sábado, 19 de julho de 2025

.: "A Comunidade do Arco-Íris", de Caio Fernando Abreu, estreia no CCBB SP


Com direção de Suzana Saldanha e supervisão de direção de Gilberto Gawronski, a peça traz no elenco a atriz Bianca Byington, tem participação especial em vídeo de Malu Mader e tem sua composição-tema assinada por Tonny Belloto e seu filho João Mader. A direção musical é de João Pedro Bonfá. A direção de produção é de Jenny Mezencio e a coordenação geral é de Flávio Helder e BFV Cultura e Esporte. O espetáculo cria uma reflexão sobre temas como confiança, respeito, amizade e democracia. Foto: Kika Antunes


A coletividade e a importância de se respeitar as diferenças são pautas levantadas por "A Comunidade do Arco-Íris", o único trabalho do saudoso autor gaúcho Caio Fernando Abreu (1948-1996) voltado para o público infantil. A obra ganhou uma montagem dirigida por Suzana Saldanha, sob supervisão de Gilberto Gawronski, que estreou em 2024 e teve temporadas de sucesso em Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Agora, a peça chega ao Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo, onde tem sua estreia paulista e fica em cartaz de 19 de julho a 31 de agosto, com sessões aos sábados e domingos. Este projeto conta com o patrocínio do Banco do Brasil, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.

O trabalho traz no elenco Bianca Byington, Raquel Karro, Tiago Herz, Lucas Oradovschi, Lucas Popeta, André Celant, Renato Reston, Patricia Regina, Aisha Jambo (stand-in) e Maksin Oliveira (stand-in). Além disso, conta com participação especial em vídeo de Malu Mader na abertura do espetáculo. Na trama, brinquedos e seres mágicos decidem viver numa comunidade na floresta, longe do mundo dos humanos, onde não há poluição e nem consumo desenfreado. A chegada de três gatos a esse recanto de paz, provoca discussões sobre confiança, respeito, amizade e democracia. 

Nesse lugar, que lembra uma espécie de rave ou festa hippie, os personagens vivem afastados do mundo humano. São eles: uma sereia cansada da poluição de mares e rios, uma bruxa de pano e uma bailarina de caixinha de música trocadas por videogame e outros eletrônicos, um soldadinho que não gosta de guerra e tem vocação para jardinagem, um mágico que deseja fazer suas mágicas sem ser criticado e um roqueiro que quer tocar sua música na tranquilidade da natureza. 

No papel da Bruxa de Pano, Bianca Byington comenta que não conhecia esse lado do autor “surpreendentemente leve, que não perde o sarcasmo em pequenas brincadeiras”. Para a atriz, chama a atenção que, em 1971, ele tenha dado importância à questão ambiental. “Abordagem simples, sem militância, mas no fundo fala o que realmente importa, a insatisfação em relação ao mundo capitalista, ao consumo”, diz. 

O cenário é composto por uma grande estrutura de ferro flexível que abrange o cenário interativo criado por Sérgio Marimba, promovendo um diálogo com a luz de Aurélio de Simoni e os figurinos de Danielly Ramos. As crianças são levadas a um mundo de faz de conta, com ambientes coloridos em que os atores podem se pendurar, penetrar, subir e passear livremente. 

Segundo Gawronski, na peça, o autor gaúcho convida as crianças à reflexão sobre convívio e coletividade. “Não é um texto sobre empoderamento da mulher, nem sobre racismo, gênero, ou etnias se colocando. Mas abrange isso tudo. O Arco-Íris de Caio é uma ode à diversidade. Simboliza um lugar ‘outsider’, alternativo, uma busca pelo utópico, onde todos vivem em harmonia e a diferença é respeitada”, comenta. 

A direção musical da peça é de autoria de João Pedro Bonfá, que mescla canções gravadas e música ao vivo. “Sempre que posso utilizar como trilha sonora o personagem Roque, interpretado pelo ator e músico Tiago Herz, é muito rico”.  Segundo Bonfá, Caio Fernando indica no texto uma letra com o hino da comunidade do Arco-Íris que, nesta montagem, é musicada por Tony Bellotto e por seu filho, João Mader. “A música virou um baita Rock n’ roll no estilo Titãs. Nós gravamos de uma vez, no estúdio, igual banda de rock, com guitarra e bateria. Isso trouxe uma sonoridade final bem interessante”, conta. 

“A Comunidade do Arco-Íris” é um espetáculo que se alinha aos valores que o Centro Cultural Banco do Brasil busca promover em sua programação, como diversidade, sensibilidade artística e estímulo ao pensamento crítico desde a infância. Ao realizar esse projeto, o CCBB SP reafirma seu papel como espaço de diálogo e formação cultural incentivando reflexões sobre respeito, convivência e a valorização das diferenças. “É uma honra receber uma obra tão simbólica e atual, que apresenta o universo do Caio Fernando Abreu às novas gerações com leveza e profundidade, pois acreditamos na força da arte para inspirar novas formas de ver e viver o mundo, e esta peça representa exatamente isso”, afirma Cláudio Mattos, gerente geral do CCBB São Paulo.


Suzana Saldanha e Caio Fernando Abreu
“Apesar de escrita há mais de 40 anos, trata-se de uma peça ecológica e atual. Caio denuncia, naquela época, o mesmo que denuncio hoje, em 2025”, diz Suzana Saldanha, que participou da fundação do inovador Grupo de Teatro Província de Porto Alegre, em 1970, onde trabalhou com Caio Fernando Abreu. “Além de jornalista e escritor, era um belíssimo ator”, lembra. Logo depois, em 1971, Caio escreveu “A Comunidade do Arco-Íris”

“O texto fala de forma poética sobre esse movimento de pessoas se organizando em comunidades, no auge da ditadura. Para nós, artistas, estava muito ruim. Mas nem todos iam da cidade para o campo. Caio foi para uma comunidade em Londres. Já eu fui morar, em 1973, com colegas de faculdade no Centro de Arte Sensibilização e Aprendizagem, onde também funcionava uma escola de teatro, em Porto Alegre”, recorda.

Quando volta ao Brasil em 1979, Caio entrega “A Comunidade do Arco-Íris” nas mãos de “Suzy Baby”, como chamava a amiga Suzana. “Eu fiquei louca com o texto”, lembra a diretora, que, no mesmo ano, estreia o espetáculo sob sua direção. Em 2008, a diretora contribui para a montagem da peça com crianças da Escola Carlitos (SP). 

Em 2018, um novo encontro com a obra: Suzana apresenta o texto ao amigo e produtor Flávio Helder, que se apaixona, e decidem remontá-lo. “Eu quero mostrar ao público o lado amoroso e divertido de Caio Fernando, um autor que ficou muito marcado como porta-voz do mundo gay e que não conheceu a fama em vida, mas que hoje é lido por todos, sobretudo o público jovem”, afirma a artista. 


