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sexta-feira, 21 de julho de 2023

.: Entrevista: a bossa de Menescal com Ricardo Bacelar e Diogo Monzo

Por Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

Já imaginou produzir e tocar em um disco homenageando a obra de um ídolo, e contar com o próprio na gravação e elaboração do mesmo? Pois foi o que aconteceu com Ricardo Bacelar e Diogo Monzo, que revisitaram a obra de Roberto Menescal, um dos principais nomes da Bossa Nova nos anos 50 e 60. E o homenageado além de tocar o seu inconfundível violão, ainda soltou a voz pela primeira vez em disco em duas composições: "O Barquinho" e "Ah Se Eu Pudesse". 

Em entrevista para o Resenhando.com, o músico Ricardo Bacelar explica como se deu essa produção do disco intitulado "Nós e o Mar" e revela detalhes de sua trajetória na música, que inclui passagem pela banda Hanoi Hanoi nos anos 80 e trabalhos em parceria com nomes como Tonho Horta. “A música que me interessa é sempre a próxima que vou fazer ou tocar”.


Resenhando.com – Como foi tocar a música de Menescal ao lado do próprio?
Ricardo Bacelar –
Foi um privilégio enorme. Mas ao mesmo tempo foi algo tranquilo e natural. Ele é uma pessoa que eu já conhecia e que conhece o meu trabalho. Deixou-nos muito a vontade para produzir. Ele toca um violâo que tem um som inconfundível. Na Bossa Nova você não pode mudar muito os arranjos. Mas, ao mesmo tempo, ela tem possibilidades de algumas texturas sonoras que podem ser inseridas. Acabamos deixando a obra dele com um ar contemporâneo. Foi muito emocionante ouvir o resultado final


Resenhando.com – E coincidiu com os 85 anos que ele completará em outubro.
Ricardo Bacelar – 
Isso tornou o disco ainda mais especial. Trata-se de uma obra muito rica. Toda vez que revisitamos ela, encontramos novas texturas e possibilidades. Porque ela permite que o músico abra horizontes de várias formas.


Resenhando.com – Fale mais sobre essa produção, "Nós e o Mar".
Ricardo Bacelar – 
Uma coisa bem significativa foi o fato de o Menescal ter cantado duas canções, pela primeira vez, em disco. Segundo ele próprio, isso só tinha acontecido uma única vez nos anos 60, no antológico show do Carnegie Hall, em Nova York. Mas posso citar a participação da Leila Pinheiro que canta divinamente "Bye Bye Brasil", cujo arranjo foi sugerido pelo Menescal. A ideia inicial era um disco instrumental. Mas acabamos agregando vocais em algumas faixas e creio que acabou ficando muito bom. Ouvir o violão do Menescal é mais que uma benção. É uma aula prática de como tocar bossa nova em sua essência.


Resenhando.com – Você também integrou a formação da banda Hanoi Hanoi nos anos 80. Cmo foi essa experiência?
Ricardo Bacelar – 
Integrei a banda por 12 anos. Foi muito gratificante. A banda era liderada pelo Artnaldo Brandão, que tocou o Caetano Veloso. Naquele período chegou a emplacar hits nas paradas, como Totalmente Demais, que foi até tema de novela da Rede Globo.


Resenhando.com – Seu trabalho como artista solo é bastante eclético, com parcerias de nomes como a Delia Fischer. Você prefere a música instrumental ou cantada?
Ricardo Bacelar – 
Eu sigo aquele mantra que o Egberto Gismonti costuma dizer: a música que me interessa é sempre a próxima que vou elaborar ou tocar. Gosto da ideia de estar sempre em movimento. Como sou um multi-instrumentista, sempre acabo tendo ideias novas para a produção, arranjo, etc.


Resenhando.com - Falando da Delia Fischer, o trabalho que vocês fizeram com canções de Gilberto Gil foi outro momento marcante.
Ricardo Bacelar – 
E que também coincidiu com as comemorações dos 80 anos dele. Tivemos a honra de contar com ele nos vocais de Andar com Fé e Prece. Essa última inclusive acabou emocionando o Gil. A Délia é outra intérprete incrível.

Resenhando.com – Como você vê o uso de recursos como o da Inteligência Artificial na música?
Ricardo Bacelar – 
Vejo com reservas. A música não pode se tornar um mero algorítmo, uma ciência exata e fria. Para se ter uma canção ainda é preciso uma boa dose de inspiração e sensibilidade. Ou seja, coisas que a IA não é capaz de oferecer. Mas se ela for usada como algo para agregar na música, será sempre bem-vinda.

Resenhando.com – Como estão os planos para divulgação desse trabalho mais recente?
Ricardo Bacelar – 
Neste primeiro momento vamos fazer a divulgação do disco e nas plaformas de streaming. Mas gostaria muito de levar esse trabalho para o palco. Por conta da obra do Menescal, acreditamos que, além do Brasil, possamos levar uma eventual turnê para o Japão e a Europa. Em países onde a bossa nova ainda é admirada pelos amantes da boa música.

 "O Barquinho"

"Bye Bye Brasil"

 "Copacabana de Sempre"

sexta-feira, 14 de julho de 2023

.: Entrevista: Barbara Rocha, mineira para inglês ver, ouvir e curtir


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

Nascida no interior de Minas Gerais, Barbara Rocha veio em 2010 para São Paulo, onde deu seus primeiros passos na música, tocando em bandas. E surpreendentemente escolheu um caminho incomum: compor e cantar composições autorais em inglês, explorando uma sonoridade que oscila entre o indie rock e o pop mainstream contemporâneo.

Em pouco tempo já conseguiu se projetar lançando dez singles, dois EPs e um videoclipe no YouTube, além de encontrar espaço na Rádio Kiss FM no ano passado, que divulgou um de seus singles. Em entrevista para o Resenhando.com, Barbara conta como se deu o seu processo de início na música e disse confiar no que o futuro reserva para ela: “Eu acredito muito que as minhas composições possam encontrar seu espaço no exterior”.


Resenhando.com - Conte como foi o seu início na música
Barbara Rocha -
Fui apresentada aos 10 anos de idade às minhas futuras grandes paixões: o violão e a língua inglesa. Cantava canções de bandas como Roxette. Em 2009 compus minha primeira canção em inglês, o que acabou me estimulando a seguir por esse caminho. Nessa época cantava com a banda BEJAMZ, cujo nome era simplesmente as iniciais dos integrantes. Cantávamos covers de vários grupos, como Bon Jovi, Beatles, Queen entre outros. A partir de 2014, passei a focar no meu trabalho autoral.


Resenhando.com - E não houve receio de explorar sua produção autoral em outro idioma?
Barbara Rocha - 
Eu nunca tive receio de seguir nesse caminho. Sempre acreditei no material que consegui produzir.  Cantar em inglês abre portas para o mercado internacional da música, porque as mensagens das músicas serão transmitidas em um idioma que o mundo todo consegue compreender.

