terça-feira, 11 de novembro de 2025

.: Crítica: "Sonhos" vai do drama ao erótico e dá choque de realidade

 
Cena de "Sonhos", em cartaz na Cineflix Cinemas de Santos


Por: Mary Ellen Farias dos Santos, editora do Resenhando.com

Em outubro de 2025


O drama erótico "Sonhos", estrelado por Jessica Chastain ("Histórias Cruzadas"), começa com muito suspense parecendo caminhar para uma denúncia, porém ao longo de 1 hora e 35 minutos de duração, vai além ao entregar uma história sobre as diferenças de classes. A produção dirigida pelo mexicano Michel Franco ("Depois de Lúcia") apresenta a história da solteira e influente socialite de São Francisco, Jennifer (Jessica Chastain) e sua ligação profunda com Fernando (Isaac Hernández), jovem que sonha em crescer longe de seu país latino, mas entre o povo americano, como bailarino.

Sua vida de aparências cuidadosamente mantida para todos, incluindo o pai e o irmão, acaba entrando em colapso quando seu affair sai debaixo das asas dela, ou melhor, tenta a vida dos sonhos, sem que ela resolva tudo ao bel prazer. Jovem, cheio de amor pela madame e embebido pela esperança de um recomeço, Fernando se arrisca ao atravessar a fronteira clandestinamente.

Em um país que não aceita tão bem outros povos, principalmente um latino, Fernando ultrapassa os limites que desestabilizam o mundo poderoso e recheado de dinheiro de Jennifer. É quando ele se mostra mais forte do que ela, para manter a normalidade diante dos outros olhares, a ricaça somente aguarda a oportunidade certa para revelar seu lado mais sombrio no romance. Assim, "Sonhosvai do drama ao erótico e dá choque de realidade .

"Sonhos". (Dreams). Direção: Michel Franco. Gênero: Drama, Erótico, Romance. Duração: 1h e 35min. Ficha técnica. Roteiro: Michel Franco. Produção: Michel Franco, Eréndira Núñez Larios, Alexander Rodnyansky. Elenco: Jessica Chastain, Isaac Hernández, Rupert Friend. Sinopse: O filme acompanha o romance entre Fernando (Isaac Hernández), um bailarino mexicano, e Jennifer (Jessica Chastain), uma socialite americana. O drama se desenvolve a partir da diferença socioeconômica e da tentativa de Fernando de atravessar a fronteira ilegalmente para ficar com ela. 


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Trailer de "Sonhos"




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Em entrevista, atriz revela sensação de gravar com Wagner Moura e compartilha experiências em diferentes papéis. Foto: divulgação


Em mais um episódio do quadro “No Cinema” do canal Os Nordestinos Pelo Mundo, o host Leo Paiva recebeu a atriz e roteirista potiguar Alice Carvalho para um bate-papo que revisitou sua trajetória, marcada por resistência e propósito, desde a produção independente até os holofotes do cinema internacional.

Alice falou abertamente sobre a evolução de sua arte e a importância da representatividade nordestina e LGBTQIAPN+ nas telas. O encontro, realizado durante o 35º Cine Ceará, cobriu as experiências da artista em produções que definem sua fase atual, como a aclamada série "Cangaço Novo" e sua emocionante participação no filme “O Agente Secreto”, de Kleber Mendonça Filho, exibido no Festival de Cannes.


“Eu me odiei”

Durante a conversa, Alice Carvalho compartilhou a surpresa ao rever seu trabalho na série da Amazon Prime Video. "A primeira vez que eu assisti o Cangaço Novo, eu me odiei," revelou, confessando que achou sua atuação "too much". No entanto, ela reconhece que o projeto marcou uma virada em sua carreira, inaugurando uma fase de "consciência de uma maneira de interpretar sem tipos, honesta e sincera”

“Eu naturalmente devo isso a uma aproximação com os estudos de Fátima Toledo, que foi a preparadora do Cangaço, instigando uma coisa que já existia em mim e outra que não existia, que era a coragem de colocar o feio e o belo que existia em mim à disposição do trabalho”, explica Alice.  


