domingo, 26 de junho de 2022

.: Crítica: "Golias" é filme-denúncia que não romancea jogo de interesses

Por: Mary Ellen Farias dos Santos

Em junho de 2022 


Uma professora de educação física chamada France (Emmanuelle Bercot) e a viúva agricultora Lucie (Chloé Stefani) têm um problema em comum no filme "Golias", produção francesa do Festival Varilux, em cartaz no Cineflix. O longa dirigido por Frédéric Tellier mergulha por meandros delicados que retratam o bem e o mal de uma realidade que se faz presente em todo o mundo. De um lado o objetivo de produzir em larga escala para lucrar mais, na base do custe o que custar, do outro, pessoas morrendo de câncer e mulheres gerando crianças com deformidades.

"Golias" confirma o título ao retratar o enfrentando de pessoas comuns com uma gigante de um conglomerado econômico, produtora de pesticidas. Assim, o público é levado ao tribunal quando há um julgamento sobre o efeito do uso deliberado de agrotóxicos nas plantações. Para o azar de Lucie, viúva de Margot, vítima de câncer em consequência do uso constante do pesticida que atinge tanto lavradores quanto moradores das proximidades. 

Ainda que o filme deixe claro ser uma obra ficcional, "Golias" é nitidamente uma denúncia de uma realidade mundial. Vale lembrar que, só no Brasil, Bolsonaro liberou 1.629 agrotóxicos em 1.158 dias de governo. Entretanto, Frédéric Tellier é ferrenho ao colocar o dedo na ferida e abri-la sem dó e trazer para debate as consequências assombrosas dos agrotóxicos. Tanto é que pouco depois do início, a viúva Lucie não consegue mais lidar com a falta de punição da gigante do pesticida cancerígeno e comete um ato desesperador.

O filme-denúncia francês também remete ao americano "Uma Voz Contra o Poder" protagonizado por Christopher Walken, mais focado ao personagem que quase perde tudo para um gigante agroquímico. A produção inspirada no caso do agricultor canadense Percy Schmeiser também leva originalmente o nome "Golias". Enquanto que o americano é "Percy vs Goliath", o francês foi batizado de "Goliath".

A produção de Frédéric Tellier é completa, pois foca no problema e suas causas, fazendo com os personagens desenvolvam os meandros e o aprofundem. Para tanto, entram em cena diversos personagens. Um advogado inescrupuloso, criador de fake news, em defesa da gigante, Mathias. Outro advogado, especialista em direito ambiental e endividado, que ingressa na causa por Lucie, mas consegue ir além, Patrick. Uma professora que trabalha à noite para complementar a renda, sendo também ativista contra o uso de pesticidas, France. 

Entretanto, há uma luz no fim do túnel quando Vanec (Jacques Perrin, de "Cinema Paradiso" e "A Voz do Coração" falecido em 21 de abril de 2022) entra em cena, durante um voo. "Golias" une drama e suspense na medida exata, além da cruel realidade que precisa ser mais tratada e não abafada. Filmaço imperdível! 

Em parceria com a rede Cineflix Cinemas, o Resenhando.com assiste aos filmes em Santos, no primeiro andar do Miramar Shopping. O Cineclube do Cineflix traz uma série de vantagens, entre elas ir ao cinema com acompanhante quantas vezes quiser - uma oportunidade para qualquer cinéfilo. Além disso, o Cinema traz uma série de projetos, que você pode conferir neste link.


Filme: "Golias" ("Goliath")

Diretor: Frédéric Tellier

Duração: 2h02

Gênero: drama, suspense

Classificação: 14 anos

Distribuidora: Bonfilm

Elenco: Emmanuelle Bercot (France), Jacques Perrin (Vanec), Gilles Lellouche (Patrick), Laurent Stocker (Paul), Marie Gillain (Audrey), Chloé Stefani (Lucie) 


Mary Ellen Farias dos Santos, editora do site cultural www.resenhando.com. É jornalista, professora e roteirista. Twitter: @maryellenfsm

Trailer










.: Entrevista: Janaron Uhãy: "Não estou torcendo para ninguém"

Participante indígena do povo Pataxó se destacou no programa "No Limite" pela habilidade nas provas, mas deixou o reality na última terça. Foto: Globo / Fábio Rocha

As habilidades nas provas do "No Limite" surpreenderam: Janaron Uhãy se destacou não só pela força e determinação, mas também pela tranquilidade que demonstrava em momentos de grande tensão. O competidor virou destaque dentro e fora do reality show, chegando a ser um dos favoritos ao prêmio pelos fãs, mas acabou não se saindo tão bem no jogo social, já que deixou de fazer alianças fortes o suficiente para formar maioria em um portal.

Com a união das tribos no programa e o início da dinâmica individual, Janaron se tornou um alvo fácil e terminou eliminado pelos seus companheiros. Na entrevista a seguir, o participante explica a sua estratégia e a escolha de fazer um jogo mais introspectivo. Ele também comenta a mudança de tribos e repercute o carinho que vem recebendo nas redes sociais. 

 
Você foi um dos participantes que mais movimentou torcida nas redes sociais ao longo da temporada. Agora aqui fora, foi surpreendido ou já imaginava que seria um dos favoritos do público?
Janaron Uhãy -
Eu não imaginava essa proporção imensa de ser o favorito ao prêmio nas redes. Eu fui tão surpreendido ao chegar aqui fora e ver essa repercussão, a grandeza com que o povo me acolheu e me considerou um vencedor, não só com o meu povo pataxó, mas também entre outros povos indígenas e as pessoas de todo o Brasil. Fiquei muito surpreendido de ver isso tudo, essa maravilha, acolhimento, carinho e amor. 
  

Algo muito comentado ao longo da sua participação foi a representatividade indígena que você trouxe. Na sua visão, qual a importância disso? 
Janaron Uhãy - 
Eu, como representante do meu povo pataxó, acho que a maior importância é ver a história sendo contada por nós, indígenas. Para mim, é muito importante estar em rede nacional falando um pouco da nossa cultura, mostrar a pintura. O meu povo e outros povos sofreram, foram esquecidos. E ter a oportunidade de levar essa representatividade foi importante para ajudar a quebrar paradigmas. Foi uma descolonização, muito importante para a cultura e para mostrar a história sendo contada pelo indígena. 


Você tinha muitas habilidades que eram importantíssimas nas provas e se destacou em vários momentos. Quais você avalia como os seus pontos fortes e fracos no jogo?
Janaron Uhãy - Dentre os meus pontos fortes, vejo alguns que mais predominam: natação, força, agilidade e tranquilidade. Acho que a tranquilidade foi um ponto muito forte e que fez muita diferença no jogo. Nos pontos fracos, acho que talvez eu precisasse ter formado uma aliança. Não vejo como um ponto fraco, mas faltou uma desenvoltura no programa. 


