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sexta-feira, 27 de novembro de 2020

.: Música: coletânea dupla reúne parte importante da obra de Rory Galagher


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico musical.

Falecido precocemente em 1995, com apenas 47 anos, o músico irlandês Rory Gallagher deixou um legado importante para o blues e o rock. E agora parte de sua rica obra pode ser conferida em uma coletânea dupla, que reúne sua produção solo e uma faixa da época da banda Taste, que ele integrou no final dos anos 60.

Para quem não conhece, Rory Gallagher é uma referência importante para alguns músicos da atualidade. Joe Bonamassa, por exemplo, sempre cita ele como influência musical importante. E basta ouvir algumas faixas dessa coletânea para se ter certeza disso.

O disco abre com "What´s Going On", gravada na época da banda Taste. Um blues rock bem ao estilo do final dos anos 60, com o power trio básico (guitarra, baixo e guitarra) e os solos mágicos de Gallagher. E segue com "Shadow Play", com um arranjo que deve ter inspirado muito Mark Knopfler no início com o Dire Straits.

As faixas não seguem uma ordem cronológica específica. Mas mesmo assim acabam dando um panorama perfeito da obra desse cara, que chegou a despertar admiração de ninguém menos do que Jimi Hendrix nos anos 60. Essa coletânea inclui "Ghost Blues", de seu último disco de estúdio, lançado em 1990, um blues rock acelerado com oito minutos de duração.

Outro tesouro musical descoberto nessa coletânea é a versão de "Satisfaction" que ele gravou com o veterano Jerry Lee Lewis nas lendárias London Sessions gravadas nos anos 70. Ficou realmente impecável a fusão do piano do Jerry Lee Lewis com acompanhamento do irlandês na guitarra. Bem que podiam liberar outras faixas dessa sessão no futuro.

Se você possui grande parte do catálogo de Rory Gallagher, então você pode não precisar desta lista. Mas se você ainda não o conhece e tem curiosidade de ouvir, vale a pena adquirir essa coletânea dupla com ótima seleção de faixas e uma ordem de execução perfeita. Audição mais do que recomendada.

"Shadow Play"
 

"Moonchild"

"Follow Me"


sexta-feira, 20 de novembro de 2020

.: "Homegrown": disco perdido de Neil Young dos anos 70 é lançado em CD


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico musical.

Um disco gravado por Neil Young nos anos 70 e que acabou sendo deixado de lado pela gravadora naquela ocasião foi redescoberto e finalmente lançado em formato CD. "Homegrown" traz 12 canções, das quais sete nunca haviam sido lançadas, ou seja, trata-se de um verdadeiro tesouro musical.

O disco foi gravado entre junho de 1974 e janeiro de 1975, após o lançamento de "On The Beach" e antes das sessões de "Zuma". E a exemplo desses dois álbuns, as canções tinham material inspirado pelo relacionamento de Neil Young com a atriz Carrie Snodgress, que não vinha atravessando uma fase boa naquele período.

A lista de "Homegrown" ficou pronta e chegou a ser mostrada para os executivos da gravadora. Entretanto, os diretores optaram por lançar outro, o "Tonight´s The Night", engavetando e deixando esquecidas as canções de "Homegrown".

Dessa lista de canções, sete não tinham sido lançadas anteriormente: "Separate Ways", "Try "" México, "" Kansas, "We Don't Smoke It No More", "Vacancy" e "Flórida" (uma narração falada). Também estão incluídas as primeiras gravações de "Love Is A Rose", "Homegrown", "White Line", “ Little Wing "e" Star of Bethlehem "- todas em diferentes versões das quais apareceriam mais tarde em outros álbuns.

É um disco com sonoridade mais focada na música folk, que foi determinante para a formação de Neil Young como músico. Há momentos de pura jam session como a faixa "We Don't Smoke It No More", um blues bem ao estilo original americano.

Neil Young toca solo em algumas faixas (guitarra, piano e gaita) E é acompanhado por uma banda de amigos em outras faixas, incluindo Levon Helm, Ben Keith, Karl T. Himmel, Tim Drummond, Emmylou Harris e Robbie Robertson.

Gravado em analógico e masterizado a partir das fitas master originais, este álbum há muito perdido é uma adição maravilhosa ao catálogo do músico canadense, apontado como um dos mais influentes da história do rock.

"Homegrown"

"Vacancy"


 
"Separate Ways"

sexta-feira, 13 de novembro de 2020

.: AC/DC homenageia Malcom Young em novo disco de inéditas


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico musical.

Foram inúmeros contratempos enfrentados ao longo dos últimos anos. Mas o AC/DC conseguiu superar todas as barreiras e está de volta com um novo disco. "Power Up" traz os integrantes da formação clássica que se reuniram para homenagear um dos fundadores da banda, Malcom Young, que faleceu em 2017.

O vocalista Brian Johnson, o baterista Phil Rudd e o baixista Cliff Williams voltaram a fazer parte da banda ao lado dos guitarristas Angus Young e Stevie Young, sobrinho de Angus. Isso depois de superarem a perda de Malcom e os problemas de audição de Brian Johnson durante a última turnê.

E essa reunião trouxe um gás novo para Angus Young e seus inconfundíveis riffs e solos. As canções estão com o peso na medida certa do AC/DC. Aquela antiga e ainda muito válida receita musical do grupo que ouvimos na década de 80, quando Brian Johnson assumiu o vocal no lugar de Bon Scott (que faleceu em fevereiro de 1980).

O disco abre com "Realize", um petardo sonoro da melhor qualidade, seguindo com a não menos ótima "Rejection". E a terceira faixa, "Shot In The Dark", consegue superar as duas primeiras em termos de qualidade. A faixa que mais gostei foi "Through The Mists Of Time", que esbarra em um som mais melódico e com menos peso. Nela o vocalista Brian Johnson está bem à vontade no vocal, em um arranjo mais focado no mainstream do que no hard rock habitual da banda.

