domingo, 25 de dezembro de 2022

.: Clara Carvalho dirige texto inédito de Bernard Shaw sobre moralidade

"O Dilema do Médico", texto escrito e encenado pela primeira vez em 1906, ganha sua primeira montagem no Brasil, com direção de Clara Carvalho e realização do Círculo de Atores. A peça é uma tragicomédia que propõe um contraponto entre ciência e arte e entre talento e moralidade. Foto: Ronaldo Gutierrez
 

Textos recheados de inteligência, humor, elegância, cheio de paradoxos e provocações marcam a obra do irlandês Bernard Shaw (1856 - 1950) e estão presentes na tragicomédia "O Dilema do Médico", que estreia no dia 20 de janeiro, sexta-feira, às 20h, no Auditório do MASP. Clara Carvalho dirige Shaw pela primeira vez, em texto inédito no Brasil.

O elenco reúne nomes de várias gerações do teatro: Sergio Mastropasqua, Iuri Saraiva, Bruna Guerin Rogério Brito, Oswaldo Mendes, Renato Caldas, Guilherme Gorski, Márcia de Oliveira, Rogério Percore, Thiago Ledier e Luti Angelleli. A temporada vai até 26 de março com sessões sempre de sextas e sábados, às 20h, e domingos, às 19h.

A trama se passa em uma Londres do início do século 20, onde o doutor Sir Colenso Ridgeon (Sergio Mastropasqua) pensa ter descoberto a cura da tuberculose. Ele só pode acolher em sua clínica mais um paciente e é obrigado a escolher entre o jovem artista plástico, talentoso e amoral, Louis Dubedat (Iuri Saraiva), e o moralmente íntegro e modesto médico, Dr. Blenkinsop (Luti Angelleli). No meio dessa discussão, o protagonista se apaixona por Jennifer (Bruna Guerin), esposa do artista, que insiste para que seu marido seja curado. Cabe ao médico uma decisão de vida ou morte.

“O texto tem várias camadas. A peça, numa primeira camada, é uma sátira médica, apresentada aqui em uma conjuntura em que a ciência é tão debatida nos meios de comunicação, sobretudo desde o começo da pandemia, mas ele traz também uma discussão sobre escolhas e uma reflexão sobre a potência da arte. Antes de ser dramaturgo, Shaw foi crítico de arte e de música e a arte era sua verdadeira paixão. A peça mostra que a ciência acaba sempre perdendo o jogo para a morte, mas a grande arte sobrevive. A vida humana física acaba, mas a música e as obras de grandes pintores têm um encanto que permanece”, conta Clara Carvalho.

A personagem Jennifer explicita o lado feminino, uma das características mais marcantes do autor. “As heroínas de Shaw são muito modernas empoderadas. Em Cândida, temos uma dona de casa que tinha uma profunda percepção do que era o casamento burguês; a Senhora Warren é uma proprietária de uma rede de prostíbulos que adora sua profissão e que enriqueceu; A Milionária e  Santa Joana também são mulheres independentes que estabelecem destemidamente seus valores. Bernard Shaw acreditava que a mulher era portadora da Força Vital, e que as grandes transformações no mundo aconteciam através delas. Jennifer, a protagonista de 'O Dilema do Médico', não é apenas uma bela mulher, ela é a personificação da arte e é ela que vai desmontar a presunção masculina e a onipotência científica. As mulheres de Shaw sempre são capazes de ver mais longe e de dar a volta por cima. Elas são contemporâneas e admiráveis”, ressalta a diretora.

Mastropasqua reforçou as razões que o atraíram no texto. “Entre elas estão a superioridade de entendimento e a força das personagens femininas, que "colocam os homens no bolso", já que Shaw achava que os homens não passam de crianças crescidas. A outra questão é a brilhante desconstrução da profissão médica, demonstrando a busca e os limites de qualquer atividade humana. Como Shaw escreve: "toda profissão é uma conspiração contra os leigos".

A escolha do texto foi da pesquisadora Rosalie Rahal Haddad, uma das maiores estudiosas da obra de Shaw no Brasil, com livros publicados aqui e no exterior. Após a realização de A Profissão da Senhora Warren, juntamente com Sergio Mastropasqua, Clara Carvalho e a Companhia Círculo de Atores, a equipe tinha vontade de realizar uma nova montagem para um texto de Shaw. Rosalie é também a responsável pela produção geral de O Dilema do Médico. 

Os artistas têm uma relação com as obras de Shaw em suas carreiras. Clara Carvalho atuou em Major Barbara, em 2001, em uma produção do Grupo Tapa. Sergio Mastropasqua esteve em cena em "Cândida, A Milionária", "O Homem do Destino"; no ano de 2022, produziu e adaptou 4004 "A.C. – A Origem". Ambos atuaram juntos em "A Profissão da Senhora Warren" que tinha a direção de Marco Antônio Pâmio. 

“Shaw é um autor absolutamente popular. A experiência nos mostra que ele dialoga com pessoas de todas as classes sociais e diferentes formações. Ele não subestima, nem tenta direcionar o espectador. Deixa espaços a serem preenchidos pelo público. A inteligência e a cadência de seus diálogos nos dão a sensação de já sabíamos de tudo aquilo que presenciamos, só faltava estarmos ali, na plateia, para entender que aquilo desde sempre nos pertenceu. A junção de inteligência, estrutura cômica, pensamento social e uma genuína crença de que a humanidade é passível de aprimoramento, são alguns dos bons desafios que nos fazem admirar tanto esse autor”, enfatiza Mastropasqua.