Apesar de ir muito bem nas provas, você mencionou que deixou a desejar no jogo social, no acampamento. Ser mais observador era uma estratégia?
Janaron Uhãy - 
O meu jogo era eu comigo mesmo. Depois, quando tive noção de que eu precisaria fazer aliança, era tarde, não tive como reverter.


Qual era a sua estratégia no jogo?
Janaron Uhãy - 
A minha estratégia era simplesmente fazer acontecer e ficar na minha, tentar me manter bem, cuidar do meu emocional, não deixar os outros participantes me atingirem. Eu tentei me manter forte mentalmente e cumprir na hora das provas. Manter bem a minha mente para o meu físico poder fazer nas provas. Mas não foi suficiente porque faltou o jogo social. Acho que o meu erro foi esse. 
  

Você foi um dos participantes que trocou de tribo, saiu da tribo Lua e foi para a Sol. Que diferenças sentiu? 
Janaron Uhãy - 
Quando aconteceu a troca, foi um momento do jogo em que me senti acolhido, muito bem, fiquei em paz ali. E nesse sentido, com o enredo que estava acontecendo, eu já estava satisfeito de ter chegado até ali.


O que mudou no seu jogo a partir dessa troca?
Janaron Uhãy - 
Mudou a minha mente. Se eu saísse depois da troca, eu já estava em paz, tranquilo e satisfeito de chegar até o ponto que cheguei. 
 

Você tentou uma aliança com os meninos na tribo Estrela aos “45 minutos do segundo tempo”, mas não foi o suficiente para se salvar. Agora eliminado, você se arrepende de não ter feito alianças mais cedo no jogo?
Janaron Uhãy - 
Realmente, tentei fazer para que eu continuasse no jogo. Não me arrependo, se fosse diferente talvez eu não teria seguido os meus princípios. O social prejudicou, sim, poderia ter ficado mais se tivesse chegado nas panelinhas, mas o meu jogo não era esse, não seria eu, o Janaron, se eu fizesse de outra forma. 


Como foi a experiência para você, valeu a pena?
Janaron Uhãy - 
Como eu vejo a galera falando na Bahia, valeu a pena e a galinha toda. Valeu demais ter participado dessa experiência, viver isso tudo. Foi bom demais, uma maravilha. Se me chamarem de novo, eu iria. Mas seria eu mesmo, da mesma forma, não teria outra visão de jogo. Não sei o que acontece, quando tem um prêmio envolvido as pessoas mudam de personalidade. Mas eu seguiria sendo o Janaron mesmo. 

Para quem fica a sua torcida?
Janaron Uhãy - 
Na verdade, sendo sincero, vejo que eu não tenho uma torcida definida. Nesse momento, não estou torcendo para ninguém. 

"No Limite" tem exibição às terças e quintas, após "Pantanal", com apresentação de Fernando Fernandes, direção de gênero de variedades de Boninho, direção artística de LP Simonetti e direção geral de Angélica Campos. O reality é mais uma parceria da Globo com a Endemol Shine Brasil, com base no "Survivor", um formato original de sucesso. Ana Clara apresenta o "A Eliminação" aos domingos, após o "Fantástico".

.: Entrevista: Ninha Santhiago rebate as críticas: "Planta, jamais!"

Mesmo com fortes alianças, participante se viu ameaçada com a junção das tribos e foi eliminada do programa. Foto: Globo / Fábio Rocha

O jogo de Ninha Santhiago no programa "No Limite" pode ter dividido opiniões, mas uma coisa é certa: ela teve uma participação marcante e passou longe da possibilidade de ser esquecida. Deu o seu máximo nas provas e mostrou as suas habilidades e força. Ao perceber que a tribo Lua mirava seus votos nas mulheres da equipe, fortaleceu alianças e conseguiu formar maioria na tribo Sol.

Com a fusão, Ninha se viu ameaçada, tentou trazer mais pessoas para o seu grupo e lutou pela sua sobrevivência até o último segundo, mas acabou eliminada na noite da última quinta-feira, dia 23. Na entrevista a seguir, ela revela a própria estratégia na competição, comenta a aliança com as mulheres da tribo e explica o desentendimento com Pedro na reta final do reality show


Logo no início do jogo você teve a iniciativa de formar uma aliança forte com as mulheres da tribo. Por que adotou essa estratégia?
Ninha Santhiago -
Minha aliança com as meninas começou por afinidade, assim como todas as outras alianças que formei no jogo. Fico espantada com essa repercussão negativa em torno desse assunto. Os homens se unem, isso é natural, mas quando nós, mulheres, fazemos é visto de forma negativa. Triste, né? 


Ainda na tribo Sol, você e Pedro tiveram algumas rusgas e isso ficou ainda mais evidente depois que as tribos se uniram. Como você explica o que aconteceu?
Ninha Santhiago - 
Ele era líder; eu também. Ele se sentiu ameaçado e começou a criar mentiras ao meu respeito na tribo Sol para tentar trazer outras pessoas para a nova aliança, mas não conseguiu. Foi para a tribo Lua e continuou a mentir, até que chegou a hora da fusão e o momento de lavar a roupa suja. Ele teve medo e queimou a largada. 


O seu jogo dividiu opiniões, mas uma coisa é certa: foi uma participação marcante, longe de ser esquecida. Como você vê essa repercussão?
Ninha Santhiago - 
Planta, jamais! Sempre fui protagonista da minha vida e ali dentro não poderia ser diferente. Estudei o jogo antes de entrar e fui ali na intenção de ganhar o prêmio. Em relação a repercussão, é um pouco triste ver que quando uma mulher toma uma postura de ter voz ativa, é tratada como vilã, manipuladora... uma coisa ruim. Mas os homens fazem isso a todo momento e é normal. A mulher tem que ser passiva, meiga e submissa, se não, é vista desse jeito. 

 
Você se arrepende de alguma coisa?
Ninha Santhiago - 
A única coisa que, pensando aqui de fora, se eu tivesse feito seria melhor para meu jogo, é o momento em que falo para Lucas, antes da prova, que ele era nossa opção de voto. A honestidade as vezes atrapalha (risos).


Valeu a pena?
Ninha Santhiago - 
Valeu muito a pena! Não me arrependo em nenhum momento de ter me inscrito no programa. Foi incrível! 


Você se destacou em várias provas e mostrou suas habilidades. Quais você considera os seus pontos fortes e fracos?
Ninha Santhiago - 
Meus pontos fortes com certeza são agilidade e equilíbrio. E ponto fraco, sem dúvidas, é a lógica (risos). 


Você foi eliminada no dia do seu aniversário. Como foi passar por esse momento dentro do reality?
Ninha Santhiago - 
Com certeza, é um momento histórico para minha vida. Nunca vou esquecer tudo que vivi ali e o fato de sair no meu aniversário fez isso ficar ainda mais marcado. 


