Roach a invadir o Conselho de Segurança da ONU em protesto contra o assassinato de Patrice Lumumba.

Um dos mais recentes filmes do cineasta sul-coreano Hong Sang-soo, "As Aventuras de Uma Francesa na Coreia", foi vencedor do Urso de Prata do Grande Prêmio do Júri no Festival de Berlim em 2024. Na trama, uma francesa, que costumava tocar flauta em um parque, supera suas dificuldades financeiras ensinando francês a duas mulheres na Coreia do Sul. Ela encontra conforto deitando-se em pedras e recorre ao makgeolli - vinho de arroz típico da Coreia - para se sentir bem. O longa é estrelado pela consagrada atriz francesa Isabelle Huppert.

O drama italiano "Mia Madre", de Nanni Moretti, conta a história de Margherita, uma diretora de cinema que está prestes a iniciar as filmagens de seu novo longa-metragem, que será protagonizado pelo astro internacional Barry Hughins. Paralelamente, ela precisa lidar com vários problemas em sua vida pessoal, como o fim de um relacionamento e a doença de sua mãe, que está internada no hospital. O longa venceu o Prêmio Ecumênico do Júri no Festival de Cannes e foi eleito melhor filme pela revista Cahiers du Cinéma em 2015.

Completando 50 anos de lançamento em 2025, o aclamado documentário "Grey Gardens" estreia em versão restaurada na plataforma Sesc Digital. Em uma mansão decadente nos Hamptons, em Nova York, vivem Big e Little Edie Beale, mãe e filha, abandonadas da alta sociedade e parentes reclusas de Jackie Onassis, viúva de John F. Kennedy e ex-primeira-dama dos EUA. Dirigido pelos irmãos Albert e David Maysles e codirigida por Ellen Hovde e Muffie Meyer, a produção é um retrato íntimo impressionante sobre isolamento, sonhos, paixões e cultura, assim como sobre uma complexa relação entre mãe e filha.

Por fim, estreia a ficção brasileira "As Duas Irenes", primeiro longa-metragem de Fabio Meira, que estreou no Festival de Berlim em 2017. Na trama, Irene de 13 anos descobre que o pai tem uma segunda família e outra filha de sua mesma idade, também chamada Irene. Sem que ninguém saiba, ela se arrisca para conhecer a menina e acaba descobrindo uma Irene completamente diferente dela. O filme venceu quatro Kikito's no Festival de Gramado: Melhor Ator Coadjuvante (Marco Ricca), Melhor Roteiro (Fabio Meira), Melhor Direção de Arte (Fernanda Carlucci) e o Prêmio da Crítica.


Sesc Digital | Programação da Semana | Estreias 29 de maio 


"Trilha Sonora para Um Golpe de Estado"
Dir.: Johan Grimonprez | Bélgica, França, Países Baixos | 2024 | 150 min | Documentário | 14 anos
Jazz e descolonização se entrelaçam nessa montanha-russa que reescreve o episódio da Guerra Fria que levou os músicos Abbey Lincoln e Max Roach a invadir o Conselho de Segurança da ONU em protesto contra o assassinato de Patrice Lumumba. Disponível até 29/07/25. 

"Mia Madre"
Dir.: Nanni Moretti | Itália | 2015 | 107 min | Ficção | 14 anos
Margherita é uma diretora de cinema que está prestes a iniciar as filmagens de seu novo longa-metragem, que será protagonizado pelo galanteador astro internacional Barry Hughins. Paralelamente, ela precisa lidar com vários problemas em sua vida pessoal, como o fim de um relacionamento e a doença da mãe, que está internada no hospital. Disponível até 29/07/25. 

"As Aventuras de Uma Francesa na Coreia"
Dir.: Hong Sang-soo | Coreia do Sul | 2024 | 90 min | Ficção | 14 anos
Uma francesa que costumava tocar flauta em um parque supera suas dificuldades financeiras ensinando francês a duas mulheres na Coreia do Sul. Ela encontra conforto deitando em pedras e recorre ao makgeolli — vinho de arroz típico da Coreia — para se sentir bem. Grande Prêmio do Júri Berlim 2024. Disponível até 29/07/25. 

"Grey Gardens"
Dir.: Albert Maysles, David Maysles, Ellen Giffard, Muffie Meyer | EUA | 1975 | 96 min | Documentário| 14 anos
Em uma mansão decadente nos Hamptons, em Nova York, vivem Big e Little Edie Beale, mãe e filha, abandonadas da alta sociedade e parentes reclusas de Jackie Onassis, viúva de John F. Kennedy e ex-primeira-dama dos EUA. “Grey Gardens” é um retrato íntimo impressionante sobre isolamento, sonhos, paixões e cultura, assim como sobre uma complexa relação entre mãe e filha. O aclamado documentário dos irmãos Albert e David Maysles, e codirigido por Ellen Hovde e Muffie Meyer, rapidamente se tornou um clássico cult e consagrou Little Edie como um ícone da moda e uma rainha filósofa. Completando 50 anos de lançamento em 2025, “Grey Gardens” estreia em versão restaurada. Disponível até 29/07/25. 