As demais faixas seguem o mesmo padrão das cinco primeiras. É bem verdade que o AC/DC não apresenta muita novidade em relação ao que já foi feito nos álbuns anteriores de estúdio. Mas isso ocorre porque eles acreditam na fórmula que utilizam, que por sinal funciona muito bem. Os fãs agradecem o retorno. Vida longa ao AC/DC!

"Shot In The Dark"

 "Realize"

 "Wild Reputation"


sábado, 7 de novembro de 2020

.: Joe Bonamassa condensa influências do blues britânico em novo CD


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico musical.

Do título do álbum à escolha do Abbey Road Studios como o centro de gravação, Joe Bonamassa destaca a importância do blues britânico em sua formação musical. "Royal Tea", seu mais recente disco,  é um álbum no qual ele contou com a ajuda de nomes conhecidos do estilo no Reino Unido, como o compositor Pete Brown, letrista de canções famosas do grupo Cream, além do veterano guitarrista Bernie Madsen, ex- Whitesnake e do músico Jools Holland. O resultado, como era de se esperar, ficou acima da média.

Com esse quadro, o ouvinte acredita que irá  encontrar somente covers de canções consagradas, como aconteceu em seu álbum anterior (British Blues Explosion). Porém, acaba se surpreendendo com canções novas, com influências do blues britânico dos anos 60. E que mostram o quanto Bonamassa vem evoluindo nos últimos anos.

Ao invés de fazer um tributo convencional, Bonamassa e os seus parceiros optaram por toques sutis em dez faixas originais, que soariam tão novas nas gerações passadas quanto soam hoje. Há breves acenos como as dicas de Jeff Beck para serem encontradas em solos e ecos do tom aéreo de Eric Clapton em passagens mais lentas. Mas estas pistas surgem organicamente e nunca parecem forçadas ou imitadas.

A faixa título ("Royal Tea") é um dos grandes momentos desse álbum. Riffs de guitarra pontuados e rajadas de Órgão Hammond pilotado por Reese Wynans impulsionam os versos entre a interação de chamada e resposta inteligente entre Bonamassa e os vocalistas de apoio.

"I Didn't Think She Would Do It" é um blues rock acelerado bem ao estilo britânico nos anos 60. Exatamente como os Yardbirds (aquela banda que teve como guitarristas Eric Clapton, Jeff Beck e Jimmy Page) fazia no início. Mas posso citar ainda "Why Does It Take So Long To Say Goodbye" como outro ponto forte desse disco, assim como "Beyond The Silence".

De certa forma, isso era de se esperar, já que o blues britânico moldou o jovem Bonamassa e sempre influenciou seu estilo de tocar guitarra. Quando comparadas com a nostalgia básica, canções originais e nuances artísticas geralmente ganham o dia. E como bem definiu o release de divulgação: “a vontade de reconceber esta era em vez de apenas revisita-la torna Royal Tea um grande álbum e uma audição intrigante”. Vale a pena conferir esse trabalho.


"Royal Tea"

"Why Does It Take So Long To Say Goodbye"

  
"A Conversation With Alice"

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

.: Camel lança o CD gravado ao vivo em Londres em 2018


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico musical.

Veteranos do rock progressivo, os músicos da banda britânica Camel lançaram o CD "Live At Royal Albert Hall", em Londres, registrado em 2018 durante a elogiada turnê "Moonmadness". E apesar da competência e talento dos integrantes, parece incrível que esse grupo ainda não seja muito conhecido por aqui, no Brasil.

A banda Camel foi formada em Guildford, Surrey, em 1971. Liderados pelo guitarrista e membro fundador, Andrew Latimer, eles produziram quatorze álbuns de estúdio originais e 14 singles, além de vários álbuns e DVDs ao vivo. Predominantemente instrumental, com a melodia em primeiro lugar, a música combina elementos do rock, pop, jazz, blues, folk, clássico e eletrônico.

Mesmo sem atingir a popularidade de massa, a banda ganhou um culto de seguidores ao longo dos anos com álbuns como "Mirage", "The Snow Goose" e "Moonmadness". Sobrevivendo ao punk rock, eles se mudaram para uma direção mais jazzística e comercial, mas entraram em um hiato de sete anos em meados dos anos 80.

Desde 1991, a banda é independente, lançando álbuns incluindo "Dust and Dreams", "Harbor of Tears e Rajaz" por intermédio de seu próprio selo. Apesar de nenhum novo lançamento em estúdio desde 2002, a banda continua em turnê. Sua música influenciou vários grupos subsequentes, incluindo Marillion e Opeth, só para citar dois exemplos. O jornalista musical Mark Blake descreveu Camel como "os grandes heróis anônimos do rock progressivo dos anos 70".

Com o lançamento do CDs duplo ao vivo,  Camel presenteia os fãs  com esse competente registro da turnê Moonmadness 2018. Há momentos de puro deleite progressivo nas faixas "Chord Change", "Spirit Of The Water" e "Mother Road", com destaque para o entrosamento perfeito da atual formação que conta com Andrew Latimer (guitarra / flauta / voz), Colin Bass (baixo / voz), Denis Clement (bateria) e Pete Jones (teclado / voz). É a Camel mostrando o que tem de melhor para os seus fiéis seguidores.

"Long Goodbyes"

"End Of The Line"




sábado, 24 de outubro de 2020

.: Walter Trout brilha no blues com CD "Ordinary Madness"


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico musical.

Veterano no cenário do blues rock, o músico Walter Trout apresenta mais um trabalho com canções ambientadas do blues tradicional. Um trabalho que reflete sua genialidade e talento, com letras que demonstram detalhes de sua vida e as barreiras que teve que superar para chegar até aqui.