Para conversar com o enredo da história e com o local da temporada da peça, além de ser responsável pela cenografia, Chris Aizner é responsável pelas obras de arte em cena. O cenário não-realista é composto por painéis móveis, inspirados na estrutura criada por Lina Bo Bardi para a disposição dos quadros no MASP. O figurino da Marichilene Artseviscks é uma mescla da época em que se passa a trama com um lado também contemporâneo. A montagem ainda conta com trilha sonora original de Gregory Slivar e luz de Wagner Antônio.

"O Dilema do Médico", texto escrito e encenado pela primeira vez em 1906, é a décima quarta peça de Shaw, resultado de uma provocação feita por seu amigo, o dramaturgo e crítico teatral escocês William Archer. “Segundo Archer, Shaw seria um dramaturgo limitado enquanto não enfrentasse a morte em suas peças e as circunscrevesse apenas ao entrechoque de ideias e discussões morais. De fato, Shaw tinha horror ao melodrama do século XIX e buscava em seus textos radiografar como as contradições econômicas e os conflitos sociais permeavam o entrechoque de seus personagens. Shaw então aceita o desafio do amigo e escreve esta tragicomédia, seu único texto em que uma morte acontece em cena”, conta Clara.

Ficha técnica
"O Dilema do Médico"
Direção:
Clara Carvalho. Elenco: Sergio Mastropasqua (Colenso Ridgeon), Iuri Saraiva (Louis Dubedat), Bruna Guerin (Jennifer Dubedat), Oswaldo Mendes (Sir Patrick Cullen), Rogério Brito (Cutler Walpole), Renato Caldas (Sir Ralf Boomfield Bonington), Luti Angelleli (Blenkinsop), Guilherme Gorski (Schutzmacher), Nábia Villela (Emmy), Márcia De Oliveira (Minnie), Rogério Pércore (Redpenny, Morte e Secretário) e Thiago Ledier (Jornalista). Trilha original: Gregory Slivar. Cenário: Chris Aizner. Figurino: Marichilene Artisevskis. Iluminação: Wagner Antônio. Assistente de direção: Thiago Ledier. Produção geral: Rosalie Rahal Haddad. Produção: SM Arte Cultura. Direção de produção: Selene Marinho. Coordenação de produção: Sergio Mastropasqua. Direção de palco: Henrique Pina e Ângelo Máximo. Assessoria de imprensa: Adriana Balsanelli e Renato Fernandes. Fotos: Ronaldo Gutierrez. Cenotécnico: Alício Silva. Operador de som: Valdilho Oliveira. Operador de luz: Dimitri Luppi. Camareira: Elisa Galdino. Costureira: Judite Geronimo de Lima. Realização: Rosalie Rahal Haddad e Círculo de Atores.


Serviço
"O Dilema do Médico"
Estreia dia 20 de janeiro de 2023 no Auditório do MASP
Endereço: Av. Paulista 1578. 
Temporada: de 20 de janeiro a 26 de março. Sextas e sábados, às 20h, e domingos, às 19h.
Ingressos: R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia).
Capacidade: 344 lugares
Classificação etária: 14 anos
Duração: 120 minutos
Vendas pelo Sympla. 

sábado, 24 de dezembro de 2022

.: 1x2: Wednesday é um "desgosto solitário" -ou mais ou menos

Por: Mary Ellen Farias dos Santos

Em dezembro de 2022


O suspense dita o ritmo no segundo episódio de "Wandinha/Wednesday", intitulado de "Desgosto solitário" que faz diversas referências ao mestre da literatura dos contos macabros e de mistério, Edgar Allan Poe, incluindo uma Copa estudantil batizada com o sobrenome dele. Além de sobrar tempo para contemplar Sartre com a citação incrível de que "o inferno são os outros". De fato, após tais nomes consagrados, ao fim, Wandinha e o público chegam numa biblioteca secreta. 

Contudo, aos fãs do seriado "Supernatural", diante do mistério de quando o morto do episódio anterior volta a aparecer vivo e ainda trocando de "persona", rapidamente pode identificá-lo como um metamorfo. Em cena, a professora Marilyn Thornhill (Christina Ricci) faz pairar a dúvida de que se ela é amiga ou inimiga de Wandinha (Jenna Ortega). Contudo, dá um conselho sobre o dom que a Addams carrega: "a habilidade de nunca deixar os outros definirem você". Sem contar o quão agradável é ver em cena a atual e a Wandinha dos filmes dos anos 90.

É aqui que o duelo entre Bianca (Joy Sunday) e Wandinha fica em evidência para todos de "Nunca Mais", pois em aula, quando tentam mostrar conhecimento sobre flores, aproveitam para trocar farpas. De fato, as ofensas tornam-se pessoais. No entanto, Bianca revela não ter somente Wandinha como alvo, mas também a lobinha Enid Sinclair (Emma Myers). O que incomoda Bianca em Wandinha?! "Ela se acha melhor do que todo mundo". O que, quando tem chance, na cara, Wandinha cutuca de volta para constar que ela somente se acha melhor do que Bianca.