Ficha técnica
Espetáculo "A Comunidade do Arco-Íris"
Texto: Caio Fernando Abreu
Direção: Suzana Saldanha
Supervisão de direção: Gilberto Gawronski
Elenco: Bianca Byington (Bruxa de pano); Raquel Karro (Sereia), Tiago Herz (Roque), Lucas Oradovschi (Mágico), Lucas Popeta (Gato Simão), André Celant (Soldadinho), Renato Reston (Gato Tião), Patricia Regina (Gata Bastiana), Stand-in ( Bruxa de Pano): Aisha Jambo, Stand-in ( Mágico): Maksin Oliveira
Participação especial em vídeo: Malu Mader
Cenário: Sérgio Marimba
Iluminação: Aurélio de Simoni
Figurinos: Danielly Ramos
Visagismo: Joana Seibel
Direção de movimento/coreografia: Sueli Guerra
Assistência de movimento/coreografia: Edney d’Conti
Composições e supervisão musical: Tony Belloto em colaboração com João Mader
Direção musical: João Pedro Bonfá
Programação visual: Juliana Della Costa
Assessoria de Imprensa em SP: Pombo Correio
Assistente de produção: Sofia Lima
Direção de produção: Jenny Mezencio
Coordenação geral e realização: Flávio Helder e BFV Cultura Esporte
Patrocínio: Banco do Brasil
Realização: Centro Cultural Banco do Brasil
Instagram: @acomunidadedoarcoiris2024


Serviço
Espetáculo “A Comunidade do Arco-Íris”
Período: 19 de julho a 31 de agosto de 2025
Horário: julho | Sábados e domingos, às 11h00 e às 15h00
Agosto | Sábados, às 11h00 e às 15h00. e Domingos, às 15h00.
Local:  Teatro CCBB SP
Rua Álvares Penteado, 112 - Centro Histórico - SP
Ingressos: R$ 30,00 (inteira) e R$ 15,00 (meia) disponível em bb.com.br/cultura e na bilheteria do CCBB | Meia-entrada: para estudantes, professores, profissionais da saúde, pessoa com deficiência - e acompanhante, quando indispensável para locomoção, adultos maiores de 60 anos e clientes Ourocard. 
Capacidade: 120 lugares
Classificação: Livre
Duração: 60 minutos
Acessibilidade: teatro acessível a cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida.


Informações CCBB SP - Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo  
Endereço: rua Álvares Penteado, 112 - Centro Histórico | São Paulo/SP  
Entrada acessível CCBB SP: pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida e outras pessoas que necessitem da rampa de acesso podem utilizar a porta lateral localizada à esquerda da entrada principal.
Funcionamento: aberto todos os dias, das 9h00 às 20h00, exceto às terças    
Contato: (11) 4297-0600 | ccbbsp@bb.com.br 
Estacionamento: o CCBB possui estacionamento conveniado na Rua da Consolação, 228 (R$ 14 pelo período de 6 horas - necessário validar o ticket na bilheteria do CCBB). O traslado é gratuito para o trajeto de ida e volta ao estacionamento e funciona das 12h00 às 21h00.    
Van: ida e volta gratuita, saindo da Rua da Consolação, 228. No trajeto de volta, há também uma parada no metrô República. Das 12h00 às 21h00.
Transporte público: o CCBB fica a 5 minutos da estação São Bento do Metrô. Pesquise linhas de ônibus com embarque e desembarque nas Ruas Líbero Badaró e Boa Vista.    
Táxi ou aplicativo: desembarque na Praça do Patriarca e siga a pé pela Rua da Quitanda até o CCBB (200 m).

.: Espetáculo "Uma Peça de Comédia", em nova versão, no Teatro Nair Bello


Em uma versão atualizada, espetáculo do autor Dan Rosseto, narra os desafios enfrentados por um elenco que tenta salvar uma peça ruim e com humor ultrapassado; a montagem fará somente um fim de semana no mês de julho na capital paulista. Foto: divulgação


Nos dias 25, 26 e 27 de julho, no Teatro Nair Bello, o espetáculo “Uma Peça de Comédia”, do dramaturgo, roteirista, ator e diretor Dan Rosseto, abre as portas ao público para a nova versão da obra apresentada em 2023. No elenco, Adriano Paixão, Flávia Pucci, Felipe Caiafa, Lia Antunes e Natália Rabelo; além do próprio Rosseto, que pela primeira vez atua em um texto autoral.

 “Uma Peça de Comédia” acompanha os bastidores dos ensaios do espetáculo "The Fertilization"  (nome fictício de uma peça dentro da peça) que está a uma semana da estreia. O elenco insatisfeito com os métodos de trabalho do diretor, inseguros com o processo de criação e a qualidade duvidosa do texto, interrompem o ensaio para debater falas grosseiras e gags inadequadas, que causam desconforto e constrangimento.

Os atores, preocupados com a recepção do público, tentam convencer o diretor que o texto da peça está ultrapassado; e só enxergam o fim de suas carreiras. Mas o chefe, que tem comportamento egocêntrico e abusivo, não dá espaço e tenta convencê-los do contrário, apesar de ter rompantes de otimismo e paixão pelo ofício teatral. Quando são avisados pelo diretor que uma temida crítica está na plateia, o grupo tenta “desesperadamente” salvar a encenação! É o estopim que acendeu a fogueira das vaidades e promove as confusões. Os egos de cada um eclodem, criando uma atmosfera de competição e hipocrisia, onde as máscaras caem e a razão dá lugar à crueldade.

O espetáculo, através de uma metalinguagem tragicômica, alterna os ensaios com a vida pessoal dos atores traçando um paralelo sobre a ética; afinal tudo aquilo poderia acontecer em qualquer ambiente de trabalho. Ao repensarem o conceito do espetáculo, o texto abre um debate sobre o humor na atualidade: “Como fazer comédia sem ofender?”. Dan Rosseto se inspirou em obras importantes, mas reuniu nesta montagem histórias que ele mesmo vivenciou ao longo de seus 25 anos como artista, apresentando personagens patéticos, levianos e paranoicos, que provocam o riso nervoso por serem hipócritas, completamente ridículos e desprovidos de moral.

As transformações sociais, culturais, de gênero, machismo, sexismo, racismo, etarismo, capacitismo, entre outros temas que vem acontecendo de forma vertiginosa tem provocado debates e gerado diversas questões sobre o que é “politicamente correto”. O humor coloca todos no mesmo nível: palco e plateia, humanizando as partes, fazendo repensar os estímulos de ambos os lados.  É também uma estratégia de sobrevivência, e uma forma descontraída de contribuir para levar informação e um olhar crítico, sem perder o riso e mantendo sua responsabilidade social.


Ficha técnica
Espetáculo "Uma Peça de Comédia" 
Texto e direção: Dan Rosseto
Direção de produção: Fabio Camara
Direção residente e de movimento: Viviane Figueiredo
Elenco:  Adriano Paixão, Flavia Pucci, Dan Rosseto, Felipe Caiafa, Lia Antunes e Natália Rabelo
Preparação vocal: Gilberto Chaves
Preparação corporal: Marize Piva
Iluminação: Beto Martins
Maquiagem: Tainá Araújo
Perucaria: Maurício Somanzari
Arte gráfica e fotografias: Erik Almeida
Assessoria de imprensa: Fabio Camara
Produção executiva: Natália Rabelo Ortega
Realização: Applauzo Produções, Lugibi Produções, Nyn Realizações e EACC.


Serviço
Espetáculo "Uma Peça de Comédia" 
Local: Teatro Nair Bello – Shopping Frei Caneca (Rua Frei Caneca 569 - Consolação). 200 lugares.
Datas: 25, 26 e 27 de julho (Sexta e sábado, às 20h00, e domingo, às 18h00)
Ingressos: R$ 100,00 (inteira) e R$ 50,00 (meia-entrada)
Informações: (11) 3472 2414
Vendas pela internet: https://bileto.sympla.com.br/event/107544
Duração: 100 minutos
Classificação: 14 anos

.: Comédia "O Marido da Minha Mulher" em nova temporada no Teatro D-Jaraguá


Espetáculo mistura humor e fantasia com grande elenco e estreia uma curta temporada, em São Paulo, no dia 26 de julho. Foto: Ronaldo Gutierrez


Depois do sucesso de sua primeira montagem, a comédia “O Marido da Minha Mulher” retorna aos palcos em nova e curta temporada no Teatro-D-Jaraguá, a partir de 26 de julho, com sessões aos sábados e domingos. A peça, que mistura humor rasgado com elementos sobrenaturais, marca presença na programação do recém-inaugurado teatro e aposta em um elenco carismático formado pela atriz e influenciadora digital Fefe (em sua estreia no teatro) e pelos atores Daniel Rocha, Ton Prado e Conrado Caputo.

