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terça-feira, 9 de agosto de 2022

.: Homenagem a Olivia Newton-John: os sonhos não envelhecem



Por Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

Tomei emprestada a frase que Marcio Borges usou para a melodia de Milton Nascimento e Lô Borges no título desse texto em homenagem a Olivia Newton-John. Porque creio que resume bem o sentimento que todos os fãs tiveram em relação a sua partida, ocorrida na última segunda-feira, dia 8 de agosto. Felizmente ela foi em paz, junto com a família, que recebeu o carinho de várias partes do mundo, inclusive do Brasil.

Olivia se foi depois de passar por duros e longos tratamentos contra o câncer que se manifestou em tempos diferentes de sua vida. Tinha 73 anos, mas ainda conservava o mesmo ar angelical daquela cantora que acabou sendo escalada para protagonizar o filme "Grease - Nos Tempos da Brilhantina" na segunda metade dos anos 70.

Quem não se lembra da doce Sandy que acabou formando o par perfeito com Danny Zucko, interpretado pelo amigo John Travolta? A trilha desse filme tinha pelo menos dois clássicos cantados pela dupla: "Summer Nights" e  "You´re The One That I Want". Ambas tocaram bastante nas rádios. Nessa época ela foi o crush de muitos adolescentes que hoje em dia são senhores com mais de 50 anos

Depois desse filme ainda viriam outros hits radiofônicos, como "A Little More Love", "Physical" e a trilha do filme "Xanadu", que não fez o mesmo sucesso que "Grease", mas tinha canções marcantes que até hoje estão no inconsciente popular ("Magic" e a canção título do filme são dois exemplos).

Curiosamente, depois dessa época áurea, pouco se ouviu de Olívia nas rádios. Não que ela não estivesse lançando discos. Continuou gravando ótimos trabalhos, mas de uma certa forma se afastou da mídia. Alguns de seus álbuns nem foram lançados no Brasil. Estrelou até outro filme com John Travolta, mas sem o mesmo impacto de "Grease".

Contudo, isso não conseguiu apagar a lembrança daquele ar jovial que ela tinha nos anos 70. Nem mesmo a sua partida precoce. Foi como se o passado se unisse ao presente e resgatasse aquela doce Sandy na nossa mente. Realmente, o Marcio Borges tinha razão: "os sonhos não envelhecem jamais".

"You´re The One That I Want"

"A Little More Love"

"Xanadu"


sexta-feira, 5 de agosto de 2022

.: Joyce Moreno traz as suas "Brasileiras Canções" em novo CD

Por Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

A cantora e compositora Joyce Moreno é um daqueles casos raros de artista completa. Com uma voz limpa, suave e afinada, ela ainda compõe verdadeiras joias musicais. Seu mais recente disco, Brasileiras Canções, o 42º de sua discografia solo, é um puro deleite para quem gosta da nossa MPB autêntica. A bossa nova é uma influência marcante em sua formação musical. Mas há elementos de jazz e de outras influências em muitos momentos de sua carreira, inclusive nesse mais recente lançamento. 
Caso raro de compositora, letrista, cantora, violonista e líder de banda, Joyce assina todos os arranjos e é acompanhada por seu conjunto de base: Hélio Alves (piano), Jorge Helder (baixo) e sua alma gêmea e de som Tutty Moreno (bateria). Alguns músicos são convidados, como as flautas de Teco Cardoso em “Tantas vidas”, o acordeão de Marcos Nimrichter na valsa “Paris e eu”, o segundo violão solista de Lula Galvão somando-se ao de Joyce em “Tantas vidas”, “Brasileiras canções” e “A morte é uma invenção”. E a guitarra de Chico Pinheiro em “Não deu certo (mas foi divertido)”.
Todas as canções são novas e foram compostas de 2020 para cá. A gravação foi realizada entre março e abril deste ano no estúdio da Biscoito Fino, no alto do Humaitá, no Rio de Janeiro. “Brasileiras Canções”, a canção que dá título ao disco, busca traduzir em muitos substantivos – “Uma jura de amor, um feitiço, um encanto/Um quebranto, um destino, uma cruz” – e alguns poucos adjetivos (“Maltratada emoção, desbotada ilusão”) o poder e amplitude da canção brasileira. Cada faixa é uma reafirmação constante do poder das canções como forma de configurar e embelezar o mundo.
Destaco a parceria em “A Morte É Uma Invenção”, na qual Joyce encara na letra o tema da morte com precisão e leveza, compatível com o choro enviado por Moacyr Luz, que canta a faixa com ela: “A vida é passageira/Num barco sem direção/A morte é uma fronteira/Apenas baldeação”.
A letra de “Tantas Vidas” foi escrita pelo poeta português Tiago Torres da Silva que aborda a temática feminina. Curiosamente, Joyce é considerada pioneira nessa temática na música ao longo de sua carreira.  Ela canta na primeira pessoa, os versos escritos pelo parceiro: “Eu sou o que bem quiser/Eu sou tantas e não esqueço/ Que ser eu e meu avesso/É o que me torna mulher”. E convidou para dividir o vocal nessa faixa a cantora Mônica Salmaso, um dos nomes de destaque como intérprete da nossa MPB. O samba-choro “Quem Nunca” é cantado em dueto com o especialista no gênero, Alfredo Del Penho, que também toca o violão de 7 cordas.
"Brasileiras Canções" é exatamente aquilo que o título sugere. Traz a magia da nossa autêntica MPB na voz maravilhosa e nas composições inspiradoras de Joyce Moreno. Vale muito a pena conferir esse seu novo disco.
Joyce Moreno - "Brasileiras Canções"

sexta-feira, 29 de julho de 2022

.: Crítica musical: Johnny Depp e Jeff Beck juntos em disco


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

O ator Johnny Depp, que já vinha se apresentando regularmente com a banda Hollywood Vampires, se uniu recentemente com um dos ícones da guitarra: Jeff Beck. Juntos, eles gravaram o disco intitulado apenas “18”, com algumas releituras e composições próprias.

Se unir com Jeff Beck é o mesmo que estar em um time de futebol com o Pelé no auge de sua forma. Nada pode dar errado. Ou quase nada, é claro. O repertório traz alguns hits da Motown, de John Lennon, Beach Boys e Velvet Underground, entre outros. E todas as releituras são convincentes para o ouvinte.

Johnny Depp não é um músico ruim. Muito pelo contrário. Mas é fato que ainda não atingiu um nível de maturidade que outros atores que se arriscaram na música atingiram. As releituras de "Isolation" (de John Lennon) e de "Venus In Furs" (do Velvet Undergound) são muito bem executadas, com a guitarra de Beck trazendo novas texturas nos arranjos.

