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sexta-feira, 10 de outubro de 2025

.: Crítica musical: Delirio Cabana é 100 por cento Amazonas

Por Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural. Foto: Laryssa Gaynett

O Delírio Cabana fez da paixão comum pela música popular brasileira um terreno fértil para germinar novas composições com ritmos tradicionais da Amazônia, como gambá, cumbia, carimbó, boi-bumbá, carimbó e beiradão. A mescla mostrou um resultado aurpreendente

“Tempero” marca a estreia da banda formada pelos amazonenses Bruno Mattos, Gabriella Dias, Luli Braga e Nando Montenegro, nascida em 2023, durante uma viagem de Manaus à vila de Alter do Chão, em Santarém no Pará. Foram duas semanas de convivência e criação à beira do Tapajós, uma experiência que selou a vontade de construir uma história coletiva a partir da paixão pela cultura amazônica.

Composição de Nando Montenegro, “Tempero” junta a musicalidade da Região Norte às demais influências da MPB contemporânea, do pop e da música latina. O arranjo é de Bruno Mattos e a produção musical é dividida entre ele e Lucas Cajuhy, que também assina engenharia de gravação, mixagem e masterização.

A canção conta com percussões de Tércio Macambira, mauesense que criou a pulsação que sustenta a canção marcada por células rítmicas de gambá, boi-bumbá, maracatu e carimbó. Os sopros ganham corpo com Marcelo Martins (trompete), Francirbone (trombone) e Crhistofer Santos (saxofone), enquanto Bruno Mattos gravou as linhas de baixo, violão e guitarra. O resultado é um single coletivo, com vozes muito bem divididas entre Nando, Luli, Bruno e Gabriella, que se complementam em timbres e texturas.

Os figurinos e acessórios utilizados pelos integrantes vêm da marca Yanciã Amazônia, curadora de peças confeccionadas por artesãos do Amazonas, que prioriza a matéria-prima natural oriunda do bioma da região e materiais de reaproveitamento. Além disso, a marca autoral amazonense Glitch confecciona alguns dos figurinos idealizados por Hendryl Nogueira, que também assina a maquiagem do quarteto. A produção traz uma ficha técnica 100% amazonense, reforçando o potencial criativo inesgotável da cena musical do Amazonas.

"Tempero"

quinta-feira, 9 de outubro de 2025

.: Crítica: "Sr. Blake Ao Seu Dispor" diverte com empresário-mordomo

Cena de "Sr. Blake Ao Seu Dispor", em cartaz na Cineflix Cinemas de Santos


Por: Mary Ellen Farias dos Santos, editora do Resenhando.com

Em outubro de 2025


O divertido "Sr. Blake Ao Seu Dispor", protagonizado por John Malkovich, apresenta a história do viúvo Andrew Blake, um empresário britânico que foge de eventos do seu meio endinheirado e parte para uma antiga mansão na França em busca de resgatar o que viveu com a esposa. Contudo, um engano hilário o coloca no posto de mordomo e entrega diálogos leves e cheios de bom humor. 

Dirigido por Gilles Legardinier, autor também do livro "Completement Cramé!" que originou a produção, "Sr. Blake Ao Seu Dispor" retrata como a vida ainda é capaz de surpreender quando não se consegue lidar com o luto da mulher amada. Elegante, observador e sem perder uma tirada, o senhor Blake revela-se como um grande entendedor do comportamento excêntrico de Nathalie Beauvillier ("Os Jovens Amantes"), a senhora da mansão e dos prestadores de serviços, Odile (Émilie Dequenne) e Magnier (Philippe Bas) que vivem em pé de guerra, além da jovem Manon (Eugénie Anselin, de "Três Mulheres: Uma Esperança") que está grávida.

Enquanto tenta recordar as boas lembranças com a falecida esposa, vivendo num quartinho pequeno e com poucos apetrechos, o viúvo vai costurando as relações em meio a tanto espaço vazio do lugar, sobrando tempo para também fazer amizade com o gato da mansão.

Cativante, com roteiro agradável e divertido de se acompanhar, incluindo a rusga entre ingleses e franceses, "Sr. Blake Ao Seu Dispor" é um filme com atuações impecáveis que prendem a atenção do público, levantando questionamentos sobre luto, solidão, traições e distanciamentos. Imperdível!


O Resenhando.com é parceiro da rede Cineflix Cinemas desde 2021. Para acompanhar as novidades da Cineflix mais perto de você, acesse a programação completa da sua cidade no app ou site a partir deste link. No litoral de São Paulo, as estreias dos filmes acontecem no Cineflix Santos, que fica no Miramar Shopping, à rua Euclides da Cunha, 21, no GonzagaConsulta de programação e compra de ingressos neste link: https://vendaonline.cineflix.com.br/cinema/SAN.