Resenhando.com - Seu single mais recente, "Get Loud", explora o luto como tema. Por que optou por esse tema?
Barbara Rocha -
É curioso porque as canções que mais gosto são aquelas relacionadas com algum tipo de perda ou desilusão. Get Loud vai fazer parte do EP Seven, que lançarei em breve. Ela resume o espírito de libertação das correntes do passado abraçando um novo começo. Sua energia, sua melodia contagiante e letra deixa os ouvintes inspirados e prontos para protestar contra injustiças que atormentam o nosso mundo.


Resenhando.com - Em quem você se inspirou na música?
Barbara Rocha -
Tive muitas bandas como influência, mas tenho como referência mais forte a cantora Pink, que tem um tipo de sonoridade que gosto muito.


Resenhando.com - E como você tem procurado divulgar esse novo trabalho?
Barbara Rocha -
Tenho participado de festivais e eventos. E estou preparando o show de divulgação do novo EP Seven. Teremos uma banda de apoio para apresentar as composições autorais. E vou continuar explorando as plataformas de streaming e o YouTube como canal de divulgação.

"Get Loud"

"Don´t Bother Me"

sábado, 8 de julho de 2023

.: Entrevista: Ian Ramil mantém pulsando a veia artística da família


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural. Fotos: Carine Wallauer.

Filho do músico Vitor Ramil e sobrinho da dupla Kleiton e Kledir, Ian Ramil dá sequência a sua carreira na música com seu terceiro disco, intitulado "Tetein", inspirado no nascimento de sua primeira filha, Nina. O trabalho foge um pouco da característica e sonoridade dos dois primeiros trabalhos, ao mesmo tempo em que aponta novos horizontes para o jovem músico gaúcho, que já conquistou um Grammy Latino (com seu segundo disco, "Derivacivilização"). Em entrevista para o Resenhando.com, Ian Ramil conta como se deu o processo de produção desse novo trabalho e a sua relação com os demais familiares músicos. “A Música sempre fez parte da minha vida”.


Resenhando.com – Esse seu terceiro disco tem uma sonoridade singular, inspirada no nascimento de sua filha. E foge um pouco do tipo de sonoridade explorada nos álbuns anteriores. Não. Houve receio de explorar esse caminho?
Ian Ramil –
Não tive qualquer receio. Na verdade, o meu primeiro disco já tinha algumas canções mais leves, que exploravam um som mais acústico.  Estava interessado em não ter bateria e guitarra, fugir do ruído, algo muito presente no meu disco anterior ("Derivacivilização"). Procurei um universo mais delicado. Isso foi o que me norteou desde sempre. Mas não tive qualquer tipo de medo de seguir por esse caminho.

Resenhando.com – Como foi seu início na música?
Ian Ramil –
Venho de uma família essencialmente musical. Meu pai, Vitor Ramil, e meus tios Kleiton e Kledir já atuam desde os anos 70 e 80 na música. Sempre tinha um violão em casa dando sopa. Fui aprendendo tendo sempre um contato bem legal com eles, que sempre me aconselham e dão toques importantes. Eu comecei a tocar e compor profissionalmente meio tarde, aos 24 anos. Fiz teatro e atuei em algumas pelas e produções na TV. Até chegar no meu primeiro disco.

Resenhando.com – O Rio Grande do Sul já lançou várias bandas com relativo sucesso. Como está hoje o mercado cultural nessa região?
Ian Ramil –
Infelizmente enfrentamos recentemente um período muito complicado na área cultural, com poucos investimentos por parte do governo. Continuamos lançando novos talentos no Sul, mas as oportunidades para divulgação cessaram de forma brusca. Nos anos 80 o mercado era capitaneado pelas gravadoras, que investiam no artista e na sua divulgação. Hoje em dia ficou bem mais difícil. Mas acredito que esse panorama possa mudar.

Resenhando.com – Mas alguns dizem que ficou mais fácil produzir um disco.
Ian Ramil –
De uma certa forma, a internet democratizou um pouco o acesso a música e a divulgação dos trabalhos. O problema é que se perdeu um norte que tínhamos para divulgar novos trabalhos. Se os governos oferecerem condições para que nós possamos divulgar, ficaria muito mais fácil para o artista e para o público ter acesso aos nossos trabalhos

Resenhando.com – Como foi conquistar o Grammy Latino?
Ian Ramil –
Foi uma loucura. O segundo disco ("Derivacivilização") foi lançado de forma independente. Foi gravado praticamente em casa. Aí o pessoal do selo resolveu inscrever o disco no Grammy. E surpreendentemente ele recebeu o prêmio. Foi algo inesperado. Mas serviu de estímulo para desenvolver a carreira na música.

Resenhando.com – Você prefere compor sozinho ou é aberto para fazer parcerias na música?
Ian Ramil –
Eu sempre estou aberto para estabelecer parcerias. No "Tetein" tem parcerias com Luiz Gabriel Lopes ("O Mundo É Meu País"), Poty ("Lego Efeito Manada" e "Homem-bomba") e Juliana Cortes ("Macho-rey"). Tenho coisas autorais, mas não me importo em trabalhar com algum outro parceiro ou parceira que se identifique com o tipo de trabalho que desenvolvo.

Resenhando.com – Quais são seus planos para shows?
Ian Ramil 
 O lançamento de "Tetein" nos palcos será no dia 3 de agosto, no Theatro São Pedro, em Porto Alegre. No show estarei acompanhado de Pedro Petracco (voz, controladores, pads e percussões) e Bruno Vargas (voz, baixo, controladores), entre outras participações. Temos intenção de levar esse trabalho para outros estados. E quero ver se consigo convidar músicos das cidades em que for me apresentar. Seria uma troca de experiência muito interessante.

"O Bichinho"

"Macho-Rey"

"Tetein"



domingo, 2 de julho de 2023

.: Entrevista: o veneno musical de Cida Moreira vai te conquistar


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

Com mais de 40 anos de carreira, Cida Moreira se destacou com uma proposta artística arrojada e original no meio musical. Seu tipo de interpretação, que lembra o chamado estilo vaudeville dos cabarés dos anos 20 e 30, consegue se adaptar perfeitamente nas canções das mais variadas épocas, formando uma interessante espécie de caleidoscópio musical. Mas engana-se quem pensa que ela começou mais tarde na música. 

Quando tinha sete anos já cantava na rádio e estava aprendendo a tocar piano. E nunca mais parou. Teve formação no teatro e integrou o elenco da primeira montagem da peça Ópera do Malandro de Chico Buarque. Atualmente segue divulgando o show "Um Copo de Veneno", baseado no CD e na série homônima do Canal Brasil. Em entrevista ao Resenhando.com, Cida fala sobre o tempo presente, alicerçado nas influências recebidas no passado. “Eu acredito que a música brasileira está sempre se renovando”.