Nas composições próprias, destaca-se a faixa "This Is A Song For Miss Hedy Lamarr", feita em homenagem à atriz/inventora. E claro que Beck traz a sua habitual mágica em versões instrumentais sensacionais de "What´s Going On" (de Marvin Gaye) e "Caroline No" (de Brian Wilson). É sempre um prazer ouvi-lo.

Nas demais faixas o resultado é mediano. Mas não a ponto de comprometer o trabalho em si. Deixa sempre para o ouvinte a certeza de que Jeff Beck continua sendo um monstro da guitarra. Enquanto  que Depp ainda tem um caminho a percorrer para se tornar um músico mais maduro.

"This Is A Song For Miss Hedy Lamarr"

"Caroline No"

"Isolation"

sexta-feira, 22 de julho de 2022

.: Graziela Medori e Alexandre Vianna revisitam o Clube da Esquina em CD


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

A cantora Graziela Medori se uniu ao músico Alexandre Vianna para produzir um disco com canções que marcaram um dos principais movimentos da nossa MPB: o Clube da Esquina. O resultado foi este "Nossas Esquinas" (gravadora Kuarup), que apresenta momentos intensos e de puro feeling, superando todas as expectativas.

O título explica bem a intenção do disco. Representa um novo olhar da intérprete e do músico sobre o cancioneiro consagrado por nomes como Milton Nascimento, Lô Borges,  Elis Regina e tantos outros. Para quem não conhece, Graziela Medori é filha da cantora Claudya e do músico Chico Medori. E ela faz valer a velha máxima de “filho de peixe, peixinho é”. Tem uma voz forte e afinada que se sentiu totalmente à vontade nas melodias consagradas pelo Clube da Esquina.

Não posso deixar de destacar o trabalho de Alexandre Vianna, um jovem músico que conseguiu produzir arranjos com uma maestria digna de um músico veterano. O segredo dele está na preocupação em fazer os trabalhos com foco em Graziela, valorizando a intérprete com arranjos que soam aparentemente simples, mas que na verdade exigem uma boa dose de musicalidade e sensibilidade (ou feeling, como alguns preferem chamar).

Destacaria as releituras de "O que Foi Feito Devera", "San Vicente", "Canoa Canoa" e "Cravo e Canela" (que começa com o vocal à capela de Graziela). Mas mesmo nas faixas menos conhecidas, como "Dos Cruces" e "Ao Que Vai Nascer", Graziela se supera ainda mais, mostrando seu poder de fogo como intérprete.

O CD "Nossas Esquinas" comprova a força perene das canções daquele grupo de músicos lá de Minas Gerais no início dos anos 70. E além disso, apresenta uma cantora e um músico que vão conquistando seu espaço na música. Com qualidade acima da média.

"O Que Foi Feito Devera"

"Cravo e Canela"

"San Vicente"

sexta-feira, 15 de julho de 2022

.: "Envolver": Márcio Greyck, impossível deixar de ouvir


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

Passados mais de 30 anos do seu último disco, Márcio Greyck está de volta com um novo trabalho com canções inéditas. O CD intitulado "Envolver" foi gravado inteiramente em casa. E pela primeira vez ele toca todos os instrumentos, além de assinar a maioria das canções.

Greyck é um daqueles casos difíceis de rotular. Lançado no final da Jovem Guarda, ele acabou se consolidando como um hitmaker de canções românticas nos anos 70, tendo ainda suas composições cantadas por nomes de destaque, como Roberto Carlos. Entre as mais conhecidas estão "Impossível Acreditar Que Perdi Você" (talvez o maior hit solo), "Vivendo Por Viver" e "Reencontro", só para citar alguns exemplos

Durante o tempo em que esteve afastado do mercado fonográfico, ele acabou encontrando na rede social um canal de comunicação com os fãs mais antigos de seu trabalho, bem como outros novos que passaram a descobrir suas composições.

A ideia de gravar o disco surgiu quando seu filho, Rafael, lhe deu um computador com aplicativos para gravar voz e instrumentos. Passou a dar vazão para a criatividade e compor canções em sua casa, onde gravou todos os instrumentos e os vocais de apoio. E acabou sendo incentivado por Marcelo Fróes, do selo Discobertas, a lançar esse disco produzido literalmente de forma caseira.

As músicas desse trabalho deixam claro que Márcio Greyck ainda tem algo interessante para oferecer ao ouvinte. Canções com rimas simples que chegam de forma direta para quem ouve, como na faixa de abertura, intitulada "Até Quando?" (...até quando/você vai querer fingir?/Até quando/você vai querer sentir?/até quando/você vai negar a dor/ninguém suporta tanto tempo a mesma dor...).

Há as habituais baladas românticas como "Seu Olhar" e "Amor Infinito", que se mesclam com outras com arranjos próximos da música folk como as faixas "Espelhos dos Meus Sonhos", "Setembro" e "Ao Som de Um Velho Blues".

A faixa "Prá Fazer Ela Voltar" é uma espécie de fox trot retrô que se encaixaria perfeitamente em qualquer disco do Roberto Carlos. Com enredo simples e direto, Greyck diz que é preciso se mostrar sempre alegre e em alto astral para fazer a pessoa amada voltar. "Envolver" foi uma escolha perfeita para o título do disco. Porque faz exatamente isso: envolve o ouvinte com melodias fáceis e mensagens que chegam de forma direta e objetiva, como deve ser sempre a nossa música popular. 

"Pra Fazer Ela Voltar"

"Seu Olhar"

"Amor Infinito"

sexta-feira, 8 de julho de 2022

.: Iuri Bittar revisita a obra de Ernesto Nazareth e Radamés Gnatalli



Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

O violonista, compositor e produtor musical Iuri Bittar está lançando "Alma Brasileira", álbum que apresenta arranjos inéditos para obras de Ernesto Nazareth e Radamés Gnattali, mestres da música brasileira, em especial do choro. O projeto, primeiro álbum de violão solo de Iuri Bittar, acaba de chegar às plataformas de streaming pela gravadora Biscoito Fino e confirma o músico como um dos talentos natos da arte do violão.

Para quem não sabe,  Iuri Bittar participou de diversos grupos de choro e samba, com os quais dividiu o palco com Paulinho da Viola, Paulo César Pinheiro, Luciana Rabello, Áurea Martins, Nei Lopes, Monarco, Nelson Sargento e Pedro Amorim, entre outros artistas.

O álbum tem direção musical de Ricardo Dias e conta com três convidados: os violonistas João Camarero, Paulo Aragão e Vicente Paschoal. Nele, Iuri Bittar une sua vasta experiência como violonista de choro a um minucioso trabalho de arranjo e adaptação ao violão de peças originalmente compostas para piano por Nazareth e Radamés.