Que aprendizados você leva dessa experiência?
Ninha Santhiago - 
Aprendi muito a controlar minhas emoções. Sempre fui muito impulsiva e isso já me atrapalhou bastante. 


O que foi mais desafiador: as provas ou o acampamento?
Ninha Santhiago - 
O racionamento de comida (risos)! Acampo desde que me entendo por gente, mas sempre tenho o mínimo conforto. Dormir na chuva foi sinistro! 


Aqui fora, se surpreendeu com o jogo de alguém?
Ninha Santhiago - 
Não. Eu me surpreendi com algumas falas, mas não com o jogo. Matheus, por exemplo, só me enganou na questão do nome, porque para mim estava bem claro quem era ele no jogo, e por isso nunca confiei nele. 


Para quem fica a sua torcida?
Ninha Santhiago - 
Para a Déa, minha preta. 


"No Limite"
 tem exibição às terças e quintas, após "Pantanal", com apresentação de Fernando Fernandes, direção de gênero de variedades de Boninho, direção artística de LP Simonetti e direção geral de Angélica Campos. O reality é mais uma parceria da Globo com a Endemol Shine Brasil, com base no "Survivor", um formato original de sucesso. Ana Clara apresenta o "A Eliminação" aos domingos, após o "Fantástico".

.: "Wastwater", montagem inédita no Brasil, traz texto de Simon Stephens

Espetáculo sobre o desespero humano diante de situações limite traz três casais que se encontram diante de uma escolha definitiva sobre seus futuros. Foto: Fernando Vilela

"Wastwater", espetáculo do autor inglês Simon Stephens, ganhou os palcos em 2011, em Londres, e obteve boa crítica. Agora, a peça estreia no Brasil, com direção de Fernando Vilela, em temporada no Teatro Pequeno Ato, na Vila Buarque, em São Paulo.

O elenco é formado por Ariel Rodrigues, Filipe Augusto, Fernanda Paixão, Gabriela Gama, Gabriela Moraes e Shirtes Filho, que já trabalharam com o diretor em outros espetáculos, como "Tragédia: Uma Tragédia", apresentado em 2021.

A peça trata do desespero humano diante de situações limites e de como agimos nas sombras, longe dos holofotes e dos limites da sociedade. Situado ao redor do Aeroporto de Heathrow, Londres, "Wastwater" é um tríptico do instante onde três casais estão fazendo uma escolha definitiva sobre seus futuros.

Frieda e Harry, mãe e filho que têm uma relação possessiva, se encontram pela última vez antes de uma viagem sem volta. Lisa e Mark, casal de amantes, entram num jogo de sedução e limites, mas deixam transbordar dores e traumas antigos. E Sian e Jonathan, longe dos olhos de todos, estabelecem um acordo terrível e sem saída sobre um tema delicado. Assim como um tríptico, as três cenas estão interligadas.

Com essas três duplas, o autor joga luz sobre ações e desejos escondidos e provoca uma discussão sobre o que define nossos valores visíveis e ocultos e sobre como estamos cada vez mais naturalizados diante da violência cotidiana e diária. "Wastwater" é o nome do lago mais profundo da Inglaterra. E ele dá nome à peça justamente por essa dualidade entre superfície e profundeza que o autor propõe. Quem somos e nossos papéis diante dos outros são só a capa superficial que nos envolve. A crítica elogiou a montagem inglesa de 2011 por provocar uma sensação de incômodo e tratar, de maneira atraente, crises existenciais.

O texto chamou a atenção do diretor Fernando Vilela pela potência do jogo proposto em cena, mas ganhou novo sentido a partir da pandemia de covid-19, que aumentou as sensações de solidão e medo. Por isso, ele provoca o público a se questionar como nos comportamos diante de todas essas mudanças de nossa realidade. E o texto de Stephens, mesmo escrito há mais de 10 anos, escancara justamente este incômodo encontro com uma violência silenciosa que se apresenta de diversas formas.

“Como estamos vivendo com a retina sendo bombardeada a todo instante de acontecimentos trágicos? Como estamos vivendo tendo muita morte no ar? Qual a medida que estabelecemos como normal? Em meio a uma escalada brutal do número de mortes e infectados num país que não apresentou planos de controle da doença; em meio às cabeças pretas sendo pisoteadas no asfalto; em meio a protestos, em meio a tudo isso, o texto de Simon Stephens se abre para novas chaves de ressonância”, diz Vilela.

O maior desafio de Vilela na direção e montagem da peça foi adicionar essa carga de atualidade e conexão sem mudar o texto de Simons. Ele optou também por manter o nome original pelo significado que ele traz.

“O mundo mudou muito desde que conheci esse texto. Com a chegada da pandemia, as necessidades, as urgências passaram a ser outras, em escalas maiores. Mas hoje, em 2022, passado o auge da pandemia e com a retomada dos trabalhos, o desafio maior é estar em relação com esse novo mundo, com essa nova configuração - ainda que estranha - de realidade. O texto do Simon Stephens é absurdamente vertiginoso, pois ele dá contorno às perguntas ainda sem respostas. E o que importa não são as respostas e as decifrações, mas os movimentos. As tentativas de movimento. O trânsito entre a superfície e a profundeza. E o reconhecimento de si nesse lugar”, explica o diretor.

O trabalho com os atores se deu em duas partes, uma on-line e a outra presencial. O grupo leu o texto pela primeira vez em março de 2020, “uma sexta-feira, antes do mundo fechar”, conta Vivela. “Passamos dois anos, já que tínhamos tempo, discutindo, lendo muitas e muitas vezes, investigando cada passo, analisando cada frase, cada palavra. E isso ajudou muito quando fomos para o presencial. Estávamos todos muito carregados do texto, querendo testar logo as possibilidades. E a construção, o trajeto do jogo, se deu de forma mais natural, muito por conta desse período extenso de análise”, conta o diretor.

“Eu sempre espero que o nosso trabalho seja uma oportunidade de olharmos para os nossos nós, os nossos vazios, nossas questões, nossos conflitos. Talvez a gente carregue alguma resposta durante esse processo, mas com certeza a gente carrega uma tentativa de início de alguma resposta. E eu espero que a peça consiga, na sua potência máxima, ser um disparador de movimento. Não há lugares estanques. Que a gente consiga ter consciência dos cantos escuros e das tomadas de decisão”, diz Vilela.