Na disputa da Copa Poe, que tinha tudo para ser roubada mais uma vez pelos Dourados, time das sereias, Wandinha, estando no grupo Gato Preto, consegue uma ajuda especial de Mãozinha que entra em ação na hora certa e muda o desfecho do evento escolar. Apesar do mistério do morto que torna a aparecer vivo e a Copa dos alunos, Wandinha tenta mostrar, principalmente para a diretora de "Nunca Mais" o quão diferente é de Mortícia. Todavia, recebe a dica de que ela e a mãe "talvez sejam mais parecidas do que acha"

Em tempo, o encontro de duas Wandinhas de eras diferentes, lança para a protagonista a provocação de que "você é a chave" e coloca um circo de pulgas atrás das orelhas do público. Assim, é ao estalar os dedos, por duas vezes, que Wandinha abre todo um universo para seguir com a investigação que vem trabalhando -ou quase isso. Bora assistir o terceiro episódio!

Seriado: Wandinha/Wednesday
Temporada: 1
Episódio: 2, "Desgosto solitário" 
Exibição: 23 de novembro de 2022
Emissora original: Netflix
Criadores: Miles Millar, Alfred Gough
Diretor: Tim Burton
Elenco: 
Jenna Ortega (Wednesday Addams), Christina Ricci (Marilyn Thornhill), Catherine Zeta-Jones  (Mortícia Addams, Luis Guzmán (Gomez Addams), Gwendoline Christie (Larissa Weems), Emma Myers (Enid Sinclair), Isaac Ordonez (Pugsley Addams), George Burcea (Lurch), Thora Birch (Fred), Armisen (Tio Fester Addams),  Hunter Doohan (Tyler Galpin), Georgie Farmer (Ajax Petropolus), Bianca Barclay (Joy Sunday)

*Editora do site cultural www.resenhando.com. É jornalista, professora e roteirista. Twitter: @maryellenfsm


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.: “Saramago: Os Seus Nomes” lidera a lista dos dez melhores livros de 2022

Por Helder Moraes Miranda, editor do portal Resenhando.com.

Listar os dez melhores do ano é tarefa ingrata em qualquer área. Selecionar os dez melhores livros que chegaram à nossa redação é, também, algo desafiador e uma viagem literária ao longo do ano a partir de um critério absolutamente subjetivo: o gosto pessoal de quem elaborou a lista. Vários livros tão bons quanto os que estão nesta lista ficaram de fora, o que não quer dizer que não mereçam ser lidos. 
 
Em primeiro lugar, ficou o belíssimo livro “Saramago: Os Seus Nomes - Um Álbum Biográfico”, lançado pela Companhia das Letras e organizado pelos escritores Alejandro García Schnetzer e Ricardo Viel, com projeto gráfico de Raul Loureiro, que celebra vida e obra do escritor José Saramago a partir de imagens, relatos e trechos de livros.

A medalha de prata vai para a reportagem literária "Daniella Perez: Biografia, Crime e Justiça", de Bernardo Braga Pasqualette. Lançado pela editora Record, o livro  é considerando o mais completo relato investigativo sobre as circunstâncias e motivações do crime hediondo que vitimou a estrela em ascensão Daniella Perez. 

No terceiro lugar do pódio, o livro "Modus Operandi: Guia de True Crime", de  Carol Moreira e Mabê Bonafélançado pela editora Intrínseca, em que as autoras abordam as principais bases do gênero de maneira simples, objetiva e bem-humorada. 

Completam a lista a edição que contempla os livros "O Pior de Mim" e "Uma Vida Inventada", de Maitê Proençalançada pela editora Agir. A edição especial ilustrada e em capa dura do clássico "O Amante de Lady Chaterley", de D. H. Lawrence , da editora Antofágica. A coleção "Horácio Completo", que reúne pela primeira vez todos os tabloides escritos e desenhados única e exclusivamente por Mauricio de Sousa, em quatro livros lançados pela editora Pipoca & Nanquim e a Mauricio de Sousa Produções. 

O relançamento de "Limite Branco", primeiro romance de Caio Fernando Abreu , pela Companhia das Letras. O emblemático "1922: Cenas de Um Ano Turbulento", de Nick Rennison, lançado pela editora Astral Cultural. Clássico da literatura norte-americana, "O Beco das Ilusões Perdidas", escrito por William Lindsay Gresham, é lançado no Brasil pela editora Planeta. Para matar a saudade do autor Marcos Rey, o romance infantojuvenil "O Homem que Veio para Resolver", uma obra inédita lançada pela editora Global. 



1. “Saramago: Os Seus Nomes - Um Álbum Biográfico”, de Alejandro García Schnetzer, Ricardo Viel e Raul Loureiro
“Saramago: Os Seus Nomes - Um Álbum Biográfico”, organizado pelos escritores Alejandro García Schnetzer e Ricardo Viel, com projeto gráfico de Raul Loureiro, é o livro do ano. A obra pode ser definida como uma viagem extraordinária à vida de José Saramago a partir de imagens, relatos e trechos de livros. Lançado pela Companhia das Letras, este álbum biográfico sem precedentes é dividido em quatro perspectivas - "espaços/lugares", "leituras/sentidos", "escritas/criações" e "laços/pessoas". Você pode comprar o livro “Saramago: Os Seus Nomes - Um Álbum Biográfico” neste link.


2. "Daniella Perez: Biografia, Crime e Justiça", de 
Bernardo Braga Pasqualette
Escrito por Bernardo Braga Pasqualette, o livro "Daniella Perez: Biografia, Crime e Justiça" é considerando o mais completo relato investigativo sobre as circunstâncias e motivações do crime hediondo que vitimou a estrela em ascensão Daniella Perez. Lançada pela editora Record, obra é escrita sob a forma de uma reportagem literária. Você pode comprar o livro "Daniella Perez: Biografia, Crime e Justiça" neste link.