Walter Trout pode ser considerado um sobrevivente dessa vida. Durante o final dos anos 60 e 70, ele trabalhou na estrada com Big Mama Thorton, Joe Tex e John Lee Hooker. Na década de 1980, integrou o Canned Heat e a John Mayall & the Bluesbreakers. Ele liderou suas próprias bandas desde 1990 e experimentou ciclos de triunfo, tragédia, álcool e vício em narcóticos, além de se recuperar de um transplante de fígado quase fatal que exigiu duas cirurgias.

"Ordinary Madness" foi produzido pelo colaborador de longa data, Eric Corne, e gravado no estúdio do guitarrista Robby Krieger, fundador do The Doors. São 11 canções com citações de honestidade brutais de infância e traumas adultos, lutas com problemas de saúde mental, emocional e física, deficiências pessoais e muito mais. As letras angustiantes de Trout retratam uma mente observando a si mesma em um ato de autodestruição, frustrada por sua falta de controle.

Impossível apontar uma faixa como a melhor do disco. Walter Trout vai do blues tradicional ao blues rock mais acelerado, como na faixa "Wanna Dance." "Heartland" é uma canção de amor que une guitarras elétricas e acústicas a uma intrincada melodia de rock de raiz atemporal. Em "Make It Right", ele investe no blues funky de Chicago e em vocais comoventes na tentativa de fazer as pazes com sua amada antes que o tempo acabe.

"Ordinary Madness" é muito mais do que um disco de blues. É um trabalho onde Walter Trout se mostra por inteiro em letras com temas angustiantes. Sua profundidade musical e lírica revela uma abundância transbordante de criatividade inquieta. Este álbum é perfeito para o público americano finalmente considerar Trout como um ícone do blues. Os europeus já fizeram isso há décadas.

"Heartland"

 "Wanna Dance"

"Ordinary Madness"


sábado, 17 de outubro de 2020

.: "John Lennon - Gimme Some Truth" é um passeio sobre a obra do artista


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico musical.

Para marcar os 80 anos do nascimento do ex-beatle John Lennon, a sua viúva, Yoko Ono e seu filho Sean Ono Lennon produziram uma coletânea de sucessos da carreira solo do músico, que morreu assassinado em 1980 nos Estados Unidos. O álbum "John Lennon - Gimme Some Truth" mostra um olhar sensível sobre sua a rica obra musical, que até hoje serve como fonte de inspiração para músicos iniciantes.

E a seleção escolhida me agradou muito. Todas as canções que mais gosto dele estão incluídas na playlist. A começar pela que deu nome ao álbum, uma canção com tema provocativo e bem atual nos dias de hoje, infestados por fake news e comunicados sem qualquer tipo de conteúdo útil nas redes sociais.

Há também as clássicas "Imagine", "God", "Mother", "Jealous Guy" e "Mind Games", que se misturam com outras menos conhecidas e nem por isso menos relevantes, como "I Know", "Out The Blue" e "Bless You". O período de vivência nos Estados Unidos está representado pela gravação ao vivo de "Come Together", retirada de um show em Nova York em 1972.

Claro que a fase final também está retratada nessa produção, com a inclusão de canções de "Double Fantasy", o seu derradeiro álbum solo lançado apenas três semanas antes de sua morte, bem com algumas canções que comporiam o álbum póstumo "Milk And Honey".

Todas as faixas foram remasterizadas especialmente para esta ocasião. O som  está limpo e impecável, com todos os instrumentos encontrando seu espaço no aparelho de som. Se você não tem ainda um disco de John Lennon mas tem curiosidade de conhecer um pouco de sua obra, esse álbum é uma ótima pedida. E se você já é um fã dele, pode se emocionar como eu ao ouvir pela primeira vez essas canções remasterizadas.

"Instant Karma"

"Mind Games"

"Starting Over"


sábado, 10 de outubro de 2020

.: Luto na música: o adeus de Eddie Van Halen e o que o rock perde sem ele


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico musical. 

No início da semana, fomos surpreendidos pelo anúncio da morte do guitarrista Eddie Van Halen que, junto com o irmão Alex, fundou a banda Van Halen nos anos 70. Além dos discos com momentos memoráveis, Eddie deixa um legado importante como músico, levando seu estilo virtuoso nos solos ao mais alto patamar da genialidade.

Ele vinha se tratando de um câncer na garganta há dez anos. E nos últimos anos as aparições dele ficaram cada vez mais raras, indicando que poderia haver algo de errado com sua saúde. E a triste notícia foi confirmada pelo seu filho, Wolfang, que também tocava baixo na última formação da banda.

Em termos de fases, podemos separar o Van Halen  em duas etapas. Uma inicial com o vocalista David Lee Roth, no período de 1974 a 1985, e depois com Sammy Hagar de 1985 a 1996. Em ambas as fases há momentos de genialidade pura, com um hard rock poderoso inspirado basicamente pelo rock dos anos 70 e 60. Houve ainda um terceiro vocalista (Gary Cherone, que foi integrante da banda Extreme), mas só durou um álbum apenas.

Os críticos consideram os álbuns da fase inicial do Van Halen como essenciais para entender como Eddie revolucionou a forma de tocar o instrumento. Mas é fato que a fase com Sammy Hagar também produziu momentos bem interessantes e intensos.Na minha opinião, todas as fases da banda merecem ser conferidas.

É fato que a banda não produzia um trabalho de estúdio desde 2012. Em 2013, foi anunciada uma parada por causa de uma operação que Eddie faria para tratar uma diverticulite. Desde então o público viva a expectativa de uma volta da banda aos palcos, que acabou não se concretizando.

Eddie Van Halen pode ser considerado um dos últimos guitar hero do rock. Apesar de ter um estilo muito diferente de Jimi Hendrix, ele também conseguiu inspirar e influenciar várias gerações de guitarristas. Joe Satriani, por exemplo, admite a influência de Eddie em seu trabalho com a guitarra. Mas podemos incluir outros como Yngwie Malmsteen e Steve Vai, só para citar dois exemplos de músicos virtuosos. É claro que o falecimento de Eddie deixa uma lacuna enorme no cenário do rock. Mas por outro lado, seu legado permanece e continuará a inspirar as novas gerações no futuro.