Resenhando.com - "Copo de Veneno" traz uma mescla de canções que mostra a sua versatilidade. Como foi essa experiência?
Cida Moreira -
Lá se vão mais de 40 anos de carreira. Então, era natural mostrar o que essa trajetória me fez como artista na música. Esse show tem como base a série "Copo de Veneno" do Canal Brasil, que também virou um CD e tem um repertório bem eclético, mesclando coisas antigas com outras mais contemporâneas. A recepção do público tem sido bastante positiva nos shows.

Resenhando.com - O que o público pode esperar nesse show?
Cida Moreira -
O programa traz sucessos da MPB e da música internacional como “Você Me Vira a Cabeça”, gravado por Alcione, e “Private Dancer”, obra marcante na carreira solo de Tina Turner, além de versão inédita do hit “Eu Sou a Diva que Você quer Copiar”, de Vanessa Popozuda. Há músicas com temáticas contemporâneas como “A Bala” (sobre a cultura armamentista), do premiado Calle 13 (de Porto Rico), “Efêmera”, de Tulipa Ruiz, e “O Verbo e a Verba”, de Lenine e Lula Queiroga. Inclui outras canções como “A Última Sessão de Música” (Milton Nascimento), “Singapura” (Eduardo Dussek), “Perfeição” (Renato Russo) e “Não Leve Flores” (Belchior).

Resenhando.com -  Você tem se adaptado ao formato das plataformas digitais?
Cida Moreira -
Eu não sou uma pessoa saudosista, que tem saudade da época do disco de vinil. Eu me adaptei ao formato de plataforma como tantos outros. As grandes gravadoras praticamente desapareceram. Essas plataformas oferecem música dos mais variados tipos ou estilos. Migrei para ela como tantos outros artistas novos ou antigos. Acho que é uma tendência atual que acabou se consolidando nos últimos anos.

Resenhando.com - Na sua formação inicial, quais foram suas referências na música?
Cida Moreira -
Foram as grandes cantoras da era do rádio. Angela Maria, Dalva de Oliveira e tantas outras com suas interpretações maravilhosas. Para mim foi uma escola ouvi-las na rádio ou nos discos.

Resenhando.com - Seu estilo de interpretar é bem peculiar. A formação teatral influenciou nisso?
Cida Moreira -
Com toda certeza. Eu já era atriz antes de começar a cantar profissionalmente. Mas busco cantar sempre aquilo que acredito ter uma sinceridade. Eu não sou compositora. O que quero e procuro fazer é interpretar a canção da melhor forma possível, sempre.

Resenhando.com - Como você avalia o atual momento para a música?
Cida Moreira - 
Eu tenho visto surgir uma nova safra de ótimos músicos no Brasil, com trabalhos consistentes e interessantes. Nomes como Thiago Pethit, por exemplo, estão mostrando porque vieram e conquistaram seu espaço na MPB, que vem sempre se renovando com esses talentos.

"Private Dancer"

"Você me Vira a Cabeça"

"Singapura"


sexta-feira, 23 de junho de 2023

.: Entrevista: Danilo Caymmi relança primeiro álbum da carreira solo


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

Músico e compositor Danilo Caymmi carrega no DNA a arte da música. Filho do lendário Dorival Caymmi e da cantora Stella Maris, ele construiu uma carreira sólida na música, juntamente com os irmãos Dori e Nana Caymmi, além de compor canções considerados clássicos da MPB, como "Andança" e "Casaco Marrom". Atualmente está divulgando o relançamento do disco "Cheiro Verde", que marcou a sua estreia na carreira solo em 1977. Em entrevista para o Resenhando.com, ele conta detalhes dessa sua estreia e comenta alguns planos. “Os shows ao vivo são a melhor coisa da vida, me realizo por completo”.


Resenhando.com - Fale sobre a experiência desse álbum de estreia, "Cheiro Verde". Por que você preferiu lançá-lo de forma independente?
Danilo Caymmi - 
Foi uma experiência maravilhosa. Optei pelo modelo independente por uma questão puramente estética. Ao finalizar o disco, percebi que não se encaixava nos padrões comerciais das grandes gravadoras. Naquela época, o músico Antonio Adolfo tinha lançado o seu disco independente, o "Feito em Casa", com êxito. Isso abriu portas para um novo segmento não só para mim, como para outros artistas. O grupo Boca Livre, por exemplo, também lançou seus dois primeiros discos dessa forma. E ainda atingiram uma vendagem muito boa.


Resenhando.com - Para esse disco você se cercou de músicos experimentados. Como foi possível isso?
Danilo Caymmi -
Eu tive a sorte de conhecer muitos craques da música. A começar por Milton Nascimento na faixa “Lua do Meio-Dia”. Além dele, teve Nelson Angelo (guitarra), Novelli e Fernando Leporace (baixo), Airto Moreira, Gegê e Pascoal Meirelles (bateria), Cristóvão Bastos e Helvius Vilela (piano), Maurício Maestro (violão) e Edson Maciel (trombone). Eu toco flauta, violão e os vocais.


Resenhando.com - É verdade que o disco virou cult no exterior?
Danilo Caymmi -
Em 2002, ele ganhou edição internacional. A Ana Terra, que ajudou a produzir e foi parceira em várias canções, licenciou, por intermédio de Durval Ferreira, uma tiragem na Inglaterra para o selo “WhatMusic”, em formato vinil e CD, já que “Cheiro Verde” havia se tornado “cult” na Europa. Mas ainda não havia sido distribuído no Brasil.


Resenhando.com - Você fez parte da banda de apoio de Tom Jobim e foi bastante requisitado também para gravações em estúdio. Você prefere o palco ou a calma do estúdio?
Danilo Caymmi -
 Eu me sinto à vontade nos dois casos. Mas arrisco dizer que o palco é a razão de minha existência. Eu realmente amo estar com uma banda tocando ao vivo. No estúdio costumo ser rápido nas sessões de gravação.

Resenhando.com - Durante a sua carreira você fez trilhas de produções de TV, como novelas. Há planos para voltar a produzir algo dessa forma?
Danilo Caymmi -
Estou sempre aberto para futuros projetos nessa linha. Até hoje me falam com carinho das canções da minissérie "Riacho Doce" (baseada no romance de José Lins do Rego). É recompensador ver que o trabalho rendeu frutos dessa forma.


Resenhando.com - E quais são seus planos para o presente?
Danilo Caymmi -
Estou finalizando um projeto que reunirá canções clássicas que vivenciei nos anos 60 e 70. Tem “Pra Não Dizer que Não Falei das Flores” do Geraldo Vandré e “Eu e a Brisa” do Johnny Alf. São canções daquela atmosfera dos festivais. Além é claro de “Andança”, parceria minha com Edmundo Souto e Paulinho Tapajós. E continuar divulgando o "Cheiro Verde" para o público. 