Na trama escrita por Sérgio Abritta e dirigida por Carlinhos Machado, o fanfarrão Alex (Daniel Rocha) morre após um acidente inesperado, mas retorna do além para impedir que sua esposa, Bruna (Fefe), se case com seu maior desafeto, o esnobe Nico (Conrado Caputo). Para atrapalhar os planos do rival, Alex contará com a ajuda de seu melhor amigo Paulo (Ton Prado), num enredo repleto de situações hilárias, mal-entendidos e pitadas de emoção.

O espetáculo marca a estreia teatral da influenciadora digital Fefe, que soma mais de 17 milhões de seguidores. “No palco tudo é diferente. É um desafio de postura, timing, linguagem... mas vale muito a pena”, comenta. Já Ton Prado, que participou das montagens anteriores, vê essa nova versão como uma oportunidade de renovação: “É uma nova geração assistindo. Mesmo quem não acredita em fantasmas vai se divertir com a analogia sobre evolução e libertação da alma”, diz.

Para Daniel Rocha, conhecido do grande público por sua participação em diversas novelas na TV Globo, o personagem Alex é um tipo totalmente distante dele: “É um torcedor inflamado do Corinthians que deixa de viver momentos importantes com a família pra farrear com os amigos. Faz tudo errado. Eu não faria isso”, brinca o ator.


Um susto nos bastidores
Durante a gravação de uma versão da peça para a HBO Max, feita em Paranapiacaba, cidade conhecida por suas histórias de assombração, Daniel Rocha passou por um momento curioso: “Uma senhora tinha acabado de limpar e trancar um vagão. De repente, uma mão de criança apareceu no vidro... e não havia crianças no set”, relembra. Agora, o susto dá lugar à gargalhada - pelo menos no palco.


Ficha técnica
Espetáculo "O Marido da Minha Mulher"
Texto: Sérgio Abritta
Direção: Carlinhos Machado
Elenco: Conrado Caputo, Daniel Rocha, Fefe e Ton Prado
Assistente de direção: José Grando
Desenho de luz: Cesar Pivetti
Trilha sonora: Charles Dalla
Operação de luz: Pablo Perosa
Operação de som: Kaique Andrade
Direção de palco: Bruno Caraíba
Cenário: Thiago Wenzler
Cenotécnico: Tony Medugno
Fotografia: Ronaldo Gutierrez
Mídias sociais: Ton Prado
Assessoria de imprensa: Dobbs Scarpa Multiplataformas – Fábio Dobbs


Serviço
Espetáculo "O Marido da Minha Mulher"
Temporada: de 26 de julho a 7 de setembro de 2025, sábados, às 20h00, e domingos às 19h00
Duração: 75 minutos
Classificação Indicativa: 12 anos
Local: Teatro-D-Jaraguá Rua Martins Fontes, 71, Centro (Metrô Anhangabaú)
Capacidade: 260 lugares
Bilheteria: presencial a partir de 2 horas antes do início do espetáculo ou pelo link Sympla - https://bileto.sympla.com.br/event/107657
Ingressos: R$ 150,00 (inteira) e R$ 75,00 (meia)
Estacionamento: Estapar na entrada principal do hotel com valor reduzido ao teatro de R$ 20,00 por até quatro horas, valorizando a experiência do teatro + restaurantes do hotel

.: "Laudelina" propõe mergulho na luta das trabalhadoras domésticas negras


Com direção de Luiza Loroza, solo protagonizado por Rafaele Breves é inspirado na trajetória de Laudelina de Campos Mello, figura importante na luta pelos direitos trabalhistas no país. Foto: Juliana Nascimento

A SP Escola de Teatro - Centro de Formação das Artes do Palco recebe em julho o espetáculo "Laudelina", solo poético-documental que costura memória, política e ancestralidade a partir da trajetória de Laudelina de Campos Mello - trabalhadora doméstica, militante e uma das figuras mais emblemáticas da luta por direitos trabalhistas no Brasil. O espetáculo cumpre temporada até dia 27 de julho, na Sala Alberto Guzik, com apresentações gratuitas às sextas e sábados, às 20h30, e domingos, às 18h00.

Com dramaturgia inédita assinada por Cristiane Sobral e Rafaele Breves e direção de Luiza Loroza, a montagem é protagonizada pela atriz Rafaele Breves, que entrelaça a história de Laudelina com memórias íntimas de sua própria linhagem familiar. “É um corpo em cena que traz não só a força das lutas passadas, mas também o peso e a beleza do que herdei das mulheres da minha família, que como Laudelina, foram cozinheiras, faxineiras, babás. E com esse solo, eu conto essa história como quem costura um tecido ancestral, ponto por ponto”, afirma Rafaele.

Realizado pela Dupla Companhia, grupo sediado no interior paulista, o projeto reúne uma equipe formada majoritariamente por mulheres negras de diferentes regiões do país, conectando experiências do Rio de Janeiro, Distrito Federal, Minas Gerais, São Paulo e Pará. Para Lucas Gonzaga, diretor artístico da companhia, o espetáculo dá continuidade a uma pesquisa que atravessa diversas montagens do grupo: “Temos como eixo a investigação entre Território, Memória e Identidade. 'Laudelina' surge como um gesto de escuta e permanência. Não é uma biografia encenada, mas uma evocação poética das vozes que foram apagadas da história oficial”.

Entre relatos íntimos, registros históricos e imagens de resistência, a peça convida o público a refletir sobre os impactos do trabalho doméstico na vida de milhares de mulheres negras brasileiras, muitas vezes invisibilizadas, exploradas e esquecidas. “Descolonizar, às vezes, é descansar. É interromper o ciclo da exaustão, da obediência forçada, da entrega sem retorno. Com esse trabalho, queremos propor imaginação, invenção e desordem como formas de resistência”, pontua Rafaele.

Laudelina também destaca o esforço coletivo da Dupla Companhia em propor novas narrativas e estéticas para os palcos brasileiros. O grupo, que já encenou montagens como "As Três Marias" (2022), "Ícaros" (2024) e ”Nise em Nós” (2025), mantém seu compromisso com produções que promovem interseções entre arte, educação e memória. “Estamos falando de um teatro que parte do chão da vida real, mas que se permite sonhar - porque, como dizia Fanon, 'não se pode construir o que não se pode imaginar’”, conclui Gonzaga. O espetáculo tem realização da Dupla Companhia, em parceria com o Ministério da Cultura do Governo Federal e a Secretaria de Estado da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Governo do Estado de São Paulo.


Ficha técnica
Espetáculo "Laudelina"
Atuação, texto inédito e idealização: Rafaele Breves
Direção e cenografia: Luiza Loroza
Texto inédito: Cristiane Sobral
Figurinos: Nilo Mendes
Iluminação: Dara Duarte
Visagismo: Claudinei Hidalgo
Assistente de cabelo e maquiagem: Pedro Torriani
Cenotécnica: Bruna Boliveira
Trilha sonora: João Loroza
Identidade visual: Laís Oliveira
Fotografia: Juliana Nascimento
Direção de comunicação: Rafaele Breves
Assessoria de imprensa: Pombo Correio
Idealização, direção de produção, vídeos e operação de som: Lucas Gonzaga
Produção executiva: Miranda Gonçalves


Serviço
Espetáculo "Laudelina"
Às sextas e aos sábados, às 20h30, e aos domingos, às 18h00
SP Escola de Teatro - Sala Alberto Guzik (R1) - Praça Franklin Roosevelt, 210, Consolação, São Paulo
Ingressos: Gratuitos. Retiradas somente pela internet na Sympla SP Escola de Teatro - www.sympla.com.br/produtor/spescoladeteatro
Classificação indicativa: 12 anos
Duração: 80 minutos
Capacidade: 60 lugares
Acessibilidade: sala acessível a cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida, tradução simultânea para língua brasileira de sinais, audiodescrição, visita tátil para pessoas não videntes.

sexta-feira, 18 de julho de 2025

.: Entrevista com Edson Aran: Machado, Drácula e outras heresias deliciosas


Por Helder Moraes Miranda, especial para o portal Resenhando.com. Foto: arte feita a partir de foto publicada no Instagram @edsonaran.