"Jump"

"You Really Got Me"

"Dreams"

sábado, 3 de outubro de 2020

.: Crítica musical: 50 anos sem a voz mágica de Janis Joplin


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico musical.

Este final de semana faz 50 anos que perdemos a voz forte e mágica de Janis Joplin. Tinha apenas 27 anos mas acabou se transformando em um mito da música, muito em função de seu talento nato como intérprete. Apesar demonstrar influências do blues e da soul music, foi no rock que ela acabou se projetando com sua voz poderosa.

Janis nasceu em Port Arthur em 19 de janeiro de 1943. Sua adolescência foi problemática e acabou encontrando na música um canal para extravasar suas frustrações e suas angústias. Nos anos 60 passou a integrar o grupo Big Brother & The Holding Co. E foi com essa banda que Janis Joplin se apresentou no Festival de Monterrey, em 1967. Ali começou a ser moldado o diamante musical, apresentado ainda em seu estado bruto.

O disco "Cheap Thrills" apresenta Janis cantando a clássica Summertime, de George Gershwin, e Pieace of My Heart, uma balada soul que ganhou um peso maior com a sua voz forte. Depois de algum tempo, Janis decide seguir carreira solo, inicialmente acompanhada pela Kozmic Blues Band. Com essa banda grava seu primeiro disco solo em 1969, que conta com hits como "Try (Just a Little Bit Harder)" e "Maybe".

Ela só conseguiria gravar mais um disco de estúdio, intitulado apropriadamente Pearl. Tinha montado uma outra banda, a Full Tilt Boogie Band, e estava cada vez mais madura como intérprete. Basta ouvi-la cantando "A Woman Left Lonely" e "Me And Bobby McGee" para se ter certeza disso.

Infelizmente os vícios adquiridos ao longo da sua curta e intensa carreira custaram caro para Janis, que morreu de overdose de heroína em um quarto de hotel em Los Angeles, justamente quando estava prestes a finalizar o disco. Nascia assim o mito da intitulada Rainha do Rock, uma voz que além de extravasar suas angústias e problemas pessoais, acabou servindo como referência importante como intérprete. Hoje em dia há cantoras que até tentam se inspirar em suas performances mais ferozes. Mas a verdade é que ainda não surgiu uma voz capaz de igualar seus feitos nos anos 60 e início dos 70.

"Ball And Chain"

"Piece Of My Heart"

"A Woman Left Lonely"


sábado, 26 de setembro de 2020

.: Crítica musical: Taiguara, 75 anos e a memória da música popular brasileira


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico musical.

Cinco anos depois do nascimento de seu ídolo, John Lennon, Taiguara Chalar da Silva nasceu no dia 9 de outubro de 1945 no Uruguai. E quis o destino que ele também seguisse uma carreira na música. E mesmo sendo perseguido implacavelmente pela censura no período do governo militar no Brasil, sua obra permanece perene e atual nos dias de hoje.

Mas o interessante é que sua obra segue atraindo a atenção de críticos pela sua riqueza poética e pela característica visionária de sua produção musical. Sim, ele não somente um músico excepcional e um intérprete singular. Também sabia compor canções que traduziam essencialmente a sua visão de mundo ou mesmo de situações cotidianas que vivenciava.

Ele chegou ao Brasil com quatro anos de idade. Filho do músico Ubirajara da Silva e da cantora de tango uruguaia Olga Chalar, acabou seguindo naturalmente a carreira musical. Nos anos 60, participou de festivais de música onde se projetou especialmente como cantor de canções românticas.

Seus discos lançados nesse período são excelentes e comprovam a força de sua mensagem. Os álbuns "Viagem", "Carne e Osso", "Hoje", "Piano" e "Viola e Fotografias" contém momentos brilhantes. Canções como "Universo do Teu Corpo", "Que as Crianças Cantem Livres", "Teu Sonho Não Acabou", "Amanda", "Berço de Marcela" e "Mudou" são verdadeiras obras-primas de nosso cancioneiro.

O que se passou no início dos anos 70 foi uma perseguição sem precedentes da censura, que via nas letras poéticas de Taiguara mensagens subliminares conta o regime do Governo Militar. Ele chegou a gravar um disco chamado Ymira, Tayra, Ipy, que foi recolhido das lojas nos anos 70. Esse disco, apontado como um dos melhores de sua obra, acabaria sendo relançado somente mais recentemente pela gravadora Kuarup.

Toda essa pressão da censura fez com que Taiguara seguisse para um auto-exílio no exterior. E mesmo gravando um disco em inglês – "Let The Children Hear The Music", não conseguiu fazer com que esse álbum chegasse a ser lançado no Brasil.

Quando voltou ao Brasil, passou a ter resgatada sua obra de forma gradativa com shows pelo país. Eu tive o privilégio de conseguir ir em duas ocasiões em suas apresentações em Santos, sendo uma no ginásio da Associação Atlética dos Portuários e outra no Teatro do Sesc. Em ambas recriou de forma magistral seus sucessos e interpretou outras canções conhecidas como "Aquarela do Brasil".

Infelizmente ele faleceria em 1996, em decorrência de um câncer na bexiga. Tinha apenas 50 anos. Mas deixou uma obra incrivelmente rica e que ainda pode e merece ser revivida pelo público amante da boa música popular brasileira.

Parte de sua história pode ser conhecida com mais detalhes no livro "Os Outubros de Taiguara – Um Artista Contra a Ditadura: Música, Censura e Exílio", de Janes Rocha (Editora Kuarup, 128 páginas).  Mas não deixe de procurar seus discos nas lojas ou mesmo suas músicas nos serviços de streaming. Certamente haverá alguma canção que poderá te surpreender.