Ouça o álbum "Cheiro Verde" neste link.

 

"Mineiro"

 "Pé Sem Cabeça"

 "Lua do Meio-dia"

sexta-feira, 16 de junho de 2023

.: Chris Standring comemora 25 anos de carreira com dois discos


Por Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.


O músico britânico Chris Standring, um dos nomes emergentes do jazz, está comemorando 25 anos de carreira com dois lançamentos. Um disco de canções inéditas (Simple Things) e uma coletânea de suas canções mais populares remixadas especialmente para a ocasião (The Lovers Remix Collection).

Para quem ainda não conhece, Chris Standring é chamado por alguns do meio musical como o homem do soul jazz. Sua música se insere no segmento smooth jazz com influências da música pop contemporânea. Seu estilo refinado lembra um pouco o som que George Benson fazia quando tocava música instrumental. Mas é possível notar outras influências em seu trabalho, como Joe Pass por exemplo.

No CD "Simple Things", Standring reflete sobre sua experiência recente (ele teve problemas cardíacos em 2021) e sua nova e íntima consciência da fragilidade da vida. “Todos nós já ouvimos clichês como quem sabe o que o amanhã pode trazer e não se esqueça de parar e cheirar as rosas, mas geralmente não levamos esses velhos aforismos a sério. De repente, ficar cara a cara com minha própria mortalidade me fez pensar sobre o que é realmente importante para mim e como quero viver meu terceiro ato”, relata o músico. Em última análise, a resposta se resumia a apenas algumas coisas básicas - passar tempo com os entes queridos, estar presente no momento e fazer as coisas com alegria.

De fato, o tema de "Simple Things" é alegria, positividade, esperança e um pouco de tristeza também. Standring mostra muita influência do funk. Várias composições do álbum foram fortemente influenciadas por Prince e Bootsy Collins (baixista que revolucionou a forma de tocar funk).  A faixa “Thank You Bootsy” foi feita em homenagem ao lendário músico.

Outro destaque é a faixa "Change The World", que foi escrita originalmente para outro artista. Entretanto, Standring decidiu manter a música para si porque se encaixava muito bem em seu estilo. Ele lançou essa música como single, que alcançou o primeiro lugar na Billboard em março de 2022.

"A Thousand Words" foi composta para uma velha amiga que sofria de doença mental e que recentemente acabou com a própria vida. Não por acaso essa é a faixa mais introspectiva do disco.

Já na "The Lovers Remix Collection", Standring apresenta 10 faixas de canções descontraídas mais populares de seu repertório, sendo que todas ganharam uma remixagem especial para este lançamento.

Standring revisita as dez canções autorais juntamente com uma nova faixa, uma versão de jazz eletrônico de "Albatross", de Peter Green (da primeira formação da banda Fleetwood Mac). Destaque para as faixas "Kaleidoscope" e "Liquid Soul", que ganharam vida nova com o novo tratamento dado em estúdio por Standring.

Comemorar 25 anos de carreira em alto nível de produção musical é para poucos privilegiados. E Chris Standring está inserido nesse seleto grupo, com certeza.

"Change The World"

"Thank You Bootsy"


"A Thousand Words"





sexta-feira, 9 de junho de 2023

.: “Se Você Não Me Queria”, o novo single da pernambucana Uana


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

“Se Você Não Me Queria” é o novo single da cantora e compositora Uana, com produção de Barro, Marley No Beat e Tom BC. A música conta com um sample da faixa "Me deixe em paz" de Alaíde Costa e Milton Nascimento e segue como um som contemporâneo com influências do trip hop.  

"´Se Você Não Me Queria´ fala sobre afetividade e, de alguma maneira, faz um paralelo com ´Me deixe em paz´. "Não só optamos por usar o sample como também fazer uma obra que, num outro momento e recorte, se relacione com essa faixa icônica pra música brasileira. Mesmo com uma distância grande entre os lançamentos, ambas falam sobre afetividade a partir da perspectiva de uma mulher negra, e vemos que muita coisa ainda é realidade nas relações afetivas", explicou Uana.

O single acompanha um videoclipe, o que mostra que ela busca  cada vez mais atrelar sua imagem a narrativas emocionais e a moda. “O clipe de ‘Se Você Não Me Queria’ se propõe a emoldurar os anseios de Uana em relação a afetividade, vulnerabilidade e independência emocional. Tudo imerso em um mundo de sonhos. O material homenageia Alaíde Costa, permitindo um momento de referência visual, e bastante afetuosa, à artista", explica. 

Uana é cantora e compositora natural de Recife. Participou do grupo Sagaranna, tendo como primeiro trabalho o disco "Véu do Dia". Em 2016, decidiu trilhar carreira solo e em 2021 surgiu o desejo de trazer uma roupagem pop para o seu trabalho musical, desde então tem lançado singles  nas plataformas e formado parcerias importantes como a com FBC em "Quando o DJ Toca" e "Facin". A artista foi escolhida como umas das dez cantoras que são apostas da música brasileira, pela Forbes Mulher, participou dos programas "Cultura Livre" com Roberta Martinelli, "Estação Livre" e "Lugar IncomUm" com Didi Wagner. 

Uana tem circulado por vários estados do Brasil com seu show.  Participou do Festival No Ar Coquetel Molotov nas edições de Recife e Belo Jadim( PE), do Wehoo Festival (PE), do Batekoo Festival (SP), Bloquinho Gostoso (CE), Bailinho Gostoso (PE), Festival de Inverno de Garanhuns (PE), Carnaval do Recife, entre outros.

"Se Você Não Me Queria" - Uana


sexta-feira, 2 de junho de 2023

.: Bob Dylan, os 82 anos do menestrel folk do rock


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

Bob Dylan completou 82 anos de vida em maio. Um fato que merece uma profunda reflexão, pois trata-se de uma figura que influenciou a história do rock de forma decisiva na década de 60 ao incorporar a guitarra elétrica ao seu som, que se baseava essencialmente na música folk tradicional. A força poética de suas canções continua fazendo todo o sentido nos dias atuais.

Nascido Robert Allen Zimmerman, nos Estados Unidos, era neto de imigrantes judeus russos. No início, chegou a cantar imitando pioneiros do rock, como Little Richard e Buddy Holly. Mas ao entrar na Faculdade, logo se voltou para a música folk americana. Tinha o cantor e compositor Woody Guthrie como seu ídolo e principal referência musical.

Seu início na música teve hits como "Blowin The Wind", "A Hard Rain's A-Gonna Fall" e "The Times They Are A-Changin'", sendo que todas acabaram marcando a vida dos americanos naquela época. Sua interpretação singular, marcada pela sua voz anasalada e de timbre incomum para os padrões da época, acabou ampliando ainda mais o mito em torno de sua obra.