O resultado foi uma série de arranjos para choros, tangos, valsas e sambas que confirmam a genialidade dos autores (Radamés e Nazareth). Para Bittar, o principal desafio foi manter as características fundamentais que fazem dessas peças verdadeiras obras-primas e, ao mesmo tempo, conseguir uma escrita e uma sonoridade características do violão. Para quem curte um som instrumental com ritmos tradicionais, esse "Alma Brasileira" é uma ótima opção, que pode ser conferida em várias plataformas de streaming.

"Escorregando"

"Brasiliana 13 II Movimento"

"Floraux"

sexta-feira, 1 de julho de 2022

.: Joss Stone se inspira na soul music dos anos 60 em novo disco


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

A britânica Joss Stone é um daqueles talentos raros de intérprete da nossa música pop. Com influência direta da soul music, ela vem apresentando um trabalho consistente desde o álbum de estreia. E a coisa se repete nesse novo disco, o emocional "Never Forget My Love".

Com produção de Dave Stewart (fundador do duo Eurythmics nos anos 80), o disco tem composições de Joss Stone em parceria com o produtor. Todas as faixas estão naquele clima dos anos 60, inspiradas nos hits da gravadora Motown que ajudaram a moldar a formação musical da cantora e do produtor.

A dupla escreveu as músicas no "Bay Street Studio", nas Bahamas, e depois as gravaram no Blackbird Studio de Nashville. O trabalho reúne baladas sentimentais como "You´re My Girl", "Love You Till the Very End" e "Does It Have to Be Today", mescladas com outras canções com um tempero pop irresistível, como "No Regrets" (que parece lembrar até os hits de Burt Bacharach em seu arranjo) e a faixa-título ("Never Forget My Love", com um ótimo riff de apelo dançante).

Gostei bastante de "When You're in Love", a faixa que encerra o disco de forma magistral. A faixa "The Greatest Secret" me lembrou bastante outra cantora britânica, Dusty Springfield, que certamente foi uma influência importante para Joss Stone. A verdade é que o disco vale a audição por inteiro. Dave Stewart conseguiu captar o que há de melhor de Joss Stone como intérprete, que por fim nos brinda com mais um ótimo trabalho, com resultado acima da média.

"Never Forget My Love"

"No Regrets"

"LoveYou Till The Very End"

sábado, 25 de junho de 2022

.: Crítica musical: Gilberto Gil, 80 anos de musicalidade


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

Gilberto Gil chega aos 80 anos. Ainda cheio de energia e criatividade, produzindo canções inéditas ou revisitando outras, ele segue sendo uma referência em musicalidade e bom gosto na nossa seara musical. É impossível sintetizar sua importância em um único texto. De uma forma resumida, sua carreira pode ser dividida em quatro fases: a dos anos 60, panfletária, ajudando a criar o movimento batizado como Tropicália ao lado do amigo Caetano Veloso e de outros artistas e músicos.

Também foi um dos que ajudou a quebrar tabus na cultura musical do país colocando guitarras elétricas nos arranjos. Foi marcante a sua participação no festival de música popular da TV Record, com Os Mutantes, cantando "Domingo no Parque", canção que impulsionou a sua carreira. Suas canções despertaram a ira do governo militar da época. E por isso saiu em um exílio forçado, se despedindo do povo brasileiro com o genial samba "Aquele Abraço".

Após o exílio forçado na Europa, a partir de 1972, Gil entra na fase do "Expresso 2222", lisérgica, com o auxílio do genial guitarrista Lanny Gordim nos arranjos. Ficou marcada nessa fase as suas interpretações de "Chiclete com Banana" (hit de Jackson do Pandeiro, uma de suas influências musicais) e de "Maracatu Atômico" (canção de Jorge Mautner).

A terceira fase traz a trilogia do RE, a partir de 1975, com os álbuns "Refazenda""Refavela" e "Realce", com mais um ao vivo com a amiga Rita Lee ("Refestança"). Uma fase onde procurou deixar claro na sua música as suas influências musicais mais marcantes.

A quarta fase é marcada com um pé no pop feito para tocar no rádio. Mas ainda com uma indiscutível qualidade poética refinada. Discos lançados a partir dos anos 80, como "Luar", "Um Banda Um", "Extra" e "Raça Humana", entre outros, traziam várias pérolas musicais, das quais posso destacar "Tempo Rei", "Andar com Fé", "A Linha e o Linho", "Parabolicamará", só para citar alguns exemplos.

Sua discografia tem discos gravados em parceria com outros músicos igualmente importantes, como Jorge Benjor (álbum "Ogum Nagô", de 1975), Milton Nascimento (álbum "Milton e Gil", do ano 2000) e Caetano Veloso ("Tropicália 2", de 1993). Além de ser um músico completo (compõe e interpreta magistralmente), se revela um parceiro incrivelmente genial e produtivo.

Chegou a ocupar o cargo de Ministro da Cultura e recentemente foi nomeado integrante da Academia Brasileira de Letras, sendo o primeiro músico a assumir uma cadeira dessa instituição no país. Só resta agradecer a Gilberto Gil pelo que já produziu ao longo de sua carreira musical. E esperar para ver e ouvir o que ele vai produzir nos próximos anos. Pois os seus 80 anos estão longe de significar aposentadoria.

"Realce"

"Tempo Rei"

 
"Parabolicamará"

sexta-feira, 17 de junho de 2022

.: Entrevista exclusiva: Dulce Quental, sob o signo do amor e da música

Cantora conta como foi o início da carreira solo e a criação de parcerias musicais, além de revelar o conceito do novo disco. “Ele surgiu de uma espécie de estado de silêncio e respiração, um mergulho nas sensações, pausas, e desaceleração geral promovida pela contemplação”.Foto: Nana Moraes

Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

Integrante da banda Sempre Livre nos anos 80 e dona de uma voz marcante, Dulce Quental vem desenvolvendo uma carreira solo interessante, que aponta para várias influências musicais. O seu mais recente trabalho, "Sob o Signo do Amor", mostra uma mescla de MPB, jazz e bossa nova, entre outros estilos. Em entrevista para o Resenhando, ela conta como foi o início da carreira solo e a criação de parcerias musicais, além de revelar o conceito do novo disco. “Ele surgiu de uma espécie de estado de silêncio e respiração, um mergulho nas sensações, pausas, e desaceleração geral promovida pela contemplação”.