"As Duas Irenes"
Dir.: Fabio Meira | Brasil | 2017 | 85 min | Ficção | 14 anos
Irene, 13 anos, descobre que o pai tem uma segunda família e outra filha de sua mesma idade, também chamada Irene. Sem que ninguém saiba, ela se arrisca para conhecer a menina e acaba descobrindo uma Irene completamente diferente dela. Disponível até 29/07/25. 


Serviço
Acesse gratuitamente sesc.digital
Ou baixe o aplicativo, disponível para download nas lojas Google Play e App Store 

Aplicativo Sesc Digital
Filmes de ficção, documentários, produções originais, shows, mostras e festivais dão vida à nova plataforma de streaming do Sesc São Paulo. Disponível para Apple e Android, o app Sesc Digital é uma ferramenta intuitiva com acesso gratuito a vídeos em até 4K. Compatível com Chromecast e AirPlay, permite ao usuário assistir às obras audiovisuais sem cadastro e gerenciar perfis para toda a família.

.: Lagum lança “As Cores, As Curvas e As Dores do Mundo”, 5° álbum de estúdio


Mesclando rock, reggae e pop, o disco com dez faixas inéditas estará disponível em todas as plataformas digitais a partir do dia 27 de maio


E se você simplesmente se permitisse experimentar o mundo sob o ponto de vista de um olhar livre das camadas ilusórias da realidade hiperconectada que permeia a essência do jogo social atual? Se, ao abrir os olhos, sua perspectiva não fosse distorcida pela estética implacável das telas, mas ampliada por uma visão multifacetada da existência humana? Essa é a proposta da banda Lagum com seu mais novo trabalho de estúdio. O álbum é um convite a um mergulho profundo na literalidade da vida real.

A banda nos (re) apresenta a beleza da simplicidade por meio de uma complexa tapeçaria emocional de timbres e sonoridades em um álbum que é uma verdadeira ode às singelas situações e aos momentos leves do dia a dia. Em um cenário musical em que bandas são cada vez mais raras, a Lagum finca sua bandeira como um grupo de músicos que produz com propósito. Ao tomar posse e adquirir cada vez mais consciência de seu lugar, Pedro Calais, Zani, Jorge e Chico abrem mão dos gatilhos e dos mecanismos de captura de atenção e voltam-se para um processo criativo que traduz a felicidade no descomplicado e romantiza as pequenas coisas do cotidiano.

Cores, curvas e dores quando vistos de maneira isolada podem até ser elementos ordinários. No entanto, quando percebidos de forma expandida, como se olhados através de uma lupa, as cores, as curvas e as dores do mundo abrem universos de possibilidades.

As “Cores”, revelam-se a multiplicidade de gêneros musicais e de assuntos abordados - as 10 faixas apresentam uma vasta gama de texturas e camadas, passeando por uma diversidade de harmonias, arranjos e melodias. Do rock ao reggae, das grandes canções com arranjos delicados e progressivos a um folk de violão aconchegante e um rock sujo com bends de guitarra desafinados fala-se de temas como o poder do agora, de relacionamento à distância, do sentimento de falta, de desejos e de amor.

As “Curvas” retiram a obviedade do processo daquilo que é retilíneo, ou seja, é onde estão as gostosas surpresas que o ouvinte encontra durante todo o percurso de audição do álbum. Que, diga-se de passagem, recomenda-se ser trilhado em ordem. É aqui que se deparam os contrastes, as viradas e as verdadeiras provocações sonoras que a Lagum nos proporciona com maestria e elegância. É onde também descobrimos um delicioso encontro das vozes de Pedro Calais e de Céu. Única participação especial no projeto, a cantora aparece para deixar tudo ainda mais orgânico.

Por fim, as “Dores” são um ponto de conexão universal, uma teia emocional que transpassa a existência de cada um de nós. Afinal, quem de nós nunca sentiu dor, seja ela física ou afetiva? Gravado na Ilhota, estúdio da banda em Belo Horizonte, e produzido pela própria Lagum em parceria com Paul Ralphes, produtor musical ganhador do Grammy Latino considerado um dos principais agentes de transformação da cena pop nacional, “As Cores, As Curvas e As Dores do Mundo” nos presenteia com uma Lagum em sua versão mais autêntica e livre. São aproximadamente 30 minutos de uma experiência sensorial que perdura por dias a fio na memória e no coração


Sobre a Lagum
Com três álbuns indicados ao Grammy Latino — "Memórias (De Onde Eu Nunca Fui)" (2022), "Depois do Fim" (2023) e "Lagum Ao Vivo" (2023) — a Lagum é uma banda mineira formada em 2014 por Pedro Calais (voz), Zani (Otavio Cardoso) e Jorge (Glauco Borges) nas guitarras, e Chico (Francisco Jardim) no baixo. Durante sua trajetória, o grupo conheceu Tio Wilson (Breno Braga), que assumiu a bateria e marcou profundamente a história da banda. Misturando rock, pop, reggae, indie e o que mais a criatividade permitir, a Lagum não se prende a rótulos. Sua liberdade estética é um reflexo da busca por identidade artística, resultando em um som que transita por gêneros com autenticidade e assinatura própria.