"Que as Crianças Cantem Livres"

 "Universo do Teu Corpo"

"Teu Sonho Não Acabou"

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

.: Uma viagem musical aos anos 80 e 90 com a banda Candyman Club


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico musical.

É muito comum ver bandas tocando covers de determinados artistas ou grupos consagrados. Mas no cenário musical alternativo em Curitiba há 13 anos um grupo formado por quatro músicos chamado Candyman Club decidiu seguir por um caminho diferente, escolhendo um repertório formado de canções de mais de 100 bandas diferentes originárias das décadas de 80 e 90. E não por acaso, eles vêm conquistando o público que frequenta bares e espaços culturais com música ao vivo.

O núcleo da Candyman Club é formado por Carlos Zechner na bateria, Hil West (a única mulher da banda) nos teclados e vocal, e Beto Braga na guitarra e vocal. No baixo vem se revezando Rafael Martins e Gus Macedo. Foi em um ensaio despretensioso há 13 anos que a banda teve a ideia de seguir esse caminho. Segundo Beto Braga, a canção "Notorius" da banda Duran Duran foi uma das primeiras a entrar no repertório e que deu origem a ideia. “A partir daí passamos a elaborar uma sequência de canções que tinham a ver com a nossa formação musical e gostos pessoais”.

Outras bandas icônicas entraram da lista, como The Cure, The Smiths, Joy Division, Depeche Mode, New Order, Pixies,  Soft Cell, Human League, Jesus And Mary Chain, Bauhaus, Erasure, Tears For Fears, Stone Roses, Information Society, The Strokes, entre muitas outras, além de ícones como David Bowie. Como gostaram do resultado dos ensaios, foram adiante e passaram a tocar em bares de Curitiba, no Paraná.

Não dá para classificar a Candyman Club como uma banda cover. Ela é especial pelo fato de conseguir tocar vários tipos de grupos diferentes, tomando como base os movimentos brit pop dos anos 80 (New Romantics, por exemplo) e o som indie dos anos 90. Um som de qualidade, que certamente você já ouviu ou ainda ouve nas rádios por aí.

Como as demais bandas no Brasil, a Candyman Club também entrou em um período de paralisação das atividades por conta da pandemia da Covid-19. Fizeram alguns vídeos caseiros respeitando o isolamento social e recentemente participaram de uma live para comemorar os 13 anos da banda na estrada da música.

Quem quiser conhecer melhor ou acompanhar os passos da banda basta acessar o perfil do grupo no facebook (www.facebook.com/candymanclub) ou se inscrever no canal da banda no YouTube, que sempre têm novidades para o público.


"There's A Light That Never Goes Out"

"Major Tom"

"Bette Davis Eyes"

"Enjoy The Silence"

sábado, 12 de setembro de 2020

.: Time de astros do rock se reúne para homenagear Ginger Baker


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico musical.

Uma reunião de lendas do rock clássico subiu ao palco em Londres na noite do dia  17 de fevereiro (antes da pandemia da Covid-19 se espalhar pelo mundo)  para celebrar a memoria do baterista Ginger Baker, que faleceu aos 80 anos em outubro de 2019. O evento, que foi registrado em CD duplo,  foi idealizado por Eric Clapton, com quem Baker tocou em duas bandas (Cream e Blind Faith) nos anos 60. E serviu para revisitar a obra musical que o músico ajudou a construir e que ainda serve de referência para os que tocam rock pelo mundo afora.

O concerto foi batizado como "Eric Clapton & Friends: A Tribute to Ginger Baker" e aconteceu no Eventim Apollo Hammersmith em Londres. Nele estiveram estavam lendas como Steve Winwood (que formou Blind Faith com Baker, Clapton e Rick Grech), Ron Wood (dos Rolling Stones), Roger Waters (fundador do Pink Floyd) e Nile Rodgers (da banda Chic), Kenney Jones (baterista da banda Faces), Paul Carrack, Chris Stainton nos teclados, o baterista Steve Gadd, e o filho de Baker, Kofi Baker, entre outros.

A importância de Baker na história do rock passa pela sua técnica incrível ao tocar bateria, sempre com uma influência direta da percussão de origem africana e pela sua experiência no circuito do jazz de Londres, que contribuiu muito para sua formação como músico profissional. Ele foi um dos primeiros a usar dois bumbos na bateria, influenciando outros percussionistas de bandas de rock, como Keith Moon, da banda The Who, por exemplo.

O setlist de 15 músicas homenageou a vida de Baker na música. E naturalmente incluiu o trabalho de Clapton e Baker juntos nas bandas Cream e Blind Faith. O número final da noite, a canção Crossroads, permitiu que muitas das lendas da guitarra tivessem a oportunidade de mostrar seus solos. Entre os momentos mais marcantes estão as versões de Badge (com Clapton e Ron Wood nas guitarras), Presence Of The Lord (com destaque para Steve Winwood no vocal) e White Room (com Roger Waters no baixo e Clapton no vocal e guitarra).

Antes de qualquer música ser tocada, um tributo filmado a Baker, com muitos clipes de performances do músico ao vivo foi mostrado na tela grande atrás do palco. Clapton então falou. “Algumas dessas coisas foram há 50 anos, mas parece que foi ontem. Eu costumava chamá-lo de Peter Edward ... e acho que ele está aqui ... em algum lugar".

"Badge"

  
"White Room"

"Crossroads"

sábado, 5 de setembro de 2020

.: Coletânea em CD mostra parte da rica obra de Ronnie Lane


Por Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico musical.

Falecido em 1997, depois de uma longa batalha contra a esclerose múltipla, o músico britânico Ronnie Lane segue sendo uma referência para o rock e o pop produzido entre os anos de 60 e 70. E uma pequena e preciosa amostra de sua produção solo pode ser conferida o CD "Just For A Moment", que reúne canções com forte influência de música folk, música country e Rhythm and Blues.