Quando passou a usar grupo de rock em suas apresentações ao vivo, provocou polêmica entre os mais conservadores. No entanto, para outros, Bob Dylan mostrava novos horizontes para o rock. O álbum "Highway 61 Revisited" marcou definitivamente a história com a clássica "Like A Rolling Stone". E depois dele ainda viriam outras canções marcantes, como "All Along The Watchtower", que ganharia uma versão definitiva de Jimi Hendrix no final dos anos 60.

Hendrix, aliás, não foi o único a ser influenciado por Bob Dylan. Os Beatles nunca esconderam sua admiração por ele. Um dos integrantes do fab four, George Harrison, era o mais entusiasta da obra do menestrel folk americano. Após sofrer um acidente de moto no final dos anos 60, Bob Dylan se afasta das apresentações ao vivo, tendo aparecido somente de forma esporádica em festivais. Lança álbuns regularmente gravados em estúdio seguindo a influência da música folk com toques do rock acompanhado por guitarras elétricas. Só retomaria a rotina das turnês a partir de 1974.

Se por um lado sua discografia dos anos 70 e 80 não chama muito a atenção, por outro é possível ainda notar sinais claros de sua genialidade em vários momentos, como na trilha do filme "Pat Garrett and Billy The Kid", que continha a antológica canção "Knockin' On Heaven's Door", que acabaria sendo regravada pela banda Guns´N Roses anos mais tarde.

Destaco ainda a canção "Hurricane", do disco "Desire", que conta a saga do lutador de box negro Rubin Carter, que foi injustamente preso e condenado acusado de ter matado três homens brancos em um bar com a ajuda de um amigo. E a ótima canção Jokerman, do álbum Infidels nos anos 80.

Talvez a obra mais recente de Bob Dylan não provoque o mesmo impacto das décadas anteriores. Mas só o fato de ter sobrevivido a todos os excessos do show business já o torna um vencedor. Ainda mais pelo fato de ainda se manter na ativa, gravando e lançando discos regularmente, ao invés de se acomodar nos velhos hits do passado.

"Blowin The Wind"

"Knockin on Heaven´s Door"

"Like a Rolling Stone"

sexta-feira, 26 de maio de 2023

.: Entrevista: Igor Bueno traz o recanto dos mil sonhos para o palco


Por Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

O cantor e compositor Igor Bueno vive um momento especial da carreira, ao desenvolver o projeto da turnê "Recanto dos Mil Sonhos", no qual interpreta composições autorais acompanhado por músicos talentosos. O show já passou por São Bernardo do Campo e tem agenda para Ubatuba no dia 27. Artista multifacetado, Bueno é compositor, multi-instrumentista, intérprete, poeta e educador musical.

Possui licenciatura em Música pela Unesp e experiência em teatro. Integra o Grupo Cupuaçu, cujo trabalho é reconhecido pela riqueza e a diversidade da cultura popular afro-brasileira, em especial a maranhense. Em 2022, lançou suas primeiras canções nas plataformas de música e já figura no panorama emergente de artistas da nova MPB. Em entrevista para o Resenhando.com, ele conta como foi o seu início na música e comenta as possibilidades para o futuro na música. “O acesso à cultura é algo fundamental para nossa sociedade”.


Resenhando.com - Como foi seu início na música?
Igor Bueno -
Minhas lembranças vêm desde os 10 anos, quando passei a ter os primeiros contatos com a música. Comecei aprendendo a tocar flauta doce e a partir daí fui descobrindo os demais instrumentos. Ouvia de tudo um pouco. Samba, rock, forró, música tradicional folclórica e vários outros estilos. A minha música é o resultado de todas as influências que tive ao longo dos anos.

Resenhando.com - Algumas de suas composições lembram as canções que ouvíamos nos antigos festivais. Existe esse paralelo?
Igor Bueno - 
Ocorre que nessa época dos festivais havia muita música com influência de raízes culturais muito fortes. Quem não se lembra de Disparada, por exemplo, do Geraldo Vandré e Theo de Barros? Há uma relação porque também tenho uma influência forte da nossa música regional. Mas considero meu estilo bem eclético, abrangendo várias áreas e segmentos.

Resenhando.com - O teatro parece ter sido determinante nessa sua formação.
Igor Bueno - 
Não só o teatro como também a literatura. Ler bastante me permitiu abrir horizontes como compositor. Sou grato aos professores de Língua Portuguesa, que me incentivaram a ler os chamados livros clássicos de autores,como Machado de Assis e poetas como Carlos Drummond de Andrade.

Resenhando.com - Como foi que surgiu a ideia do "Recanto dos Mil Sonhos"?
Igor Bueno - 
Eu vinha compondo canções há uns dez anos, aproximadamente. Então já tinha um repertório autoral que poderia ser mostrado ao vivo. Tive e tenho o auxílio de músicos talentosos, que ainda por cima são pessoas amigas, com as quais tenho muita empatia. Aí foi só definir um repertório linear, que ajudasse a contar um pouco de minha história como músico.


Resenhando.com - Você acredita que há espaço para a MPB na mídia?
Igor Bueno - 
A nossa autêntica música popular sempre terá seu espaço. Há público para todos os estilos musicais. Eu acredito que a cultura, ou melhor, o acesso da população a ela, seja algo fundamental para a nossa sociedade.

Resenhando.com - E como estão os planos para a turnê?
Igor Bueno - 
Iniciamos a turnê por São Bernardo do Campo e temos uma apresentação agendada para o dia 27 de maio em Ubatuba. Em breve definiremos outros locais para junho e julho. Nesse projeto eu me apresento acompanhado por Debora Predella (violino), Gabriel Moreira (flauta transversal, clarinete e sax), Lua Bernardo (baixo elétrico), Ná Magalhães (percussão), Renato Ihu (percussão) e Rodrigo Zanettini (piano e sanfona). Assino a direção musical e os arranjos, junto com o Zanettini.

Serviço
Turnê: "Recanto dos Mil Sonhos". Ubatuba / SP. Data: 27 de maio - Sábado, às 20h. Local: Fundação Projeto Tamar. Rua Antônio Atanázio, 273 - Jardim Paula Nobre. Telefone: (12) 3832-6202 | (12) 3832-7014. Gratuito. Duração: 60 minutos. Livre.

"Corpo Errante"

"Seus Cabelos"

"Mariposas"

sexta-feira, 19 de maio de 2023

.: "More Inspirations": Saxon revisita suas influências musicais em novo CD


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

De tempos em tempos, constatamos bandas buscando mostrar em disco suas influências, responsáveis pela formação musical de seus integrantes. E a história se repete com os britânicos da banda Saxon, que lançaram o CD "More Inspirations", que é continuação do projeto "Inspirations", de 2020. São releituras de bandas que marcaram as carreiras dos músicos lá no início, ainda nos anos 70 e na fase da adolescência.