Trajetória

Considerada uma das atrizes mais marcantes da nova geração, Alice Carvalho é nordestina, natural de Natal, no Rio Grande do Norte. Sua trajetória artística começou no teatro e ganhou projeção no audiovisual como roteirista, diretora e protagonista de "Septo", a primeira websérie do estado, que abordava um relacionamento sáfico e se tornou um marco de representatividade. 

Atualmente, a atriz segue transformando o cinema e a televisão brasileira com papéis de destaque em produções como “Cangaço Novo”, a novela "Renascer" e o filme que representou o Brasil na corrida pelo Oscar, "O Agente Secreto". Seu trabalho é reconhecido pela entrega visceral e pela forte conexão com temas de origem, arte, coragem e representatividade, levando o talento potiguar para o centro do debate nacional.

Alice Carvalho também destacou a relevância de sua personagem em "Guerreiros do Sol", onde contracenou com Alinne Moraes, quando interpretou também um casal sáfico. Para Alice, essa experiência foi um fechamento de ciclo com seu trabalho em "Septo", sendo um momento de reencontro e de inspiração para outras obras que estão surgindo no país, gerando identificação do público com as personagens. 


O Agente Secreto

Sobre a rapidez e a força de sua participação em "O Agente Secreto", que emocionou o público em Cannes, Alice desmistificou a ideia de imersão de meses. "Eu não tive como estar imersa [no personagem] porque eu já estava imersa gravando com Irandhir, 14 cenas por dia. Eu não li o roteiro todo, pra você ter noção, eu li as minhas cenas”, disse Alice. 

A cena, gravada em um dia de folga, foi feita com base no nervosismo evocado pela situação e pela presença de Wagner Moura e Kleber Mendonça Filho, um exemplo de que, segundo a atriz, "não existe só um jeito de fazer". Ela atribuiu o sucesso da performance à confiança no diretor. “Foi uma das melhores direções que eu tive na minha vida. Eu realmente acho que o Wagner vai receber um grande reconhecimento por esse trabalho, mas isso não chega nem perto da pessoa que ele é”, conclui Alice Carvalho. 

A entrevista completa com Alice Carvalho do “Em Casa” já está disponível no YouTube e nas plataformas de áudio do "Os Nordestinos Pelo Mundo".


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segunda-feira, 10 de novembro de 2025

.: E.F. Goodman e Vlamir Belfante falam sobre capoeira e berimbau na música


Por Cláudia Brino, escritora, ativista cultural e editora da Costelas Felinas

Além do valor musical você encontrará nesta simbologia do berimbau uma imersão profunda desde as raízes afro-brasileiras até a presença inesperada em composições nacionais e internacionais.

"Capoeira e Berimbau na Música Brasileira" dos autores E.F. Goodman & Vlamir Belfante é uma obra que se destaca por seu rigor investigativo e sensibilidade cultural ao abordar um dos instrumentos mais emblemáticos da musicalidade brasileira. O livro oferece uma imersão profunda na trajetória do berimbau - desde suas raízes afro-brasileiras até sua presença inesperada e, muitas vezes, surpreendente em composições nacionais e internacionais.

O berimbau, tradicionalmente associado à capoeira, transcende aqui seu uso comum e se revela como uma ponte entre culturas, estilos e continentes. Os autores percorrem trilhas históricas para mostrar como esse instrumento de uma corda só conquistou espaço em gêneros como o jazz, a música eletrônica, o pop e o experimentalismo sonoro contemporâneo. A pesquisa apresentada no livro é sólida e bem documentada. A obra se apoia em registros sonoros.

Além do valor musical, o livro também destaca a simbologia do berimbau enquanto resistência cultural e espiritualidade. Em um país de herança africana tão forte, o instrumento carrega consigo a força de um legado que se renova a cada geração. Nesse sentido, a obra cumpre um papel fundamental ao preservar e difundir o conhecimento sobre esse ícone sonoro e cultural.

Publicações como essa, são fundamentais em um contexto em que muitas tradições sonoras correm o risco de desaparecer diante da globalização e da padronização estética. "Capoeira e Berimbau na Música Brasileira" reafirma a importância de olhar com atenção para nossos instrumentos, nossas histórias e nossas vozes - muitas vezes silenciadas - que ainda ressoam, com potência e beleza, por todo o mundo. Compre o livro neste link.