"Sr. Blake Ao Seu Dispor" ("HIM")Ingressos on-line neste linkGênero: romance, comédia. Direção: Gilles Legardinier. Ano: 2025. Duração: 1h40. Distribuição: Mares Filmes. Elenco: John Malkovich (Andrew Blake), Fanny Ardant, Émilie Dequenne. Sinopse: Um empresário britânico viúvo aceita o emprego de mordomo em uma mansão na França para relembrar a falecida esposa francesa. Sua vida toma um novo rumo enquanto ele lida com o comportamento excêntrico da senhora da mansão e da equipe da casa.

Trailer "Sr. Blake Ao Seu Dispor"




Leia+

quarta-feira, 8 de outubro de 2025

.: Crítica: "GOAT" é excelente filme de terror estilo "American Horror Story"

Cena de "GOAT", em cartaz na Cineflix Cinemas de Santos


Por: Mary Ellen Farias dos Santos, editora do Resenhando.com

Em outubro de 2025


"GOAT" coloca o adorado futebol americano como pano de fundo para entregar excelente drama com terror na dose certa ao apresentar a história de Cameron "Cam" Cade (Tyriq Withers, "Eu Sei O Que Vocês Fizeram no Verão Passado", 2025), atleta em ascensão que, na véspera do recrutamento de jogadores profissionais, sofre um brutal ataque. Recuperado, visto como promessa, Cam, é mergulhado de vez num ritual que remete muito a algumas temporadas do seriado antológico "American Horror Story", porém como um apanhado em formato de filme.

Dirigido por Justin Tipping ("Kicks") e produzido por Jordan Peele ("Corra!" e "Não! Não Olhe!"), o longa de bela fotografia passeia por uma paisagem desértica intercalada por cores saturadas, sombra e luz, além de imagens um tanto que perturbadoras -nitidamente com o objetivo de despertar sentimentos no público. Além de questionamentos sobre fanatismo e o limite para conseguir o que se deseja.

Sombrio e repleto de mensagens a respeito do caminho da fama, a produção ainda tem Marlon Wayans no posto do antagonista Isaiah White. Inicialmente, visto pelo pequeno Cam como um deus do esporte, a ser admirado e que ao ter contato com a lenda do esporte americano vê o verdadeiro eu de White. A atuação impecável do ator marcado por personagens cômicos em "As Branquelas", "Todo Mundo em Pânico" e "O Pequenino" é fascinante. 

Ao colocar o esporte querido pelos americanos numa posição suja, destacando o trauma cerebral que afeta os atletas, no caso o astro do momento, "GOAT" imprime a selvageria das alucinações causadas pelas convulsões, enquanto garante bons sustos. O longa que ganha até mesmo quem não é fã do esporte tem ainda no elenco Julia Fox ("Presença"), na pele da parceira de Isaiah, assim como Naomi Grossman (American Horror Story), como a alucinada Marjorie.

Enquanto faz protagonizar um "GOAT" ("Greatest Of All Time", que significa "o maior de todos os tempos"), o longa costura a trama com um bode por meio das aparições de Baphomet. Tanto é que uma das defensoras de Isaiah é chamada de Marjorie, ligação com a matriarca da família das cabras, de imagem enigmática e sedutora. Numa das cenas pavorosas tem-se exatamente tal sentido. Profundo e cheio de meandros, "GOAT" é um filme imperdível!


O Resenhando.com é parceiro da rede Cineflix Cinemas desde 2021. Para acompanhar as novidades da Cineflix mais perto de você, acesse a programação completa da sua cidade no app ou site a partir deste link. No litoral de São Paulo, as estreias dos filmes acontecem no Cineflix Santos, que fica no Miramar Shopping, à rua Euclides da Cunha, 21, no GonzagaConsulta de programação e compra de ingressos neste link: https://vendaonline.cineflix.com.br/cinema/SAN.


"GOAT" ("HIM")Ingressos on-line neste linkGênero: drama, terror, thriller psicológico, suspense. Direção: Justin Tipping. Ano: 2025. Duração: 104 minutos. Distribuição:  Universal Pictures Brasil. Sinopse: A trama acompanha o jovem quarterback Cameron Cade, que após sofrer uma lesão cerebral, busca ajuda do ídolo Isaiah White, mas acaba entrando em uma jornada macabra e sombria. 