Sobre o autor
Simon Stephens é um dos expoentes mais sólidos do cenário atual da dramaturgia inglesa. Com 51 anos, tem mais de 30 peças escritas, entre adaptações de textos clássicos e contemporâneos, como "A Casa de Bonecas", de Ibsen, e "A Gaivota, de Tchekhov", e peças que pensam o mundo atual e suas grandes questões: violência, paternidade, solidão, racismo. Seu trabalho é muito difundido na Europa e nos Estados Unidos. Venceu o prêmio Tony em 2015 com a peça "The Curious Incident of the Dog in the Night-Time".


Sobre o diretor
Fernando Vilela é diretor, designer e artista visual. Formado em atuação pelo Teatro Escola Célia Helena, em Design de Moda pelo Istituto Europeo di Design e em cinema na FAAP, Vilela ministrou aulas de Method Acting/Lee Strasberg com Estrela Straus. Dirigiu as montagens "Dolores", de Edward Allan Baker (2019); "Tape", de Stephen Belber (2019); "O Filho do Moony Não Chora", de Tennessee Williams (2018); "Os Sobreviventes", de Caio Fernando Abreu (2016); e a montagem on-line de "Tragédia: Uma Tragédia", de Will Eno (2021).


Ficha técnica:
Espetáculo: 
"Wastwater". Texto: Simon Stephens. Direção: Fernando Vilela. Elenco: Ariel Rodrigues, Filipe Augusto, Fernanda Paixão, Gabriela Gama, Gabriela Moraes e Shirtes Filho. Cenografia e direção de arte: Fernando Vilela. Iluminação: Gabryel Matos. Direção de produção: Daniele Aoki. Produção executiva: Renata Reis. Realização: FRESTA e Árvore Azul.


Serviço:
Espetáculo: 
"Wastwater"
Temporada:
de 11 de junho a 26 de junho de 2022, sábados às 20h e domingos às 19h.
De 30 de junho a 8 de julho, quintas e sextas às 21h.
Duração: 110 minutos.
Classificação etária: 16 anos.
Teatro Pequeno Ato - Rua Doutor Teodoro Baima, 78 - Vila Buarque - São Paulo
Telefone: (11) 99642-8350.
Bilheteria aberta com uma hora de antecedência. Aceita cartões.
Capacidade: 40 lugares.
Venda: Sympla (ainda sem link) e bilheteria.

.: Estreia trilha sonora de "Elvis", o novo filme de Baz Luhrmann


A House of Iona/RCA Records lança a tão aguardada trilha sonora de “Elvis” Original Motion Picture. O novo filme de Baz Luhrmann, a cinebiografia de Elvis Presley, é estrelado por Austin Butler e Tom Hanks, já estreou nos cinemas americanos e em breve chega ao Brasil. A trilha sonora tem uma variedade de artistas, misturando diferentes gêneros e sons para criar algo especial ao lado do filme.

O álbum apresenta faixas de algumas das maiores estrelas – Eminem & CeeLo Green (“The King and I”), Tame Impala (“Edge of Reality - Remix”, com Elvis Presley), Stevie Nicks & Chris Isaak (“Cotton Candy Man”) e o dueto de Jack White com Elvis Presley (“Power of My Love”). Austin Butler também empresta seus vocais para “Trouble” de Elvis Presley, “Baby, Let’s Play House” e muito mais.

Da versão angelical de Kacey Musgraves de “Can't Help Falling In Love” para “Vegas” de Doja Cat que interpola a versão de ShonkaDukureh (que interpreta Big Mama Thornton no filme) de “Hound Dog” para a versão de balada rock de Måneskin da versão de “ If I Can Dream” – o álbum mistura os antigos clássicos com um toque único que traz nova vida a esses clássicos de Elvis Presley.

Em comemoração ao legado de Elvis Presley e ao próximo filme biográfico, o Spotify também está lançando um álbum aprimorado exclusivo, destacando muitas das músicas icônicas apresentadas no filme "Elvis", como “Hound Dog”, “Burning Love” e muito mais. Os fãs serão brindados com uma experiência de álbum multimídia com clipes especiais do diretor Baz Luhrmann, e os artistas de trilha sonora PNAU, Måneskin e Paravi compartilhando com os ouvintes a importância do legado musical de Elvis.

"Elvis" é um espetáculo épico de tela grande do visionário cineasta Baz Luhrmann que explora a vida e a música de Elvis Presley (Austin Butler) através do prisma de seu complicado relacionamento com seu enigmático empresário, o coronel Tom Parker (Tom Hanks). A trilha sonora apresenta o extraordinário corpo de trabalho de Elvis abrangendo os anos 1950, 60 e 70, ao mesmo tempo em que celebra suas diversas influências musicais e impacto duradouro nos artistas populares de hoje.

Você pode visitar a loja “Elvis Record Store” para ficar imerso no mundo de "Elvis", ouvindo as faixas originais do filme: https://recordstore.elvisthemusic.com. Você pode ouvir  "Elvis" Original Motion Picture Soundtrack: https://elvis.lnk.to/soundtrack.

Faixas de "Elvis" Original Motion Picture:

1 Suspicious Minds (Vocal Intro) Elvis Presley             
2 Also Sprach Zarathustra/American Trilogy Elvis Presley
3 Vegas Doja Cat                                 
4 The King And I Eminem & CeeLo Green         
5 Tupelo Shuffle Swae Lee & Diplo
6 I Got A Feelin’ In My Body (Stuart Price Remix) Elvis Presley and Stuart Price 
7 Craw-Fever Elvis Presley         
8 Don't Fly Away (PNAU Remix) Elvis Presley & PNAU
9 Can't Help Falling in Love Kacey Musgraves             
10 Product of the Ghetto Elvis Presley & Nardo Wick
11 If I Can Dream Måneskin                                               
12 Cotton Candy Land Stevie Nicks & Chris Isaak                 
13 Baby, Let's Play House Austin Butler                       
14 I'm Coming Home (Film Mix) Elvis Presley                   
15 Hound Dog Shonka Dukureh                   
16 Tutti Frutti Les Greene                               
17 Strange Things Are Happening Every Day Yola                 
18 Hound Dog Austin Butler                                             
19 Let It All Hang Out Denzel Curry             
20 Trouble Austin Butler                       
21 I Got A Feelin’ In My Body Lenesha Randolph
22 Edge of Reality (Tame Impala Remix) Elvis Presley & Tame Impala
23 Summer Kisses/In My Body Elvis Presley                   
24 ’68 Comeback Special (Medley) Elvis Presley         
25 Sometimes I Feel Like a Motherless Child Jazmine Sullivan
26 If I Can Dream Elvis Presley                       
27 Any Day Now Elvis Presley             
28 Power of My Love Elvis Presley & Jack White                 
29 Vegas Rehearsal/That's All Right Austin Butler & Elvis Presley
30 Suspicious Minds (Film Edit) Elvis Presley                 
31 Polk Salad Annie (Estreia trilha sonora do filme "ELVIS")   

 "Elvis", de Baz Luhrmann - Trailer dublado


sábado, 25 de junho de 2022

.: Entrevista: Meg Pedrozzo: "O amor dá liberdade de sermos quem somos"

Com produção de Vibox, cantora apresenta combinação audaciosa entre versatilidade e coração. Foto: André Bueno

Por 
Helder Moraes Miranda, editor do Resenhando. 