O grupo é liderado pelo vocalista Biff Byford e mesmo tendo algumas alterações na formação, ainda se mantém na ativa como um dos precursores do estilo heavy metal. Não por acaso a banda se apresenta em vários festivais desse estilo ao redor do mundo, além de realizar shows em arenas com grande capacidade de público.

Nesse segundo volume de regravações, eles selecionaram canções de Alice Cooper ("From The Inside"), ZZ Top ("Chevrolet"), The Who ("Substitute"), Uriah Heep ("Gipsy"), Kiss ("Detroit Rock City") e Nazareth ("Razzamazz"), entre outras. Pela época das gravações originais, é bem provável que os integrantes tenham ouvido isso em seus antigos toca-discos de vinil ou nas jukeboxes que eram disponibilizadas em lanchonetes e bares naquele período.

Mesmo se mantendo fiéis aos arranjos originais, eles fizeram questão de mostrar que era o Saxon que estava tocando. É possível notar a assinatura da banda em vários momentos do disco, como nas faixas "Gipsy", do Uriah Heep, e "Man On The Silver Mountain" (da banda Rainbow). E ficou bem interessante ouvi-los tocando Nazareth, que é uma banda também precursora do hard rock britânico.

"More Inspirations" vai agradar os fãs do gênero hard rock clássico. Sobretudo porque é tocado com aquele toque de autenticidade, indispensável para quem gosta desse estilo musical.

"Razzamanazz"

"We´ve Gotta Get Out Of The Place"

"Detroit Rock City"

sexta-feira, 12 de maio de 2023

.: Susanna Hoffs redescobre pérolas musicais no CD "The Deep End"


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

Quem ouve o novo disco solo da cantora Susanna Hoffs, ex-integrante do grupo Bangles, pode imaginar que está ouvindo composições novas. Mas na verdade, trata-se de um ótimo álbum de releituras, algumas bem desconhecidas do grande público. E o resultado ficou acima da média. Gravar releituras, aliás, não é bem uma novidade para Susanna. Ela já tinha feito três discos em parceria com Matthew Sweet, intitulados "Under The Covers", com repertório focado nos anos 60, 70 e 80.

Nesse projeto atual, intitulado "The Deep End", ela ousou um pouco mais. Talvez a canção mais conhecida do disco seja "Under My Thumb," clássico dos Rolling Stones dos anos 60. O restante do set list é composto por canções mais obscuras, do tipo daquelas que ficavam no lado B dos antigos compactos de vinil. 

Susanna teve o cuidado de escolher canções com as quais se identificou perfeitamente. E é preciso destacar a produção do lendário Peter Asher, aquele mesmo que produziu algumas pérolas musicais de James Taylor, Linda Ronstadt e de outros tantos artistas nos anos 70. É um deleite ouvir a bela voz de Susanna cantando a balada "Only You", da banda Yazoo, com um arranjo mais acústico comparado com a versão original. E a igualmente ótima "If You Got a Problem", de Joy Oladokun.

Há canções bem interessantes redescobertas por Susanna, como "Say You Don´t Mind", de Denny Laine (ex-integrante da banda Wings de Paul McCartney), e "You Don´t Own Me", um hit antigo de Lesley Gore dos anos 60.

Da safra mais recente, Susanna traz "Afterglow", de Ed Sheeran, e "When The Party´s Over", da Billie Ellish. Gostei muito também de "Time Moves On" (da banda Phantom Planet) e de "Deep End" (de Holly Humberstone, que acabou dando título ao álbum). Ao trazer canções com as quais se identifica plenamente, Susanna acabou gravando um dos seus melhores trabalhos como intérprete. E a sua voz continua tão bela como nos tempos das Bangles. Vale a pena conferir esse novo trabalho, que também está disponível nas plataformas de streaming.

"Under My Thumb"



"Time Moves On"



"Only You"

terça-feira, 9 de maio de 2023

.: "Valeu, Rita Lee!, pelo crítico musical Luiz Gomes Otero

Rita Lee. Foto: Guilherme Samora/ divulgação

Por Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.


É, eu sei. Nos anos 70 você já cantava explicando que isso, a partida, faz parte das coisas da vida. Mas para nós, que sempre a admiramos pela sua irreverência e genialidade dentro do rock nacional,sempre tínhamos a esperança de adiar um pouco mais essa saída de cena. Mas não deu. São coisas da vida mesmo.

E pensar que você começou nos anos 60 como uma Mutante dentro da nossa MPB. A aventura de uma banda com os irmãos Baptista durou pouco, é verdade. Mas fez bastante barulho durante os festivais, quando vocês se apresentavam com guitarras elétricas, desafiando o público conservador da MPB. Uma pena que essa aventura tenha terminado de forma brusca, com sua saída em maio de 1972, 

Mas, ao mesmo tempo, essa saída permitiu que você alçasse voos mais altos sozinha. Primeiro como uma cilibrina ao lado da colega Lucinha Turnbull. Depois com um certo sabor Tutti-Frutti, você passou a ser a Ovelha Negra do Rock Nacional. uma festa cheia de entradas e bandeiras que culminou com um passeio pela Babilônia e uma Refestança ao lado do amigo e compadre Gilberto Gil. 

Logo depois você e o companheiro Roberto de Carvalho passaram a produzir uma obra que a colocou em uma espécie de elo entre o pop, o rock e a MPB. A amiga Elis Regina gravou Alo Alo Marciano de forma brilhante.E você cantava um hit atrás do outro. Mania de Você, Lança Perfume, Saúde, Baila Comigo e tantos outros, como o tema do programa TV Mulher, que falava das duas faces de Eva, a bela e a fera. 

Vi você duas vezes ao vivo. Uma no antigo ginásio do Clube Vasco da Gama e a outra no antigo ginásio do Clube de Regatas Santista. Nas duas ocasiões você estava simplesmente sensacional, assim como as bandas de apoio, que tinham sempre o fiel companheiro Roberto de Carvalho na guitarra.

É verdade que a sua carreira nos anos 90 não teve o mesmo brilho da década anterior, mas você sempre esteve em evidência, seja pelos posicionamentos polêmicos ou pela sua irreverência. Seus hits vem sendo regravados por vários outros intérpretes desde então.

E foi justamente nesse período que você me concedeu muito gentilmente uma entrevista, quando eu trabalhava em um jornal da Baixada Santista, Fiz o contato por e-mail, pensando que havia um assessor de imprensa intermediando o nosso contato. Foi aí que você mandou a real : "- Deixa de ser bobo , que sou eu mesma!" Quando vi as respostas, tive a certeza de que era você, sem dúvida.