Trailer "GOAT"


Leia+

.: Espetáculo "oS MambembeS" estreia sábado, 11 de outubro, no Teatro Tuca

Elenco da peça ‘oS MambembeS’ - Cláudia Abreu, Deborah Evelyn, Jui Huang, Julia Lemmertz, Leandro Santanna, Orã Figueiredo, Paulo Betti e o músico Caio Padilha. Foto: divulgação


A comédia clássica “oS MambembeS” chega a São Paulo em nova adaptação contemporânea, depois de encantar plateias e conquistar a crítica no Rio de Janeiro e ao redor do país. Com estreia marcada para este sábado, 11 de outubro, no Teatro TUCA, a montagem traz ao palco um elenco de peso, com nomes como Cláudia Abreu, Deborah Evelyn, Jui Huang, Julia Lemmertz, Leandro Santanna, Orã Figueiredo e Paulo Betti, acompanhados pelo músico Caio Padilha. A curta temporada contará com apresentações às sextas, às 21h, aos sábados, às 20h, e aos domingos, às 17h.

No espetáculo, o ator-empresário Frazão recruta a jovem amadora Laudelina Pires para estrelar sua trupe itinerante. Juntos, partem em turnê pelo interior do Brasil e enfrentam os desafios de um país dominado pelos coronéis, onde o destino da companhia depende da boa vontade dos poderes locais. Com leveza, humor e dinamismo, o espetáculo transforma a estrada em palco e convida o público a embarcar em uma celebração do próprio fazer teatral, onde jogo, trabalho e diversão se confundem em uma só experiência.

A montagem é uma adaptação da comédia clássica escrita em 1904 por Artur Azevedo, que conta as aventuras de uma trupe mambembe viajando pelo Brasil. Na concepção contemporânea de Emílio de Mello, que divide a direção do espetáculo com Gustavo Guenzburger, a vida imita a cena, pois "oS MambembeS" caem na estrada, literalmente. Desde novembro de 2024, já percorreram o Maranhão, Pará, Espírito Santo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Em 35 apresentações, alcançaram um público estimado em mais de 30 mil pessoas. Agora em curta temporada no TUCA, o espetáculo será apresentado de sexta a domingo, com última encenação em 16 de novembro.

Cláudia Abreu e Emílio de Mello escolheram o clássico de Artur Azevedo para realizar o projeto conjunto que sempre desejaram. A adaptação transformou o desafio de condensar 80 personagens em apenas seis atores em uma encenação marcada pelo revezamento de papéis, pelo jogo cênico e pela celebração da liberdade criativa do teatro. “Montar 'O Mambembe' com amigos queridos era um sonho antigo. Uma celebração ao teatro e à alegria de atuar”, afirma Claudia Abreu, idealizadora do projeto com o diretor Emílio de Mello, que acrescenta: “'O Mambembe' é um clássico brasileiro. Fizemos um espetáculo pensando no público em geral, seja ele popular, sofisticado e de todas as idades”.

O espetáculo articula ainda diversas camadas de tempo e de estilos teatrais. A farsa, a commedia dell’arte, o realismo tchekoviano, a desconstrução do aqui agora, programa de auditório, melodrama, metalinguagem - todas as ferramentas que os atores puderem dispor estarão sendo manejadas na tarefa de destrinchar com olhos de hoje o clássico de Artur Azevedo. “'oS MambembeS' é uma confraria artística muito feliz”, completa o diretor. Adquira o ingresso aqui.


Sinopse de "oS MambembeS"
O ator-empresário Frazão convida Laudelina Pires, uma jovem e talentosa atriz amadora, para ser a primeira-dama de sua companhia itinerante. Ao saírem em turnê pelo interior do país, os artistas se deparam com o Brasil dos coronéis, e passam a depender da boa vontade dos poderes locais para o sucesso de sua viagem. Com a alegria e a agilidade de uma comédia sobre rodas, "oS MambembeS" convidam a todos para uma viagem ao mundo do teatro, um mundo em que jogo, trabalho e divertimento podem significar uma coisa só.