3. "Modus Operandi: Guia de True Crime", de Carol Moreira e Mabê Bonafé
Após conquistarem uma legião de fãs do gênero true crime com o podcast "Modus Operandi", as apresentadoras Carol Moreira e Mabê Bonafé lançaram pela editora Intrínseca o livro "Modus Operandi: Guia de True Crime".  No livro, as autoras abordam as principais bases do gênero de maneira simples, objetiva e bem-humorada. A dupla descreve dezenas de crimes que impactaram o Brasil e o mundo, conta a história de assassinos em série e traz diversas curiosidades e fontes para quem quer se estender sobre o assunto. Você pode comprar o livro "Modus Operandi: Guia de True Crime", neste link.


4. "O Pior de Mim" / "Uma Vida Inventada", de Maitê Proença
À primeira vista, este é um livro dois em um, que traz, de um lado, o inédito "O Pior de Mim" e, do outro, a nova edição de "Uma Vida Inventada". Os dois textos, nesta edição lançada pela editora Agir,  encontram-se em várias camadas: nas páginas finais que praticamente se tocam; nas narrativas, que se complementam; na mistura entre literatura e vivência, verdade e imaginação, no jogo de esconder e revelar que se estabelece com o leitor. Ao contar a história de duas meninas em suas jornadas de descobertas, a atriz e escritora Maitê Proença utiliza um material que conhece bem: a própria vida. Você pode comprar o livro "O Pior de Mim" / "Uma Vida Inventada" neste link.

5. "O Amante de Lady Chaterley", de D. H. Lawrence
Edição especial ilustrada e em capa dura do clássico romance "O Amante de Lady Chaterley", de D. H. Lawrence é lançada pela editora Antofágica. A edição conta com tradução inédita de Isadora Próspero, além de ilustrações a óleo da artista Mariana Darvenne e apresentação de Clara Drummond. Assinam os textos de apoio Carolina Correia dos Santos, doutora em Letras pela USP,  e a psicanalista e escritora Luciana Saddi e Nara Vidal, escritora e mestre em Artes e Herança Cultural pela London Met University. Você pode comprar a edição especial de "O Amante de Lady Chaterley", de D. H. Lawrence, neste link.


6. "Horácio Completo", de Maurício de Sousa

A coleção "Horácio Completo", reúne pela primeira vez todos os tabloides escritos e desenhados única e exclusivamente por Mauricio de Sousa e publicados em jornais ao longo de mais de três décadas, desde 1963. Lançada pela editora Pipoca & Nanquim e a Mauricio de Sousa Produções, esta luxuosa coleção em quatro volumes traz, em ordem cronológica, os mais de mil tabloides do Horácio produzidos por Mauricio e também alguns inéditos, além de uma rica galeria de extras informativos sobre a carreira do artista e a produção desses quadrinhos. Você pode comprar a coleção completa dos quadrinhos de "Horácio" neste link.


7. "Limite Branco", de Caio Fernando Abreu
Escrito quando Caio Fernando Abreu tinha apenas 19 anos e publicado pouco tempo depois, em 1971, o livro "Limite Branco", agora relançado pela Companhia das Letras, inaugura a trajetória de uma das vozes mais apaixonantes da nossa literatura. Ao longo da trama, acompanhamos as descobertas, os anseios e os temores de Maurício num período intenso e angustiante, quando a infância fica para trás e o caminho que leva à vida adulta não passa de uma incógnita. A escritora Natalia Borges Polesso assina o posfácio da edição. Você pode comprar o livro "Limite Branco", de Caio Fernando Abreu, neste link.


8. "1922: Cenas de Um Ano Turbulento", de Nick Rennison

No ano em que se comemorou os 100 anos da Semana de Arte Moderna, um livro emblemático foi lançado pela editora Astral Cultural: "1922: Cenas de Um Ano Turbulento". Escrita por Nick Rennison, a obra é fundamental para entender o que foi aquela época e a importância do que aconteceu no mundo para entender os dias de hoje. Você pode comprar o livro "1922: Cenas de Um Ano Turbulento" neste link.


9. "O Beco das Ilusões Perdidas", de William Lindsay Gresham
Clássico da literatura norte-americana escrito por William Lindsay Gresham e adaptado para o cinema por Guillermo del Toro. Lançado no Brasil pela editora Planeta, "O Beco das Ilusões Perdidas" conta a história de um grupo de personagens de um circo de horrores. Por meio da história, o leitor mergulha nos bastidores sombrios do negócio enquanto acompanha a decadência de Stan, o protagonista. Você pode comprar o livro neste link.


10. "O Homem que Veio Para Resolver", de Marcos Rey
Analisando de longe, pode parecer que todo mundo quer ser famoso e sempre ser o centro das atenções, mas esse não é o caso para a maioria das pessoas. Especialmente para Augusto, protagonista do livro "O Homem que Veio para Resolver", obra inédita do autor Marcos Rey, lançada pela editora Global. A história começa quando Augusto, que é filho de um ator famoso, é convidado para assumir o papel principal de uma peça na sua escola. Pressionado pela namorada, pelo diretor do colégio e com medo de decepcionar o pai, acaba aceitando o convite. O problema é que Augusto é um adolescente introvertido. O livro trabalha com uma narrativa intensa que reforça a importância de ter empatia com o próximo, e aborda as dificuldades de tentar atender a expectativa dos outros. As ilustrações são de Dave Santana. Você pode comprar o livro "O Homem que Veio Para Resolver" neste link.