Imagine o seguinte: Brás Cubas andando distraidamente pelas ruas do Rio de Janeiro enquanto Capitu, mais instável do que nunca, recebe uma visita noturna do conde Drácula - e tudo isso sob o olhar nada complacente de Quincas Borba, que talvez tenha finalmente encontrado um adversário à altura do Humanitismo. Se essa cena parece um delírio febril de um crítico literário viciado em absinto, é porque você ainda não leu "Quincas Borba e o Nosferatu", o novo e audacioso romance de Edson Aran, autor que há anos reescreve, com ironia e precisão, os manuais de estilo da literatura nacional.

Aran - que já foi cartunista, editor de revistas masculinas, roteirista de TV, criador de memes, cronista ácido, conspirólogo confesso e um dos poucos homens que podem dizer que superaram a revista Playboy - volta ao romance com um livro que mistura Machado de Assis, Bram Stoker e um senso de humor afiado como as presas do vampiro em questão. O resultado? Uma obra que desafia puristas, diverte iconoclastas e talvez incomode mortos ilustres.

Nesta entrevista exclusiva para o Resenhando.com, Aran abre o caixão de suas ideias, morde o pescoço dos clássicos e lembra a todos, com irreverência e elegância, que a literatura continua sendo o melhor dos vícios - mesmo quando escrita com sangue e sarcasmo. É uma conversa sem crucifixos nem pudores. Compre o livro "Quincas Borba e o Nosferatu" neste link.


Resenhando.com - Como foi transformar a ironia machadiana em terreno fértil para criaturas das trevas?
Edson Aran - Esse foi um desafio dos mais divertidos. “Quincas Borba e o Nosferatu” é um romance polifônico construído com cartas, diários e notícias de jornal, exatamente como o “Drácula” de Bram Stoker. Só que dois dos narradores - Brás Cubas e Bento Santiago - não são confiáveis. Cubas continua sendo o dândi cínico de “Memórias Póstumas” e entra na história mais por tédio e vaidade, do que para entender a natureza dos fatos. Bentinho é ciumento, inseguro e não tem muita convicção do que presenciou. A mistura do romance gótico de Bram Stoker com a narrativa irônica do Machado reforça o horror da história. Porque, veja bem, “Quincas Borba e o Nosferatu” não é um livro de humor. É uma história de terror com momentos bem-humorados, é outra coisa.


Resenhando.com - Qual foi o limite ético (ou estético) que você precisou ignorar para colocar Brás Cubas e Capitu sob o mesmo teto que um vampiro sedento e aristocrata? A provocação foi literária ou existencial?
Edson Aran - Ao contrário de Capitu, eu sou fiel aos meus amores. Os personagens do Machado estão lá com todas suas características originais. Quincas Borba ainda é o filósofo meio doido que criou o Humanitismo. Capitu ainda é uma mulher sedutora e impulsiva de olhar oblíquo e dissimulado. Bento Santiago ainda é o marido ciumento e melindrado (talvez apenas um pouquinho mais cruel no meu livro do que em “Dom Casmurro”). Escobar é o mesmo Escobar, Sancha é a mesma Sancha e Drácula é o mesmo Drácula. Só Capituzinha, a filha de Sancha e Escobar, é um pouco mais levada no meu livro, mas criança tem que ser levada mesmo.


Resenhando.com - Você acredita que Machado de Assis teria rido ou processado você? E, no Tribunal das Letras, quem seria seu advogado: Kafka, Stan Lee ou Ariano Suassuna?
Edson Aran - Acho que Machado se divertiria muito com “Quincas Borba e o Nosferatu”. Bram Stoker também, por falar nisso. Antes de serem capturados e mantidos em cativeiro pelos acadêmicos, esses escritores produziam folhetins publicados regularmente em jornais e revistas. Era o streaming da época. Se Machado estivesse vivo, ele estaria escrevendo a novela das nove, talvez com Bram Stoker na sala de roteiro. Literatura é pra ser lida, não pra juntar poeira na estante. Tenho a impressão de que Machado gostaria de ver seus personagens ganhando vida numa narrativa contemporânea, mas com raízes na obra que ele escreveu. Eu não ia precisar de advogado, não. Principalmente se fosse o Kafka, que nunca ganhou um processo.


Resenhando.com - No Brasil atual, o que assusta mais: um Nosferatu rondando o Paço Imperial ou a ascensão de políticos que não leem nem bula de remédio?
Edson Aran - Ando bastante desanimado com o Brasil. Quer dizer, deixa eu explicar. Por um lado, sou muito fã da minha geração e acho que a gente mandou e manda muito bem na cultura, no jornalismo e na literatura. Estou com 62, então coloco nessa turma gente como a Fernanda Torres, a Debora Bloch, o Claudio Manoel, o Marçal Aquino, o Renato Russo...não dá pra reclamar, né? Agora, na política, foi um desastre. Fizemos o mesmo que todas as gerações anteriores: falhamos totalmente em tirar o país da estagnação burocrática, política e econômica. Mas olha, você acha que “Quincas Borba e o Nosferatu” não reflete essa melancolia? Achou errado, pois reflete.


Resenhando.com - Você tem um histórico marcante com o humor gráfico e a cultura pop. Quais personagens dos gibis ou da pornografia elegante dos anos 90 você gostaria de ver em um “cross-over literário” nos moldes de Quincas Borba e o Nosferatu? 
Edson Aran - Os quadrinhos vivem fazendo crossover desde sempre, então não tenho muito o que acrescentar não. E a literatura erótica não tem personagens muito marcantes. A não ser que a gente inclua “Drácula” nesta categoria, coisa que faz sentido pra mim. E talvez “Dom Casmurro”, já pensou? Será que Bentinho, no fundo, no fundo, não se excita com a ideia de Capitu se entregar ao Escobar? Será que aquilo tudo não é a fantasia sexual de um seminarista travado? Mas, voltando à pergunta, é bem possível que eu promova outros encontros inusitados no futuro. Será que “Quincas Borba e o Nosferatu” é o início de um multiverso? Quem sabe, quem sabe...


Resenhando.com - Existe alguma personagem da literatura brasileira que você jamais ousaria parodiar? É por reverência, medo ou falta de graça mesmo? 
Edson Aran - O humor é por natureza irreverente. Quando a reverência entra pela porta da frente, o humor sai pela porta dos fundos. Mas eu não faria paródia com o José de Alencar, por exemplo. Eu teria que reler os livros dele e a vida é muito curta. É a mesma coisa com “O Ateneu” do Raul Pompéia, com aqueles paragrafões de cinco quilômetros sem ponto final. Seria divertido zoar isso, mas quem leu esse troço até o fim? Quem ia entender a piada? A paródia é uma forma de homenagem e, quando é bem-feita, também é uma declaração de amor.


Resenhando.com - Você já criou a Telma Luíza, o Romero morto-vivo e até um livro de epitáfios. Quem você gostaria que assinasse seu próprio obituário - e o que gostaria que dissesse? 
Edson Aran - O obituário é um ótimo gênero literário porque o personagem nunca reclama, mas eu prefiro ser autor do que objeto. Já o meu epitáfio está no “Aqui Jaz – O livro dos epitáfios”: “Agora sim... espirituoso”.