O primeiro álbum, "Seja o Que Eu Quiser" (2016), apresentou ao público suas composições autorais e iniciou o caminho de uma carreira ascendente. Entre uma leva de singles, a faixa “Deixa” explodiu nas plataformas digitais e rádios, catapultando a banda ao cenário nacional. Em 2019, veio o segundo disco, Coisas da Geração, que ampliou o público com hits como “Oi” e os levou a turnês pelo Brasil e exterior.

Em 2020, a banda enfrentou a perda de Tio Wilson, vítima de uma parada cardiorrespiratória causada por uma miocardiopatia dilatada. O álbum Memórias (De Onde Eu Nunca Fui), lançado no ano seguinte, eternizou suas últimas gravações e consolidou a capacidade da Lagum de transformar dor em arte — rendendo a primeira indicação ao Grammy Latino. Mais tarde, em 2023, o EP FIM e o disco Depois do Fim marcaram uma nova fase do grupo, com experimentações sonoras, letras confessionais e um mergulho emocional profundo. O álbum alcançou o Top 50 do Spotify Brasil em menos de uma semana e trouxe visuais gravados em Belo Horizonte que expandem a experiência da obra.

No mesmo ano, a banda lançou o projeto "Lagum Ao Vivo", gravado para 8 mil pessoas no Espaço Unimed (SP), consolidando sua potência nos palcos. Reconhecida por shows grandiosos e viscerais, a Lagum entrega ao vivo uma experiência catártica e eletrizante. Em 2024, a banda lançou seu projeto de bloco de carnaval, Lagum na Avenida. Com as edições de 2024 e 2025, mais de 200 mil foliões foram às ruas de Belo Horizonte.


Ficha técnica “As Cores, As Curvas e As Dores do Mundo”
Produção: Lagum e Paul Ralphes
Mixagem: João Milliet
Engenheiros de Gravação: Victor Amaral (Victão) e Rodrigo Aires (Grilo)
Músicos: Glauco Mendes, Rodrigo Tavares e Felipe Pacheco
Gravado na Ilhota Estúdios


Equipe Lagum
Diretor de operações: Bernardo Barcelos
Tour manager: Carol de Amar
Head de marketing: Clara Diniz
Direção criativa: Breno Galtier
Produção executiva: Catarina Capelossi
Editora Ilha: Pedro Costa
Jurídico: Bruno Fernandes
Financeiro: Thaís Valadares
Merchandise: Pedro Costa
Distribuição: The Orchard
Consultoria de marketing: Moving Comunicação
Assessoria: Lupa Comunicação
Gestão de tráfego: Felipe F. Azevedo
Ilha Records ©

.: "Closer" mostra os impasses do amor moderno no Teatro Vivo


Dirigido por Kiko Rieser, espetáculo estreia em 15 de junho com José Loreto, Larissa Ferrara, Marjorie Gerardi e Rafael Lozano. Foto: Heloísa Bortz

Longe dos clichês das comédias românticas, o espetáculo "Closer" mergulha na complexidade dos relacionamentos contemporâneos com um olhar nu e direto. A peça, escrita por Patrick Marber, oferece um retrato honesto e intenso sobre amor, traição, desejo, ciúmes e a fragilidade dos laços humanos. A montagem brasileira, com direção de Kiko Rieser, estreia no Teatro Vivo no dia 15 de junho, e segue em temporada até 27 de julho, com sessões às quintas, sextas e sábados, às 20h00, e domingos, às 18h00. A estreia para convidados no dia 14 de junho. O elenco reúne José Loreto, Larissa Ferrara, Marjorie Gerardi e Rafael Lozano em uma coreografia emocional entre quatro personagens cujas relações são marcadas por encontros e desencontros, jogos de poder, manipulação e busca por afeto. 

Na trama, Dan, um escritor iniciante, conhece Alice, uma jovem misteriosa, após um atr. A conexão entre os dois é imediata. Ao longo dos anos, seus caminhos se cruzam com os de Anna, uma fotógrafa de sucesso, e Larry, um dermatologista. O quarteto se envolve em uma rede de desejos, traições, mentiras e jogos emocionais. Em uma narrativa cheia de reviravoltas, Closer revela as contradições do amor e os limites da intimidade.

A peça deu origem ao premiado filme homônimo lançado em 2004, dirigido por Mike Nichols e estrelado por Julia Roberts, Natalie Portman, Jude Law e Clive Owen. A adaptação cinematográfica ampliou o alcance da obra e rendeu indicações ao Oscar e ao Globo de Ouro, consolidando Closer como um dos retratos mais contundentes sobre amor, desejo e desilusão no início do século 21. 