.: "Recomeço": romance autobiográfico na Netflix terá Zoë Saldaña

A história de amor da atriz Tembi Locke inspirou seu primeiro livro, "Recomeço", ambientado nas paisagens italianas. Best-seller do The New York Times já pode ser comprado e está disponível na Netflix a adaptação homônima protagonizada por Zoë Saldaña ("Avatar" e "Guardiões da Galáxia") e Eugenio Mastrandrea ("Carlo & Malik"). A minissérie de oito episódios tem a autora e Attica Locke (Empire e Olhos que Condenam) no roteiro, além de Saldaña e Reese Witherspoon na produção executiva ao lado das irmãs Locke. O trailer está disponível aqui.

Na Sicília, dizem que toda história começa com um casamento ou uma morte; a de Tembi Locke começou com os dois. Em "Recomeço", a autora revive o momento em que conheceu Saro, um chef de cozinha, em uma rua de Florença. Foi amor à primeira vista. Só havia um problema: a tradicional família siciliana de Saro não apoiava seu casamento com uma mulher negra, norte-americana e ainda por cima atriz. Mesmo decepcionados, os dois permanecem firmes e não desistem da relação. Constroem uma vida feliz em Los Angeles, investem na carreira, nas amizades e no amor da vida deles: uma menininha que adotam ainda bebê. Quando finalmente se reconciliam com a família de Saro, ele já está enfrentando um câncer, a maior provação de sua existência.

A narrativa se desenrola a partir dos três verões que Tembi passa com a filha, Zoela, na cidade natal do falecido marido, no interior da Sicília, enquanto tenta reconstruir sua vida. Lá, a atriz encontra apoio em sua sogra e passa a ter contato com as origens de Saro, além de descobrir os poderes da comida simples, de uma comunidade unida e de tradições atemporais. Durante toda essa jornada, ela reflete sobre os anos com Saro e o romance que mudou sua vida. Na minissérie da Netflix, Tembi e Saro dão lugar a Amy (Zöe Saldaña) e Lino (Eugenio Mastrandrea), que vivem nas telas esse encontro. 

"Recomeço" é uma história sobre perda, viagens e comida, mas também sobre amor, sobre encontrar um lar e sobre os sabores que evocam memórias.

Tembi Locke é palestrante, atriz e roteirista e já participou de mais de sessenta produções audiovisuais. Seu livro de estreia, Recomeço, deu origem à série homônima na Netflix, da qual Tembi é cocriadora e produtora executiva. Atualmente, ela vive em Los Angeles com a família.

Você pode comprar o livro "Recomeço", de Tembi Locke aqui: amzn.to/3jd2ugH


Livro: Recomeço, de Tembi Locke

Editora Intrínseca

Tradução: Dandara Morena, Helen Pandolfi, Karine Ribeiro, Luciana Pádua Dias, Maria Carmelita Dias

352 páginas

Compre o livro "Recomeço", de Tembi Locke aqui: amzn.to/3jd2ugH


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"Perlimps", animação brasileira de Alê Abreu, lança música-tema cantada pelo grupo Barbatuques


Escrito e dirigido por Alê Abreu - cineasta indicado ao Oscar de 2016 por “O Menino e o Mundo”, na categoria de Melhor Animação -, o longa “Perlimps” conta com uma música-tema do grupo Barbatuques, liderado por André Hosoi. A canção, “Daqui prá lá, de lá prá cá (pra Naná)”, escrita pelo diretor, já deixa um gostinho do universo colorido e fantástico que o público encontrará nas telonas. Ouça aqui. A produção estreia nos cinemas brasileiros em 9 de fevereiro de 2023. Confira o trailer neste link. 

Hosoi, que além de músico também atua no campo da educação, conta que fez questão de usar referências brasileiras no batuque da trilha original. “O processo de criação foi artesanal e os instrumentos usados, desde a bateria e percussão corporal até as vozes, foram estruturados para que o espectador tivesse a sensação de imersão durante toda a história".

Com as vozes principais de Lorenzo Tarantelli (a voz de “Young Sheldon”), Giulia Benite (a Mônica dos filmes da “Turma da Mônica”) e Stênio Garcia (“O Clone”; “O Rei do Gado”), a animação mostra a jornada de aventura e fantasia de Claé e Bruô, agentes secretos de reinos rivais. A dupla precisa superar suas diferenças e unir forças para encontrar os Perlimps, criaturas misteriosas capazes de encontrar um caminho para a paz em tempos de guerra.

O filme teve sua estreia mundial na edição deste ano do Festival de Annecy, na França, considerado o evento mais importante do gênero, dentro da sessão “Événements Excepcionelles”.

“Perlimps” é produzido por Laís Bodanzky, Luiz Bolognesi - que também já foi premiado em Annecy pelo filme “Uma História de Amor e Fúria”- e Ernesto Soto Canny junto a Buriti Filmes. Sony Pictures, Globo Filmes e Gloob assinam a coprodução. A distribuição no Brasil será feita pela Vitrine Filmes.