Resenhando.com - No seu livro anterior, você brincou de reescrever a história literária brasileira. Se pudesse reescrever a história do jornalismo cultural brasileiro, qual revista você salvaria do esquecimento - e qual apagaria com gosto?
Edson Aran - De muitas maneiras, “Quincas Borba e o Nosferatu” é uma continuação de “Histórias Jamais Contadas da Literatura Brasileira”, só que num outro gênero, o horror. O jornalismo cultural teve bastante coisa interessante: Senhor, VIP, Playboy, Realidade, Oitenta, Pasquim... muita coisa boa. Mas eu não apagaria nenhuma revista da história não. A gente sequer lembra delas, pra quê apagar?


Resenhando.com - Seu livro tem Capitu, mas e Bentinho, foi cancelado, virou coach ou está preso na Cracolândia dos ciumentos anônimos?
Edson Aran - Bentinho foi um homem demasiadamente apaixonado e inseguro. Tudo o que ele fez na vida - largar o seminário, aproximar Sancha de Escobar - foi por causa de Capitu. E aí ele foi traído. Por Capitu e Escobar, seu melhor amigo. E, veja, Bentinho vivia no Rio de Janeiro do Segundo Império, não no Leblon do Terceiro Milênio. A infidelidade na época era um tremendo problema social, principalmente quando era explícita (e o romance é cheio de detalhes sobre isso, todo mundo sabia). Só que a traição de Capitu o tornou um homem demasiadamente cruel, característica eu ressalto em “Quincas Borba e o Nosferatu”. Agora, essa bobagem de que Capitu nunca traiu, que vejo muita gente defendendo, é uma atitude moralista sem-noção. Coisa de seminarista católico, igual ao Bentinho. Como assim, não traiu? Capitu deu sim. Deu muito. E daí? Ela continua sendo uma personagem fascinante, intrigante e apaixonante. Talvez porque tenha pulado a cerca sem medo de ser feliz. Deixa ela, pô.


Resenhando.com - Se fosse possível exumar um autor morto para conversar sobre seu novo romance, quem você traria à vida por uma noite - e o que pediria que ele lesse em voz alta para você e o Drácula?
Edson Aran - Conversei algumas vezes com o Millôr Fernandes, mas ele faz muita falta neste Brasil empacado no tempo. Então eu o traria de volta não apenas por mim, mas pelo país. Também enviaria uma cópia do livro para o Ivan Lessa, claro, que certamente retribuiria com um e-mail econômico, mas cheio de sacadas. Quando escrevi o “Delacroix Escapa das Chamas”, foi o Ivan quem inventou o conceito “um romance em quatro tempos” para um livro de quatro narrativas independentes. E com certeza eu mandaria o livro para o Jô Soares. Com certeza. A gente trocava muitas mensagens nos meus tempos de Playboy e tive a honra de ler “As Esganadas” antes de todo mundo. Eu gostaria muito de ouvir o autor de “O Xangô de Baker Street” sobre “Quincas Borba e o Nosferatu".


.: Crítica musical: Beto Viana estreia com a "Matriz Infinita do Sonho"


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural. Foto: Flora Negri

"Matriz Infinita do Sonho" é o nome do disco de estreia do músico pernambucano Beto Viana. Um trabalho de camadas interessantes e aparentemente simples nas composições, que traz novo frescor para a MPB. Segundo o autor, o trabalho é sobre como todos carregamos em nós a possibilidade e a necessidade de sonhar, a capacidade de criar mundos dentro do mundo, que é o ofício do compositor e do artista em geral. "Matriz Infinita do Sonho" é um verso de Joaquim Cardozo que se encontra no seu poema "Visão do Último Trem Subindo ao Céu", a quem o disco presta homenagem.

Para lançar seu álbum de estreia, Beto abriu a gaveta onde guardava, há anos, poemas, construções melódicas e boa parte das suas inspirações. Esse material foi a matéria prima com a qual ele começou a transformar, em parceria com Negro Leo, produtor do álbum, suas construções poéticas. Da palavra sentida e escrita para a palavra cantada. As nove canções de “Matriz Infinita do Sonho” são o resultado final de um processo de criação que já duram alguns anos e que mira a visão particular e peculiar de Beto sobre o sagrado e o sensível.

“Matriz Infinita do Sonho” conta com mais de 20 profissionais da música, num trajeto que une estúdios no Rio de Janeiro, Recife e Gravatá, no Agreste pernambucano. Nomes como o Junio Barreto, que divide os vocais com Beto na música “Dandara”, além do pianista Vitor Araújo, o percussionista Gilu Amaral, o baterista Thomas Harres, Pedrinhu Junqueira e Thiago Nassif, nas guitarras, e Pedro Dantas, no baixo.


"Dandara"

"Yara do Mar"

.: Netflix leva Valter Hugo Mãe à Flip em mesa sobre adaptação de livro


O escritor português Valter Hugo Mãe é presença confirmada na 23ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty. A convite da Netflix, a mesa com participação do autor une cinema e literatura: no espaço Esquina piauí + Netflix, Valter falará pela primeira vez sobre a adaptação do livro "O Filho de Mil Homens", que chega à Netflix ainda em 2025. O diretor e roteirista do longa, Daniel Rezende ("Bingo - O Rei das Manhãs", "Turma da Mônica - Laços"), e a diretora de filmes da Netflix Brasil, Higia Ikeda, também participam da conversa, que contará com a mediação de Alejandro Chacoff, editor de literatura da Revista piauí. Acontece no dia 1° de agosto, às 17h30. 

Já a mesa "Escritor de Dois Mundos - Valter Hugo Mãe", anunciada e incluída na programação oficial da Flip, conta com a mediação de Walter Porto, e celebra a volta do escritor 14 anos depois de uma das mesas mais icônicas da Flip, para falar de sua obra que continua a fazer sucesso no Brasil, assim como de desdobramentos importantes, como o lançamento do filme baseado no livro "O Filho de Mil Homens". Ela acontece no dia 1° de agosto, às 13h30 e em breve, os ingressos estarão disponíveis para compra no site do evento. Compre o livro "O Filho de Mil Homens" neste link.


Do livro à tela
Com Rodrigo Santoro no papel principal, o filme "O Filho de Mil Homens" conta a história de Crisóstomo, um pescador solitário que, aos 40 anos, sente o vazio da ausência de um filho e sonha em ser pai. Em sua busca por relacionamentos verdadeiros e profundos, ele encontra Camilo, um menino órfão, e decide criá-lo, construindo uma família atípica e singular. Gravado entre Búzios, no litoral do Rio de Janeiro, e em Iguatu (Chapada da Diamantina),  na Bahia, o longa é produzido pela Biônica Filmes e Barry Company. O elenco conta também com Rebeca Jamir, Johnny Massaro, Miguel Martines, Juliana Caldas, Grace Passô, Inez Vianna, Lívia Silva e Antonio Haddad. Mais informações sobre a programação da Esquina piauí + Netflix serão divulgadas em breve. Compre o livro "O Filho de Mil Homens" neste link.


Serviço
Esquina piauí + Netflix: FLIP 2025
Mesa "O Filho de Mil Homens - do Livro às Telas: Esquina piauí + Netflix"
Dia 1° de agosto, às 17h30
Rua Dr. Pereira 139, Centro Histórico de Paraty/Rio de Janeiro
De 31 de julho a 3 de agosto de 2025

.: A edição especial de “Gita”, de Raul Seixas, prensada em vinil vermelho


O início, o fim e o meio

Por Leonardo Lichote.