Você sempre será muito mais do que um ser mutante, daqueles que em cada canção consegue atingir o inconsciente popular de tal forma, que acaba contagiando a todos. Uma autêntica rainha do rock que levou alegria e irreverência a todos os cantos em que se apresentou. Tenho a mais absoluta  certeza que, onde quer que você esteja agora, continuará arrombando a festa tocando aquele tal de rock and roll.


Agora Só Falta Você


Ovelha Negra


Lança Perfume


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domingo, 7 de maio de 2023

.: "Dark Side Of The Moon": há 50 anos, o Pink Floyd explorava lado escuro da lua


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

Impossível dimensionar a importância do álbum "Dark Side Of The Moon", lançado há 50 anos pela banda britânica Pink Floyd. Trata-se do oitavo disco do grupo, que solidificou Roger Waters como compositor e principal condutor da produção musical.  Com ele, a sonoridade da banda passaria por uma pequena mudança, com canções mais curtas e mensagens diretas, mas sem perder aquele famoso “toque espacial” de suas produções.

O álbum saiu no dia 1º de março de 1973 e acabou se tornando um enorme sucesso de venda em todo o mundo, surpreendendo não só os integrantes da banda como os próprios executivos da gravadora (EMI-Odeon) na época. Vendeu mais de quinze milhões de cópias nos Estados Unidos e aparece na lista dos álbuns mais vendidos da história no país, também na Inglaterra e na França, com um total de 50 milhões de cópias comercializadas mundialmente até hoje. Permaneceu na parada da revista Billboard durante 777 semanas - de 1973 a 1988 - sendo o álbum recordista de duração nessa parada americana.

O mais incrível foi o fato de a obra explorar temas pesados, como cobiça, envelhecimento e doença mental. Parte dessa inspiração veio da situação que o ex-integrante da banda, Syd Barrett, enfrentava na época. Ele acabou saindo da banda em 1968 por conta de problemas mentais agravados pelo consumo de drogas.

Além de Roger Waters (baixo e vocais), a banda tinha nessa formação David Gilmour (guitarra e vocais), Richard Wright (teclados e vocais) e Nick Mason (bateria). As sessões de gravação começaram em maio de 1972 e terminaram em janeiro de 1973, no Abbey Road Studios, em Londres, contando com o apoio de Alan Parsons na produção. Parsons já havia trabalhado com a banda no álbum "Atom Heart Mother" e com os Beatles, no álbum "Abbey Road".

O resultado final das gravações impressiona bastante, por causa do contexto em que foi gravado. Não havia os mesmos recursos eletrônicos atuais, como plug-ins e samples, para produzir a parafernália sonora que o disco possui. Há sons de relógios despertando na faixa "Time", enquanto que na faixa "Money" são simulados barulhos de uma caixa registradora e moedas sendo colocadas nela.

A faixa "The Great Gig In The Sky" tem um vocal impressionante da cantora Clare Torry, que buscou transmitir angústia e desespero em sua interpretação, como queriam os músicos. E há outros grandes momentos nas faixas "Breathe" e "Us And Them". A faixa que encerra ("Eclipse") é outro ótimo momento.

Há uma série de teorias a respeito do disco. Uma das mais famosas traz a sincronia que o álbum tem com o filme "O Mágico de Oz", estrelado por Judy Garland em 1939. Os músicos já disseram que tudo não passou de uma incrível coincidência, até porque não haveria como fazer isso naquela época, quando os recursos técnicos eram mais limitados.

E há outras mais absurdas, como a tese que acusa o grupo de apoiar a causa LGBT ao usar as sete cores do arco-íris em uma arte para divulgar os 50 anos do álbum. As mesmas cores, por sinal, que ilustram o desenho da icônica capa original, com o prisma sobre um fundo preto. Roger Waters regravou recentemente as canções do álbum, como forma de homenagear os 50 anos da obra. Mas é claro que o fã mais purista não trocaria a versão original por uma regravação, por melhor que ela fosse.

Não estamos errados ao classificar esse disco como uma obra de arte. Pois passados 50 anos de seu lançamento, o seu impacto, sua dimensão e canções atemporais permanecem inabaláveis. Esse trabalho colocou o Pink Floyd definitivamente na história do rock.

 "Time"

"Money"

"Us and Them"

sexta-feira, 28 de abril de 2023

.: Crítica musical: Claudya canta a Jovem Guarda cheia de Bossa Nova


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

Claudya é aquele tipo raro de intérprete que pode se dar ao luxo de cantar o que quiser. Até mesmo os antigos hits da Jovem Guarda em ritmo de bossa nova ficariam bem em sua voz afinada e de rara beleza. E foi exatamente isso que ela fez com a maestria de sempre, contando com o apoio de músicos talentosos.

O disco "A Nossa Bossa Sempre Jovem" e o EP "Além da Jovem Guarda", ambos disponibilizados nas plataformas de streaming, recriam uma série de canções que marcaram os anos 60 em arranjos produzidos por Alexandre Viana, com quem Claudya já havia trabalhado anteriormente. "O Caderninho", "Ternura", "Meu Bem", "Devolva-me", "Nossa Canção", "Aquele Beijo que Te Dei" e "Ritmo da Chuva" são algumas das canções escolhidas para o repertório desse trabalho.

A balada "Eu Daria Minha Vida", de Martinha, e a canção "Alguém na Multidão", hit dos Golden Boys, ganharam um animado arranjo que mescla a bossa nova com a salsa. Já as baladas "Nossa Canção" e "Devolva-me" se integram com perfeição ao ambiente bossanovístico do arranjo de Alexandre Viana.

Trazer canções de essência pop para o ambiente sofisticado e jazzístico da bossa nova parece até uma tarefa simples. Mas não é. O intérprete corre sempre o risco de soar piegas ao cantar os inocentes versos contidos nessas canções. Mas no caso de Claudya, isso dificilmente acontece. Basta ouvi-la para perceber isso.

Sua voz forte e afinada e um incrível feeling para interpretar os mais variados estilos musicais colocam Claudya em um patamar diferenciado de intérprete. Tudo o que ela canta soa convincente para o ouvinte. Até mesmo a jovem guarda em ritmo de bossa nova.

"Aquele Beijo que Te Dei"

"Eu Daria a Minha Vida"

"Ritmo da Chuva"


sexta-feira, 14 de abril de 2023

.: MPB: Cynara Faria, do Quarteto em Cy, e o voo do sabiá


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

Cynara Faria, uma das fundadoras do Quarteto em Cy, referência em grupos vocais na nossa MPB, nos deixou no início da semana, no Rio de Janeiro. Uma perda irreparável para a nossa música autenticamente popular, aquela que se preocupava com as mensagens das canções, com letras e poesias realmente inspiradas e não artificiais.