Para quem não sabe, Ronnie Lane foi um dos integrantes originais do grupo Small Faces nos anos 60, juntamente com Steve Marriott. Depois fundou o The Faces com parte dos músicos do Small Faces e adicionando Rod Stewart no vocal e Ron Wood na guitarra. Só esses dois grupos já serviriam para mostrar a sua importância dentro do rock.

Porém, o fato é que Ronnie Lane continua sendo um enígma na história do rock 'n' roll. Um artista determinado a traçar seu próprio destino e se libertar das demandas do "negócio" da música. Seu senso de desilusão com o estilo de vida do rock 'n' roll o levou a deixar sua banda de enorme sucesso por uma fazenda e uma vida na estrada. Ele criaria uma lendária excursão chamada "The Passing Show", com uma tenda de circo pelo Reino Unido com uma variedade de palhaços, acrobatas e comediantes.

Sua breve carreira solo desperta a atenção, principalmente da crítica. Ele gravou elogiados álbuns em parceria com Pete Townsend (do The Who) e com Ron Wood, além de produzir discos solo acompanhado pelo ótimo grupo Slim Chance.

Essa coletânea foca exatamente na fase pós-bandas (Small Faces e The Faces). Canções doces e densas como a que dá título ao álbum (Just For A Moment), além de The Poacher, Anymore For Anymore, Annie e April Fool atestam que Ronnie Lane foi e continua sendo um dos melhores compositores que o Reino Unido já produziu.

Infelizmente os sintomas da esclerose múltipla começaram a surgir nos anos 80. Seus amigos da música como Eric Clapton, Jeff Beck e Jimmy Page chegaram a promover um concerto beneficente para arrecadar recursos para o tratamento da doença em 1983. Ronnie Lane se mudou para os Estados Unidos em busca de um clima mais favorável para continuar o tratamento. Acabou falecendo em 1997, de uma pneumonia e de complicações provocadas pela doença progressiva.

"Juts For A Moment"

"Tell Everyone"

"How Come"


domingo, 30 de agosto de 2020

.: Crítica musical: Deep Purple prova que o rock ainda pode ser divertido


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico musical.

"Whoosh!" é o nome do vigésimo primeiro álbum de estúdio da mítica banda de rock inglesa Deep Purple, lançado no início do mês de agosto de 2020. E esse novo trabalho apresenta os músicos veteranos totalmente a vontade tocando um hard rock com aquele infalível toque dos anos 70. A formação atual da banda conta com Ian Gillan (vocal), Ian Paice (bateria), Roger Glover (baixo), Don Airey (teclados) e Steve Morse (guitarra). Essa formação aliás vem se mantendo nos últimos anos.

O álbum foi originalmente programado para ser lançado em junho, mas foi posteriormente adiado devido à pandemia de covid-19. Algumas canções do álbum foram lançadas como singles em plataformas digitais, começando com a ótima "Throw My Bones". A instrumental "And the Address" apareceu pela primeira vez como a faixa de abertura do álbum de estreia da banda em 1968, "Shades of Deep Purple". E agora ganha uma nova versão, sendo que o único músico a participar das duas gravações foi o baterista Ian Paice.

Posso citar ainda as faixas "Man Alive" e "The Long Way Round" como outros bons momentos desse novo trabalho. Claro que o vocal de Ian Gillan não é mais o mesmo dos anos 70. Mas ele ainda consegue fazer a banda pulsar com um feeling de fazer inveja a muito vocalista iniciante. E é preciso ressaltar o entrosamento da parte instrumental – com destaque para os solos Steve Morse e Don Airey e a cozinha ritmica sempre eficaz de Glover e de Paice.

Deep Purple é uma banda que dispensa apresentações. Mesmo se você não conheça pelo nome, é bem provável que você já tenha ouvido a música dela em algum lugar. Com uma carreira longa influenciando dezenas de dezenas de bandas, o Deep Purple é uma lenda indiscutível. E em pleno 2020, poderíamos supor que ela já não teria mais o que mostrar de novo. Entretanto, "Whoosh!" é a prova concreta e sonora de que o rock como gênero musical pode e deve ser sempre divertido.

"Man Alive"

"Throw My Bones"

"The Long Way Round"

sexta-feira, 21 de agosto de 2020

.: Entrevista exclusiva: livro conta os bastidores do disco Clube da Esquina

Por Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico musical. 

Já se imaginou ficar frente a frente com seus ídolos da música brasileira  e poder organizar e elaborar um trabalho literário voltado para preservar a memória de seu trabalho? Pois foi isso que aconteceu com Andréa Estanislau. Ela organizou a elaboração do livro "Coração Americano", que conta os bastidores da gravação do álbum "Clube da Esquina", capitaneado por Milton Nascimento e Lô Borges e que se tornou um marco na nossa cultura musical popular. 

Andréa é mestre em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais onde desenvolveu como recurso educativo o curso de extensão Clube da Esquina: Patrimônio Cultural de Belo Horizonte. O livro chega em 2020 na sua segunda edição com textos escritos pelo personagens do chamado movimento musical mineiro, que na verdade sempre foi e será universal por natureza. Milton Nascimento, Márcio Borges, Ronaldo Bastos, Lô Borges, Toninho Horta e outros que faleceram mais recentemente, como Fernando Brandt e Tavito.

A obra funciona como uma viagem no tempo, mostrando um grupo de músicos amigos que se uniram em torno de Milton e Lô e contribuíram, cada um do seu jeito, na elaboração e concepção dos arranjos e ideias de produção musical. Em entrevista para o Resenhando, Andréa conta como foi a experiência de organizar um trabalho de tamanha importância cultural, hoje em dia contribui para a formação de educadores e inspira músicos de várias gerações. “Para mim o Clube da Esquina é a síntese de uma amizade sincera e da união feliz de talentos natos da nossa música”.