Ficha técnica
Espetáculo "oS MambembeS"
Idealização do projeto: Cláudia Abreu e Emílio de Mello
Texto: Artur Azevedo e José Piza
Adaptação dramatúrgica: Daniel Belmonte, Emílio de Mello e Gustavo Guenzburguer
Direção geral: Emílio de Mello
Direção: Emílio de Mello e Gustavo Guenzburguer
Elenco: Cláudia Abreu, Debora Evelyn, Jui Huang, Julia Lemmertz, Leandro Santanna, Orã Figueiredo e Paulo Betti
Direção musical e músico: Caio Padilha
Direção de movimento: Cristina Moura
Cenografia: Marcelo Escañuela
Figurino: Marcelo Olinto
Iluminação: Nadja Naira
Caracterização: Mona Magalhães
Fotos: Elisa Maciel
Assessoria de imprensa: FT Estratégias
Direção de produção: Dadá Maia e Arlindo Bezerra


Serviço
Espetáculo "oS MambembeS"
Temporada: 11 de outubro a 16 de novembro de 2025
Teatro TUCA: Rua Monte Alegre 1024
Telefone Bilheteria: (11) 3670-8455
Dias e horários: sextas às 21h00, sábados, às 20h00, e domingos, às 17h00
Ingressos: R$ 160,00 (inteira) R$ 80,00 (meia entrada)
Capacidade: 672 pessoas
Duração: 90 minutos
Classificação etária: livre
Venda de ingressos on-line: Sympla. Adquira aqui.
Venda de ingressos na bilheteria do teatro Tuca. Funcionamento: Terça a sábado, das 14h00 às 20h00, domingo, das 14h00 às 18h00.

terça-feira, 7 de outubro de 2025

.: Sérgio Mamberti tem jornada artística revisitada em série documental


Dirigida por Evaldo Mocarzel, produção em três episódios traça o mapa afetivo e político de um dos maiores intérpretes do país, da cena underground à gestão cultural. Foto: Matheus José Maria

A memória é também um palco por onde transitam vozes, imagens e silêncios que compõem a vida de um artista. É desse movimento que nasce "Sérgio Mamberti, Memórias de Um Ator Brasileiro", série documental dirigida por Evaldo Mocarzel, que revisita a trajetória do ator, diretor e gestor cultural falecido em 2021. Com três episódios, a produção estreia em 26 de setembro de 2025, às 22h00, no SescTV, com exibição semanal, e fica disponível na íntegra no site do canal e na plataforma e app Sesc Digital.

Mais do que um registro biográfico, a série apresenta um percurso em primeira pessoa, a partir de depoimentos de Mamberti e de extenso material de arquivo. Entrelaçam-se ali a história do teatro brasileiro, a resistência política, a cena cultural dos anos 1960 e 1970 e a intimidade de um artista que nunca separou vida e obra.

No primeiro episódio, o ator retorna à infância em Santos, no litoral paulista, onde o Clube de Cinema organizado por seu pai lhe apresentou mitos da cena brasileira, como o ator, diretor e dramaturgo Procópio Ferreira e a cantora Nora Ney. Foi também nesse período que, aos doze anos, conheceu a jornalista e escritora Patrícia Galvão, a Pagu, figura central na formação de seu olhar crítico.

Aos 17, mudou-se para São Paulo. Frequentava o Teatro de Arena, a Biblioteca Mário de Andrade e os bares onde bebiam José Celso Martinez Corrêa, Renato Borghi e uma geração decidida a reinventar a dramaturgia nacional. Ingressou na Escola de Arte Dramática da USP, a EAD. Fundada em 1948, a escola era referência nas discussões sobre o teatro moderno e se posicionava como peça central da dramaturgia paulistana.

A estreia profissional de Mamberti aconteceu em 1964, em meio ao Golpe Militar, na montagem de “O Inoportuno”, de Harold Pinter, sob a direção de Antônio Abujamra. Em apenas três anos de carreira, o ator recebeu o prêmio Saci - um dos mais cobiçados da época. Reconhecido pela crítica e pelo público, cultivou amizades duradouras no meio teatral, como Cacilda Becker, Walmor Chagas e o mestre polonês Zbigniew Ziembinski, arquiteto da encenação moderna no Brasil, por quem nutria devoção.

Os anos de censura e perseguição marcaram sua atuação política. "Durante o período da ditadura, o teatro assumiu a vanguarda da resistência, porque era um teatro extremamente politizado", recorda Mamberti. Filiado ao Partido Comunista, esteve em montagens como “Navalha na Carne”, de Plínio Marcos, e “O Balcão”, do francês Jean Genet, encenado pelo dramaturgo argentino Victor Garcia. Carregadas de crítica social, essas obras se tornaram símbolos de contestação e alvo frequente da repressão.

O segundo episódio da série conduz o espectador à casa de Mamberti no bairro da Bela Vista, em São Paulo. O espaço, aberto a artistas e intelectuais, transformou-se em ponto de encontro da contracultura. Uma casa de portas abertas, por onde transitavam nomes como Gal Costa, Gilberto Gil, Caetano Veloso, os Novos Baianos, entre outros. Foi lá que recebeu a companhia anarquista norte-americana Living Theatre, cuja proposta de revolução sexual e dissolução das fronteiras entre arte e vida influenciou decisivamente sua geração.