Assista:


.: “Poliana Moça”, do SBT: resumos dos capítulos 201 ao 205

“Poliana Moça”

Resumos dos capítulos 201 ao 205 (26.12 a 30.12)

João acalma Poliana ainda traumatizada (Foto: Divulgação/SBT)

Capítulo 201, segunda-feira, 26 de dezembro


Claudia reclama para Durval que o perfume presenteado é falso (Foto: Divulgação/SBT)


Durval compra perfume para a esposa e deixa na mesa para fazer uma surpresa. Gael brinca de bola dentro de casa e acerta no frasco do perfume que cai em direção ao chão. Pedro e Chloe vão até o apartamento de Glória para investigar quem invadiu a casa da vizinha; eles se deparam com Waldisney e Violeta disfarçados de encanadores. Gael, Benício e Lorena preenchem o líquido no frasco do perfume derramado. Poliana diz para a avó que pretende voltar para a escola e rever um amigo. Otto pergunta para Poliana se pode ver o celular dela; Poliana fica aflita. Otto afirma à Luísa que pelo nervosismo da filha, ele tem certeza que as ameaças vêm do celular. Poliana acha melhor apagar a mensagem de intimidação para o pai não ver e não se envolver no caso. Claudia diz para Durval que o perfume é falso, porque a tampa está trincada e o aroma é péssimo. Raquel revela para Brenda que na ‘Luc4Tech’ Jeff era um espião da Onze, ela admite que escondeu da amiga por ser perigoso. Brenda e Raquel avisam Sérgio que Vini voltou de viagem e que Jeff não estava com ele no Nordeste. Claudia desabafa com Lorena que está chateada com Durval por comprar perfume falsificado. Eugênia liga para Pamela, mãe biológica dos filhos, mas quem atende é uma parente da mulher; Eugênia marca um encontro. Na mesa do café com a família, Lorena e Benício expõem que Gael quebrou o perfume. Enquanto estava com o celular de Poliana, Otto verifica uma nova mensagem de ameaça. Otto e Luísa entendem todo o medo da Poliana, mas discordam de como dialogar com a menina.


Capítulo 202, terça-feira, 27 de dezembro


A família de Poliana aconselha a menina com o trauma (Foto: Divulgação/SBT)


Conversa tensa entre Otto, Luísa e Poliana. Poliana fica desesperada e sem controle. Luísa acha foto da família no quarto de Poliana entregue por Tânia, indicando uma ameaça. Na cadeia da delegacia, Roger recebe um recado de fora e aceita o acordo. Mais tranquila, Poliana explica para o pai e a tia todos os detalhes do sequestro, ela afirma que Tânia a sequestrou, que ouviu a voz do Roger no cativeiro, que o LUC1 a salvou no cativeiro e que Waldisney e Violeta estavam fantasiados dentro mata. Sérgio e Joana vão até o CLL conversar com Gleyce e revelam o esquema de espionagem do Jeff. Durval compra o perfume da mesma marca que foi danificado e dá para a Claudia. Poliana expressa que Tânia é uma pessoa totalmente oposta à que conviveram. Pinóquio pega comida da cantina e coloca no armário de Chloe na escola. Waldisney e Violeta falam para Tânia que Luca entrou em contato afirmando que os amigos de Jeff estão indo à delegacia; Tânia diz que tudo está dentro dos planos dela. Diretamente para Luísa, Otto declara que ela está sendo essencial nesse processo todo. A policial que resgatou Poliana vai até a casa de Otto e a garota conta tudo sobre o sequestro.


Capítulo 203, quarta-feira, 28 de dezembro

Clipe musical de Éric (Canção: ‘Perigo’) (Foto: Divulgação/SBT)


Eugênia e Claudia se encontram na padaria, Eugênia compartilha que conseguiu contato com uma parente da Pamela e não com a própria, mas que vai marcar de se encontrar com a tal parente; Claudia acha suspeita a mãe biológica de Pedro e Chloe não se manifestar. Tânia chega na padaria. Chloe abre seu armário na escola e encontra doces e salgadinhos. ‘Yupechlo’ acredita que tem um fantasma na escola. Jeff volta para casa e explica tudo para a família sobre seu desaparecimento. Ainda na padaria, Celeste encontra com Tânia, questiona o tempo sumido e fala dos comentários do envolvimento da mãe no rapto de Poliana. Tânia é abordada por policiais e intimada a prestar depoimentos. Eugênia e Claudia acham estranha a presença da Celeste com Tânia. Na delegacia, Tânia se depara com Roger. Waldisney acha que Tânia está perdendo o controle das coisas. As doações no CLL diminuíram e Dona Branca sugere para eles produzirem um baile dançante. Glória encontra com Ruth na casa da diretora; Renato aparece sem ser convidado e começa a ser inconveniente.


Capítulo 204, quinta-feira, 29 de dezembro


Raquel e André finalmente se beijam (Foto: Divulgação/SBT)


Renato convida Glória para jantar com ele e Ruth, o professor de música diz que vai passar na casa de Glória para dar carona e Ruth não gosta do comportamento do namorado. ‘Yupecho’ faz um detector de fantasmas. Pinóquio termina a decoração da festa de retorno de Poliana. Eugênia conta para os filhos que irá se encontrar com uma parente da mãe biológica deles. Raquel e André se beijam. Acompanhada por Otto e Luísa, Poliana volta para a escola. Logo na entrada do colégio, Poliana passa mal e não se sente à vontade. Jeff vai até a ‘Luc4Tech’ e Luca demite o colega. Luca diz para Jeff que o motivo da demissão é por viagem sem motivo prévio; Jeff fica bravo, já que Luca sabe que na verdade ele foi sequestrado. Poliana retorna para casa por não conseguir entrar na escola. Tânia visita Celeste na sua casa e Celeste pede explicação dos boatos sobre envolvimento da mãe no rapto de Poliana; Raquel entra no momento na residência e se depara com Tânia.