Resenhando - Como foi que você, que não era do meio artístico, conseguiu estabelecer esse contato com tantos músicos e compositores diferentes?
Andréa Estanislau - Foi realmente um desafio. Nos anos 80, eu passei a ouvir com atenção essa música, que surgiu na minha terra natal. E percebi que havia pessoas da minha geração que não conheciam essas músicas. Mais adiante, desenvolvi um trabalho de conclusão de curso na Faculdade. Esse trabalho acabou crescendo com o incentivo de amigos. Passei a buscar como estabelecer contato com esses personagens, que também eram e ainda são meus ídolos. O primeiro foi Beto Guedes. A esposa dele ficou entusiasmada com o projeto e me deu os contatos dos demais. Claro que, com o apoio do Beto, as portas acabaram se abrindo mais facilmente. Mas o que senti é que todos acabaram gostando do projeto do livro e me mostraram as fotos que ilustram a publicação, além de contribuírem com textos. A capa mostra quase todos no estúdio e dá uma ideia do nível de amizade e de comprometimento com as canções que eles estavam produzindo para o álbum.

Resenhando - Parte dos textos foi escrita pelos próprios personagens. O Fernando Brandt, por exemplo, deixou ali um importante registro de como surgiu a parceria dele com Milton, que começou ainda nos anos 60, com "Travessia". Foi difícil fazer eles relatarem isso?
Andréa Estanislau - Pelo contrário. A coisa fluiu naturalmente porque todos meio que compraram a ideia. E esse episódio que o Fernando conta é da época dos Festivais, quando Milton ganhou o prêmio de melhor intérprete com a canção "Travessia". O Brandt conta que ali, ao ver o Milton ganhar o prêmio com uma canção feita em parceria, ele percebeu a profissão que ele iria escolher para trabalhar. É algo muito emocionante ver como as coisas se consolidaram nos anos seguintes até chegar no Clube da Esquina.

Resenhando - Nessa época, em 1972, o Milton já era um nome conhecido. Ele funcionava como uma liderança nesse grupo?
Andréa Estanislau - Com certeza. Milton já tinha até canção gravada pela Elis Regina naquela época. Os demais estavam ainda iniciando a sua caminhada na música, buscando conquistar o seu espaço. Lô tinha apenas 19 anos! Ele contou que foi difícil convencer a família a deixar ele ir para o Rio de Janeiro para gravar o disco. Mas podemos dizer que o MIlton foi uma espécie de líder natural. Todos contribuíram para que o projeto do disco desse certo e acho que o resultado dele fala por si só. É a prova da amizade sincera e da união feliz de talentos natos de nossa música.


Andréa Estanislau organizou a elaborou o livro "Coração Americano", que conta os bastidores da gravação do álbum "Clube da Esquina". Foto: Nina Estanislau. A foto da capa de "Coração Americano" é de Mário Thompson. Esta é a única foto que tem três letristas (Márcio Borges, Fernando Brant e Ronaldo Bastos), além Milton Nascimento, Lô Borges, Beto Guedes, Wagner Tiso. 

Resenhando - É possível chamar o Clube da Esquina de um movimento, como foi a Tropicália nos anos 60?
Andréa Estanislau - Eu não considero um movimento. Porque todos estavam ali para a música e pela música. Não havia barreiras ou tabus a serem quebrados. Apenas produziram canções que hoje, mais de 40 anos depois, ainda servem como referência e fonte de inspiração para músicos das mais variadas gerações. E por isso merece ter contada a história em livro.

Resenhando - Fale sobre o curso de extensão ministrado em Minas Gerais sobre o Clube da Esquina.
Andréa Estanislau - O curso de extensão Clube da Esquina: Patrimônio Cultural de Belo Horizonte foi realizado no Espaço do Conhecimento da Universidade Federal de Minas Gerais, em outubro e novembro de 2019. O curso foi pensado em dois módulos sequenciais, o primeiro mais teórico com a contextualização dos conceitos e o segundo, um módulo prático, com os participantes desenvolvendo  atividades didáticas que relacionam a música com a cidade. Foi voltado para professores e estudantes de licenciatura, tendo como objetivo preparar o professor para promover a Educação Patrimonial nas escolas a partir das canções do Clube da Esquina. Esse ano, em função da pandemia, ainda não foi possível realizar isso. Mas iremos fazer com certeza mais adiante.

Resenhando - Como as pessoas podem ter acesso aos seus projetos? O livro pode ser adquirido?
Andréa Estanislau - Essa obra literária foi realizada com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura da Prefeitura de Belo Horizonte. Com tiragem de mil exemplares, “Coração Americano” será distribuído a centros culturais, bibliotecas, escolas e museus. Vou gravar uma entrevista para ficar no site da prefeitura. E mantenho um site onde coloco as minhas ações ligadas ao livro e ao curso de extensão. O endereço é www.coracaoamericano.com.br

"Cais"

"Trem Azul"

"San Vicente"

sábado, 15 de agosto de 2020

.: Crítica musical: Beth Hart ganha uma coletânea de hits - Por Luiz Otero

Por Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico musical.

Os fãs da cantora Beth Hart já podem comemorar. Foi lançada uma coletânea que reune em dois CDs parte de sua interessante obra que mescla elementos da soul music com o blues por intermédio de sua poderosa voz.

Para quem não sabe, Beth Hart  é originária dos Estados Unidos e vem conquistando seu espaço desde a década de 90.  Sua ascensão ao estrelato não aconteceu da noite para o dia. Hart fez incursões pela primeira vez como concorrente no concurso Star Search em 1993 e chegou a conseguir uma vaga no Festival Loolapalooza em 1996.