Para o diretor Kiko Rieser, a peça soa ainda mais atual agora do que quando foi escrita, mais de duas décadas atrás. “Hoje vivemos o imediatismo dos meios de comunicação. Tudo é para ontem, e isso se reflete diretamente nas relações amorosas. As pessoas não querem mais pensar a longo prazo, e o resultado é que as relações duram menos e raramente são trabalhadas com profundidade. Closer mostra o momento em que a paixão dá lugar ao companheirismo e à carência — e como isso acaba revelando jogos de dominação, projeções e vaidades.”

A encenação aposta em uma estética contemporânea e simbólica. O cenário, assinado por Bruno Anselmo, é um ambiente abstrato, de inspiração brutalista, com volumes e estruturas que se transformam ao longo do espetáculo. São espaços que se revelam à medida que as personagens se encontram, formando quase um labirinto que, visualmente, traduz a complexidade das relações ali estabelecidas. “São 12 ambientes diferentes representados em cena, e usamos câmeras ao vivo mescladas com projeções pré-gravadas. Isso cria uma camada entre o real e o ficcional, entre o que os personagens mostram e o que escondem — um jogo de voyeurismo e exibicionismo que conversa com os próprios temas da peça”, comenta Kiko.

A direção também exigiu intensa entrega do elenco, já que Closer coloca seus personagens em situações extremas. “É um vespeiro mexer com esse texto, ainda mais para quem está em uma relação estável. É quase um processo terapêutico. A gente entende os personagens a partir da gente — e se entende também a partir deles”, completa o diretor. 

“O que eu faria no lugar deles?” — é essa a inquietação que Kiko gostaria que o público levasse para casa. “A peça começa como um jogo de amor e se transforma num grande ringue de boxe. Os personagens vão abrindo mão da ética para tentar vencer. E é aí que está o incômodo, a identificação, a reflexão.” A solidão, a liquidez das relações e os vínculos frágeis da era contemporânea compõem o pano de fundo dessa obra que provoca o espectador a questionar até que ponto conseguimos ser honestos — com os outros e com nós mesmos.

Ficha técnica
Espetáculo: "Closer". Texto: Patrick Marber.  Tradução: Rachel Ripani.  Direção: Kiko Rieser.  Elenco: José Loreto, Larissa Ferrara, Marjorie Gerardi, Rafael Lozano.  Cenário: Bruno Anselmo.  Videomapping: André Grynwask e Pri Argoud (Um Cafofo). Música original: Mau Machado.  Desenho de luz: Gabriele Souza. Visagismo: Eliseu Cabral.  Assessoria de imprensa: Adriana Balsanelli e Renato Fernandes. Direção de produção: Edinho Rodrigues.


Serviço
Espetáculo "Closer"
Estreia dia 13 de junho, quinta, às 20h, no Teatro Vivo.
Temporada: De 15 de junho a 27 de julho.
Quintas, sextas e sábados, às 20h. Domingos, às 18h.
Duração: 100 minutos. Classificação: 16 anos.
Ingressos: Quintas e sextas: R$100 e R$50 Sábados e domingos: R$120 e R$60.
Promocional: R$45 - Preço Popular conforme determinação da Lei Rouanet, havendo um limite de ingressos por sessão.
Teatro Vivo - Avenida Doutor Chucri Zaidan, 2460 – Morumbi. Telefone: 11 3430-1524.
Bilheteria: funcionamento somente nos dias de peça, 2h antes da apresentação.
Ponto de Venda Sem Taxa de Conveniência: Av. Dr. Chucri Zaidan, 2460 (antigo 860) – Morumbi
Estacionamento no local: Valor R$30 - Funcionamento: 2h antes da sessão até 30 minutos após o término da apresentação.

terça-feira, 27 de maio de 2025

.: Crítica: documentário "Ritas" é um retrato amoroso e rebelde de uma lenda


Por Helder Moraes Miranda, editor do portal Resenhando.com

Dirigido por Oswaldo Santana e codirigido por Karen Harley, o documentário "Ritas", em cartaz na rede Cineflix e em cinemas de todo o Brasil, é mais do que uma homenagem à Rita Lee: o filme é um retrato com adjetivos antafônicos, já que celebra, de intimista e explosiva a mulher que revolucionou o cenário cultural brasileiro. Longe de seguir fórmulas convencionais, o filme convida o público a uma conversa sensível com a artista e revela camadas raramente expostas da vida pessoal da mulher que quebrou padrões por onde passou.

O maior mérito de "Ritas" está na presença poderosa da própria artista. A narrativa é conduzida pela voz, pensamentos e memórias da cantora, culminando na honraria de apresentar a última entrevista inédita de Rita Lee e passando a ser mais que um documentário, virou um registro histórico ou "o filme da última entrevista de Rita Lee". Mais do que um adeus, essa entrevista é um brinde à vida, pois mostra Rita Lee serena, espirituosa e afirmando estar na melhor fase da vida. Era uma senhora otimista, a exemplo de ser uma mulher para cima ao longo de toda a trajetória.