Capítulo 205, sexta-feira, 30 de dezembro

Poliana fala que viu carro de Tânia na porta da escola (Foto: Divulgação/SBT)


Raquel fica incomodada com a presença de Tânia em sua casa e pergunta o motivo dos encontros dela com Celeste. A turma do colegial fica chateada com o fato da Poliana não conseguir entrar na escola; os amigos se questionam quem fez toda decoração. Ruth aceita o pedido de Gleyce e Dona Branca para produzirem o baile dançante no Colégio Ruth Goulart. Em casa, Poliana revela para pai e para a tia que viu o carro de Tânia passando na porta da escola. Raquel e Brenda avisam Jeff que também pensam em se demitir da ‘Luc4Tech’; ele pede para elas continuarem e investigar o envolvimento de Luca com o crime de Poliana. ‘Yupechlo’ procura fantasma na Ruth Goulart. João fala para Poliana que a risada dela é de outro mundo e que queria ter mais isso no seu dia a dia. ‘Yupechlo’ vai até a casa de máquinas, Pinóquio se esconde. O clubinho encontra um desenho de Poliana no local. Otto se reúne com Sérgio e Jefferson. Jeff diz que Cobra está envolvido com Roger e Luca, já que no cativeiro em que ficou, os capangas recebiam recados do Cobra. Otto questiona os amigos se Tânia e Cobra são a mesma pessoa, já que Tânia teve duas identidades.

 

Sábado, 31 de dezembro

Resumo dos capítulos da semana

sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

.: Crítica: "Pinóquio" de del Toro arrepia ao ensinar a aceitar e a amar

Por: Mary Ellen Farias dos Santos 

Em dezembro de 2022


A história do menino desobediente que quando mente faz o nariz crescer ganhou uma nova roupagem nas mãos do diretor Guillermo del Toro, a mente brilhante de "O Labirinto do Fauno", "A Forma da Água" e "O Beco do Pesadelo" que tem agora, ao lado, Mark Gustafson"Pinóquio por Guillermo Del Toro", produção da Netflix que soma 1h 57m, começa com uma história de pai e filho, migra para a magia, esbarra na história do menino que está aprendendo tudo e desobedece ao pai, seu criador, Gepeto, chegando a ser escravizado, mas também consegue ser engajado, pois a animação com toques sombrios, explora temas profundos e ainda aborda a opressão fascista. Não há como negar que a versão de del Toro e Gustafson para "Pinóquio" é a grande surpresa no gênero em 2022.

A fantasia musical, ambientada na Itália, narrada pelo escritor Sebastião O. Grilo (Ewan McGregor, que é mais uma vez um literato igual em "Moulin Rouge") começa com a triste história da perda de Gepeto, quando a Grande Guerra tirou-lhe Carlo, seu filho amado, com quem só passou 10 anos. Sem motivo para viver, o pai entrega-se ao vício da bebida e deixa o trabalho caprichoso na marcenaria de lado, a ponto de não concluir o crucifixo da igreja local. Mesmo sabendo que "quando uma vida se perde, outra deve crescer", não consegue deixar de lamentar a partida precoce do menino.


Num dia de fúria, Gepeto derruba o pinheiro que em anos nasceu bem perto da sepultura de Carlo e leva o tronco para casa. É justamente assim que o Grilo entra na história, pois ele tinha se instalado na árvore cortada. Desesperado e raivoso, passa a noite esculpindo o filho. Sem forças e após ter bebido além da conta, desmaia e a magia acontece com a Fada da Floresta, uma guardiã que cuida das coisas pequenas, esquecidas e perdidas (azul, meio fada, esfinge e peixe, o que é um tanto que assustador), dando imortalidade para a criação do marceneiro. 

Qual é a máxima dela para que o Grilo cuide e faça Pinóquio ser bom? "Neste mundo você recebe, o que dá". Interessado em publicar as próprias memórias que está anotando, o bichinho que vive na madeira em que o menino foi esculpido, logo fecha o trato. Com o toque do ser azul, a personalidade de Carlo passa para o garotinho de madeira, mas como nem tudo é exatamente igual, Pinóquio tem muita curiosidade em aprender sobre tudo, ainda que sempre diga amar as coisas novas que desconhece -incluindo o que é ruim.


Outra sequência um tanto que estranha é quando Pinóquio conhece Gepeto, andando feito aranha, remete ao incrível "Coraline e o Mundo Secreto", do autor Neil Gaiman, com direção e roteiro de Henry Selick. Em meio ao desejo de conhecer tudo, o menino de madeira, praticamente destrói toda a casa do marceneiro. Interessante analogia. Afinal, a chegada de uma criança numa casa, de fato, muda o ambiente mesmo. Enquanto que Pinóquio chama Gepeto de papai, o marceneiro reluta em retribuir e não o chama de filho.

Ao ir para a igreja, o pai tranca o filho, mas Pinóquio é desobediente que ao andar pelas ruas locais destaca um anúncio numa parede que prega "Crer, obedecer, combater", o lema do fascismo. Desengonçado Pinóquio ainda diz "tchau, tchau" para a ilustração. Claro! Ali está uma prévia do que é apresentado na animação de modo aprofundado, por meio de cutucadas com estilo.