Paralelamente ao teatro, Mamberti consolidava sua carreira no cinema, tornando-se um rosto familiar na filmografia marginal e autoral brasileira. Seus personagens em obras como “Toda Nudez Será Castigada” (1973), de Arnaldo Jabor, “O Bandido da Luz Vermelha” (1968), de Rogério Sganzerla, “Maldita Coincidência” (1979), de Sergio Bianchi, e “Brava Gente Brasileira” (2000), de Lúcia Murat, testemunhavam sua versatilidade nas telas. Cinéfilo voraz, o ator assistia de oito a dez filmes por semana e nutria o desejo silencioso de dirigir.

O episódio final da série remonta a uma experiência em Londres, nos anos 1970, ao lado de Gilberto Gil. A cena - um ritual lisérgico com mescalina - tornou-se profecia: em um futuro ainda distante, ambos estariam juntos na reconstrução da política cultural brasileira. Décadas mais tarde, no Ministério da Cultura de Gil (2003-2008), Mamberti foi Secretário de Políticas Públicas para Música e Artes Cênicas, ministro interino em diversas ocasiões e representante do país em fóruns internacionais, realizando, com um sorriso irônico, o desejo antigo de seu pai de vê-lo como diplomata. Esteve também à frente do extinto Teatro Crowne Plaza, em São Paulo, que se destacou por promover shows a preços populares e revelar novos nomes da música brasileira, como Cássia Eller, Zélia Duncan e Chico César.

Apesar da intensa atuação como gestor, Mamberti nunca deixou de se reconhecer, antes de tudo, como ator. "O ator tem uma função social, ele tem esse efeito multiplicador", reflete. Seus cadernos de colagens, utilizados como parte do processo criativo, revelam a disciplina com que construía personagens. Mesmo presente na televisão - em diversas novelas e na marcante série infantojuvenil Castelo Rá-Tim-Bum - e no cinema, ele mantinha o teatro como núcleo de sua trajetória e era categórico em sua fala: "O teatro é a arte do ator".

A série se encerra com uma visita ao Teatro Ruth Escobar, onde encenou a peça “O Balcão” por dois anos. O espaço se torna metáfora de um ciclo que se completa."Sérgio Mamberti, Memórias de Um Ator Brasileiro" ilumina uma vida dedicada à cena, marcada pela resistência, pela paixão e pela crença inabalável no poder transformador do palco. Compre a biografia de Sérgio Mamberti neste link.


Serviço
"Sérgio Mamberti, Memórias de Um Ator Brasileiro"
Série documental
Direção: Evaldo Mocarzel
Conteúdo: três episódios
Duração aproximada: 50 minutos
Classificação indicativa: 14 anos
Estreia: 26 de setembro, sexta-feira, às 22h


Sob demanda
Quando: a partir de 26 de setembro de 2025
Assista em sesctv.org.br/mamberti e sesc.digital
Baixe o app Sesc Digital, disponível gratuitamente nas lojas Google Play e App Store.

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domingo, 5 de outubro de 2025

.: Kikito na mochila e boletos na bolsa: Isabel Guéron fala sobre as entressafras



Por Helder Moraes Miranda, jornalista e crítico de cultura, especial para o portal Resenhando.comFoto: Manuel Águas

Atriz e escritora, Isabel Guéron volta aos palcos com o monólogo "Entressafra", uma comédia de sutilezas e dores, construída a partir do livro homônimo escrito por ela. No palco do Teatro Glaucio Gill, em Copacabana, ao longo das quatro quartas-feiras de outubro, 8, 15, 22 e 29, sempre às 20h00, ela transforma o que há de mais comum - boletos, maternidade, reuniões de pais, ônibus lotados e silêncios - em arte.

Com humor e delicadeza, Isabel expõe a rotina sem filtro de uma mulher-atriz de mais de 40 anos, desafiando o estereótipo do glamur e colocando o público diante do avesso do ofício. A conversa a seguir, exclusiva para o portal Resenhando.com, revela bastidores da peça, o equilíbrio entre a artista e a mãe, a parceria familiar em cena e as cicatrizes das “entressafras” da vida. Um diálogo sobre arte, sobrevivência e o riso como forma de resistência.