Artista talentosa, Meg Pedrozzo alança o EP "Pessoas São Falhas" que, ao longo de 13 minutos, percorre do R&B mais romântico ao afrobeat contemporâneo. A cantora, que gravita com facilidade entre diferentes estilos da black music, é natural do Grajaú, bairro de grande efervescência artística na zona sul de São Paulo. No EP, dirigido pelo produtor e multi-instrumentista Vibox, é possível medir o clima de romance sério e de liberdade compartamental na balada com seus temas sobre amor verdadeiro, flertes, festa e convivência.

As canções deste trabalho combinam as estéticas musicais de hoje com inúmeras referências do passado, como a clareza na voz de Meg, que optou por não fazer uso de muitos efeitos vocais para que o trabalho soasse mais orgânico, como os sons de décadas anteriores. O EP "Pessoas São Falhas" já está disponível via OneRPM. Nesta entrevista exclusiva, Meg Pedrozzo fala sobre música, trabalho e amor.


O que representa a música em sua vida?
Meg Pedrozzo - A música é a minha herança para este mundo, é a minha contribuição musical sonora, é a minha essência que viverá eternamente.


Como e quando começou a cantar?
Meg Pedrozzo - Eu comecei a cantar por volta dos 12 anos, cantava nas igrejas, depois virei baixista da igreja, depois que saí da igreja, fui cantar outros estilos até me encontrar sonoramente no grupo The Monkey’s Thc e agora trilho a carreira solo.


Pessoas são realmente falhas?
Meg Pedrozzo - Sim, não deveríamos ter aprendido sobre a história do príncipe encantado perfeito (risos). Quando se fala de amor, na minha visão, vejo que as falhas fazem parte de qualquer relação, seja afetivamente ou não, somos todes passíveis de errar, mas é importante perceber as falhas e corrigi-las.


Como se deu o processo de seleção de canções para o seu primeiro EP?
Meg Pedrozzo - A seleção ocorreu no ano de 2020 para 2021, logo no começo da pandemia. A escolha foi bem atípica mesmo, eu não pensava ainda em fazer um EP, mas fomos produzindo ao longo do período. Então, em um belo dia, sentamos e selecionamos tudo o tínhamos produzido até aquele momento, e aí sim surgiu a ideia de lançar tudo como um EP, contendo cinco faixas. Todas as faixas têm a assinatura do Vibox como produtor musical e diretor musical. E tem também a presença do Leandro Duarte, que foi fundamental para as construções das linhas de baixo.


Como foi trabalhar com Vibox?
Meg Pedrozzo - Olha, a primeira vez que eu tive contato com o Vibox, fiquei muito impactada, além da sua performance como produtor, multi-instrumentista e diretor musical. Todas as suas produções dele são de alto nível, ele sabe o que faz, domina demais essa gama de produção musical. A direção musical do Vibox foi fundamental para que esta EP brilhasse assim.


Na hora de escolher uma canção, qual é a mensagem que você prioriza?
Meg Pedrozzo - Sempre priorizo o amor, acho que todo dia a gente vê o mundo morrendo um pouco, sabe? Acredito que o amor é o sentimento que nos une, que dá liberdade de sermos quem somos.


Quem são as suas referências na música?
Meg Pedrozzo - Alcione, Péricles, Liniker, Whitney Houston, Mary J. Blige, Alicia Keys, Missy Elliott, SZA. Estes artistas possuem uma identidade musical única, muita musicalidade, é o que me chama atenção quando escuto qualquer música.


Qual é o papel da música no Brasil de hoje?
Meg Pedrozzo - O papel da música é poder representar diversas culturas, é poder compartilhar um pouco da sua arte com o próximo.


É possível viver de música no Brasil?
Meg Pedrozzo - Às vezes, sim, temos vários exemplos hoje em dia de artistas que construíram suas heranças através da música. Eu, como artista independente, precisei e preciso fazer diversos "corres" para poder lançar minhas músicas.


Para você, quais as características separam uma música boa de uma ruim?
Meg Pedrozzo - Músicas ruins são as que reproduzem o machismo, homofobia, transfobia, músicas que fazem apologia à violência feminina.


Você tem algum talento oculto? 
Meg Pedrozzo - Meu talento principal é o canto, atualmente eu estou imergindo no mundo de produção musical, quem sabe não vira um talento também (risos).


Se pudesse escolher somente uma música para ouvir para o resto da vida, qual seria?
Meg Pedrozzo - “It Hurts Like Hell”, da Aretha Franklin. É uma música que fala o quanto dói amar muito, quando você sabe que deu tudo de si e mesmo assim não deu certo, mas acima de tudo, fala sobre tentar encontrar a sua felicidade, e que às vezes precisamos deixar ir e às vezes precisamos partir.


Quem é a Meg Pedrozzo, por ela mesma?
Meg Pedrozzo - Uma artista que fala de amor e que ainda aprende todos os dias como amar, aprendiz de vida que não é fácil, através da música ela consegue compartilhar seus sentimentos e sua paixão por cantar.



.: Crítica: "O Segredo de Madeleine Collins" é um longa formidável



Por: Mary Ellen Farias dos Santos

Em junho de 2022 


"O Segredo de Madeleine Collins", filme que está nas telonas do Cineflix, no Festival Varilux de Cinema Francês, começa provocando. Ao som de chamadas no alto-falante, indicando se tratar de um shopping, conhecemos uma linda jovem que está em busca de uma roupa especial, pois a mãe lhe deu dinheiro para tal compra. No entanto, um mal-estar e um desfecho trágico é o que gera todo o drama e suspense do longa dirigido por Antoine Barraud.

Na sequência conhecemos uma loira parecida, em idade um pouco mais avançada. É Judith Fauvet (Virginie Efira, protagonista de "Adeus, Idiotas", filme do Festival Varilux de Cinema Francês de 2021). Linda, sedutora e extremamente ardilosa mantém vida dupla. De um lado é Judith com um marido maestro e mãe de dois meninos, um já adolescente. Do outro, é Margot, relacionando-se com um homem mais jovem que ela, Quim Gutiérrez (Abdel Soriano), assim como a linda menininha, Ninon. 

Judith mantém um jogo de mentiras sem que o marido se dê conta, afinal, a ocupação dele o faz viajar bastante. Assim, como a própria que participa de conferencias como tradutora. Contudo, ela é colocada contra a parede quando o filho adolescente ouve o fim de uma conversa com a declaração de amor da mãe. 