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sábado, 8 de novembro de 2025

.: "Carangueja", com Tereza Seiblitz, é teatro para desaprender a ser gente


Por 
Helder Moraes Miranda, jornalista e crítico de cultura, especial para o portal Resenhando.com
Foto: Renato Mangolin

Em tempos de Cop30, o espetáculo “Carangueja” exige que o público respire junto, afunde o pé na lama simbólica do mangue e aceite a metamorfose. Tereza Seiblitz - a Joaninha da novela "Renascer", a cigana Dara de "Explode Coração", a Bela B. de "Hilda Furacão" e uma das presenças mais hipnóticas da televisão dos anos 90 - retorna ao teatro como quem volta para o útero do mundo. Mas não é somente para representar a natureza ou as dores do planeta: o que acontece é um ritual, uma oferenda, uma ode ao verde e às raízes ancestrais.

Em “Carangueja”, o conceito de "religare" - essa ideia de reconexão, de religar o humano ao sagrado - não aparece como simples teoria, mas como experiência sensorial. A atriz cria uma simbiose real entre corpo e território. Ela é mulher-bioma, mulher-mangue, mulher-carangueja. E isso é lindo.

Ao longo dos 50 minutos de espetáculo, vozes surgem como se o público estivesse dentro da cabeça dessa criatura em transformação: receitas de moqueca, trechos de jornal, a locução de um aeroporto. Beckett sob sol equatorial. Sarah Kane em estado gestacional. Kafka banhado pelas marés do Piauí. Tudo isso soa absurdo - mas não é. Diante dos olhos do público, o palco se torna manguezal: um lugar onde o improvável nasce como coisa corriqueira.

E há um momento em que o espetáculo parece beber diretamente na estética do manguebeat. O manifesto de Chico Science dizia: “Um passo à frente e você não está mais no mesmo lugar.” No espetáculo, Tereza Seiblitz transforma essa frase em gesto. O corpo dela torna-se antena fincada na lama, conectando ancestralidade e futuro, tradição e invenção em função da mensagem. Se Chico Science convocava a mistura entre o regional e o tecnológico, Tereza responde com outra fusão: a do humano com a matéria viva. Ela faz do próprio corpo a maré que sobe e desce, operando o mesmo impulso de ruptura, não com guitarras e batidas, mas com respiração e argila.

Se em "A Metamorfose" Kafka oferece ao leitor um homem-inseto aprisionado pela burocracia doméstica, “Carangueja” devolve à transformação o sentido original da palavra: o do renascimento. Mas há algo além. O espetáculo parece dialogar com "Sapiens", de Yuval Harari, quando o autor afirma que a humanidade se afastou da natureza para dominar o mundo e, nesse gesto, perdeu algo essencial de si. Tereza devolve à metamorfose uma outra hipótese evolutiva: e se a salvação não estiver no topo da cadeia, mas na lama, naquilo que se rejeita?

Ao mesmo tempo, há algo profundamente clariceano em cena. Assim como em "A Paixão Segundo G.H.", em que uma mulher, diante de uma barata esmagada, atravessa uma experiência radical de despossessão do ego, “Carangueja” coloca o público diante de uma metamorfose que é filosófica, não zoológica. É o despir-se da linguagem humana até tocar o indizível. A argila que acaricia as mãos do público ecoa a massa branca que sufoca G.H.: matéria viva que obriga a pergunta inevitável - quem somos quando deixamos de ser o que pensamos que somos?

E, numa dobra inesperada, há também o horror corporal à la Cronenberg. Como no filme "A Mosca", de 1986, a transformação não é bonita nem limpa. É visceral e biológica. Mas ao contrário do cientista que vira mosca por obsessão com o controle, no espetáculo a mudança nasce do abandono do controle. A ciência em "A Mosca" desumaniza o homem; o ritual em “Carangueja” desumaniza para re-humanizar.

O espetáculo tem algo de laboratório vivo. Objetos se transmutam em cena: madeira vira raiz aérea, argila vira corpo primordial, tecido vira maré. O público molda argila, mexe com ela, e pode levar o resultado para casa - ou entregar à artista para que integre uma futura exposição. É uma coreografia de responsabilidade afetiva com a Terra: uma catequese sensorial.

