Por Mary Ellen Farias dos Santos*
Em janeiro de 2022
Lidar com o outro é sempre uma tarefa árdua. De fato, o ser humano é muito complicado. Quando o assunto envolve o mínimo valor que seja, muito pode mudar de figura. Tudo começou com o interesse na compra de um livro. Tendo dois perfis, fez a mesma abordagem de "dar desconto como primeira compra". Pensei: "Não tenho uma loja de departamento com tantas opções de escolha, mas tudo bem". Aceitei. Quando queremos nos desfazer do que está além em nossa casa, acabamos aceitando certas propostas.
Após a abordagem inicial, o comprador sumiu por mais de um mês até que no dia 22 de dezembro fechou a compra clicando na oferta de R$ 20,00. Mesmo o livro estando anunciado por R$ 30,00, lá fui eu tentar emitir a etiqueta. Sem sucesso, os sites dos Correios estavam fora do ar.
No dia 24, cedo meu marido foi procurar onde imprimir a etiqueta que foi emitida na noite anterior. Claro! O lugar estava fechado. Contudo, tínhamos um velório e enterro para ir. De qualquer forma, o pacote do livro tinha sido aprontado anteriormente, tendo junto do livro comprado, um outro de brinde.
Encontramos um lugar para a impressão e o pacote seguiu viagem.
No dia 30, o comprador puxou conversa no chat. Pois é! O vendedor tem a obrigação de responder ou recebe como punição a diminuição da porcentagem no espaço de atendimento como avaliação da loja. Logo, é preciso dar uma devolutiva a cada nova mensagem.
Após tantas perguntas que tentei responder enquanto limpava as minhas janelas de casa, por volta das 18 horas, no mesmo chat, o comprador alegou não ter recebido o livro, embora estivesse computado com encomenda entregue. Foi, então, que a história daquela "amizade repentina de chat" virou do avesso.
E eu que tinha enviado o livro apesar de toda a dificuldade para impressão da etiqueta, enfrentar um velório e enterro, além da fila nos Correios, no dia 24 de dezembro, passei a ser a culpada pelo comprador não ter recebido o produto. Sim! Fiquei como a responsável pelo não recebimento do produto que constava como entregue.
Assim que li a justificativa de que a culpa de não ter recebido o tal livro era minha, enviei foto do comprovante de postagem com a observação: "Comprador iniciou conversa no chat dizendo estar sofrendo problemas de entrega com a Shoppe. Após longa conversa, entrou com o pedido de reembolso alegando não ter recebido o livro que foi com brinde."
Não satisfeita, voltou ao chat para me intimidar, inclusive usou outro perfil na plataforma de vendas. Contudo, assinalou a opção de recebimento do livro para deixar a seguinte avaliação com uma estrela: "Só pra deixar bem claro que estou saindo no prejuízo, pois confirmei o recebimento sem de fato receber o produto, não que isso seja culpa da vendedora mas a contestação dela foi totalmente sem fundamento, e ainda com insinuações a meu respeito que me magoaram demais, mas fica o aprendizado."
Ao ler isso, não há como ficar intrigado por toda a narrativa em que fui envolvida. Qual o intuito de forçar conversa no período da tarde e pedir por vezes meu número alegando que deixaria de usar a plataforma de vendas? Claro que não passei. Do contrário, minha lojinha seria banida dali. Por que assinalou ter recebido já que não o fora entregue?
Eis que respondi: "um livro novinho anunciado por R$ 30.00, feito a R$ 20.00 para ter 18% descontado, enviado na véspera de Natal, saindo de um velório e enterro, paguei a impressão da etiqueta para logo mandá-lo e seguiu viagem com brinde. Eis que fui tratada no nível do comentário acima.
Assustador é que a mesma passou a tarde escrevendo no chat, mostrando preocupação com a não chegada das compras que faz na plataforma, alegando que deixaria de usá-la. O que a fez insistir na troca de números de telefones, ação proibida em plataformas de vendas.
Não se culpa o vendedor por não envio ou o ameaça, inclusive por meio de outro perfil, quando um produto consta como entregue, sendo que você não o recebeu. É preciso buscar quem assinou pelo recebimento, nos Correios, para que quando tiver o produto em mãos possa, de fato, confirmar o recebimento dele.
Basta ver meu histórico de vendas, nunca fui de destratar ninguém. Esse não é o meu modo de agir.
Sou compradora. Aliás, muuuuuuito mais compradora do que vendedora nessa plataforma, portanto entendo muito bem o lado do comprador.
Situação descabida, mas é vida que segue."
A verdade é que paguei R$ 2,00 pela impressão da etiqueta, logo esses foram os R$ 16,86 mais infernais da minha vida. Contudo, não deixarei de anunciar na minha lojinha, ainda que, mesmo enviando os prints das abordagens para a Shopee, incluindo a forçação para eu dar o número, nenhuma atitudade foi tomada.
No fim, é preciso contar que do outro lado tenham sempre boas pessoas.
*Mary Ellen Farias dos Santos é criadora e editora do portal cultural Resenhando.com. É formada em Comunicação Social - Jornalismo, pós-graduada em Literatura e licenciada em Letras pela UniSantos - Universidade Católica de Santos. Twitter: @maryellenfsm