Enfrentou uma série de problemas pessoais na década seguinte. Até que em 2011 se uniu com o igualmente talentoso guitarrsta Joe Bonamassa, com quem gravou discos elogiados pela crítica e que tiveram boa aceitação junto ao público ouvinte. A partir daí lançou álbuns solo que consolidaram seu talento como intérprete e também como compositora. Durante esse período  ela fortaleceu suas conexões com os músicos, aparecendo no álbum homônimo de Slash de 2010, além de ter tocando com Jeff Beck no Kennedy Center em 2006.

Nesta coletânea podemos ter uma noção de sua produção como cantora e compositora. Há canções bem densas como "War In My Mind" e momentos mais próximos do blues como a ótima Black Coffee (com Joe Bonamassa na guitarra). Há momentos mais próximos da soul music como a faixa "Tell Her You Belong To Me", que conta com Jeff Beck na guitarra.

Claro que o fãs podem sentir falta de uma ou outra canção. Eu, por exemplo, incluiria "Better Than Home" nessa compilação. Mas o fato é que as canções escolhidas também são excelentes. Se você ainda não tem um disco de Beth Hart, este "Greatest Hits" é uma ótima pedida.

"Bad Woman Blues"

"Love Is a Lie"

"Mechanical Heart"

domingo, 9 de agosto de 2020

.: The Puppini Sisters recria canções atuais com arranjos dos anos 40

Por Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico musical.

Já imaginou transformar canções pop feitas recentemente em músicas com arranjo dos anos 30 e 40? Pois é o que o grupo vocal feminino Puppini Sisters faz. E em um trabalho recente as moças uniram forças com a Pasadena Roof Orchestra no disco Dance Dance Dance para recriar canções de Whitney Houston, Abba e Dolly Parton, entre outros, trazendo-as  para o ambiente retrô das canções com vocal no estilo doo-woop, bastante difundido nos anos 40 e 50.

O grupo foi fundado em 2004 por Marcella Puppini, que se uniu a Kate Mullins e Emma Smith combinando elegânciam e sofisticação com um toque retrô e bem interessante sob a ótica do pop. Não por acaso artistas como Michael Bublé já declararam serem admiradores do grupo.

O nome do grupo é uma homenagem ao Andrews Sisters, outro grupo vocal feminino que fez muito sucesso nos Estados Unidos cantando canções com esses tipos de arranjos. E isso em uma época em que as mulheres ainda não tinham conquistado o seu merecido espaço na mídia artística na música pop.

O disco tem passagens interessantes, em especial, as releituras de "Nine To Five" (de Dolly Parton) e a clássica "Puttin On The Ritz" (de um filme de Fred Astaire), esta segunda com um show de vocais harmônicos das garotas. Mas elas conseguem convencer ainda cantando "I Wanna Dance With Somebody" (de Whitney Houston) e "Groove In The Heart" (do grupo Dee-Lite).

Essa mescla aparentemente improvável fica agradável de se ouvir no final. Isso se você curtir o estilo doo-woop bem produzido e cantado. Vale a pena conferir esse trabalho das talentosas cantoras do The Puppini Sisters.

"Groove In The Heart"

"I Wanna Dance With Somebody"

"Puttin On The Ritz"


sexta-feira, 31 de julho de 2020

.: Renato e Seus Blue Caps: o legado de Renato Barros na música


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico musical. Foto: Reprodução/Instagram

Renato Barros, que faleceu no início desta semana no Rio de Janeiro após uma delicada cirurgia cardíaca, foi um dos pilares do movimento Jovem Guarda. O som de sua guitarra ajudou a definir o estilo que viria a tomar de assalto as rádios e a televisão nas jovens tardes de domingo. Com seu grupo, o Renato e Seus Blue Caps, emplacou vários hits, alguns deles feitos a partir de versões de bandas que faziam sucessos na época, como Beatles e The Hollies, só para citar dois exemplos. 

Mas também tinha uma produção autoral rica e capaz de fazer frente com as versões dos sucessos estrangeiros. Um irmão de Renato, Paulo Cesar, foi baixista dos Blue Caps e é considerado um dos melhores músicos de estúdio da atualidade. E o outro irmão, Ed Wilson (já falecido), virou um cantor de sucesso na Jovem Guarda.

Dois discos lançados no início da Jovem Guarda ("Isto É Renato e Seu Blue Caps" e "Um Embalo com Renato e Seus Blue Caps") são os meus preferidos de sua discografia. Há uma coleção de hits antológicos nesses dois álbuns. Algumas canções como "A Primeira Lágrima" mostravam o potencial de Renato como hitmaker. Há também uma notável parceria dele com Lilian Knapp (da dupla Leno e Lilian), na canção Devolva-me, que recentemente foi regravada com grande sucesso pela cantora Adriana Calcanhoto.

Outro ponto marcante na sua produção autoral foi a canção "Você Não Serve Para Mim", que Roberto Carlos gravou e inclui na trilha de seu primeiro filme ("Roberto Carlos em Ritmo de Aventura"). Renato contou em uma entrevista que a canção incialmente foi feita para seu grupo. Durante um dos ensaios no estúdio, Roberto ouviu a canção e pediu para gravar, o que foi inicialmente negado. Foi preciso a intervenção do diretor da gravadora, Evandro Ribeiro, que convenceu Renato a ceder a canção, certo de que ela teria o sucesso que acabou tendo na voz do Rei.

Se por um lado a produção nos anos 70 já não foi tão significativa, por outro lado seu legado construído nos anos 60 permitiu que a banda permanecesse na ativa. Até recentemente, antes de falecer, Renato se apresentava ao lado dos companheiros de banda, como Cid Chaves (outro remanescente da formação original). E conservava mesmo pique musical dos anos 60.

Acredito que o principal legado deixado por Renato Barros tenha sido basear sua produção musical na simplicidade e na mensagem direta para o público ouvinte, além das ricas e inconfundíveis harmonias vocais, que eram e continuarão sendo sempre a sua marca registrada.

"A Primeira Lágrima"

"O Meu Primeiro Amor"

"Meu Bem Não me Quer"

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