Como surgiu a amizade com o Herbert Vianna e como ele contribuiu no seu início como cantora solo?
Dulce Quental - Conheci o Herbert em 83 no movimento do rock brasileiro. A gente se apresentava nos mesmos palcos, éramos da mesma geração. Uma vez voltando juntos de ônibus, Paralamas e Sempre Livre, começamos a namorar. Eu já havia saído da casa dos meus pais e acabara de voltar da França.  O namoro não durou muito, mas a relação foi se enriquecendo. Quando o Sempre Livre entrou no estúdio para gravar o LP "Avião de Combate" fizemos uma demo num estúdio caseiro testando algumas composições, entre elas o "Fui Eu", gravada pelo Sempre Livre. Quando saí do grupo, em 85, ele fez a ponte com a gravadora EMI. No meu segundo disco solo, foi meu produtor e me presenteou com a canção "Caleidoscópio", segundo ele, inspirada no meu jeito de ver as coisas, meio fragmentadas.


Como você define o conceito de um novo trabalho musical? 
Dulce Quental - Cada vez é de um jeito. Não existe uma fórmula, entende. Às vezes parte de uma ideia, outras das próprias canções e da seleção final. No caso de "Sob O Signo do Amor", o que foi determinante foi uma espécie de estado de silêncio e respiração, um mergulho nas sensações, pausas, e desaceleração geral promovida pela contemplação, o que favorece a simbiose entre letra e música.


Uma das composições marcantes é uma parceria com o Frejat, na canção em homenagem ao Cazuza ("O Poeta Está Vivo"). Como essa canção foi elaborada?
Dulce Quental - Um dia eu estava na casa do Cazuza, no apartamento da Lagoa, no Rio de Janeiro, e cantei para ele uma canção que eu tinha acabado de compor, chamada "Gato de Sete Vidas". Ele ficou muito impressionado e foi me visitar nos estúdios da EMI onde eu estava ensaiando para um show. Foi lá só para escutar a música de novo. Depois do ensaio fomos a um boteco ali perto, na Rua Mena Barreto, e ele me falou que estava doente e que iria para Boston se tratar. Quando voltou, compôs as canções do que seria o clássico "Ideologia". Eu fiquei muito impressionada com algumas letras, entre elas tinha uma música que falava: “eu vi a cara da morte e ela estava viva” (trecho da canção "Boas Novas"). Achei isso uma porrada!  Compus a letra do que viria a ser "O Poeta Está Vivo", impactada pela dor e sofrimento traduzidos naquelas composições. Cheguei até a mostrar para ele, num outro encontro na sua casa. Ele disse que eu estava escrevendo melhor do que ele. Era adorável o modo como fazia as pessoas se sentirem especiais.


Falando em parcerias, você se mostra uma parceira eclética, que passa por nomes como Paulo Monarco, e outros  contemporâneos, como Frejat e George Israel, entre outros. Como é que surgem e como acontecem as produções em parceria?
Dulce Quental - As parcerias surgiam da necessidade, antes de tudo, de encontrar alguém para fazer a música. Eu queria dizer muitas coisas, mas não dominava suficientemente a parte musical. Então eu escrevia as letras e dava para os parceiros, sempre procurando aprender com essa troca, inspirada um pouco no que cada um fazia. Com o tempo me dei conta que as músicas ficavam, às vezes, muito diferentes de mim e mais parecidas com eles. Aos poucos fui dominando o processo e trazendo mais para perto do meu jeito. Não sou uma grande melodista, nem toco bem violão, mas hoje percebo que o estilo se faz das nossas características e limitações, e isso não é necessariamente ruim, pode ser interessante.


Em 2012, você lançou o livro "Caleidoscópicas", que reunia crônicas. Você pensa em produzir algo na seara literária no futuro próximo?
Dulce Quental - 
Depois desse livrinho escrevi um romance de autoficção chamado, "100% Mais ou Menos". Eu estava preparando um livro de contos. Estava indo muito bem, mas parei de escrever para fazer o novo disco. E o romance está na gaveta. Algum dia, quem sabe, tomo coragem e tiro ele de lá. Pessoalmente, acho os contos melhores. O romance deu um trabalho de cão. Passou por dezenas de revisões, tem bons momentos, mas tendo a achar que não é o suficiente para ser editado. Mas foi importante ter escrito.


Como foi que surgiu a ideia do recente trabalho, "Sob o Signo do Amor"?
Dulce Quental - 
Eu estava me devendo um disco autoral. Meu último trabalho é de 2004. De lá para cá muitos discos foram engavetados. Por falta de dinheiro para produzir, ou porque eu não encontrava o produtor certo, o momento certo. Sob o signo do amor nasceu desse longo silêncio e de uma viagem para dentro, proporcionada, um pouco, pela pandemia. Eu ia viajar para a França para comemorar o meu aniversário de 60 anos, rever amigos que eu não via há 26 anos. Com a pandemia, o projeto da viagem caiu. Acabei indo parar em Angra dos Reis, um dos lugares que mais amo no mundo, onde passei momentos inesquecíveis na infância. Lá aluguei uma pequena casinha, com uma canoa e um stand up, e que servia de casa de apoio para um empresário local. Conversei com ele e pedi para que me cedesse por alguns meses, para que eu pudesse trabalhar no disco. Tive a maior sorte porque apesar de ele ser um cara do mercado financeiro, adorava música, tocava violão e guitarra e, por isso, entendeu tudo. Lá pude viver a experiência de fazer tudo que mais amo que é nadar e compor. Levei meu computador com Pros Tools, meu violão e passava as manhãs no mar e as tardes gravando. Às noites vi as luas mais lindas da minha vida.


Atualmente, quais são as suas referências na música? 
Dulce Quental - 
Gostei muito do disco novo do Caetano. O do Bob Dylan eu passei essa temporada em Angra ouvindo sem parar. Pegava a prancha de stand up e navegava horas com Dylan no ouvido. Gostei muito do último disco da Jane Birkin também. Rap e hip hop, eu adoro. Não entendo bem as letras, mas adoro a parte toda rítmica. É muito criativo e irreverente. Gostei do disco da Rosalía também, "Motomami". Divertido e inteligente. Chico Buarque é sempre uma grande referência, assim como Tom Jobim. Os grandes mestres do jazz. Ella Fitzgerald. Billy Holiday. Paul Desmond, Chet Baker. E os mestres da Bossa Nova. João Gilberto. Carlinhos Lyra... Fez um disco muito lindo recentemente. Um clássico já. Henri Salvador. Stacey Kent...Dos novos: Thiago Amud, Fred Martins, Zé Manoel, Dora Morelenbaum e o seu grupo Bala Desejo, Nina Becker, Jussara Marçal, Mariana de Moraes tem um disco lindo de bossa nova. Raul Misturada, Paulo Monarco.


Como você tem trabalhado para divulgar o novo disco?
Dulce Quental - 
Tenho feito lives na internet, Instagram, programas de rádio. Estou agora produzindo uma tiragem física do CD e me preparando para os shows. Estou louca para subir no palco de novo e me encontrar olho a olho com o público. Cantar esse disco todo ao vivo. Esse é o meu sonho agora. Viajar junto com as pessoas nessa sonoridade tendo Pedro, Jonas e uma galera incrível de novos músicos do meu lado.