O documentário é agradabilíssimo de assistir. A montagem afetuosa faz com que a experiência seja tão envolvente que faz com que o espectador não perceba o tempo passar. A trilha sonora com os hits de Rita embala o espectador em uma jornada que mistura o amor pelos animais, o senso de família e o afeto na forma mais genuína – tudo isso vindo de uma artista que nunca se encaixou em padrões e que sempre fez questão de ser politicamente incorreta, mas absolutamente verdadeira na vida e na arte.

Com imagens inéditas do arquivo pessoal da artita e uma cuidadosa curadoria de acervos, "Ritas" apresenta uma Rita doce, irreverente e profunda. É um filme que emociona sem apelar para o melodrama. A força de Rita Lee está ali, não apenas como um nome importante da música brasileira, mas como ser humano inteiro e suas características: frágil, forte, amorosa e livre.

Em meio a tantos documentários que se perdem em cronologias frias, "Ritas" escolhe o caminho mais corajoso: o de fazer sentir. A narrativa aproxima o público da Rita Lee Jones, e as várias facetas dela, e não da persona da midiática, esse é um presente raro. O filme estreou nos cinemas em 22 de maio – data escolhida por Rita como seu "novo aniversário", por ser o dia de Santa Rita de Cássia e agora oficialmente o Dia de Rita Lee na cidade de São Paulo. É uma verdadeira carta de amor da artista ao público. Um registro necessário, emocionante e sonoro. Um retrato fiel e belo de uma mulher que, até o fim, nunca abaixou a cabeça para ninguém.

.: Novo livro propõe jornada pelo pensamento do filósofo Michel Foucault


Michel Foucault, um dos filósofos mais importantes e influentes da contemporaneidade, deixou uma obra vasta, complexa e multifacetada, cujo impacto continua a reverberar em diversas áreas do saber - da sociologia e da história ao direito e à teoria literária. Seus cursos no Collège de France, ministrados entre 1970 e 1984, constituem um material rico de ideias e reflexões que não apenas complementam, mas também aprofundam as temáticas desenvolvidas em seus livros. Com o objetivo de ampliar a compreensão desse pensamento, a PUCPRESS - editora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) -, acaba de lançar “Os Cursos de Foucault no Collège de France: um Guia de Leitura”, da pesquisadora Inês Lacerda Araújo.

O livro se propõe a navegar pelas mais de quatro mil páginas de transcrições dos cursos ministrados por Foucault, oferecendo um roteiro acessível para estudiosos e interessados na obra do pensador francês. Assinado por uma das vozes mais experientes no campo dos estudos foucaultiano no Brasil, a obra oferece uma síntese rigorosa e abrangente de cada curso, destacando os temas centrais, os conceitos-chave e as nuances argumentativas que marcam a singularidade do pensamento do filósofo.

O livro está organizado em quatro capítulos, que percorrem os principais eixos de investigação desenvolvidos por Foucault ao longo de sua trajetória intelectual. A primeira parte, intitulada "Discurso, Saber, Poder Judiciário e Punição", examina a relação entre verdade e poder, desde as narrativas míticas da Antiguidade até as complexas engrenagens da sociedade moderna. Conceitos como ilegalismo e as múltiplas formas de manifestação da ilegalidade são analisados à luz da genealogia foucaultiana, revelando as estratégias de controle, vigilância e normalização que atravessam as instituições sociais.

O segundo capítulo, "Psiquiatria e Anormalidade", mergulha no universo da loucura e da razão, analisando o papel do discurso médico na construção da fronteira entre o normal e o patológico. A partir da crítica foucaultiana, questionam-se os fundamentos epistemológicos da psiquiatria e evidenciam-se as formas de poder disciplinar exercidas sobre os indivíduos classificados como desviantes. Essa reflexão é ampliada pela genealogia da sociedade disciplinar e pela análise do poder soberano, oferecendo uma leitura crítica dos mecanismos de controle e exclusão que moldam as práticas sociais e institucionais.

Na terceira parte, "Poder sobre a Vida", Inês Lacerda Araújo conduz o leitor através de um dos conceitos centrais da obra de Foucault: o biopoder. A análise da transição do poder soberano para o biopoder revela a emergência de novas formas de governamentalidade, que visam a gestão da vida e da saúde da população. A discussão sobre a diferença entre governar território e governar população, bem como a introdução do conceito de segurança como elemento fundamental da gestão populacional, lançam luz sobre os dilemas e contradições que atravessam as formas contemporâneas de poder.

O último capítulo. “Governamentalidade, Discurso Verdadeiro, Experiência Ética e Política nas Práticas de Si”, é dedicado ao exame da dimensão ética e política da obra de Foucault, com foco na noção de cuidado de si. A análise da filosofia antiga, em particular da estilística dos gregos e latinos, revela a importância da reflexão sobre a subjetividade e a busca por uma vida virtuosa. A discussão sobre a parrhesía, ou coragem de dizer a verdade, e a investigação sobre a constituição do sujeito ético complementam essa reflexão, oferecendo ferramentas conceituais para a análise das práticas de resistência e da luta por autonomia.