Raul Seixas e Paulo Coelho conversavam sob a noite estrelada de Dias d’Ávila, pequeno município baiano onde se localizava o sítio da família dos pais do cantor. A dupla passava ali uma temporada de descanso depois do sucesso de “Krig-ha, Bandolo!”, disco de estreia de Raul lançado em 1973. O papo chegou ao livro sagrado indiano “Bhagavad-gita”, mais especialmente ao trecho no qual o deus Krishna se descrevia para o guerreiro Arjuna: “Eu sou a morte que tudo devora, e Eu sou o gerador de todas as coisas ainda por existir. Eu sou as mulheres, Eu sou a fama, a fortuna, a fala, a memória, a inteligência, a fidelidade e a paciência”.

Daquela troca saiu, em menos de dez minutos, a letra completa de “Gita” - de versos como “Eu sou o início, o fim e o meio”. A parceria de Raul e Paulo batizaria e daria o tom místico do histórico disco que eles lançariam meses depois, em 1974. Agora, em celebração aos 80 anos do baiano, que são celebrados no dia 28 de junho, a Universal Music Brasil relança “Gita” no formato LP, numa edição prensada em vinil vermelho, que já está em pré venda na UMusic Store. Confira aqui: https://www.umusicstore.com/raul-seixas.

A imagem de Raul na capa, de guitarra e boina vermelhas, dedo em riste, se dirigindo no microfone à multidão que não aparece na foto, projetava a imagem de líder guerrilheiro, guru, profeta que se consolidaria a partir dali. O selo da Sociedade Alternativa no canto inferior esquerdo dava um ar misterioso e oficial às ambições que o cantor apresentava no disco. Nada menos que fundar um novo modelo de organização social, que, em plena ditadura, questionava autoridades, instituições como o casamento, a noção burguesa da felicidade - tudo em nome da potência individual de cada ser humano, sintetizada nos versos “Faze o que tu queres/ Pois é tudo da lei”.

O disco traz oito parcerias de Raul e Paulo - oficialmente, pois o autor de “Diário de Um Mago” argumenta que ele compôs sozinho uma delas, “Medo da Chuva”, atribuída à dupla. As outras quatro têm apenas a assinatura de Raul. Todas as canções orbitam, de alguma forma, em torno da ideia da Sociedade Alternativa, desenhada a partir dos ensinamentos do ocultista britânico Aleister Crowley, citado, inclusive, num verso do álbum.

Mesmo tendo o misticismo e as ambições revolucionárias como núcleo, o disco não abre mão do humor - quase sempre ácido - de Raul. Além disso, o artista não tinha o menor desejo de propor manifestos herméticos, para iniciados. Mirava no sucesso popular, nas massas - e a linguagem direta de suas canções, na música e nas letras, reflete isso. Como ele defendeu em entrevista feita exatamente em 1974, ano de lançamento de “Gita”:

“Eu escolhi o caminho da música por ser o meio mais fácil de chegar ao povo. Abandonei o livro porque o Brasil não lê. Abandonamos o teatro, porque o teatro está em plena decadência. Não queremos esquemas underground fechados, porque é hora de abertura, é hora de você abrir o jogo. (...) Eu faço música comercial. Botei oitenta e cinco músicas na parada de sucesso e quero continuar botando. Nunca parar. Tá legal?”.

Seu objetivo de comunicar sem rodeios é confirmado já na primeira faixa do disco, “Super Heróis”. Depois da introdução rock’n’roll clássica, com a guitarra do fiel escudeiro Rick Ferreira, Raul abre alas decretando feriado em plena segunda-feira e trazendo, num tom algo debochado, um desfile de ídolos pop daquele momento: o apresentador Silvio Santos, o enxadrista Mequinho, o piloto Émerson Fittipaldi, o jogador Pelé.

“Medo da Chuva” contesta a ideia do casamento como algo inquebrável. “É pena/ Que você pense que eu sou seu escravo/ Dizendo que eu sou seu marido e não posso partir”, diz a letra. A ideia original era de que ela fosse gravada como uma canção sertaneja de maneira mais marcada, com as duas vozes da tradição caipira - Raul chegou a registrá-la assim. O produtor Marco Mazzola, porém, não aprovou.

Apontada por Raul na época como a sua favorita no disco, “As Aventuras de Raul Seixas na Cidade de Thor” combina rock’n’roll e raiz nordestina - num estilo que o cantor cravou como assinatura em “Let Me Sing, Let Me Sing”, apresentado no Festival Internacional da Canção, em 1972. Nos versos do repente, ele manda recados como “A arapuca está armada/ E não adianta de fora protestar/ Quando se quer entrar num buraco de rato/ De rato você tem que transar”.

Inspirada no poema cristão “Cantar da Alma que se Regozija de Conhecer a Deus pela Fé”, de São João da Cruz, “Água Viva” se sustenta sobre um belo arranjo de cordas - vale a menção às orquestrações do disco, assinadas por Miguel Cidras, que valorizam com bom gosto e personalidade todas as faixas em que estão presentes.

“Moleque Maravilhoso” nasceu de uma frase que Paulo Coelho viu num adesivo de para-choque nos Estados Unidos: “I don’t make little mistakes, I only make earthquake”. A frase é traduzida no primeiro verso da canção de arranjo à la Sinatra: “Eu nunca cometo pequenos erros/ Enquanto eu posso causar terremotos”. Para evitar problemas com a censura, o letrista inseriu a figura do título para tirar um tanto do tom de afronta da música: “Eu sou um moleque maravilhoso”.    

Pinçada do disco coletivo que Raul lançara em 1971 ao lado de Sérgio Sampaio, Edy Star e Miriam Batucada, “Sessão das 10” mergulha na linguagem do bolero brega seresteiro - dentro da veia paródica que o baiano exercitava tão bem. A história de amor dramática e derramada termina com a voz forçadamente embargada do cantor.

“Sociedade Alternativa” é o manifesto sobre o qual o disco se organiza. Trafegando entre o  nonsense (“Se eu quero e você quer/ Tomar banho de chapéu/ Discutir Carlos Gardel/ Ou esperar Papai Noel”) e o épico (o coro de “Viva a Sociedade Alternativa” repetido de forma marcial), a canção se tornou um dos símbolos de Raul. Mesmo com sua proposta de revolução em tempos de autoritarismo, ela ganhou clipe no programa “Fantástico”, da TV Globo, uma enorme e cobiçada vitrine. Em 2013, ela reafirmou sua força ao ser cantada por Bruce Springsteen no Rock in Rio.

Cruzando, numa linguagem oracular, memórias da infância e referências ao Apocalipse, “Trem das 7” fascina por sua linguagem interiorana, simples, que cresce na direção da imponência final. A ideia do bem e do mal de braços dados reflete a influência de Aleister Crowley sobre aquela fase do cantor. A letra traz também referência a uma nova era cósmica, o “Novo Aeon” - termo que viria a batizar seu álbum seguinte.

“S.O.S” conversa com “Ouro de Tolo” em sua denúncia do vazio da existência da classe média, “lá por detrás da triste, linda Zona Sul”, e na atenção ao disco voador como símbolo de algo que está além dessa realidade limitada. Sua melodia traz semelhanças impressionantes com “Mr. Spaceman”, lançada pela banda americana The Byrds oito anos antes - o que não era raro na trajetória de Raul.

Vinheta de pouco mais de um minuto, “Prelúdio” versa sobre o sonho e o real a partir de uma estrutura que evoca a canção de ninar, repetindo a reflexão: “Sonho que se sonha só/ É só um sonho que se sonha só/ Sonho que se sonha junto é realidade”. Trata-se da adaptação de um texto atribuído erradamente a Miguel de Cervantes, supostamente numa fala de Dom Quixote.

Composta anos antes mas perfeitamente adequada ao espírito do disco, “Loteria da Babilônia” simula uma performance ao vivo - referência à apresentação que Raul fizera da canção no show Phono 73. A letra, inspirada num conto homônimo de Jorge Luis Borges, provoca o personagem a quem ela se dirige, que parece saber tanto e nada: “Você não tem perguntas pra fazer/ Porque só tem verdades pra dizer”.