Cynara tinha 78 anos. E uma trajetória incrivelmente rica e inspiradora para quem é músico. Foi em 1964, por sugestão do poeta Vinícius de Morais, que fundou o Quarteto em Cy com as irmãs Cyva, Cybele e Cylene. Defendeu com a irmã Cybele a canção "Sabiá", de Chico Buarque e Tom Jobim, na segunda edição do Festival Internacional da Canção (FIC), em 1968. E enfrentou injustamente a ira do público, que vaiou a apresentação do início ao fim, por causa da preferência para a canção de Geraldo Vandré, "Caminhando".

Ao longo dos anos, o Quarteto em Cy, teve algumas alterações na formação. Mas Cynara se manteve ativa como uma espécie de fator motivacional do grupo. Ela respondia pelos arranjos vocais e servia sempre como porta-voz do grupo, que sempre prezou pela boa qualidade de seus trabalhos.

Fica difícil até apontar álbuns do Quarteto, pois todos tinham uma qualidade indiscutível. Poderia citar as duas antologias do samba-canção e o Querelas do Brasil como pontos altos de sua produção. Mas teve ainda os discos com canções de Chico Buarque, Vinícius de Morais e o dos clássicos da Bossa Nova. O que poderia sair desses discos? Somente canções com qualidade atemporal, é claro.

A jornalista Inahiá Castro escreveu o livro "As Meninas em CY", contando a história do grupo desde o início, quando elas saíram da Bahia para ir no Rio de Janeiro em busca da conquista de  seu espaço na música. Juntamente com o MPB-4, elevou o patamar de qualidade da música interpretada por grupos vocais e serviu de fonte de inspiração para muitos artistas que vieram nas décadas seguintes.

Ficamos próximos por meio da rede social, onde passei a acompanhar as atividades do grupo. E passei a admirar ainda mais a Cynara e sua vontade de sempre seguir em frente, sem se preocupar em olhar para trás. Não se tratava de esquecer o passado, mas sim de viver intensamente o presente e suas amplas possibilidades em direção ao futuro.

Seus filhos João e Chico Faria também seguem carreira na música, buscando conquistar seu espaço. João é um exímio baixista e compõe canções, enquanto Chico herdou dos pais  (Cynara foi casada com Ruy Faria, do MPB-4) o dom de interpretar composições. Ele já gravou um disco com canções do Chico Buarque, só para citar um exemplo.

Sua irmã Cybele faleceu em 2014. E agora foi a vez de Cynara, o sabiá, partir para encontrá-la, assim como outras figuras queridas como Tom Jobim e Vinícius de Morais. Certamente veremos brilhar mais uma estrela no céu.

Sapato Velho


Salve o Verde

Sabiá


sexta-feira, 7 de abril de 2023

.: MPB em festa: Secos e Molhados e os 50 anos do fenômeno musical


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

Há 50 anos, o mundo da música vivenciava um dos fenômenos mais improváveis, proporcionado por um grupo que surgiu em São Paulo influenciado por várias vertentes do rock, da MPB e da literatura. O Secos e Molhados surpreendeu a todos com um emblemático álbum atemporal de estreia, que superou até o Rei Roberto Carlos nas vendas de discos naquela ocasião.

O ano de 1973 traz para nós a lembrança de um período do Brasil com um governo comandado por militares, que mantinha a sua mão de ferro na censura, procurando controlar tudo o que era divulgado em termos musicais. Mas nem mesmo isso foi capaz de impedir o fenômeno Secos e Molhados, que quebrou uma série de tabus e meio que desafiou a censura com um visual andrógino e uma música alicerçada na poesia que se produzia no Brasil e até no exterior.

O grupo foi liderado pelo músico João Ricardo, que começou a concretizar seu sonho influenciado principalmente pelo quarteto Crosby, Stills, Nash e Young e por vertentes de nossa MPB, em especial a Tropicália, além de alguns elementos de rock progressivo. Ele se uniu a Gerson Conrad, um amigo da adolescência e acabou conhecendo Ney Matogrosso, cujo potencial de voz impressionou logo no primeiro encontro.

Eles passaram o ano de 1972 ensaiando e se apresentando em São Paulo com relativo sucesso. E chamaram a atenção do empresário Moracy do Val, que trabalhou para levá-los até a gravadora Continental em 1973, para gravar o disco de estreia da banda. Por incrível que pareça, as demais gravadoras da época não se interessaram em lançar o material.

Quando entraram em estúdio, eles já tinham uma série de canções prontas. Se uniram com uma banda com Willy Verdaguer, Marcelo Frias e Johnny Flavin, entre outros. E os arranjos foram tomando forma em estúdio graças a atuação desses músicos. "Sangue Latino", "O Vira", "Rosa de Hiroshima", "Fala" (que tem arranjo de cordas feito por Zé Rodrix), "Amor" e "Primavera nos Dentes" são canções que até hoje são cultuadas por críticos e pelo público em geral, das mais variadas idades. As crianças e os mais idosos se identificaram com o som e as performances da banda.

"Rosa de Hiroshima", cuja letra é uma poesia de Vinicius de Moraes, logo virou um hit instantâneo, emocionando até mesmo o eterno poetinha da MPB. "O Vira" e a emblemática "Sangue Latino", esta última de João Ricardo com letra de Paulinho Mendonça, foram outros hits.

A capa do primeiro álbum foi outro fator que provocou impacto junto ao público. Foi ideia do fotógrafo Antônio Carlos Rodrigues fazer a foto dos integrantes com as cabeças na mesa, como se estivesse servindo a banda para o ouvinte. Na mesa foram colocados produtos que são encontrados nos antigos armazéns de secos e molhados.

O lançamento do grupo provocou um inexplicável fenômeno de massa. Talvez um dos últimos originados de forma espontânea na música. Além de vender mais discos naquele período do que o Rei Roberto Carlos, a banda ainda fez shows lotados no ginásio do Maracanãzinho, no Rio de Janeiro. E causava um frenesi onde quer que fosse se apresentar.

Eles usavam uma maquiagem inspirada no teatro kabuki do Japão. E vestiam roupas bem chamativas. Ney Matogrosso já dava os primeiros passos com danças e rebolados provocativos, muito embora sua voz fosse o elemento mágico que prendia realmente a atenção do público. Era impossível ficar indiferente ao ouvir as canções interpretadas por ele.

Essa formação ainda gravaria mais um ótimo disco em 1974, mas logo se separaria por questões internas e problemas de relacionamento entre os integrantes. Dos três, Ney Matogrosso foi quem desenvolveu uma carreira solo mais bem sucedida. João Ricardo ainda tentou reativar o grupo com outras formações. Mas nunca conseguiu repetir o incrível sucesso do início. Não por acaso, o disco de estreia é frequentemente citado por críticos como um dos melhores álbuns lançados no Brasil. E esse caráter atemporal do disco confirma que o trio estava certo na direção que decidiu tomar no estúdio, ao gravar as canções.

"Sangue Latino"

"O Vira"

"Rosa de Hiroshima"

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