"Amor Profano - Dulce Quental

"Poeta Assaltante - Dulce Quental

"Apenas Uma Fantasia" - Dulce Quental

sexta-feira, 3 de junho de 2022

.: Def Leppard: cada vez mais perto do mainstream em novo álbum

 


Por Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

Depois de um hiato de sete anos, a banda britânica Def Leppard está divulgando seu mais novo disco com canções inéditas. Denominado "Diamond Star Halos", o álbum segue o padrão de sonoridade que consagrou o grupo, que se mostra cada vez mais próximo do mainstream.

A formação conta com Joe Elliott (vocal), Phil Collen (guitarra), Vivian Campbell (guitarra), Rick Savage (baixo) e Rick Allen (bateria). E a manutenção dos integrantes pode explicar o direcionamento do som da banda, que se aproxima muito do chamado rock de arena dos anos 70.

O disco conta com a participação da cantora americana Alisson Krauss nas faixas "This Guitar" e "Lifeless", em dois momentos mais introspectivos do disco. Mas não há como evitar um certo clima de saudosismo nas faixas "Take What You Want", "Kick" e "Fire It Up". Parece até que vamos começar a ouvir os discos da fase clássica, como "Pyromania" e "Hysteria".

É claro que o vocalista Joe Ellliot já não tem o mesmo alcance do início da carreira. Mas sabe usar muito bem os recursos atuais que dispõe. E o restante da banda consegue produzir aquele tipo de som que nos acostumamos a ouvir com o Leppard: rocks cheios de energia, mesclados com baladas de cunho pop radiofônico.

A verdade é que o Leppard sempre manteve um flerte com o chamado mainstream. Desde a época dos hits "Love Bites" e "Pour Sugar On Me", entre outros. E essa tendência se reforça nesse novo álbum de inéditas. As faixas "Unbreakable" e "All We Need" são exemplos que seguem nessa direção.

Não dá para deixar de mencionar o ótimo trabalho das guitarras e do baterista Rick Allen, que mesmo tendo perdido um dos braços em um acidente automobilístico ocorrido em 1984, consegue manter o ritmo e fazer levadas bem interessantes com o instrumento. "Diamond Star Halos" é puro rock de arena, com plenas condições de levantar o público nos shows ao vivo. Por isso é que vale muito a pena conferir esse novo trabalho do Leppard.


"Take What You Want"

"Fire It Up"

"Kick"


sexta-feira, 27 de maio de 2022

.: "Exile on Main Street ": os 50 anos de um álbum essencial


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

Corria o ano de 1972. E os integrantes dos Rolling Stones viajam para a França, para compor e gravar as bases de seu álbum mais conciso, que traduziu de forma definitiva a mescla de rock, soul, blues e gospel, entre outras influências da banda. "Exile On Main Street" foi lançado como álbum duplo e até hoje é apontado como a obra-prima musical do grupo.

A ida para a França também foi motivada em parte pelos problemas que a banda enfrentava com o Fisco Inglês. Mas é fato que o auto-exílio serviu para que o grupo tivesse a liberdade suficiente para produzir canções novas, sem a pressão de emplacar hits nas paradas.

A formação da banda na época era Mick Jagger (vocal), Keith Richards (guitarra e vocais), Charlie Watts (bateria), Bill Wyman (baixo) e Mick Taylor (guitarra). A mesma que havia produzido o álbum anterior ("Sticky Fingers"), com a adição de alguns músicos convidados como Billy Preston e Dr. John, além de outros que já tocavam habitualmente, como o tecladista Ian Stewart e o saxofonista Bobby Keys.

A dupla Jagger-Richards assina a maioria da autoria das canções. As primeiras faixas funcionam como uma espécie de ode ao rock´n roll mais puro em sua essência, culminando no hit "Tumbling Dice". Na sequência seguem baladas com tom folk e da soul music ("Sweet Virginia" e "Torn And Frayed").

É desse disco a canção que Keith Richards sola o vocal ("Happy"). E o interessante é que a canção foi gravada como uma jam session descompromissada, conforme o próprio intérprete revelou em entrevistas dada na década de 80. A balada "Shine a Light" parece ter sido influenciada diretamente pela soul music, enquanto que "All Down The Line" representa de forma exata a forma dos Stones tocarem rock´n roll, assim como a ótima "Soul Survivor".

Em que pese os problemas enfrentados com o alto consumo de drogas, Keith Richards está simplesmente magistral na condução dos riffs e solos, que dividia com o competente Mick Taylor. O restante da banda (Watts e Wyman) apenas fazia a sua parte preenchendo os espaços de forma concisa nas canções.

Não por acaso, o disco é frequentemente apontado pela crítica especializada como um dos maiores álbuns de todos os tempos. Ele fecha um ciclo de álbuns magistrais, com os antecessores "Beggar´s Banquet", "Let It Bleed" e "Sticky Fingers". E hoje em dia, 50 anos após o seu lançamento, continua com uma sonoridade mais atual do que nunca. É somente rock´n roll. Mas nós gostamos.


"Sweet Virginia"

"Tumbling Dice"

"Shine a Light"


sexta-feira, 20 de maio de 2022

.: Crítica musical: Nazareth se reinventa com CD "Surviving The Law"


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

Grupo que está na estrada do rock desde o final dos anos 60, Nazareth está lançando um novo disco com material inédito. E a nova formação da banda busca reinventar o seu hard rock consagrado na década de 70.

É difícil resumir em poucas palavras a história e influência na história do rock que o Nazareth teve. Os veteranos roqueiros do Reino Unido entrarão em seu 54º ano de existência em 2022 com este lançamento de seu 25º álbum de estúdio, “Surviving The Law".

A formação é a mesma do álbum anterior, composta por Jimmy Murrison (guitarrista), Lee Agnew (baterista desde a morte de Darrel Sweet em 1999), Pete Agnew (membro fundador, no baixo) e o vocalista Carl Sentance (que passou a substituir Dan McCafferty a partir de 2018, quando este teve que deixar a banda por problemas de saúde).

Com tantas mudanças, era de se esperar que o som da banda sofresse alguma alteração. Acabou ficando mais próximo do mainstream. É puro rock de arena com sabor setentista. Para constatar isso basta ouvir a faixa "Mind Bomb", com riff forte e preciso. A tônica se repete em quase todas as faixas, algumas mais aceleradas do que as outras. O vocal de Sentance se aproxima um pouco do de McCafferty, mas tem uma identidade própria. Mais enraizada no rock de arena. No final do disco tem uma ótima versão acústica de "Let The Whisky Flow", em clima de jam session.