Todavia, o segredo da protagonista vai além da vida dupla e trabalha com a tensão a ponto de fazer roer as unhas. O longa dirigido por Antoine Barraud é brilhante, pois começa como um drama, mas, a partir da metade, apresenta revelações em sequência, imprimindo muito suspense na telona. E como toda produção excelente francesa, segue um rumo totalmente inesperado e um desfecho formidável -o que conecta a produção ao título. Imperdível!



Em parceria com a rede Cineflix Cinemas, o Resenhando.com assiste aos filmes em Santos, no primeiro andar do Miramar Shopping. O Cineclube do Cineflix traz uma série de vantagens, entre elas ir ao cinema com acompanhante quantas vezes quiser - uma oportunidade para qualquer cinéfilo. Além disso, o Cinema traz uma série de projetos, que você pode conferir neste link.



Filme: "O Segredo de Madeleine Collins"

Diretor: Antoine Barraud

Duração: 1h 42m

Elenco: Virginie Efira (Judith Fauvet), Quim Gutiérrez (Abdel Soriano), Jacqueline Bisset (Patty), Valérie Donzelli (Madeleine Reynal)


Mary Ellen Farias dos Santos, editora do site cultural www.resenhando.com. É jornalista, professora e roteirista. Twitter: @maryellenfsm

Trailer






.: Crítica musical: Gilberto Gil, 80 anos de musicalidade


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

Gilberto Gil chega aos 80 anos. Ainda cheio de energia e criatividade, produzindo canções inéditas ou revisitando outras, ele segue sendo uma referência em musicalidade e bom gosto na nossa seara musical. É impossível sintetizar sua importância em um único texto. De uma forma resumida, sua carreira pode ser dividida em quatro fases: a dos anos 60, panfletária, ajudando a criar o movimento batizado como Tropicália ao lado do amigo Caetano Veloso e de outros artistas e músicos.

Também foi um dos que ajudou a quebrar tabus na cultura musical do país colocando guitarras elétricas nos arranjos. Foi marcante a sua participação no festival de música popular da TV Record, com Os Mutantes, cantando "Domingo no Parque", canção que impulsionou a sua carreira. Suas canções despertaram a ira do governo militar da época. E por isso saiu em um exílio forçado, se despedindo do povo brasileiro com o genial samba "Aquele Abraço".

Após o exílio forçado na Europa, a partir de 1972, Gil entra na fase do "Expresso 2222", lisérgica, com o auxílio do genial guitarrista Lanny Gordim nos arranjos. Ficou marcada nessa fase as suas interpretações de "Chiclete com Banana" (hit de Jackson do Pandeiro, uma de suas influências musicais) e de "Maracatu Atômico" (canção de Jorge Mautner).

A terceira fase traz a trilogia do RE, a partir de 1975, com os álbuns "Refazenda""Refavela" e "Realce", com mais um ao vivo com a amiga Rita Lee ("Refestança"). Uma fase onde procurou deixar claro na sua música as suas influências musicais mais marcantes.

A quarta fase é marcada com um pé no pop feito para tocar no rádio. Mas ainda com uma indiscutível qualidade poética refinada. Discos lançados a partir dos anos 80, como "Luar", "Um Banda Um", "Extra" e "Raça Humana", entre outros, traziam várias pérolas musicais, das quais posso destacar "Tempo Rei", "Andar com Fé", "A Linha e o Linho", "Parabolicamará", só para citar alguns exemplos.

Sua discografia tem discos gravados em parceria com outros músicos igualmente importantes, como Jorge Benjor (álbum "Ogum Nagô", de 1975), Milton Nascimento (álbum "Milton e Gil", do ano 2000) e Caetano Veloso ("Tropicália 2", de 1993). Além de ser um músico completo (compõe e interpreta magistralmente), se revela um parceiro incrivelmente genial e produtivo.

Chegou a ocupar o cargo de Ministro da Cultura e recentemente foi nomeado integrante da Academia Brasileira de Letras, sendo o primeiro músico a assumir uma cadeira dessa instituição no país. Só resta agradecer a Gilberto Gil pelo que já produziu ao longo de sua carreira musical. E esperar para ver e ouvir o que ele vai produzir nos próximos anos. Pois os seus 80 anos estão longe de significar aposentadoria.

"Realce"

"Tempo Rei"

 
"Parabolicamará"

.: “Sereníssima?”, peça teatral com Leilane Bertunes, em curta temporada

E se o seu autossabotador ganhasse vida? “Sereníssima?” é um solo de Leilane Bertunes que apresenta uma artista perdida em meio a suas próprias pinturas, se mesclando com elas. Enquanto entra num embate sobre a função de se fazer artista, ela dá voz a icônica escultura de Michelangelo, David, como um espelho do impostor que temos dentro de nós, colocando em cheque o maior temor da personagem: o medo irracional do mundo achar que ela é uma farsa. Foto: Caio Gallucci


“Sereníssima?” é uma peça solo de Leilane Bertunes que teve como mote a ideia de mesclar teatro com os retratos autorais pintados pela atriz e aquarelista. A peça é inédita e faz apenas quatro apresentações em São Paulo, nos dias 25 de junho, 2, 9 e 10 de julho, às 20h no Teatro 0(zero)andar, na Santa Cecília. Como seria trazer um ateliê para cena onde a atriz pintaria e se pintaria em meio às próprias obras, se mesclando com elas?

Durante o processo de criação dramatúrgica foi surgindo a necessidade de ter um interlocutor em cena que fizesse o contraste entre o processo de criação de uma obra de arte e o impostor pessoal, figura que todos temos dentro de nós; um espelho, questionador e provocador do artista em seus mais íntimos momentos explosivos.

"David", de Michelangelo ganha voz pela a atriz e é justamente o uso da figura perfeita e icônica da escultura emblemática de Michelangelo Buonarroti que traz humor à história. "David", o impostor, coloca em cheque o maior temor da artista: o medo irracional do mundo achar que ela é uma farsa, mesmo não sendo. Os personagens iniciam uma jornada pelo autodescobrimento sobre as próprias impressões e pelas fases de vida de uma obra, ou de si mesmo.

"Alice no País das Maravilhas", por exemplo, representa a fase da imaginação, da infância em que a artista se encontra. Depois, na adolescência, Romeu e Julieta representam a paixão por um ideal. Por fim, na fase mais madura de uma criação, está o espelho da Rainha Má representando o próprio ícone sabotador, o dispositivo de insegurança. A artista, cansada de ser constantemente provocada pelo seu autossabotador, perde o equilíbrio e sucumbe à loucura, ao passo que provoca e conversa diretamente com a plateia sobre os clichês da profissão, como o artista é visto pela sociedade e como é tratado por ela. Embalada a essa sensação, a artiosta se pinta e finaliza sua grande obra, si mesma.