Depois de “Gita”, faixa-título descrita na abertura deste texto, o álbum segue com “Um Som para Laio”. Canção menos lembrada do disco, ela fez parte da trilha sonora da novela “O Rebu”, encomendada à dupla Raul e Paulo - Laio era o personagem de Carlos Vereza na trama. A letra desafia o interlocutor: “Trago um par de fones nos ouvidos/ Pra não lhe escutar/ O que você tem pra dizer/ Ouvi há cem anos atrás”.

O álbum se encerra com um imperativo: “Não Pare na Pista”. Foi composta na mesma viagem ao sítio onde nasceu “Gita”, a partir das placas que Raul e Paulo viam na estrada. A mensagem é direta - ao Brasil de então e ao de hoje, aos ouvintes de então e de hoje. Não ficar parado enquanto a vida e o mundo seguem velozes. Aos 80 anos, ainda vale o chamado do canto de Raul nos versos finais: “Meu bem, me dê a mão/ Que eu vou te levar/ Sem carro e sem medo/ Pra outro lugar”.  


Lista de faixas de “Gita”:

Lado A
1 – "Super Heróis" (Raul Seixas / Paulo Coelho)
2 – "Medo da Chuva" (Paulo Coelho / Raul Seixas)
3 – "As Aventuras de Raul Seixas na Cidade de Thor" (Raul Seixas)
4 – "Água Viva" (Paulo Coelho)
5 – "Moleque Maravilhoso" (Raul Seixas / Paulo Coelho)
6 – "Sessão das 10" (Raul Seixas)


Lado B
1 – "Sociedade Alternativa" (Paulo Coelho / Raul Seixas)
2 – "O Trem das 7" (Raul Seixas)
3 – "S.O.S." (Raul Seixas)
4 – "Prelúdio" (Raul Seixas)
5 – "Loteria da Babilônia" (Raul Seixas / Paulo Coelho)
6 – "Gita" (Raul Seixas / Paulo Coelho)

.: "Gay HBO Max Song" de Trixie Mattel disponível nas plataformas de música


Atendendo a diversos pedidos dos fãs nas redes sociais, a HBO Max lançou a "Gay HBO Max Song", da superestrela drag e DJ Trixie Mattel, nas principais plataformas de streaming de música, para animar os dias e noites dos fãs quando quiserem.

Apresentada pela primeira vez durante o Mês do Orgulho, junto de seu videoclipe oficial, a faixa rapidamente tornou-se uma alegre celebração da comunidade LGBTQ+, com presença em diversos eventos ao redor do mundo.  O lançamento é uma homenagem à comunidade, e uma forma de manter viva a energia festiva para comemorar o Orgulho durante o ano inteiro.

quinta-feira, 17 de julho de 2025

.: Resenha: para a família, "Smurfs" tem colorido vibrante e ritmo acelerado

Por: Mary Ellen Farias dos Santos, editora do Resenhando.com

Em julho de 2025


Nova animação de colorido vibrante, musical, mesclada com cenas reais, "Smurfs" (2025), é um reboot divertido dos clássicos personagens azuis de gorro branco. Nas telas da "Cineflix Cinemas", a produção apresenta feiticeiros malvados, sendo que, desta vez o ataque capaz de capturar o Papai Smurf é feito não por Gargamel, mas seu irmão, Razamel. Tentando reverter tamanho abuso, os Smurfs embarcam em uma missão para o mundo real com o intuito de resgatá-lo. 

Assim, os pequeninhos deixam a Vila dos Smurfs e conseguem a ajuda de alguns novos amigos, como por exemplo Kenneth, chamado de Ken, irmão de Papai Smurf. Em meio a aventuras com outros Smurfs habitantes de um globo de discoteca, reviravoltas fazem os pequeninos descobrirem algo além, incluindo um deles que ainda desconhece seu dom e precisa ser batizado de um nome adequado. Assim, Sem Nome (Diego Martins) e o grupo esbarram em algo fantástico. 

Buscando se descobrir, estando em grupo numa missão maior, ao lado da líder Smurfette (Rihanna, dublada de Jennifer Nascimento de "Encanto", voz de Dolores Madrigal), feitiços explodem na tela e a verdadeira magia, usadas em união para um bem maior é o que, de fato, importa. Com uma trilha sonora impecável, no Brasil, garante o encontro vocal de Diego Martins e  Jennifer Nascimento, fazendo a magia acontecer na produção.

Com direção de Chris Miller ("O Poderoso Chefinho"), codireção de Matt Landon ("O Pequeno Príncipe") e roteiro de Pam Brady ("South Park: Maior, Melhor e Sem Cortes"), a produção entrega muito da essência dos "Smurfs", ao som da tradicional canção feliz e apresentação de todos os personagens, incluindo o "perdido" Sem Nome. Todavia, mesmo com uma mitologia aprofundada do universo dos seres azuis, o longa segue com tamanho ritmo que, por vezes, confunde o público. De toda forma, "Smurfs" é entretenimento para toda a família. Vale a pena conferir na telona Cineflix Cinemas.

O Resenhando.com é parceiro da rede Cineflix Cinemas desde 2021. Para acompanhar as novidades da Cineflix mais perto de você, acesse a programação completa da sua cidade no app ou site a partir deste link. No litoral de São Paulo, as estreias dos filmes acontecem no Cineflix Santos, que fica no Miramar Shopping, à rua Euclides da Cunha, 21, no Gonzaga. Consulta de programação e compra de ingressos neste link: https://vendaonline.cineflix.com.br/cinema/SAN



"Smurfs" ("Smurfs"). Ingressos on-line neste linkGênero: animação, infantil, musical, comédiaClassificação: livre. Duração: 1h32. Direção: Matt Landon, Chris Miller. Roteiro: Pam BradyElenco: Rihanna (Smurfette), Dan Levy, Natasha Lyonne, Kurt RussellSinopse: Feiticeiros malvados capturam o Papai Smurf e os Smurfs embarcam em uma missão para o mundo real para salvá-lo. Com a ajuda de alguns novos amigos, eles devem descobrir o que define seu destino para salvar o universo.. Confira os horários: neste link

Trailer "Smurfs"




Leia + 

.: "Os Smurfs e a Vila Perdida": A animação é um achado

.: Com Rihanna azul, "Os Smurfs" cantam alto em nova aventura musical

.: Temporadas clássicas de “Os Smurfs” nas plataformas digitais

.: Inesquecíveis: Desenhos dos anos 80 que marcaram a infância

.: "Encanto" é linda animação Disney de roteiro que não se sustenta

.: Crítica: com família insuportável e mocinha chata, "Encanto" decepciona

.: "O Poderoso Chefinho 2: Negócios da Família" e a vida de irmãos adultos

.: 30 motivos para não perder a megaexposição "Quadrinhos", no MIS SP

: Crítica: "M3gan" é terror que julga a dependência da tecnologia

.: "M3GAN 2.0", aguardada sequência do thriller, chega aos cinemas

.: Sotaque, sangue e subversão: a arte viva de Isabela Quilodrán


Por 
Helder Moraes Miranda, especial para o portal Resenhando.com. Foto: Django Sibley

Isabela Quilodrán não é apenas uma atriz em ascensão, mas uma autora do próprio destino. Ela não nasceu para os papéis secundários, tampouco para as molduras pré-fabricadas de uma indústria que ainda tenta, de tempos em tempos, definir quem pode ou não ser protagonista. É uma artista que nasceu em solo brasileiro, tem sangue chileno pulsando sob a pele e uma carreira que corta continentes como quem avança no palco com um monólogo incendiário.