Só não espere encontrar nesse disco canções do nível de álbuns essenciais da banda, como o "Hair Of The Dog" e "Rampant". Seria até injusto comparar essa fase atual com a do passado. Mas se você olhar apenas para o tempo presente, poderá curtir um bom disco de hard rock.

"Strange Days"

"Runaway"

 "Better Leave It Out"


sexta-feira, 13 de maio de 2022

.: Entrevista: Felipe Andreoli, baixista do Angra em carreira solo


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

Considerado um dos melhores baixistas da atualidade, Felipe Andreoli está lançando o seu primeiro disco solo. "Resonance" é o resultado de muito estudo e das experiências em seu grupo, o Angra, na qual ele permanece como integrante.

O trabalho solo, intitulado "Resonance", é concentrado mais na música instrumental, embora também tenha uma faixa cantada ("Thorn In Our Side"). Em entrevista para o Resenhando.com, Andreoli conta como foi o processo de elaboração desse projeto solo e revela que o grupo Angra continua produzindo material inédito. “A música instrumental tem um público fiel e cativo”.


Apesar de estar há bastante tempo na música, somente agora você está lançando seu primeiro disco solo. Por que demorou para realizar esse projeto?
Felipe Andreoli - A vontade de fazer esse disco existia há muitos anos, mas sempre havia algum outro projeto que tomava minha atenção e meus esforços de composição, fosse o Angra ou alguma outra banda. Desta vez, na pandemia, eu estava em casa e sentindo muita falta de tocar. Meu filho havia nascido há poucos meses e eu estava curtindo muito acompanhar o crescimento dele, mas a música fazia muita falta. Foi aí que decidi começar a escrever músicas, como uma desculpa para tirar um tempo pra mim e voltar e ter contato com os instrumentos. Em pouco tempo, já tinha o esqueleto do disco praticamente feito. 


O que difere esse seu projeto solo dos desenvolvidos no Angra?
Felipe Andreoli - Existe uma diferença de estilo, já que o meu projeto transita muito entre o jazz fusion e o prog, além do fato que o baixo acaba sendo o instrumento de destaque e não a voz. Fora isso, em uma banda é preciso existir uma certa democracia nas decisões, o que de fato não ocorreu no meu álbum. Ele foi totalmente feito para saciar as minhas vontades e anseios. Depois de 25 anos tocando em bandas, foi bom ter esse controle total do processo criativo. 


Alguns músicos acham que o mercado para música instrumental é bem restrito no Brasil, sem muito espaço na mídia. Qual a sua opinião a respeito?
Felipe Andreoli - Não posso discordar. Cada ano que passa sinto que o interesse geral das pessoas se direciona para estilos mais populares, de músicas de rápido consumo. A música instrumental exige do ouvinte uma atenção à música que a maioria das pessoas não tem. Por outro lado, existe um público fiel e um circuito de casas de shows e festivais que ainda prestigiam a música instrumental, completamente independente da grande mídia. 


Como foi que se elaborou o projeto "Resonance"?
Felipe Andreoli - Começou com um garimpo de ideias antigas e trechos que fui gravando ao longo dos anos sem um destino certo. Quando eu me juntei ao Dallton Santos, começamos a organizar essas ideias e acrescentar várias outras. A inspiração para compor foi se intensificando até que o processo tomou um ritmo rápido e logo o disco estava completo. 


Em quem você se espelhou como baixista? Fale sobre suas principais influências musicais?
Felipe Andreoli - Minhas principais influências são Cliff Burton, Billy Sheehan, Jaco Pastorius, Michael Manring, Geddy Lee, Gary Willis, John Patitucci, Victor Wooten, só para citar uma pequena parte. 


Como está o seu trabalho com o Angra? 
Felipe Andreoli - Estamos nos preparativos para a turnê comemorativa de 20 anos do "Rebirth", que acontece em junho/julho. Ao mesmo tempo, estamos já escrevendo músicas para o próximo disco e devemos entrar em estúdio em novembro. 


Você também é conhecido como um bom instrutor de workshop ensinando técnicas e atualizando o que há de melhor nos equipamentos. Hoje em dia, que equipamentos você recomenda para os baixistas iniciantes?
Felipe Andreoli - Eu sempre recomendo os baixos da Ibanez, não só por ser a marca que eu uso, mas também porque são instrumentos excelentes em todas as faixas de preço, mesmo os de entrada. Também recomendo muito os amplificadores da Aguilar, cordas D’Addario, pedais NIG, Boss e Darkglass. 


É verdade que você está convidando cantores das cidades onde irá se apresentar? Como tem sido essa experiência? 
Felipe Andreoli - Sim! No "Resonance" existe uma faixa chamada "Thorn In Our Side" que foi cantada pelo vocalista croata Dino Jelusick. Como não estou viajando com vocalista, achei que seria legal pegar talentos locais para executar essa música ao vivo, e dar a eles a oportunidade de mostrar seu trabalho. O primeiro show foi muito legal!


A tour "Resonance" já tem agendas previstas no Rio de Janeiro, Goiás, Santa Catarina, Paraná e São Paulo. Há chance de Santos conferir esse seu trabalho?
Felipe Andreoli - Esta é apenas a primeira perna da tour. Tem ainda muitas cidades que quero visitar e Santos é certamente uma delas.


"Metaverse"

"Not a Day Goes By"

 
"Thorn In Our Side"

sexta-feira, 6 de maio de 2022

.: MPB em festa: o cinquentenário do Clube da Esquina

Por Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural

Há 50 anos era fundado o clube mais amado da nossa MPB. Tendo Milton Nascimento como principal catalisador, um grupo de músicos acabou por produzir um álbum duplo intitulado Clube da Esquina, que se tornou um dos mais importantes lançamentos da cultura musical do País.

É difícil dimensionar a importância desse álbum. Até hoje tem artista que cita ele como fator importante na sua formação musical. E é interessante, porque na época o disco tinha um certo ar de vanguarda, com alguns arranjos que nos remetiam até ao jazz em alguns momentos.

No entanto, o segredo do Clube estava na dose certa e equilibrada entre a musicalidade e o senso do gosto popular. O núcleo criativo desse disco estava centralizado entre Milton Nascimento e Lô Borges. O primeiro já havia participado dos festivais nos anos 60, enquanto que o segundo estava com apenas 18 anos e com muitas influências dos Beatles e de outras vertentes do rock da época na mente.

Os arranjos e as letras das canções tiveram vários colaboradores, entre eles Toninho Horta, Wagner Tiso, Beto Guedes, Ronaldo Bastos, Fernando Brandt, Marcio Borges, Novelli, Robertinho Silva, Tavito, Luiz Alves, Tavinho Moura, Nivaldo Ornelas, Murilo Antunes, entre outros. Boa parte deles oriunda de Minas Gerais.