Entre os momentos de destaque, está quando o boneco chega à igreja, sendo apontado como uma obra do diabo, esculpido por um bêbado. Ao dizer que é um menino de carne e osso, o nariz cresce. Em casa, o que Gepeto reforça para a criação é que "as mentiras ficam tão evidentes quanto o seu nariz". Contudo, os responsáveis pela ordem local, vão até a casa do criador e criatura para garantir que o menino anormal, sem disciplina, seja um exemplo da juventude fascista.

"Pinóquio", um jovem aprendiz, imita a todos que lhe cerca, mas fica interessado em saber quem foi Carlo. Como Gepeto teria perdido uma pessoa inteira?! Assim, a morte é retomada na pauta da trama enquanto que Pinóquio descobre o que é fardo e tenta conquistar a aceitação do pai e dos moradores dali. Assim, o Grilo (que vive sendo esmagado) começa a escrever sobre a imperfeição de pais e filhos, além de perda e amor. Como não se envolver com o questionamento do boneco sobre o Cristo de madeira ser amado, enquanto que ele não?! Excelente inserção, uma vez que ambos podem retornar da morte à vida!


Trazendo a mentira para o centro do enredo, Pinóquio não pisa na escola e assina um contrato perigoso ao desenhar um Sol sorridente. Enquanto leva uma tremenda lição de obediência do dono do circo, Pinóquio é ameaçado de ser levado para a fogueira. Detalhe: a canção do antagonista de Pinóquio reforça o termo "crer". Pois bem, o fã do fascismo, chega ao ponto mais alto ao ter Mussolini uma apresentação -o que garante boas risadas com uma música sobre excrementos. 

Há ainda o ápice para o desfecho de "Pinóquio", dentro da barriga de uma baleia, mas a releitura de del Toro é diferente e muito rica. Portanto, o desfecho emociona e arrepia. Em tempo, aos 6m 26s surge na tela um personagem segurando um jornal, usando óculos redondinhos, tendo barba, deseja "bom dia" a Carlo. Talvez seja uma coincidência, mas nele há um "quê" dos traços do diretor. Como não lembrar das aparições marcantes do incrível Stan Lee e também Peter Jackson, por exemplo?

 
Tudo aqui é interligado. Basta ver, inicialmente, a pinha de pinheiro. Aparece no início, no fim e, quando plantada, origina o pinheiro de que o menino de madeira é feito. A animação de "Pinóquio" passa longe do toque Disney de cores vibrantes, mas trabalha com um colorido vivo, garantindo um visual originalmente diferente e extremamente lindo de se ver. Remetendo, por vezes, a produções ímpares de Tim Burton como "A Noiva Cadáver" e "O Estranho Mundo de Jack", mas vai muito além. "Pinóquio" por Guillermo del Toro já é um clássico imperdível!


* Mary Ellen é editora do site cultural www.resenhando.com, jornalista, professora e roteirista, além de criadora do photonovelas.blogspot.com. Twitter:@maryellenfsm

Filme: "Pinóquio"

Gênero: Fantasia Musical

Duração: 1h 57m

Diretores: Guillermo del Toro, Mark Gustafson

Produção: Guillermo del Toro, Corey Campodonico, Lisa Henson, Gary Ungar, Alexander Bulkley

Classificação indicativa: 12 anos

Elenco: Gregory Mann, Ewan McGregor (Grilo), Finn Wolfhard (Pavio), Ron Perlman (Podesta), David Bradley (Geppetto), Tilda Swinton, Cate Blanchett (Spazzatura), Christoph Waltz (Count Volpe), Burn Gorman (Priest), Tim Blake Nelson (lapins noirs),  John Turturro (Dottore), Tom Kenny (Benito Mussolini)

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Trailer




.: Disco resgata a força do canto de Bettye LaVette nos anos 60


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

Nos anos 60, Bettye La Vette lançou uma série de singles pela Silver Fox Records, que integrava a antológica gravadora Sun Records, a mesma que revelou Elvis Presley e outros pioneiros do rock. E parte dessa rica produção foi disponibilizada na coletânea "Let me Down Easy: Bettye LaVette in Memphis", que mostra a força de seu canto moldado basicamente na soul music e em outras influências, como a música folk.

Esta retrospectiva remasterizada inclui faixas como "He Made a Woman Out of Me" e o cover explosivo de "Piece of My Heart", além da pérola que deu título a coletânea, "Let Me Down Easy", que foi recentemente resgatada pela dupla eletrônica Odesza. Aclamada pelo jornal New York Times como "uma das grandes intérpretes de soul de sua geração", Bettye LaVette é uma vocalista que pode pegar qualquer tipo de música e torná-la completamente sua.

As suas qualidades musicais podem facilmente ser conferidas nas faixas desse tesouro musical.Em "Easier to Say", por exemplo, ela dá uma lição de como cantar soul com emoção na dose dose certa. E a sua já citada versão de "Piece of My Heart" ficou acima da média, assim como a ótima e explosiva "My Train´s Coming".

Trata-se de uma cantora que gravou no período de consolidação da soul music nos anos 60. E que ainda continua na ativa, lançando trabalhos convincentes e de qualidade. Mas é inegável que essa fase inicial apresenta ela em um formato de diamante lapidado. Uma joia de intérprete, com arranjos de metais feitos sob medida para seu canto.

"Let Me Down Easy"

"Piece Of My Heart"

"My Train´s Coming"


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