Seiblitz, em uma atuação que transcende, parece entender que o teatro não é explicação. Há nessa atriz algo de sagrado sem ser sacro, de religioso sem ser devocional. A cada movimento, é como se dissesse: “é preciso desaprender a ser gente para voltar a ser vida. Desapegar-se de tudo para simplesmente ser”.

Nesse mangue cênico, o antropocentrismo, patriarcado e ego não resistem. Porque “Carangueja” é sobre abandonar a forma para reencontrar a essência, desapegar do controle para reaprender com a maré, deixar de lado o olhar humano para enxergar como bioma. É o que a vida precisa: menos personagem e mais organismo; menos discurso e mais respiração; menos representação e mais autenticidade. Um espetáculo que pode ser lido como a reinvenção de alguém ou a saga de um planeta tentando sobreviver à humanidade. Essa dúvida é o que torna “Carangueja” indispensável. É impossível sair sem desejar permanecer ali. Um espetáculo que lembra que salvar o planeta é instinto de sobrevivência.

Ficha técnica
Texto, idealização, atuação: Tereza Seiblitz
Direção: Fernanda Silva e Tereza Seiblitz
Direção de movimento: Denise Stutz
Figurino: Fernanda Silva, Tereza Seiblitz e Maria Adélia
Visagismo: Maria Adélia
Iluminação: Adriana Ortiz
Operação de som e luz: Kenny Roger
Fotos: Renato Mangolin
Instagram: Manuela Seiblitz @caranguejaespetaculo
Produção: Corpo Rastreado

Serviço
Duração: 50 minutos
Dias 8 de novembro. Sábado, às 20h00.
Auditório
Ingresso - R$40,00 / R$20,00 / R$12,00
A partir de 12 anos
Tradução em Libras na sessão.





sexta-feira, 7 de novembro de 2025

.: Crítica musical: Lô Borges... E o sol levou o trem azul


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural. Foto: divulgação

O Clube da Esquina perdeu um de seus fundadores esta semana. Com o falecimento de Lô Borges, encerra-se um dos capítulos mais importantes de nossa MPB. Lô tinha 73 anos e estava incrivelmente produtivo. Seja como artista solo, seja em trabalhos de parcerias com outros músicos, como Samuel Rosa e Tom Zé, só pra citar dois exemplos. Mas foi ao lado de Milton Nascimento que ele atingiu o topo da montanha ao gravar um dos álbuns mais influentes de nossa MPB em1972. O Clube da Esquina fez história pela força das canções e pelas vozes de Lô e Milton.

A sonoridade do trabalho de Lô no início dos anos 70 mesclava várias influências das coisas que ele ouvia naquela época. De Hendrix aos Beatles, ele conseguia unir tudo em sua música. São dessa época os seus primeiros discos em carreira solo: o "Lô Borges" (1972), conhecido como o disco do tênis, e "Via Láctea", que tem a célebre gravação da bela "Clube da Esquina nº 2", com a participação no vocal de Solange Borges.

Se por um lado os trabalhos mais recentes dele não tiveram o mesmo brilho dessa fase inicial,  por outro ele teve o mérito de se manter na ativa, lançando material inédito com frequência, ao invés de se acomodar nos antigos hits. Seu trabalho mais recente é o álbum "Chão de Giz", gravado em parceria com Zeca Baleiro. Certamente sua obra deixará uma marca na nossa MPB. Um selo de qualidade referendado até por Tom Jobim, que não só admirava a turma do Clube da Esquina como chegou a regravar Trem Azul do Lô nos anos 90.

"Trem Azul"

"Paisagem na Janela"

"Sonho Real"

.: Crítica musical: Banduo, uma viagem musical pelo bandolim


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural. Foto: divulgação

Banduo é um projeto dos bandolinistas Rafael Esteves e Maik Oliveira no qual exploram as possibilidades sonoras do bandolim. A iniciativa inclui o lançamento de um álbum instrumental inédito nas plataformas digitais, previsto para o início de 2026, com direção musical de Alisson Amador.