Esse grupo saiu de Minas para produzir e gravar as canções no Rio de Janeiro em 1972, no estúdio da EMI-Odeon. E mostrou uma mescla incrível da MPB com outras influências musicais. Há momentos em que o ouvinte se transporta para o interior do País, com uma música de raíz, onde até se ouve sinos badalando ou vislumbra uma janela lateral de onde se avista a igreja da cidade interiorana.

Poderia citar algumas canções que se tornaram clássicas, como "Trem Azul" (com um solo antológico de guitarra de Toninho Horta), "Cais" (um momento mágico de Milton Nascimento como compositor e intérprete), "Paisagem da Janela" (com vocal de Lô Borges), "San Vicente" (com vocal antológico de Milton). Mas estaria sempre faltando algo, pois até mesmo as menos conhecidas do disco são essenciais para complementar a audição do álbum.

Fernando Brandt resumiu bem a questão da perenidade do álbum em uma de suas declarações dadas há alguns anos, antes de seu falecimento. “Acho que esse é um tipo de música que sempre vai ter gente interessada em ouvir. A influência do Clube está em tudo: música do interior, Folia de Reis, Jazz e dos Beatles, por causa do Lô e do Beto Guedes”.

A educadora e produtora editorial Andréa Estanislau está promovendo uma campanha na plataforma Catarse, com o objetivo de lançar a segunda edição do livro "Coração Americano", que mostra os bastidores da gravação do antológico álbum. Há depoimentos sensacionais dos personagens que fizeram o disco e de pessoas que relatam como essa obra impactou nas suas vidas e na nossa cultura popular. Quem quiser colaborar com a campanha basta acessar o endereço https://www.catarse.me/livro_coracao_americano_2a_edicao.

"Tudo o que Você Podia Ser"

"Trem Azul"

"Cais"



sexta-feira, 29 de abril de 2022

.: "Brother Johnny": Johnny Winter ganha tributo do irmão Edgar em disco


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural. 

Falecido há oito anos, o guitarrista Johnny Winter ganha um belo tributo em disco capitaneado pelo seu irmão mais novo, Edgar, contando com a presença de vários músicos de gerações diferentes que foram influenciados pela técnica inconfundível do homenageado. O CD "Brother Johnny" traz 17 canções do rico repertório de Winter, sempre com foco no blues rock.

Após a morte de Johnny Winter em 2014, o irmão Edgar, que gravou e tocou com ele com frequência, sentiu que organizar uma homenagem musical tão perto de sua morte não parecia apropriado. Mas depois de alguns anos, ele foi encorajado por outros, incluindo sua esposa, a seguir em frente.

O resultado é este sincero conjunto de 17 faixas, com Edgar chamando um grupo diversificado de estrelas para ajudar uma banda principal que ele dirige. Músicos que foram influenciados por Johnny (Joe Bonamassa, Derek Trucks, Kenny Wayne Shepherd, Doyle Bramhall ll, Warren Haynes), queriam contribuir como os texanos Billy Gibbons, David Grissom ou colegas como Bobby Rush e Joe Walsh. Todos se revezam em um lote de clássicos, muitos deles covers que o guitarrista fez em seu próprio estilo.

Edgar toca em tudo. Lidera os vocais em cerca de metade das seleções e ajuda a combinar músicas com artistas. Ele também escreveu duas novas composições. “Lone Star Blues”, onde ele compartilha os vocais principais com Keb’ Mo’ (que toca várias guitarras), fala na voz em primeira pessoa de Johnny contando sua história de vida da obscuridade a um relacionamento desconfortável com o estrelato. O encerramento “End of the Line” é uma balada sincera, embora um tanto sentimental, acompanhada de cordas sobre a morte que deixa o álbum em um momento meditativo.

O disco está repleto de performances convincentes, claramente motivadas emocionalmente, mostrando o amor dos participantes pelas músicas, vocais e arranjos que tornaram o toque do blues de Winter tão icônico.

Joe Bonamassa arrepia no efeito slide para a abertura de “Mean Town Blues”. Kenny Wayne Shepherd faz um solo marcante em “Still Alive and Well” e Billy Gibbons duela com Derek Trucks em uma ardente versão de  “I’m Yours and I’m Hers”, que é um destaque do álbum.

Joe Walsh compartilha os vocais com Edgar em "Johnny B. Goode", enquanto este adiciona piano e sax alto. Warren Haynes traz seu estilo para  “Memory Pain” com um solo de guitarra crescente e sua voz que espelha a de Johnny.

Momentos mais introspectivos proporcionam uma pausa no som mais pesado. Michael McDonald segura firme na agridoce “Stranger”, enquanto que  Doyle Bramhall ll  mostra uma versão acústica e fiel de “When You Got a Good Friend”, de Robert Johnson, que Winter incluiu em seu disco de estreia, lançado em 1969.

O falecido Taylor Hawkins (Foo Fighters) faz uma aparição surpresa como cantor na faixa “Guess I’ll Go Away”. Kenny Wayne Shepherd acelera em uma viagem pela “Highway 61 Revisited” e Steve Lukather apresenta “Rock N’ Roll Hoochie Koo” mantendo-se também fiel a versão original.

O álbum "Brother Johnny" tem tudo o que se espera de um tributo musical sincero. Performances marcantes e uma boa dose de emoção motivada pela homenagem ao mito Johnny Winter. Merece ser conferido, especialmente pelos admiradores do estilo blues rock.


"Stranger"

"I'm Yours And I'm Hers"

"Mean Town Blues"

sexta-feira, 22 de abril de 2022

.: Crítica musical: "Machine Head", o auge criativo do Deep Purple


Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

Lançado há 50 anos, o álbum "Machine Head" é até hoje apontado como o ponto alto da carreira da banda Deep Purple. Não só pela qualidade de algumas faixas que se tornaram clássicos do rock, mas também pelo fato do trabalho, que foi gravado praticamente ao vivo em estúdio, ter uma unidade incrível, soando completo.

A formação da banda estava consolidada com Richie Blackmore (guitarra), Jon Lord (teclados), Roger Glover (baixo), Ian Gillan (vocal) e Ian Paice (bateria). E foi com esses integrantes que a banda chegou na Suiça em dezembro de 1971 para gravar o disco nas dependências de um hotel de Montreux, usando o estúdio móvel dos Rolling Stones.

O hotel, na verdade, foi uma segunda opção, já que o cassino que eles queriam usar acabou sofrendo um incêndio durante um show de Frank Zappa. O fato inusitado acabou inspirando a letra do hit "Smoke On The Water", incluído em "Machine Head".