Com erudição e paixão pela filosofia, Inês Lacerda Araújo oferece aos leitores uma chave de acesso privilegiada ao complexo e fascinante universo do pensamento foucaultiano. “Os Cursos de Foucault no Collège de France: um Guia de Leitura” se estabelece como uma obra de referência indispensável para a compreensão de uma das produções intelectuais mais influentes do século XX. Apoie o Resenhando.com e compre o livro “Os Cursos de Foucault no Collège de France: um Guia de Leitura” neste link.


Sobre Inês Lacerda Araújo
Doutora em Estudos Linguísticos pela UFPR, Inês Lacerda Araújo possui vasta experiência como professora e pesquisadora na área da Filosofia. É autora de diversas obras de referência, como Foucault e a crítica do sujeito e Curso de teoria do conhecimento e epistemologia. Apoie o Resenhando.com e compre o livro “Os Cursos de Foucault no Collège de France: um Guia de Leitura” neste link.

segunda-feira, 26 de maio de 2025

.: Clássico, "Dicionário da Bruxaria" de Doreen Valiente chega ao Brasil


Mais do que um simples livro, "O Dicionário da Bruxaria" é uma verdadeira viagem pelo universo místico e simbólico da bruxaria tradicional. Escrito por Doreen Valiente, uma das figuras mais importantes da wicca moderna, o livro, publicado originalmente em 1973, chega pela primeira vez ao Brasil em edição especial da Editora Goya, do Grupo Editorial Aleph. Com tradução de Carolina Candido, a obra conta com 512 páginas que exploram temas variados, da adivinhação à astrologia, passando por sabás, amuletos, deuses e perseguições históricas.

Doreen não fala no livro apenas como pesquisadora, mas como praticante. “Este livro está do lado das bruxas”, diz ela já na introdução da obra. “Trezentos anos atrás, essa afirmação poderia me levar à forca. Mas os tempos mudaram.” Essa postura corajosa e apaixonada é o que dá força e autenticidade a cada capítulo do livro, muitos deles ilustrados com referências históricas, imagens antigas e relatos pessoais da autora.

A estrutura do livro em formato de dicionário facilita o acesso a temas que muitas vezes são tratados de forma dispersa em outras publicações. De A a Z, a autora compila conhecimentos ancestrais e modernos sobre a bruxaria, resgatando práticas como o uso do athame, os rituais lunares, a astrologia e a relação com a natureza e os deuses.  Na nota de edição, a editora informa que manteve os termos e conceitos originais da autora, ainda que alguns possam soar desconhecidos ao leitor contemporâneo. Essa escolha reforça o caráter histórico e documental da obra, permitindo ao público brasileiro ter acesso direto ao pensamento de uma das maiores vozes da espiritualidade neopagã do século XX.

Além dos conteúdos informativos, "O Dicionário da Bruxaria" é um convite à reflexão sobre espiritualidade, liberdade religiosa e a resiliência de práticas perseguidas ao longo da história. “A bruxaria tem a ver com os poderes ocultos da mente humana”, escreve Valiente. 

Ideal para estudiosos, praticantes da bruxaria, curiosos e interessados em espiritualidades alternativas, o livro também se apresenta como ferramenta de combate ao preconceito e à desinformação sobre o universo esotérico. Nas palavras da autora: “Se o leitor ou leitora se interessar ou se deixar seduzir pelo aroma do que preparei neste caldeirão, com tantos e tão variados ingredientes, ficarei contente.”

Com uma edição luxuosa, o livro tem capa dura com relevo, vem com dois fitilhos e com belas ilustrações feitas por Mateus Acioli e Luis Aranguri, além do projeto gráfico assinado por Juliana Brandt, "O Dicionário da Bruxaria" é um convite ao conhecimento e à história das bruxas. Apoie o Resenhando.com e compre "O Dicionário da Bruxaria" neste link.


Sobre a autora
Doreen Valiente foi uma das fundadoras da wicca moderna, iniciada em quatro ramos diferentes da Antiga Religião na Grã-Bretanha. Estudou o ocultismo por mais de trinta anos e é uma das figuras mais conhecidas no universo da bruxaria, tendo participado de vários programas de rádio e TV para elucidar o tema. Seu profundo conhecimento de folclore, misticismo e magia cerimonial, combinado com talento literário, fez dela protagonista no ressurgimento das tradições pagãs no século 20. Faleceu em 1999. Apoie o Resenhando.com e compre "O Dicionário da Bruxaria" neste link.

.: Quem foi Gene Wolfe, o escritor que reinventou a ficção científica?


Poucos autores impactaram tanto a ficção especulativa quanto Gene Wolfe. Nascido em Nova Iorque em 1931, desafiou as narrativas tradicionais do gênero de ficção durante toda sua carreira. Dono de uma prosa densa, repleta de simbolismos e a habilidade de construir universos complexos, foi referência para George R. R. Martin, Ursula K. Le Guin e outros escritores contemporâneos.