Nesse dueto, o virtuosismo de Rafael Esteves e Maik Oliveira é aplicado às possibilidades do bandolim, mesclando influências do choro e da música barroca em busca de sonoridades inovadoras e potentes. O repertório reúne composições autorais e arranjos do próprio duo, somados à contribuições de quatro arranjadores convidados: Alisson Amador, Milton de Mori, Marcílio Lopes e Edmilson Capelupi.

Maik Oliveira é bandolinista com mais de 20 anos de trajetória. Tocou com nomes como Inezita Barroso, Paulinho da Viola, Elton Medeiros, Nilze Carvalho, Eduardo Gudin, Sérgio Reis e Rolando Boldrin. Foi aluno de Jane do Bandolim, Edmilson Capelupi, Silvia Góes e Luizinho 7 Cordas. Atualmente tem seu trabalho solo Maik Oliveira e Regional e integra os grupos de Marina de la Riva e Paula Sanches.

Rafael Esteves é bandolinista, educador, compositor e arranjador. Venceu o Festival Jorge Assad com o Quarteto Pizindim, com o qual se apresenta em unidades do Sesc e outros circuitos culturais. Como solista, já atuou com a OCAM-USP e com grandes nomes da música brasileira como Dona Ivone Lara, Monarco, Almir Guineto e Péricles.

O Banduo - O bandolim e suas texturas é um projeto realizado com recursos do edital PNAB 24/2024 de Gravação e Lançamento de Álbum Musical Inéditos, com apoio da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB); do Programa de Ação Cultural - ProAC, da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Governo do Estado de São Paulo; e do Ministério da Cultura e do Governo Federal.

"Fuga n. 10 Bach"

.: #VivoLendo: "22 Clareiras e 1 Abismo", de Marcelo Ariel


Por Vieira Vivo, escritor e ativista cultural.

Falar não é ver
Escutar é ver

Ao mergulhar na transsubstanciação das trajetórias intrinsicamente antagônicas da dialética o livro “22 Clareiras e 1 Abismo” de Marcelo Ariel, publicado pela Editora Letra Selvagem, nos conduz, em um poema-ensaio filosófico, aos emaranhados do aperfeiçoamento do ser através da percepção e da espiritualidade dentro da experiência circular em que os pensamentos fluem ao gerar a materialidade dos entes palpáveis, fomentando a criação e a recriação daquilo que supomos concreto no âmago imaginário dos impulsos criativos.

Submerso neste universo racionalmente paradoxal as palavras movimentam-se no sentido de descaracterizar o discurso lógico dissecando o conceito de tese, antítese e síntese das configurações em que supostamente nos movemos. Essa constante movimentação através do nomadismo poético nos remete à nirvânica contemplação ativa e se faz sob a égide da transcendência dentro de nossa essência em meio à temporalidade ocasional de cada ser.

A leitura atenta nos remete à autossimilaridade de fractais onde cada fragmento do ser interage simetricamente com o todo num processo analítico ultra racional. Gregório de Matos em seu raciocínio pré-cartesiano nos alertava: “Se a parte faz o todo, sendo parte. Não se diga que é parte sendo todo”. Porém, Ariel nos leva muito mais além em sua metodologia, onde fica evidente que “a parte e o todo são o vazio na gênese de um outro plano”. Além disso, ao mentalizarmos o livro numa visão extremamente expandida verificamos que o abismo também comporta clareiras e em cada clareira vinte e dois abismos nos espreitam.



quinta-feira, 6 de novembro de 2025

.: Crítica: "O Agente Secreto" é filmaço imperdível com a cara do Brasil

Cena de "O Agente Secreto", em cartaz na Cineflix Cinemas de Santos


Por: Mary Ellen Farias dos Santos, editora do Resenhando.com

Em novembro de 2025


O filme nacional com a cara do Brasil, "O Agente Secreto", protagonizado por Wagner Moura é um completo deleite cinematográfico que dá orgulho das produções brasileiras, dos minutos iniciais ao último segundo de duração. Facilmente classificado como filmaço, dirigido por Kleber Mendonça Filho (Bacurau), a produção ambientada de forma ousada em Recife entrega uma rica trama capaz de estabelecer diversas conexões com o público.