A banda tinha lançado o álbum "Fireball", que apontava para uma direção mais hard rock. E isso se repetiria em várias faixas de "Machine Head". Mas de uma forma ainda melhor. A começar pela faixa de abertura, "Highway Star", em que há solos memoráveis de Blackmore e Jon Lord. As três faixas seguintes, "Maybe I´m a Leo", "Pictures Of Home" e "Never Before" são faixas com um peso menor, mas nem por isso menos interessantes.

As demais faixas fecham com louvor o álbum. "Smoke On The Water" se tornaria a canção mais conhecida da banda, com o riff antológico criado por Blackmore. "Lazy" tem um trabalho incrível de Blackmore no solo enquanto que a arrasa-quarteirão "Space Truckin" destaca a qualidade técnica de Ian Paice nas baquetas.

O segredo da banda era a coesão. Havia uma sinergia incrível entre os músicos e seus instrumentos. Paice e sua batida quase jazzística em alguns momentos funcionava como uma espécie de liga musical, unindo os demais integrantes. Glover e Lord completavam a base rítmica que dava suporte aos solos antológicos de Blackmore e para o vocal agudo e preciso de Ian Gillan.

Nos discos seguintes a banda continuou produzindo momentos interessantes. Mas definitivamente, "Machine Head" pode ser considerado o seu ponto mais alto, onde tudo deu certo, seja no estúdio, seja na relação entre os músicos.


"Highway Star"

"Smoke On The Water"

"Lazy"


sábado, 16 de abril de 2022

.: Crítica musical: Bruna Nascimento, um novo talento na MPB


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

Jovem de origem humilde, a cantora e compositora pernambucana Bruna Nascimento está divulgando o seu primeiro trabalho, o EP "Desamarração", que traz composições próprias interpretadas por ela mesma. Com produção do experiente Luisão Pereira, as canções se mostram antenadas com a nossa boa MPB, investindo em mensagens diretas inspiradas no cotidiano da cantora.

Bruna é filha de retirantes. Nasceu no Recife e morou dos três meses aos 11 anos com a família em um quarto nos fundos de uma fábrica de jeans, em São Paulo. Formada em Engenharia de Produção pela USP e de volta ao Recife, a cantora e compositora lança agora o seu primeiro EP “Desamarração” (pelo selo YB Music) com Luisão Pereira tocando Violão, Baixo, Synth, Rhodes, além de elaborar os arranjos e a programação de sopros. Há participações de Nahor Gomes tocando Trompete e Flugelhorn e Caio Oliveira tocando bateria e percussão. Bruna só teve que se preocupar em soltar a voz.

O EP conta com apenas cinco faixas que mostram uma incrível maturidade artística. A voz suave e afinada de Bruna passeia pelas belas melodias que contam histórias inspiradas em seu cotidiano. Um exemplo é "Quando se Deixa". Como a própria autora explica, “é uma canção sobre o amor, que brinca com a idealização sobre alguém que não consegue se entregar totalmente para a relação”.

"Meu Menino" é uma espécie de acalanto suave, resumido pela autora da seguinte forma: “A letra romântica descreve um cafuné entre um casal, mas traz nas entrelinhas tem um significado oculto: fala sobre o carinho numa relação casual que se revela na frase ´hoje você é o meu ninho”. A faixa "Tsunami" já mostra um arranjo mais festivo, mais próximo dos ritmos baianos e pernambucanos.

Como o EP de estreia, Bruna Nascimento mostra uma ótima perspectiva para o futuro da nossa MPB. Muito distante daquele som comercial e sem conteúdo que tem povoado as rádios nos últimos anos. E nada melhor do que essa "Desamarração" para trazer novos ventos na nossa música.


"Meu Menino"

"Tsunami"


"Não Há Prá Que Mentir"



sexta-feira, 8 de abril de 2022

.: Entrevista com Gabriel Thomaz: tocando a música e os negócios


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

Líder da banda Autoramas, Gabriel Thomaz também está investindo na seara empresarial. Por intermédio do selo Maxilar, ele já conseguiu abrir espaço para artistas mostrarem seu trabalho, além de proporcionar mais liberdade para tocar os seus projetos. A sua banda, Autoramas, recentemente lançou o álbum “Autointitulado” mantendo o pique de sonoridade de rock de garagem e muitas influências de grupos dos anos 60 e 70.

Em entrevista para o Resenhando.com, Gabriel conta como foi que se deu esse processo de agregar a atividade empresarial com a de músico, além de superar uma internação hospitalar provocada pela Covid-19 e o hiato forçado por conta da pandemia. “Nos concentramos em organizar a carreira digital e manter uma proximidade com o público com as lives pela internet”.
 

Como foi que surgiu a ideia de lançar o selo Maxilar?Gabriel Thomaz – Eu já tinha vontade de fazer um selo para lançar coisas novas faz muito tempo. Acho que tem muita coisa boa rolando e que não consegue destaque, por falta de oportunidade. Com o Maxilar, consigo suprir isso e ajudar vários artistas. E acabo lançando meus projetos pelo selo também, de uma forma mais livre e tranquila. 

Qual a principal diferença entre comandar um selo e ser um artista contratado de gravadora?Gabriel Thomaz – A principal diferença é que agora eu é que contrato os artistas. Hoje o mercado musical é muito fechado e estamos tentando abrir espaço, tanto como artistas tanto como selo É um trabalho muito recompensador. 

Muitos artistas do País sentiram os efeitos desse período pandêmico. Como vocês conseguiram superar esse período?Gabriel Thomaz – Foi bem difícil. Eu tive covid e quase morri na internação. Durante a pandemia fizemos lives para o mundo inteiro, Compusemos muito, organizamos toda nossa carreira digital, montei o selo e gravamos e lançamos um álbum, o "Autointitulado". 

Quantas bandas e artistas o Maxilar lançou até o momento?Gabriel Thomaz – Até o momento, 25 artistas. 

Qual a sua opinião sobre o serviço de streaming no Brasil? Gabriel Thomaz – É muito bem organizado. O Brasil sempre teve uma indústria musical muito forte. 

No disco mais recente do Autoramas, a levada da sonoridade lembra as das boas bandas de garagem. Quais são as referências que vocês tiveram para essa produção?Gabriel Thomaz – Acredito que estamos mantendo nosso estilo: nossas referências são o Rock dos anos 60, os efeitos espaciais, a energia do punk, além das letras espertas e inspiradas. 

A entrada da Erika Martins trouxe  que tipo de mudança no padrão de sonoridade do Autoramas?Gabriel Thomaz – Érika sempre esteve muito próxima da banda, por termos sido casados por muitos anos. Ela sabe qual é o estilo do Autoramas e o que temos que fazer na banda. Ela é muito criativa, colaborativa e versátil.


"Eu Tive Uma Visão"

"No Dope"

"Erupto"


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