Resenhando.com - "Entressafra" mostra a vida sem filtro de uma atriz com mais de 40 anos. Qual foi a situação mais “glamurosa” da sua vida que, por dentro, era puro caos e boleto atrasado?
Isabel Guéron -
Quando ganhei em Gramado, foi uma surpresa. Eu não ia ao festival, estava há duas semanas de uma estreia no teatro, Depois da Chuva, que eu fiz com direção do Thierry Tremouroux, com ensaios a todo vapor. Mas a produção do filme me convenceu a ficar só dois dias, eu pedi dispensa dos ensaios e fui. Cheguei no dia da exibição do "Buffo Spallanzani", o filme que eu fiz, e no dia seguinte já era a premiação! Eu não tinha visto os filmes concorrentes, estava totalmente sem expectativa. Aí, de repente, meu nome foi anunciado! Tomei um susto! No caminho da minha cadeira até o palco eu só pensava que não tinha preparado nada pra dizer. Quem me entregou o prêmio foi o Othon Bastos! Foi uma emoção sem fim, noite de gala, fotos, festa de cinema. No dia seguinte voltei correndo pro Rio. Fui do aeroporto pro ensaio com o Kikito na mochila (risos). Aí fiz a graça de no meio do ensaio tirar um Kikito da mochila, assim como quem não quer nada; foi uma alegria!


Resenhando.com - No palco você ri de si mesma e do ordinário. Mas e quando o cotidiano não tem graça nenhuma? Como você segura a atriz que mora dentro de você para não transformar tudo em espetáculo?
Isabel Guéron - 
Eu rio de mim mesma no palco e fora do palco. A peça fala sobre isso também: a graça das coisas que aparentemente são banais, a beleza por trás dos acontecimentos banais. E ser atriz, assim como escrever, me joga muito nesse lugar, de observadora. Uma vez, quando trabalhamos juntos, o Tony Ramos me disse que aceitou fazer o personagem quando leu uma cena singela, onde o detetive (personagem em questão) guardava um bolinho num envelope e punha na gaveta, pra lanchar depois. Ele enxergou a profundidade do personagem aí, nesse momento singelo e sem importância. Achei isso tão bonito, tão particular. A vida é assim: se revela nos detalhes. Eu vou vivendo e sendo atriz, é tudo junto. Às vezes é mesmo um espetáculo, mas na maioria do tempo a gente tá ensaiando. 


Resenhando.com - Você já ganhou um Kikito em Gramado, mas também já contou que enfrentou períodos de vazio profissional. Qual dos dois momentos foi mais difícil de encarar: o auge ou a ausência?
Isabel Guéron - 
O elogio e a crítica não podem ser levados muito a sério. É claro que o reconhecimento é uma alegria, e a entressafra pode ser muito dura. Mas eu não tenho outra opção senão continuar.


Resenhando.com - No espetáculo, a reunião de pais aparece como cena. Na vida real, já aconteceu de uma mãe ou pai te reconhecer ali como “a atriz da novela” e você ter que responder ao boletim escolar com a mesma seriedade de uma protagonista de Nelson Rodrigues?
Isabel Guéron - 
(Risos) Não, nunca aconteceu. Imagina uma personagem rodrigueana numa reunião de pais! Eu sou uma mãe mais leve... (risos).


Resenhando.com - A peça fala do ordinário, mas sua trajetória cruza com gente como Walter Lima Jr. e Maria Ribeiro. O que essas pessoas já disseram de você que não caberia num release, mas que ficou gravado na sua memória?
Isabel Guéron - 
Tenho a felicidade de ter amigos muito especiais e eles me dizem o tempo todo coisas importantes. Maria é minha parceira, amiga que eu amo, ficamos grávidas juntas as duas vezes, criamos um podcast juntas, o Isso não é Noronha foi um barato. Estamos amadurecendo juntas e temos uma relação familiar. O Walter é amigo que admiro muito, tenho profundo afeto. Já fui dirigido por ele algumas vezes e sempre tenho algo a aprender. Certa vez ele viu uma peça minha e me chamou pra um café e me disse Bel, você precisa, sua rapidez de raciocínio, sair do texto se for preciso. Ele estava reclamando do meu jeito CDF, de não querer errar e com isso me enrijecer. Tem anos isso, e eu nunca mais abri mão desse conselho. Ontem mesmo nos encontramos no caixa do mercado. Somos vizinhos!


Resenhando.com - A autoficção pode apresentar um reflexo perigoso: o que você descobriu sobre a Isabel Guerón que preferia não ter revelado ao público - mas que o palco a obrigou a escancarar?
Isabel Guéron - 
Descobri muito sobre mim escrevendo o texto. Na hora de adaptar e ensaiar eu atravessei muitos momentos. Chorei sozinha no ensaio algumas vezes e no processo de criação apresentei um esboço da peça em alguns lugares. Escola noturna, universidade, grupo de alunos de teatro. Foi importante entender o que gerava identificação nas pessoas mais diversas, escolher o que era extrapolação do âmbito pessoal. Eu não queria que fosse uma peça sobre mim, e acho que não é. Sou uma desculpa, um pretexto pra falar o que queria dizer.