Ficha técnica
Espetáculo:
"Sereníssima"
Idealização: Leilane Bertunes
Texto e atuação: Leilane Bertunes
Direção: Dan Rosseto
Assistente de direção: Marcella Iole
Produção executiva: Bernardo Berro
Produção: Beatriz Pfeifer e Bernardo Berro
Assistente de produção: Alice Caffagni
Desenho de luz: Nicolas Manfredini
Cenografia e cenotécnica: Priscila Alcebiades
Trilha sonora: Dan Rosseto
Operação de som: Marcella Iole
Assessoria de imprensa: Adriana Monteiro /Ofício das Letras
Figurinos: Thaís Boneville
Costureira: Ray Lopes
Adereços: Leilane Bertunes e Letícia Bertunes
Fotos: Caio Gallucci
Arte gráfica: Leilane Bertunes


Serviço
Espetáculo:
“Sereníssima?” por Dan Rosseto
Local: 0Andar
Endereço: Rua Doutor Gabriel dos Santos, 30, 2º Andar (UNISA), Santa Cecília (perto do metro Marechal Deodoro)
Telefone: 11 3666-6138 | E-mail: contato@oandar.com
Dias 25 de junho, 2, 9 e 10 de julho, às 20h
Duração: 60 minutos
Classificação indicativa: 12 anos
Compra de Ingressos pelo link: https://linktr.ee/serenissima_teatro
Valores:
inteira R$ 40 + 4,00(taxa)
Meia-entrada: R$ 20 +R$ 2,50 (taxa)
Instagram da peça: https://www.instagram.com/serenissima_teatro/


.: Alceu Valença lança “Sem pensar no amanhã” filmado na pandemia

“Sem pensar no amanhã”, dirigido por Marcos Credie, mostra músico durante a quarentena, período em criou novas canções e revisitou a própria obra, resultando em quatro discos; este é o primeiro lançamento audiovisual do coletivo Pipoca em um formato sem intermediários na distribuição, sem dependência de algoritmos, com renda direcionada diretamente ao artista

Alceu em cena do filme: depoimentos e canções colocam o fã dentro de uma experiência única no processo criativo do compositor / Crédito: Pipoca


Pela primeira vez, o músico Alceu Valença é visto de perto criando novas canções e tocando violão em casa. A câmera que registra esses momentos inusitados, é a do diretor Marcos Credie, que teve acesso à intimidade do artista durante o período de quarentena. “Sem Pensar no Amanhã”, filme que chega em pay-per-view no dia 15 de julho, é o resultado de um mergulho na fase produtiva do compositor, que resultou no lançamento de quatro novos discos.

Enquanto o mundo enfrentava a pandemia da covid-19, Alceu entrou em estúdio para dar vazão a tudo que escreveu, sozinho, em seu apartamento no Rio de Janeiro. Em um dos quatro álbuns, teve ao seu lado no estúdio, o fiel companheiro Paulinho Rafael, seu guitarrista há anos, que viria a falecer meses após as gravações.

O filme também aproxima Valença de seu público. Trata-se do primeiro lançamento do Pipoca, coletivo que desenvolve comunidades em torno de paixões do brasileiro, sem distribuidores intermediários ou dependência de algoritmos, com a renda gerada direto para o artista. Ao comprar o acesso ao filme, o fã terá direito de assistir ao material por um mês, pagando diretamente na plataforma do projeto. O conteúdo não estará disponível nos cinemas ou streamings, cortando a lógica comercial que hoje determina os rumos da indústria cultural.

"Esta novidade é um marco para nós da Pipoca, para o Alceu e quem sabe para a indústria da música. Queremos formalizar as comunidades de fãs que já existem em torno de grandes artistas, criando essa conexão direta entre eles e seus fãs, sem depender de algoritmos como intermediários. E para esta comunidade queremos proporcionar acesso à intimidade do artista de uma forma nunca antes vista, a preços populares, para também funcionar como uma nova forma de remunerar a cadeia cultural, sistematicamente sucateada no Brasil", comenta Rogério Oliveira, da Pipoca, idealizador do projeto que também assina a produção executiva do filme de 45 minutos.

“É a primeira obra, seja musical ou visual, que envolve meu nome, minha música e que não sugeri nada, não participei de sua criação ou produção. Ele foi captado e desenvolvido pelos amigos da Pipoca durante um período muito introspectivo do lockdown, um período muito íntimo que vivi perto de minha família e perto do meu violão. Assisti à pré-estreia do filme curioso com o que iria ver, curioso sobre como iria me sentir. Ao final me vi emocionado. Fiquei muito feliz com a sensibilidade, com o registro que talvez se torne histórico sobre esse período, sobre minha obra, sobre minha relação com meu irmão Paulo Rafael”, declara Alceu Valença.


Depoimentos:


“Sem Pensar no Amanhã” traz depoimentos do filho Rafael Valença e da esposa do compositor, Yanê Valença, além do produtor Rafael Ramos e do engenheiro de som Matheus Gomes. Cenas de Alceu discutindo arranjos e gravando as músicas no estúdio entregam aos fãs um material afetivo. É que o músico Paulinho Rafael, vítima de câncer aos 66 anos em 2021, ganha no filme um registro histórico de seu talento e proximidade com a obra de Valença.

“Cheguei no apartamento do Alceu e de sua família no Rio de Janeiro sem roteiro. A ideia era captar a espontaneidade de Alceu, de sua família, de sua arte naquele momento único que era o lockdown e aos poucos sentir o que seria revelado para as câmeras. Tudo foi feito em três dias e já ao final do primeiro dia, tinha absoluta convicção, em primeiro lugar, do privilégio que era poder estar ali, captando a alma de uma entidade da cultura brasileira de uma maneira nunca antes vista. Em segundo lugar a convicção do quão histórico aquelas imagens, aqueles diálogos, confissões que se revelavam iriam se tornar”, afirma Marcos Credie, diretor do filme.

“Sem Pensar no Amanhã”, é o primeiro de um conjunto de lançamentos audiovisuais do artista que estarão disponíveis para seus fãs, exclusivamente via pay-per-view. Toda idealização e produção dos especiais audiovisuais são da Pipoca, que realiza projetos de live entertainment e digitais sempre com alta relevância cultural para comunidades.


Filme: “Sem Pensar no Amanhã” - direção Marcos Credie

Duração: 45 minutos

Disponível a partir de 15 de julho diretamente no site Sympla por R$12,00.