Agora, sua obra-prima chega ao Brasil pela primeira vez em edição completa: "A Sombra do Torturador", primeiro volume da tetralogia "O Livro do Novo Sol", pela editora Morro Branco. Nesta obra, ele conduz os leitores por uma jornada de identidade, redenção e poder, em um mundo onde passado e futuro colapsam em um só. A tradução brasileira é assinada por Fábio Fernandes.


Clássico ganha edição inédita no Brasil
Referência para autores como Ursula K. Le Guin e George R. R. Martin, tetralogia "O livro do Novo Sol" será publicada (de forma completa) pela editora Morro Branco. Vencedor do prestigiado prêmio World Fantasy Award e considerado um dos melhores livros de fantasia científica já escritos, "A Sombra do torturador abre a saga "O Livro do Novo Sol", de Gene Wolfe. Composta por quatro volumes, a série chega ao Brasil por meio da editora Morro Branco pela primeira vez em edição completa.

Publicada originalmente em 1980, a obra apresenta Severian, um órfão criado pela misteriosa Guilda dos Buscadores da Verdade e da Penitência – os torturadores. Embora tivesse um futuro promissor como algoz, a trajetória do protagonista muda radicalmente quando se apaixona por uma das prisioneiras. Por demonstrar misericórdia à mulher ao invés cumprir seu papel como carrasco, ele é expulso e forçado ao exílio na longínqua cidade de Thrax, tendo como única companhia a lendária espada Terminus Est.

Durante o percurso da viagem até o exílio, o personagem encontra aliados improváveis, enfrenta inimigos implacáveis e se depara com relíquias enigmáticas de uma civilização perdida – entre elas, uma joia que desperta ainda mais perseguições. Cada passo dessa jornada faz com que Severian questione não apenas o mundo ao redor, mas a própria identidade e propósito. Será possível um aprendiz de torturador se tornar um homem bom? Diante de todo o mal que já fez, ele conseguirá se tornar melhor para a humanidade?

“Não sabemos em que ano a história se passa, mas somos informados de que, apesar do cenário de aparência medieval, estamos num futuro distante, provavelmente um milhão de anos à nossa frente. A Terra é um mundo que, social e politicamente, se reverteu a uma condição mais ‘primitiva’, embora os soldados possuam armas de raios e alienígenas caminhem entre os humanos”, contextualiza Fabio Fernandes, tradutor e prefaciador da obra.

O enredo é contado pelo ponto de vista do protagonista, que se mostra um narrador não-confiável logo no início. Embora Severian afirme ter uma memória perfeita, sem esquecer qualquer detalhe já vivido em toda a sua existência, seus relatos são repletos de omissões, contradições e interpretações pessoais que desafiam o leitor a montar o quebra-cabeça por conta própria.

Ao combinar fantasia, ficção científica e filosofia, Gene Wolfe constrói uma narrativa enriquecida por referências históricas, dilemas morais e símbolos religiosos. Com uma prosa densa e envolvente, o autor conduz os leitores por um mundo em ruínas, onde passado e futuro se entrelaçam em uma jornada sobre compaixão, identidade e transformação. Não por acaso, A sombra do torturador é reverenciada por autores como Ursula K. Le Guin e George R. R. Martin e considerada leitura essencial para quem busca fantasia de alta complexidade literária.


Sobre o autor
Gene Wolfe
foi um premiado escritor estadunidense de ficção científica e fantasia. Conhecido por sua prosa densa e alusiva, bem como pela forte influência de sua fé católica, Wolfe foi um prolífico escritor de contos e romancista, vencedor de diversos prêmios como Nebula, World Fantasy e Locus.

domingo, 25 de maio de 2025

.: Livro "A Argentina" é sobre território, identidade e o que fazer com a paixão


Uma história sincera e visceral sobre identidade, território e desejo em "A Argentina", romance de estreia de Rodrigo Natividade, publicado pela Imã Editorial. Narrativa visceral em autoficção (ou não) trata do intenso e transitório relacionamento entre o narrador, um jovem negro do Rio de Janeiro, e uma mulher branca argentina em visita à cidade.

Habituado às dinâmicas fugazes do sexo entre os jovens cariocas, o protagonista não sabe lidar com a paixão que o vai atando àquela mulher de outra língua, outra cultura, outra cor. O romance acentua os contrastes sociais e raciais tanto entre Brasil e Argentina quanto nas fronteiras invisíveis no próprio Rio - entre subúrbio e zona sul, entre o que se quer e o que se pode ser. Mais do que uma história de amor, "A Argentina" é um retrato arrebatador das relações contemporâneas, marcadas por desencontros e o choque entre os desejos profundos e a efemeridade das relações líquidas.