Resenhando.com - Seu marido está na trilha sonora, seu filho opera o som. Família no teatro é mais companhia ou mais exposição? Alguma vez você já quis “desescalá-los” do processo criativo?
Isabel Guéron - 
Meu marido está na trilha sonora porque ele é um músico genial, sou muito fã do trabalho dele, e eu tenho essa sorte de ser casada com meu trilheiro oficial. Já trabalhar com o Joaquim é uma experiência nova. Quando a gente vê os filhos cresceram, né? E o Joca além de escrever suas músicas, está estudando teatro. Então, achei que seria uma oportunidade interessante para ele, estar dentro da equipe, encarar uma temporada. E ele estava doido pra trabalhar! Foi lindo de ver a dedicação e seriedade dele. Além da sensibilidade e companhia deliciosa! Eles sempre estiveram próximos. Quando eu fazia turnê com eles pequenos, de vez em quando, levava um filho comigo. Eu gosto dessa onda família de circo. E gosto também de viajar sozinha, de sair de casa, de ficar fora um tempo.


Resenhando.com - 
Você vive a entressafra como estado natural da existência. Mas, sinceramente: qual foi a entressafra mais dolorida, aquela que fez você cogitar largar tudo?
Isabel Guéron - 
Depois do meu primeiro filho fiquei assustada. Eu fiquei um ano e meio cuidando dele e depois foi difícil voltar. Porque não é só voltar a trabalhar, é se reencontrar depois da maternidade e ter estrutura pra deixar a criança. Aí fui fazer aulas, oficinas e fui voltando. Outro momento difícil foi a pandemia. Foi pânico total. Eu e Rodrigo somos artistas, ele trabalha com Carnaval, tudo parado. Nós, profissionais da cultura, fomos os primeiros a parar e os últimos a voltar. Eu montei estúdio caseiro e gravei um audiolivro atrás do outro pra fazer algum dinheiro, Rodrigo fazia show e aula on-line, as crianças tendo aula em casa, aquele cenário desolador no país com Bolsonaro, foi um momento que eu pensei: Acabou! Não vamos mais conseguir viver disso que a gente sabe fazer. Mas passou porque tudo passa. A gente ainda se sente meio reconstruindo, mas acho que isso é inerente.


Resenhando.com - A desigualdade social atravessa sua narrativa, do ônibus ao palco. Como atriz e cidadã, você sente que a arte que faz consegue tocar essa ferida ou, no fundo, ainda se fala para uma bolha privilegiada?
Isabel Guéron - 
Eu sou uma mulher ligada em política de modo geral. Meus pais eram professores universitários, de esquerda. Meus três irmãos trabalham com educação. Na minha casa sempre se discutiu política na mesa de jantar, todo mundo sempre tinha uma opinião sobre as coisas. É da minha natureza que as questões sociais atravessem minha vida e consequentemente meu trabalho. Mas eu tenho consciência da bolha em que vivo, e, por isso, meu esforço na dramaturgia da peça foi escapar da bolha. Talvez não escapar, porque é difícil. Mas o que reverbera aqui na minha bolha é que também pode reverberar em outros lugares? Ainda não sai do Rio com a peça. Mas o que eu mais gosto é de viajar com teatro e chegar em lugares diferentes. Jamais vou esquecer quando fui fazer uma peça com Silvio Guindane e Ângelo Paes Leme em Juazeiro, no Ceará, e a fila do teatro dava a volta na Praça. É lindo demais quando a gente consegue isso!


Resenhando.com - Se "Entressafra" fosse adaptado para a televisão - essa máquina de glamour e ilusão -, qual cena você faria questão de manter crua, sem maquiagem, para que ninguém dissesse depois: “a vida real não é assim”?
Isabel Guéron - 
Eu quero adaptar para TV! Já estou até pensando nas parcerias. Adoro a cena em que eu vou registrar minha casa no cartório. Foi uma situação tão inusitada, beirando o absurdo, que não poderia deixar de fora. Agora quem quiser ver a cena tem que ir assistir a peça no Teatro Glaucio Gill, dias 8, 15, 22 e 29 de outubro, quartas-feira. Em curtíssima temporada!

sexta-feira, 3 de outubro de 2025

.: Crítica musical: Muñoz, a volta do psych rock


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural. Foto: divulgação

Muñoz é um duo de heavy blues formado pelos irmãos Mauro e Samuel Fontoura. Naturais de Mineiros, município de Goiás, eles formaram a banda em Uberlândia, em Minas Gerais no ano de 2012. E se destacaram com o EP "Muñoz" em 2013 e o álbum "Nebula" em 2014, produzidos por Rafael Vaz no Caverna Estúdio. O seu mais recente lançamento é o CD "Twins", que reforça a sonoridade do duo no estilo psych rock.