FICHA TÉCNICA

Direção Geral: Marcos Credie

Idealização e Produção Executiva: Rogério Oliveira

Realização: Pipoca

Montagem e Pós Produção: Pé de Coelho

Participações de:

Paulinho Rafael, músico e parceiro

Yanê Valença, esposa e produtora

Rafael Valença, filho

Rafael Ramos, produtor musical

Matheus Gomes, engenheiro de áudio

sexta-feira, 24 de junho de 2022

.: Crítica: "Querida Léa" vai além do voyeurismo de "Janela Indiscreta"


Por: Mary Ellen Farias dos Santos

Em junho de 2022 


Em "Querida Léa" (Chère Léa), longa em cartaz na rede de cinemas Cineflix, no Festival Varilux, a trama evolui em torno de uma carta de amor de despedida. Contudo, o cinema francês foge do óbvio e habitual a ponto de começar com Jonas (Grégory Montel) acordando com ressaca após "uma festa" e muita bebedeira. No local, prova ao segurança o que aconteceu para ser liberado e sair do prédio.

Ainda sonado, toma um táxi para casa, mas muda de rumo e chega ao apartamento da cantora Lea (Anaïs Demoustier). Aos poucos a relação deles é esmiuçada e descobrimos que ele, homem casado, é amante dela que, da própria janela vê a filha seguir para a escola que fica do ladinho de onde mora.

Entretanto, sem a criança, os amantes têm seu último encontro com direito a roupas separadas e, claro, sexo de despedida. Com a sacola de papel rosa recheada dos itens que deixou na casa de Léa, ele segue para o bistrô que fica justamente diante da entrada do prédio em que Léa mora com a filhinha.


É assim que entra na história o personagem agente da trama que ainda dá um toque especial, Mathieu (Gregory Gadebois, protagonista de "Delicieux", do Festival Varilux de 2021). Testemunha ocular do quanto Jonas passa um dia inteiro de olho na ex, e, na primeira oportunidade, lê o que Jonas escreveu para Léa. Sim! No bistrô, pede caneta e papel a Mathieu e começa a escrever uma carta.

Enquanto assume o oposto de editor amigo de uma carta escrita ali no bistrô, Mathieu também permite o público se dar conta do quanto do clássico "Janela Indiscreta" há em "Querida Léa", mas com toque modernizado e evoluindo a abordagem indo além do puro voyeurismo.

O longa de 1h 30m, do gênero drama e romance, tem um toque de comédia. Como resultado, a produção dirigida por Jérôme Bonnell é agradável de se assistir, fazendo rir e refletir sobre o que o futuro nos reserva -e pode estar escrito nas linhas das mãos.



Em parceria com a rede Cineflix Cinemas, o Resenhando.com assiste aos filmes em Santos, no primeiro andar do Miramar Shopping. O Cineclube do Cineflix traz uma série de vantagens, entre elas ir ao cinema com acompanhante quantas vezes quiser - uma oportunidade para qualquer cinéfilo. Além disso, o Cinema traz uma série de projetos, que você pode conferir neste link.

Filme: "Querida Lea" (Chère Léa)

Diretor: Jérôme Bonnell


Mary Ellen Farias dos Santos, editora do site cultural www.resenhando.com. É jornalista, professora e roteirista. Twitter: @maryellenfsm

Trailer





.: 1x2: Ms. Marvel deixa Kamala "Crushed" por Kamran

Por: Mary Ellen Farias dos Santos

Em junho de 2022


Após o episódio de estreia de "Ms. Marvel", conhecendo um pouco mais sobre a protagonista muçulmana americana, fã de Carol Danvers, a Capitã Marvel, em "Crushed", segundo episódio da nova série da Marvel, como o título entrega, vemos o lado apaixonado daquela que se revelou na VingaCon: a jovem Kamala Khan (Iman Vellani). Como?! Após o "sucesso" na convenção, ela se sente confiante e chega na escola com coragem. Detalhe: a passagem pelos corredores é semelhante ao episódio "Generation Why", mas com o toque da fama, ela reage diferente. Ledo engano.

A verdade é que todos os holofotes foram para a ex-amiga, salva pela nova heroína do pedaço no evento geek, que por sua vez, ganhou ainda mais seguidores no Instagram. Em tempo: a famosinha entrou também numa lista não muito interessante, a ponto de ser levada para dar depoimentos sobre o ocorrido e dar pistas de quem estava atrás do figurino. Envolvida numa investigação?! Sim. Contudo, a influencer nem faz ideia no que se envolveu. Sorte de Kamala!

No entanto, como nem tudo são só espinhos, Kamala Khan tem um momento de filme romântico juvenil com câmera lenta e tudo para conhecer Kamran (Rish Shah). Claro que a fã de heróis cai de amores por ele que, "por destino", escolhe ela para se aproximar. Ao ter a atenção em reciprocidade, Kamala faz um lipsync de "Be My Baby" -remetendo o clássico "Dirty Dancing"- e chega a deixar os treinos para aprender a lidar melhor com os poderes ao lado de Bruno (Mall Lintz). Brota ciúmes no amigo?! Sim. Provavelmente Bruno não quer ser somente a mente brilhante de Kamala. Em tempo: esse treinamento lembra tanto o do jovem Peter Parker tentando lidar com o seu sentido aranha, né?!

Por outro lado, a jovem consegue descobrir alguns segredos sobre a origem do bracelete, aliás, da dona do item que lhe trouxe poderes. A mãe de Kamala sabe algo?! Definitivamente, sim. Por outro lado, segue calada e ajuda a aumentar o suspense sobre o que está por vir a respeito de tal artefato. Em "Crushed", Kamala tem uma segunda chance de salvar alguém, porém se frustra com o resultado o que a faz pensar em deixar tudo de lado. 

A verdade é que "Ms. Marvel" mantém a jovialidade apresentada anteriormente, lembra, em certos pontos, até o seriado brasileiro "Malhação". Aliás, a identidade visual do seriado atribui muitos pontos positivos. No entanto, quando focamos em efeitos especiais, quando ela usa os poderes, em certas cenas, o trabalho desaponta e acaba quebrando a experiência de seguir nesse universo fantástico. De qualquer forma, "Ms. Marvel" é uma série agradável de se acompanhar!


Seriado: Ms. Marvel
Episódio: "Crushed"
Elenco: Kamala Khan (Iman Vellani), Bruno Carrelli (Mall Lintz), Nakia Bahandir (Yasmeen Fletcher), Kamran (Rish Shah), Yusuf Khan (Mohan Kapoor), Muneeba Khan (Zenobia Shroff), Zoe Zimmer (Laurel Marsden), Najma (Nimra Bucha), P. Cleary (Arian Moayed), Najaf (Azhar Usman), Tyesha Hillman (Travina Springer)
Exibido em 15 de junho de 2022


*Editora do portal cultural www.resenhando.com. É jornalista, professora e roteirista. Twitter: @maryellenfsm


← Postagens mais recentes Postagens mais antigas → Página inicial
Tecnologia do Blogger.