Da Record TV às tábuas de Shakespeare, dos palcos independentes do Fringe Festival à selva burocrática dos festivais internacionais, Isabela Quilodrán não pede licença - ela acende as luzes e se posiciona no centro para falar. Com um sotaque que é misto de alma e resistência, carrega no corpo o traço de um tempo novo, em que a atriz também escreve, produz, dirige e, principalmente, ousa. E não é qualquer ousadia: é latino-americana, feminista, intensa e autoral - uma combinação explosiva que Hollywood ainda tenta decifrar com legendas em atraso.

Na entrevista a seguir, exclusiva para o portal Resenhando.com, Isabela fala sobre a trajetória entre o teatro clássico e o cinema de gênero, a solidão dos bastidores, o glamur nada glamuroso das premiações, os sustos e fantasmas que alimentam seus roteiros, e as ideias perigosas que costuma ter no silêncio das coxias. O tom é direto, reflexivo e, por vezes, desconcertante, assim como o talento dela.


Resenhando.com - Em uma Hollywood ainda viciada em estereótipos, como é carregar um nome latino de sonoridade poética e, ao mesmo tempo, recusar-se a interpretar a “doméstica caliente” ou a “traficante de coração mole”?
Isabela Quilodrán - Dá muito orgulho carregar esse nome justamente porque sempre se impressionam comigo. Sempre me perguntam de onde sou, porque nunca têm certeza. Brasileiro, na cabeça do estrangeiro, tem um visual muito diferente, então, quando me perguntam, eu explico a mistura com muito orgulho. Sobre os papéis, geralmente sou estereotipada como a "sexy", o que me incomoda. Porém, sei que isso sempre vai acontecer. Não recuso papel pelos estereótipos, recuso mais pela história: o que quero passar? Vai me desafiar? Isso é o que mais me move. Penso que, se me derem o espaço para brilhar, eu vou brilhar. E também vou atrás dos papéis que têm algo a dizer, para provar que sou mais do que o estereótipo em que me colocam.


Resenhando.com - Você estudou Shakespeare e Molière em inglês, mas cresceu ouvindo português e espanhol. Quando o palco exige de você intensidade, qual dessas línguas grita mais alto dentro de você?
Isabela Quilodrán - Português. Sempre português. Nossa língua é tão rica! Temos tantos ditados, gírias e palavras que só existem no português e que fazem tanto sentido... Então, quando me dá vontade de falar algo que vem das profundezas do meu ser, o português é o que grita mais alto.


Resenhando.com - Já que você atua, escreve e produz, diga com sinceridade: qual das três funções mais testa sua vaidade - e qual a salva dela?
Isabela Quilodrán - Produção é a que mais testa minha vaidade, com toda certeza! Parece até irônico, mas na produção lidamos com muita responsabilidade e poder - um produtor tem, muitas vezes, a decisão final. A que me salva dela é a atuação. Criar um personagem baseado no texto é uma mistura perfeita de caos e entrega. É se perder para renascer, e é o que me reconecta comigo mesma.


Resenhando.com - “Audition” e “Feast” têm tons sombrios e psicológicos. Você tem medo de quê - e como transforma isso em matéria-prima para o cinema?
Isabela Quilodrán - Nossa, acho que todo mundo tem muitos medos. Eu tenho fobia de aranhas. Poucas foram as vezes em que acessei esse medo para um personagem - eu evito trazer muito de mim para eles. Prefiro criar do zero e existir naquela vida imaginada, descobrindo dentro dela os medos e paixões.


Resenhando.com - Você já interpretou reis, loucos, fantasmas e mártires no palco. Mas e fora dele? Qual foi o papel mais difícil que a vida a forçou a improvisar?
Isabela Quilodrán - Fora dele, acho que o papel mais difícil ainda é ser você mesmo e tentar ser fiel às suas origens e à sua própria autenticidade. Um papel que a vida me forçou a improvisar é esse papel social. Sempre me vi muito dividida por ser brasileira e chilena. Sempre ouvi muitos comentários sobre como foi crescer numa casa com duas culturas semelhantes em muitos aspectos, mas também muito diferentes. Acredito que ainda luto muito com isso - minha família no Brasil não entende muito a do Chile, e vice-versa. Vivo no meio de dois mundos que, muitas vezes, colidem.


Resenhando.com - O circuito de festivais é uma vitrine ou uma selva? Já foi mordida por algum tapete vermelho?
Isabela Quilodrán - Festival é definitivamente uma vitrine. Uma vitrine selvagem. Pensa bem: você vai para um evento onde tem diretores, produtores, executivos, atores... é uma loucura só! E você se vê fazendo entrevistas, vendo gente conhecida ganhando espaço - é uma mistura de sensações incríveis. É um ótimo lugar para fazer networking e mostrar todo o seu carisma e potencial. Sim! Nossa, lembro de um evento em que eu estava me sentindo minúscula porque tinha tanta gente incrível que vi na TV e no cinema desde nova... Eu não conseguia acreditar que eu, lá do Brasil, estava no meio dessa galera. Nunca vou esquecer como foi ver Javier Bardem, Kevin Costner e Ebon Moss. Juro, até hoje fico boba!


Resenhando.com - Ao estudar na tradicional Stella Adler, você bebeu da fonte de ícones como Marlon Brando e Judy Garland. Há espaço, nesse olimpo, para uma atriz latino-americana com sotaque e cicatrizes?
Isabela Quilodrán - Nossa, tem muito espaço! A indústria está fazendo de tudo para mostrar esse espaço. Ainda é difícil, mas é muito possível, e eu parto do princípio de que nada é impossível. Eu coloquei na minha mente que vou levar o Brasil e o Chile para o mundo. E estou nessa missão até hoje - e seguirei até conseguir.


Resenhando.com - O que mais move você: a raiva contra o apagamento latino em Hollywood ou o desejo de ocupar a cena com outra narrativa possível?
Isabela Quilodrán - Raiva nunca me moveu. Meu desejo de ocupar a cena com a minha narrativa, com a visão de quem foi ganhando espaço aos poucos, é muito mais gostoso e interessante do que lutar contra algo que já aconteceu. Quem vive de passado é museu, e eu uso o conhecimento do passado que tenho para mostrar, para quem não sabe, como é ou como pode ser daqui para frente. Vamos mudar a mente dos outros para melhor, e juntos a gente faz história - uma nova história.


Resenhando.com - Se a sua trajetória fosse uma peça teatral, qual seria o título e quem você escalaria para interpretá-la em cena?
Isabela Quilodrán - Genial essa pergunta! Nunca pensei muito num nome... Talvez "Confissões de Uma Eterna Estrangeira". E eu interpretaria a mim mesma - não sei se vejo outra pessoa no meu lugar. Digo isso porque sempre busquei representatividade em atores, mas eles não representam exatamente quem eu sou ou de onde eu vim. Sinto falta de poder representar alguém como eu. Essa conversa é longa... São muitos pontos.


Resenhando.com - Você prefere o silêncio das coxias ou o ruído do set? E em qual deles você costuma ter as ideias mais perigosas?
Isabela Quilodrán - Para sempre, o silêncio das coxias. O palco é um lugar de muita entrega, tentativa e erro. A energia que a plateia emana... são muitas variáveis que eu amo e que me dão um prazer enorme. O set é bem divertido, mas não dá para brincar ou interagir tanto como num palco. Num set, você vem com uma ou duas escolhas e decide de acordo com o que o diretor quer. Gravou, é isso. No palco, às vezes, você está no meio de uma fala ou monólogo, tem um insight completamente diferente, descobre algo novo, faz a intenção levemente diferente ou se deixa influenciar pela energia que está recebendo da plateia. O diretor lapida o que tem que ser, mas você vive ele de formas diferentes em cada apresentação. A experiência é bem diferente.

← Postagens mais recentes Postagens mais antigas → Página inicial
Tecnologia do Blogger.