A proposta de "Twins" foi produzir um trabalho que representasse com sinceridade a alma da banda: um duo barulhento, visceral e honesto. As letras, seguem uma linha surrealista, introspectiva e sarcástica, dentro do universo do psych rock, abordando temas como ego, solidão, tempo, sonho e loucura. No entanto, o foco do álbum não está nas palavras em si, mas na experiência sonora como um todo, onde voz, ruído e ambiência ocupam o mesmo espaço narrativo.

A capa do disco reforça o caráter íntimo e simbólico do projeto: uma fotografia dos irmãos ainda crianças, nos anos 90. A imagem remete à infância e à conexão fraterna que se traduz também na música - ora nostálgica, ora explosiva. Algumas faixas trazem uma pegada mais garageira, com espírito frenético, que remete à energia do garage rock como expressão juvenil. Se você curte ouvir bandas do segmento indie rock certamente irá se identificar com a sonoridade do Muñoz. Que está distante do som que você ouve nas rádios. E isso já serve como motivo para você conferir o trabalho desse interessante duo.


"Inner Voice"


quinta-feira, 2 de outubro de 2025

.: "Pom Poko: a Grande Batalha dos Guaxinins" e a bandeira da preservação

A ganância dos homens endinheirados sempre acima de tudo e todos, inclusive da destruição ambiental  nas colinas de Tama, no Japão. Eis que "Pom Poko: a Grande Batalha dos Guaxinins" ("Heisei Tanuki Gassen Ponpoko"), produção do Estúdio Ghibli, com direção de Isao Takahata, de fundo político, entrega uma autêntica revolução dos bichos em versão cinematográfica animada, com muita ousadia, encantamento e ensinamentos.

Todavia, trazendo para 2025 a classificação etária de 10 anos da produção de 1994, poderia ser problemática quando se tem uma geração com tamanha proteção da realidade. De fato, numa revisão, fatalmente, seria recomendada para uma idade superior. Também pudera, os guaxinins que lutam com suas armas para proteger seu meio natural da devastação, simplesmente expõe seus testículos, inclusive de modo verbalizado, e os usam até como paraquedas para contra-atacar quem degrada o ecossistema deles.

Contudo, a animação vai além de tal detalhe fisiológico. Musical, "Pom Poko: a Grande Batalha dos Guaxinins", ao tratar um tema importante, destruição de um habitat pelo crescimento urbano de Tóquio, usa a magia e a fantasmagoria. Assim, denuncia a depredação ambiental em nome de uma Tóquio prestes a ser erguida em colinas outrora verdes que passam a ser lisas. 

Sem desistir de voltar a ver a natureza por todos os lados, uma comunidade de guaxinins vê com dor seu território ser destruído pela urbanização avassaladora e responde aos humanos com rebeldia. Para tanto, os animais recorrem a poderes mágicos, entre eles o dom da transformação, inclusive se passando por homens e mulheres. 

Por outro lado, nem todos guaxinins são capazes de mudar a aparência. Contudo, a união faz a força e a meta de espantar os invasores torna-se realidade. Tal tentativa, rende na telona uma linda sequência com um desfile de encher os olhos.

O atemporal "Pom Poko: a Grande Batalha dos Guaxinins" voltou aos cinemas para celebrar os 40 anos do Studio Ghibli, com exibição na Cineflix Cinemas de Santos.



Filme: Pom Poko: A Grande Batalha dos Guaxinins (Heisei Tanuki Gassen Ponpoko (平成狸合戦ぽんぽこ)
Direção: Isao Takahata 
Estúdio: Studio Ghibli
Distribuição original: Toho 
Lançamento: Japão: 16 de julho de 1994; Brasil: 21 de junho de 1996
Duração: 119 minutos 
Gênero: Animação, Fantasia, Drama, Comédia 
País de origem: Japão 
Trilha sonora: Composta por Hasso Gakudan e outros artistas. 
Sinopse: A história acompanha os guaxinins das colinas de Tama, no Japão, que veem seu habitat ser ameaçado pelo crescimento urbano de Tóquio. Eles se unem e, usando a antiga arte da transformação, travam uma batalha contra os humanos para proteger sua casa e seu estilo de vida. 

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