Trecho do livro
"Escrevo sem pensar nas consequências. Não escrevo para ela; lhe dedico estas páginas, mas este livro não é uma carta de amor [ainda que ridículo]. Não sei o que é este livro. Às vezes, parece que tudo o que faço é transcrever para o papel, com a mesma honestidade e paixão como a que vivemos. Escrever o livro que se escreveu sozinho enquanto vivíamos. Talvez, para a Argentina, meu nome seja ‘Rio’."


Sobre o autor
Rodrigo Natividade
, estudante de Letras e roteirista, estreia na literatura com maturidade rara e uma voz marcada pela inquietação e pela entrega. Filho do escritor e biógrafo Tom Farias, ele já desponta como uma das vozes mais potentes de sua geração.

.: Sucesso de "Raul Seixas - O Musical" prorroga temporada em São Paulo


Sucesso de público e crítica no Rio de Janeiro, musical estreou em 10 de abril e vem encantando o público. Foto: Dalton Valério


Raul Seixas completaria 80 anos em 28 de junho próximo, e homenageando o cantor, o original musical com dramaturgia e direção de Leonardo da Selva e Bruce Gomlevsky como protagonista prorroga temporada até dia 29 de junho. Raul Seixas, o pai do rock nacional, foi um artista que transcendeu sua época, desafiou normas sociais e culturais e cravou sua marca na história com composições inesquecíveis. Trinta e cinco anos após sua morte, sua obra segue atual e inspiradora, provando que sua filosofia e suas músicas resistem ao tempo e continuam a ecoar em diferentes gerações. A metamorfose ambulante que marcou para sempre a música brasileira está de volta ao palco do Teatro-D-Jaraguá com o espetáaculo "Raul Seixas - O Musical"

O musical arrebatou mais de 15 mil espectadores em temporadas no Rio de Janeiro, e desde que estreou em 10 de abril no Teatro-D-Jaraguá vem lotando as sessões. Com absoluta fidelidade ao artista, a peça é estrelada por Bruce Gomlevsky. Como destacou Claudia Chaves, do jornal Correio da Manhã, o musical é "de absoluta fidelidade à alma do músico".

Com um roteiro baseado em manuscritos originais do cantor, cedidos pela família, a dramaturgia assinada por Leonardo da Selva traz um olhar único e pessoal sobre a vida e a obra do gênio do rock brasileiro. Como definiu Pedro Bial, "um espetáculo que nos deixa inspirados para encarar o Brasil."


Sinopse de "Raul Seixas - O Musical"
"Raul Seixas - O Musical" mergulha na essência de um dos artistas mais autênticos da nossa música, e se desenrola durante uma noite insone, onde Raul revisita sua história, compõe, reflete sobre sua arte e questiona os rumos do Brasil. Num tom confessional e emocionalmente intenso, o espectador é conduzido pelos bastidores da mente inquieta de Raul, sobre a liberdade, a arte e a sociedade por meio de 21 canções, como os clássicos "Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás", "Maluco Beleza", "Tente Outra Vez" e "Gita".

Em um contexto social ainda marcado por polarizações, o espetáculo resgata a essência da "Sociedade Alternativa" de Raul Seixas, onde liberdade e autenticidade são valores fundamentais. Para os mais jovens, é uma oportunidade de conhecer um ícone que continua extremamente atual. Para aqueles que viveram a época de Raul, é um reencontro emocionante com um legado que segue pulsante. Mais do que uma homenagem, o musical é um convite à reflexão e um manifesto sobre a força transformadora da arte. Afinal, como Raul nos ensinou, a verdadeira revolução começa dentro de cada um de nós.


Ficha técnica
"Raul Seixas - O Musical" | 
Com Bruce Gomlevsky | Direção, Dramaturgia e Produção Leonardo da Selva | Direção Musical Gabriel Gabriel | Assistência de direção Tassia Leite | Cenário Nello Marrese | Figurino Maria Calou | Iluminação Gabriel Prieto | Realização Teatro-D-Jaraguá


Serviço
"Raul Seixas - O Musical"
De 30 de maio a 29 de junho de 2025 | Sextas e Sábados, às 20h00, e domingos, às 19h00
Duração: 90 minutos | Gênero: musical | Classificação Indicativa: 12anos
Local: Teatro-D-Jaraguá Rua Martins Fontes, 71, Centro Histórico (metrô Anhangabaú)
Fone: 11-2802-7075 @teatrodjaragua | Capacidade: 260 lugares | Bilheteria: quinta a domingo a partir das 17h ou diretamente no link Sympla: https://bileto.sympla.com.br/event/103689 | Ingressos: sextas e domingos R$ 100,00 (inteira) e R$ 50,00 (meia), sábados R$ 150,00 (inteira) e R$ 75,00 (meia) | Estacionamento: ESTAPAR na entrada principal do hotel com valor reduzido ao teatro de R$ 20,00 (vinte   reais) por até 4h (quatro horas), valorizando a experiência do Bar do Clóvis+teatro+restaurante do hotel nacional inn jaraguá

← Postagens mais recentes Postagens mais antigas → Página inicial
Tecnologia do Blogger.