Nos primeiros minutos, num Fusca amarelo, Marcelo (Wagner Moura) vê um corpo estendido no chão arenoso de um posto de estrada, coberto por um jornal. É esta cena que dita o rumo da história, servindo como que uma espécie de dica do que acontecerá com o professor especializado em tecnologia. Em viagem de fuga, ele é obrigado a enfrentar um passado conflituoso, ritmando um alucinante destino ao homem.

Para tanto, ele tenta se mudar para São Paulo e recomeçar a vida. Rendendo sequências tocantes como a em que ele reencontra o filho, grande fã do sucesso de cinemas da época, "Tubarão". O garoto que vai no banco de trás do carro, sentado justamente no meio do banco traseiro, apoia os braços nos bancos do motorista e carona, com um olhar cheio de encanto, compartilha sonhos com o pai. Linda sequência em que a relação pai e filho chega a parecer inabalável.

Em plena semana do Carnaval na quente e agitada capital pernambucana, Marcelo chega de modo clandestino, numa vizinhança cheia de segredos. Com ajuda, assume um posto de trabalho e passa a buscar informações da própria mãe. Contudo, a mira acaba direcionada para ele, passando a ser espionado, colocando a vida em risco, assim como os que lhe cercam.

No clima contínuo de pura tensão gerada de modo orgânico, o longa transborda brasilidade nas falas, trabalhando o lúdico de uma lenda, no caso, a da perna peluda que entra na história dentro de um tubarão. "O Agente Secreto" homenageia o cinema, não por somente fazer referência ao longa de Steven Spielberg, mas também por ter o espaço como cenário, uma vez que o sogro do protagonista, Alexandre, trabalha como projecionista de cinema.

Nada no longa sobra. Tudo se conecta com excelência. No gato com duas caras, batizado com dois nomes, há o retrato da ambiguidade da vida, destacando o certo e o errado. Afinal, Marcelo compra briga ao enfrentar grandões endinheirados e seus desmandos, o que coloca a vida de Marcelo de pernas para o ar. No entanto, "O Agente Secreto" vai além desta trama frenética da caça, pois nos dias atuais, apresenta duas jovens trabalhando na digitalização do conteúdo ocorrido nos anos 70.

Assim, leva para o cinema brasileiro a paixão atual pelo gênero crime real ("true crime"). Popular e capaz de gerar debates, ao inserir a temática em "O Agente Secreto", Kleber Mendonça Filho ainda lança provocações sobre as histórias vividas por gerações anteriores e seu legado, quando parte dela é apagada. Filmaço imperdível!


"O Agente Secreto". Gênero: thriller, drama. Diretor: Kleber Mendonça Filho. Elenco: Wagner Moura, ao lado de Maria Fernanda Cândido, Gabriel Leone. Sinopse: Em 1977, Marcelo trabalha como professor especializado em tecnologia. Ele decide fugir de seu passado violento e misterioso se mudando de São Paulo para Recife com a intenção de recomeçar sua vida. Marcelo chega na capital pernambucana em plena semana do Carnaval e percebe que atraiu para si todo o caos do qual ele sempre quis fugir. Para piorar a situação, ele começa a ser espionado pelos vizinhos. Inesperadamente, a cidade que ele acreditou que o acolheria ficou longe de ser o seu refúgio.


O Resenhando.com é parceiro da rede Cineflix Cinemas desde 2021. Para acompanhar as novidades da Cineflix mais perto de você, acesse a programação completa da sua cidade no app ou site a partir deste link. No litoral de São Paulo, as estreias dos filmes acontecem no Cineflix Santos, que fica no Miramar Shopping, à rua Euclides da Cunha, 21, no GonzagaConsulta de programação e compra de ingressos neste link: https://vendaonline.cineflix.com.br/cinema/SAN.

Trailer de "O Agente Secreto"



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.: Sarau Alvarenga celebra vida e poesia de Valdir Alvarenga em Santos

Por Helder Moraes Miranda, jornalista e crítico de cultura, especial para o portal Resenhando.comFoto: divulgação

Valdir Alvarenga foi um dos nomes fundamentais da poesia santista e da produção literária independente no país. Criador da Revista Mirante, manteve vivo o espírito coletivo da palavra, transformando o fazer poético em ato de resistência. A obra dele segue como testemunho de um tempo em que a literatura era feita na raça - com papel, paixão e teimosia. Levando em conta a trajetória pessoal e artística dele, nesta quarta-feira, dia 6 de novembro, a Biblioteca Mário Faria, no Posto 6, em Santos, no litoral de São Paulo, irá se tornar o cenário de um encontro literário em homenagem ao poeta, editor e ativista cultural Valdir Alvarenga

O evento, organizado por amigos e admiradores, pretende não apenas relembrar a obra do artista, mas reavivar o espírito de resistência e independência poética que sempre marcou a trajetória dele. A programação começa às 15h00, com um Varal de Poesia e uma minifeira de livros. Às 16h00, tem início o Sarau Alvarenga, que reunirá poetas e escritores convidados para leituras de poemas autorais e também de textos selecionados de Valdir Alvarenga, extraídos das obras "Pequeno Marginal", "Plenilúnio" e "Autógrafo", além das antologias do Grupo Picaré e da Revista Mirante, publicação que o poeta fundou e editou.

"Para o Valdir, a poesia era livre. Ele adorava se dedicar às letras e fazia a Revista Mirante com paixão. Eu pretendo continuar com a Mirante levando o seu legado! Valdir tinha seu jeito brincalhão, como ele dizia: 'minhas abobrinhas'. Ele era uma pessoa muito humana e amava os animais... Posso passar horas citando suas qualidades como pessoa e como poeta, mas deixarei isto para os leitores! Quinze anos juntos, uma eternidade que vai deixar saudade!", afirma a poeta Irene Estrela Bulhões, editora da Revista Mirante e viúva de Valdir Alvarenga.

Organizadora do sarau, a escritora, editora e ativista cultural Cláudia Brino fala sobre a importância de Valdir Alvarenga. "Organizar esse sarau em sua homenagem é reverenciar o poeta, editor, ativista cultural e amigo pessoal e, com isso, trazê-lo novamente ao nosso convívio literário". Segundo ela, a escolha dos poemas segue uma linha afetiva e temática: a visão pessoal e coerente de Valdir sobre o próprio percurso humano e artístico. Trata-se de revisitar a maneira singular da visão do poeta sobre sua própria vivência e trajetória pessoal, em que é possível ter, através de seus versos, a identificação do ser humano simples, amigo e sempre coerente ao seu universo poético.

Mais do que um tributo, o Sarau Alvarenga é um reencontro com a força da poesia como gesto de permanência. Escritor e organizador do sarau, Vieira Vivo reafirma a importância de Valdir Alvarenga na literatura. "Ler Valdir é entrar em contato com um olhar que não se conforma, que mistura o cotidiano, o sonho e o pensamento filosófico de forma simples e direta. Valdir não é apenas alguém que escreveu versos; ele construiu um movimento. Criou a Revista Mirante quando quase ninguém acreditava que poesia independente poderia resistir tanto tempo. E resistiu, resiste. Ler a obra dele significa reconhecer o valor da autonomia literária, da produção por conta própria, do editor-poeta que assume responsabilidades além de escrever", conclui.

Às 17h00, o grupo Cantos Literários apresenta um espetáculo literomusical em homenagem ao autor, seguido, às 18h00, da exibição do vídeo "Pescador de Palavras", um documentário sobre a literatura independente, que traz depoimentos de Valdir Alvarenga e de outros protagonistas desse movimento.

Serviço
Sarau Alvarenga - Homenagem ao Poeta Valdir Alvarenga
Quarta-feira, dia 29 de outubro de 2025
Biblioteca Mário Faria - Posto 6, Santos/SP
Av. Bartholomeu de Gusmão, S/N,° - Aparecida/Santos

Horários
15h00 - Varal de Poesia e minifeira de livros
16h00 às 17h00 - Sarau Alvarenga
17h00 - Espetáculo literomusical Cantos Literários
18h00 - Exibição do documentário Pescador de Palavras
Entrada gratuita

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